Lia Torá

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Lia Torá
Lia Torá
Lia Torá na capa de Vida Doméstica (1924)
Nome completo Horácia Corrêa D'Ávila
Nascimento 12 de maio de 1903
Rio de Janeiro, DF
Nacionalidade brasileira
Morte 24 de maio de 1972 (69 anos)
Ocupação atriz
Atividade anos 1920

Lia Torá, nome artístico de Horácia Corrêa D'Ávila (Rio de Janeiro, 12 de maio de 190324 de maio de 1972),[1][2] foi uma bailarina e atriz brasileira, uma das primeiras a atuar em Hollywood, após ter vencido um concurso realizado, em 1927, pela Fox.[3][nota 1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Nasceu em 1903 no bairro carioca de São Cristóvão, filha de pai português e mãe espanhola.

Em Barcelona cursou a Academia de Bailados. Logo integrou o elenco da Companhia Velasco de teatro de revista, que gozava de fama internacional.[4]

Casamento[editar | editar código-fonte]

Em 1924, numa turnê da companhia no Brasil, conheceu o comerciante e piloto de automóveis Júlio Moraes, herdeiro de uma das maiores fortunas do país. Ele já era casado e com mais de quarenta anos, mas acabou se separando e se casando com Torá.[4] Em abril de 1925, tiveram dois meninos gêmeos: Mário Júlio e Júlio Mário.[5]

Carreira em Hollywood[editar | editar código-fonte]

Apesar da união e de o esposo ser contrário aos seus sonhos de atuar como atriz, em 1927 participou do concurso "Belleza Photogênica Feminina e Varonil", patrocinado pela Fox Film no Brasil em busca de jovens com traços latinos,[6] no qual Torá venceu a concorrente Pagu.[nota 2][7][8] O prêmio era ir à capital cinematográfica dos Estados Unidos e participar em filmes daquele estúdio.

Sua beleza e fotogenia fizeram com que, morando na Suíça com o esposo, recebesse uma carta do estúdio informando que ficou em primeiro lugar. O marido foi contra, mas ainda assim ela seguiu, em 1927, para os EUA.[4]

Estreou ainda em 1927, na comédia curta-metragem The Low Neck, que sequer foi exibida no Brasil. Em 1928 atuou em pequenos papéis em filmes como Street Angel e Dry Martini.[4]

Seu maior papel deu-se em 1929, no filme mudo The Veiled Woman (A Mulher Enigma), que também contou com música composta por outro brasileiro, Plínio de Brito, que teria sido o primeiro compositor do país a elaborar uma música especificamente para uma trilha sonora.[9] Atuou, nesta película, no papel de Nanon, ao lado de Paul Vincenti (Pierre), Kenneth Thomson (Dr. Donald Ross) e do astro Béla Lugosi.[10]

Com o fim do cinema mudo, sua carreira encontrou o fim, pois não dominava o idioma, embora falasse bem o espanhol e o francês, coincidindo com o rompimento de seu contrato pela Fox [carece de fontes?].

Ela então fundou sua própria companhia em 1929, intitulada Brazilian Southern Cross Productions.,[11] lançando no mesmo ano o filme mudo "The soul of a peasant", dirigido por seu próprio marido Julio de Moraes.[12]

Em 1931, foi contratada pela Universal Pictures para gravar a comédia "Don Juan Diplomatico",[13] então a versão em espanhol do filme americano The Boudoir Diplomat.

Encerrou a carreira hollywoodiana em 1932 com o filme "Hollywood Ciudad de Insueño", dirigido por George Crone e lançado em 1934.[14]

Retorno ao Brasil[editar | editar código-fonte]

Retornando ao Rio de Janeiro em 1932, compartilhou com o esposo da paixão pelas corridas automobilísticas, chegando a correr no Circuito da Gávea, voltando a usar seu nome verdadeiro. Seu esposo morreu aos 75 anos, em 1956.[4]

Em 1971, Torá teve uma última aparição, por alguns segundos, no filme As Confissões de Frei Abóbora.[4]

Depoimento sobre Hollywood[editar | editar código-fonte]

Em dezembro de 1927 Torá enviou uma carta, publicada pela revista Ilustração Paranaense, na qual descrevia suas impressões nos Estados Unidos, em todos os seus aspectos: "Chegamos a 19 de Outubro em Hollywood, depois de quatro dias e meio de trem. Estamos todos cansados desta viagem, feita toda ela sem descanso" - disse, então. Mais adiante revela: "A Olive Borden é minha amiga, e eu estou até aprendendo inglês com ela. Todos os artistas são muito simpáticos, bons camaradas, e cada quinze dias dão uma reunião onde se reúnem todos (...) Não vou dizer a idade de todos os artistas que já vi, pois se tem cada decepção (...) eu falo assim para me dar ao "potin" de dizer que já estou familiarizada com as estrelas do meu tempo de fã..."[15]

Filmografia[editar | editar código-fonte]

Todas os filmes atuados por Lia Torá. 

