Lutegarda Guimarães de Caires
Lutegarda Guimarães de Caires (também grafado Lutgarda Guimarães de Caires) (Vila Real de Santo António, 1873 - 1935) foi uma ativista e poetisa portuguesa.
Biografia
Ainda jovem, Lutegarda Guimarães deixou o Algarve e passou a viver em Lisboa. Na capital portuguesa conheceu e veio a casar com o advogado madeirense João de Caires, um homem de cultura, que era escritor e fundador da Sociedade de Propaganda de Portugal, e que organizava em sua casa serões literários muito participados.[1]
Logo no início do casamento sofreu a perda de uma filha (e provavelmente ainda de outro filho). Isto marcou-a profundamente e revelou-se na sua poesia, toda ela triste. A partir daí, decidiu dedicar-se a causas sociais, a mais conhecida das quais a visita a crianças doentes do Hospital de Dona Estefânia levando-lhes roupas, brinquedos e rebuçados.[1]
Em 1895 nasceria o seu filho Álvaro Guimarães de Caires, que viria a ser médico, professor na Universidade de Sevilha, escritor e investigador.[1]
Mulher atenta aos problemas e injustiças do seu tempo[2], a partir de 1905, começa a colaborar em jornais com artigos de cariz social. A sua primeira obra intitulou-se "Glicínias" e foi editada em 1910. Com a implantação da república em Portugal, o Ministro da Justiça de então, Diogo Leote, propôs à escritora, em 1911[1], que fizesse um estudo da situação dos presos, principalmente das mulheres detidas, numa época em que as prisões eram mistas. Lutegarda denunciou péssimas condições em que viviam os prisioneiros e os seus artigos conseguiram ter o efeito de abolir a máscara nas prisões, que era forçada em presos com determinadas penas mais duras, bem como a obrigatoriedade da pena de silêncio. Conseguiu ainda que as mulheres tivessem melhores condições higiénicas nas cadeias.[1]
Durante dez anos, Lutegarda de Caires promoveu o evento denominado "Natal das Crianças dos Hospitais", e que hoje apenas se chama Natal dos Hospitais[1], uma festa dedicada a todos os enfermos, independentemente da idade, e que é exibido anualmente poucos dias antes da festa de Natal pela RTP.
Ativista, com os seus artigos publicados em diversos jornais como "O Século", "Diário de Notícias", "A Capital", "Brasil-Portugal", "Ecos da Avenida" e "Correio da Manhã" luta pela igualdade de oportunidades e dignidade para as mulheres.[1]
O Governo português agraciou-a com a Ordem de Benemerência, pela sua dedicação às crianças e com a Ordem de Santiago e Espada. Faleceu em 1935.
A cidade de Vila Real de Santo António homenageou-a concedendo-lhe lugar na toponímia local, e erguendo um busto junto ao rio Guadiana[3] com as estrofes finais do seu poema mais conhecido:
“ | "Tornei a ver te! Agora os meus cabelos embranqueceram já... longe de ti. Foram-se há muito aspirações e anelos mas as saudades ainda as não perdi. |
” |
Obra publicada
- Glicínias (1910)
- Papoulas (1912)
- A Dança do Destino: contos e narrativas (1913)
- Bandeira Portuguesa (1910) - obra em que defende a manutenção das cores azul e branca na bandeira de Portugal (polémica em que intervieram muitos nomes da cultura portuguesa)
- Dança do Destino" (1911)
- Pombas Feridas (1914)
- Sombras e Cinzas (1916)
- Doutor Vampiro (1921, romance)
- Violetas (1922)
- Cavalinho Branco (1930)
- Palácio das Três Estrelas (1930)
- Inês (peça de teatro em co-autoria com Manuel Vieira Natividade e Virgínia Vitorino)
- Libretto da ópera Vagamundo, musicada por Rui Coelho
Ligações externas
Referências
- ↑ a b c d e f g Maria Luísa V. de Paiva Boléo (2004). «Lutgarda de Caires e o Natal dos Hospitais». Consultado em 27 de julho de 2010
- ↑ Câmara Municipal de Vila Real de Santo António (2010). «Lutgarda de Caires: agenda cultural de VRSA» (PDF). Consultado em 27 de julho de 2010
- ↑ Agostinho Gomes (2009). «Lutgarda Guimarães de Caires-Poetisa Vilarealense». Consultado em 27 de julho de 2010