Forte de São Paulo da Gamboa

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Forte de São Paulo da Gamboa
Forte de São Paulo da Gamboa
Construção D. João V (1714-1720)
Conservação Mau
Aberto ao público Não

O Forte de São Paulo da Gamboa localiza-se na chamada Gamboa de Baixo, no centro histórico de Salvador, no litoral do estado brasileiro da Bahia.

História[editar | editar código-fonte]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

O forte remonta a uma bateria erguida, a partir de 1646, sobre uma gamboa ou vala, que lhe daria o nome.

O atual forte[editar | editar código-fonte]

A estrutura atual foi iniciada no governo do vice-rei D. Pedro Antônio de Noronha Albuquerque e Sousa (1714-1718) erguida dentro do plano de fortificação de Salvador elaborado pelo engenheiro francês brigadeiro Jean Massé em 1714. Foi concluída em 1720, no governo do vice-rei e capitão general de mar-e-terra do Estado do Brasil, D. Vasco Fernandes César de Meneses (1720-1735), comunicando-se por uma cortina com o Forte de São Pedro.[1] Em conjunto, fechavam a defesa do setor Sul de Salvador, aquele pelo lado de terra, e este pelo lado de mar, cruzando fogos com o Forte de São Marcelo.

Estava guarnecido por uma Companhia de Infantaria com dois soldados artilheiros, e artilhado com dezenove peças de ferro (quatro de calibre 24 libras e quinze de 6),[1] acredita-se que em meados do século XVIII.

Por não possuir muralhas fechando o seu perímetro, técnicamente é considerado apenas uma bateria, e assim se encontra referido em iconografia de José António Caldas (Planta, e fachada da bataria de S. Paulo. in: Cartas topográficas contem as plantas e prospectos das fortalezas que defendem a cidade da Bahia de Todos os Santos e seu reconcavo por mar e terra, c. 1764. Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa), onde se observa a sua planta no formato de um polígono retangular irregular aberto, em alvenaria de pedra e cal, e junto à encosta, sobre o terrapleno, edificação para as dependências de serviço, com cômodos escavados na rocha e um fosso para drenar a água da encosta atrás da estrutura central.

O século XIX[editar | editar código-fonte]

A sua artilharia foi a primeira a saudar a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, em 22 de janeiro de 1808.

O comando do forte aderiu à Sabinada (1837-1738).[2]

Foi visitado em 1859 pelo Imperador D. Pedro II (1840-1889), que registrou em seu diário de viagem:

"29 de Outubro - (...) Depois [da visita ao forte de São Marcelo] segui para o forte da Gamboa. Tem 18 peças e oito praças de guarnição para as quais se pode dizer que não há alojamento. O vigamento está em risco de abater sobre uma das acomodações do forte. As peças só se podem carregar subindo os soldados o parapeito, estando algumas das carretas estragadas e demorando-se a remessa de tinta do Arsenal para pintá-las às vezes três, quando devem sê-lo de seis em seis meses. Salvaram com tacos e dizendo-se ao comandante, o coronel graduado do Estado Maior de 2ª Classe José Pedro de Alcântara, este respondeu que se carregasse as peças, desse modo os tiros seriam espirros, que lhe repliquem [sic] aos ouvidos." [3]

No contexto da Questão Christie (1862-1865), o "Relatório do Estado das Fortalezas da Bahia" ao Presidente da Província, datado de 3 de agosto de 1863, dá-o como reparado, citando:

"(...) Compõe-se este forte de três baterias à barbeta com o desenvolvimento total de 482 palmos, formadas por uma cortina de 356 [palmos], fronteira ao mar e duas partes laterais divergentes, que se lhe reúnem, montando todas 18 peças, sendo seis de calibre 32 e doze de 24, bem como 14 reparos que estão arruinados, distribuídas por tantos outros intervalos que deixam as banquetas; isto é treze na cortina e cinco nos lados.
Este Forte foi todo reparado há pouco tempo e acha-se por isso em bom estado.
(...) A plataforma geral precisa ser completamente substituida por outra melhor construída e mais resistente, com declive impediente do recuo e com maior largura (três braças), qualidades essenciais ao serviço que devem prestar, e de cuja falta se ressente a existente.
O rebaixamento do parapeito de forma a deixar-lhe a altura própria das baterias à barbeta, é outra coisa de que se não deve prescindir.
Finalmente o solo do terrapleno reclama também o benefício de algumas camadas de materiais que o tornem resstente, isentando-o de transformar-se em lamaçal por ocasião das chuvas, como acontece hoje.
Quanto aos edificios, eles se acham em bom estado e asseados; mas cumpre dizer que não existe quartel para a guarnição, o que parece indispensável, e pode ser satisfeito com a continuação da casa, cuja construção foi sustada." [4]