N.º TítuloPersonagem Ano
1. "As Confissões de Frei Abóbora" (etc)Mãe de Paula[16] 1971
2. "Soñadores de Gloria"  Rosario[17] 1932
3. "Hollywood, City of Dreams"  Helen Gordon 1931
4. "There Were Thirteen"  Sybil Conway 1931
5. "Don Juan Diplomatico"  Elena 1931
6. "The Veiled Woman"  Nanon 1929
7. "Making the Grade"  Outra Namorada 1929
8. "Mary, the Beautiful"    1929
9. "The Low Necker"    1927
10. "Alma camponesa"    1932

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas e referências

Notas

  1. Embora a fonte date o concurso em 1928 (esta seguida por outras, especialmente nas biografias de Pagu), a atriz mudou-se para Hollywood em 1927, como ilustra a carta publicada no Brasil em dezembro de 1927 sendo referida ao final.
  2. Embora se afirme a participação de Pagu como concorrente, a revista Cinearte publicou que as finalistas do concurso além de Lia Torá foram: Clotilde Martins dos Santos (2° lugar), Yvonne Slumpe Daumerie (3º lugar) e Graciema Guimarães Natal (4° lugar).

Referências

  1. «Brasil, Rio de Janeiro, Registro Civil, 1829-2012 / Nascimentos 1903, Mar-Jun > imagem 134 de 203». Family Search. 1903. Consultado em 17 de agosto de 2023 
  2. «Brasil, Rio de Janeiro, Registro Civil, 1829-2012 / Óbitos 1972, Maio-Jun > imagem 28 de 310». Family Search. Consultado em 17 de agosto de 2023 
  3. Heloísa Buarque de Hollanda, Maria Fernanda Bicalho, Patrícia Moran (1991). Estrelas do cinema mudo: Brasil 1908-1930. [S.l.: s.n.] 114 páginas 
  4. a b c d e f Fausto Visconde (21 de dezembro de 2007). «Lia Torá - uma brasileira em Holywood». Consultado em 1 de maio de 2011 
  5. «Brasil, Rio de Janeiro, Registro Civil, 1829-2012 / Matrimônios 1934, Dez-1935, imagem 297 e 298». Family Search. Consultado em 17 de agosto de 2023 
  6. «Quem quer ser artista da Fox?» (PDF). Republicado por Hemeroteca Digital Brasileira. Cinearte (n.26): 5. 1 de novembro de 1926. Consultado em 18 de agosto de 2023 
  7. Tereza Freire (2008). Dos escombros de Pagu: um recorte biográfico de Patrícia Galvão. [S.l.: s.n.] p. 133. 199 páginas 
  8. «A decisão final do concurso de Belleza Photogenica da Fox Films» (PDF). Republicado por Hemeroteca Digital Brasileira. Cinearte (n.49): 25 a 27. 27 de fevereiro de 1927. Consultado em 17 de agosto de 2023 
  9. José Ramos Tinhorão (1998). História Social da Música Popular Brasileira. [S.l.]: Editora 34. p. 258. 365 páginas. ISBN 8573260947, ISBN 9788573260946 
  10. Gary Don Rhodes, F. Richard Sheffield (2006). Lugosi: His Life in Films, on Stage, and in the Hearts of Horror ... [S.l.: s.n.] p. 78. 414 páginas 
  11. Republicado por Library of Congress, MBRS, Moving Image Section/Media History Digital LibraryExhibitor's Herald World. vol.95 (n.12): 98. 22 de junho de 1929 
  12. «The soul of a peasant"». Republicado por Media History Digital Library. Exhibitors Herald World: 152. 29 de junho de 1929. Consultado em 16 de agosto de 2023 
  13. «Lia Tora cast for Spanish version». Republicado por Library of Congress/Media Digital Library. Exhibitors DAILY REVIEW and Motion Pictures. v.28 (n.125): 6. 26 de novembro de 1930. Consultado em 16 de agosto de 2023 
  14. «1934 Releases». Republicado por Media History Digital Library. The film daily year book of motion pictures: 155. 1935. Consultado em 16 de agosto de 2023 
  15. Lia Torá (dezembro de 1927). «Lia Torá envia ao Brasil sua primeira carta» (PDF). Ilustração Paranaense. Consultado em 1 de maio de 2011 [ligação inativa]
  16. «As Confissões de Frei Abóbora». Cinemateca Brasileira. Consultado em 25 de novembro de 2016 
  17. «Lia Torá - Filmografia e Biografia». Mulheres do Cinema Brasileiro. Consultado em 25 de novembro de 2016 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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