Foi classificado como fortificação de 2ª Classe pelo Aviso Ministerial de 30 de março de 1875,[5] mesmo ano em que recebeu um canhão Armstrong de 250 mm, o primeiro do fabricante a ser adquirido pelo país, e apelidado mais tarde, pelo povo, de "Vovô" (SOUZA, 1983:172). Esta peça pesava treze toneladas e disparou apenas uma única vez.

Do século XX aos nossos dias[editar | editar código-fonte]

O forte sofreu reparos em 1886 e em 1906.[6]

À época da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), em 1915, encontrava-se bem conservado, guarnecido por um soldado do 50º Batalhão de Caçadores, e artilhado com quinze peças de alma lisa além do velho canhão Armstrong. Essa artilharia seria vendida mais tarde como ferro-velho.[6] O canhão Armstrong foi retirado e encontra-se em nossos dias no jardim do Quartel do Exército, na Mouraria.

De propriedade da União, o monumento foi confiado à guarda da Fazenda Nacional em 1937.[2] Tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a partir de 1938, em maio de 1987 encontrava-se invadido ilegalmente por famílias de baixa renda que ali residiam. Não se encontra aberto ao público.

Apesar de sua importância em termos de patrimônio cultural, no início do século XXI a fortificação encontrava-se em precário estado de conservação, com sérios riscos de desabamentos, descaracterização e comprometimento da estrutura. O Ministério Público Federal na Bahia, por meio de procedimento administrativo, apurou que, apesar de existir um projeto arquitetônico de restauração do imóvel e de o forte se encontrar contemplado no projeto Via Náutica do governo municipal, nenhuma intervenção concreta no bem fora efetivada pelo poder público federal até então. Desse modo, o MPF/BA impetrou uma ação civil pública para que a União e o IPHAN fossem condenados a realizar todas as intervenções emergenciais de consolidação e restauração necessárias para afastar riscos de novos danos aquele monumento histórico. A ação foi ajuizada em 4 de agosto de 2009, na 3ª Vara da Justiça Federal, sob o nº 2009.33.00.011447-9.[7]

Notas e referências

Notas

Referências

  1. a b (BARRETTO, 1958:185)
  2. a b (SOUZA, 1983:172)
  3. (PEDRO II, 2003:166-167)
  4. (ROHAN, 1896:51, 57-58)
  5. (SOUZA, 1885:93)
  6. a b (GARRIDO, 1940:87)
  7. MPF/BA ajuíza ação para recuperar Forte São Paulo da Gamboa in Ministério Público Federal/Procuradoria Geral da República. Consultado em 29 Jun 2011.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368p.
  • FALCÃO, Edgard de Cerqueira. Relíquias da Bahia (Brasil). São Paulo: Of. Gráficas Romili e Lanzara, 1940. 508 p. il. p/b
  • GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940.
  • PEDRO II, Imperador do Brasil. Viagens pelo Brasil: Bahia, Sergipe, Alagoas, 1859-1860 (2ª ed.). Rio de Janeiro: Bom Texto; Letras e Expressões, 2003. 340 p. il.
  • ROHAN, Henrique de Beaurepaire. Relatorio do Estado das Fortalezas da Bahia, pelo Coronel de Engenheiros Henrique de Beaurepaire Rohan, ao Presidente da Província da Bahia, Cons. Antonio Coelho de Sá e Albuquerque, em 3 ago. 1863. RIGHB. Bahia: Vol. III, nr. 7, mar/1896. p. 51-63.
  • SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]