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Nina Rodrigues: diferenças entre revisões

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'''Raimundo Nina Rodrigues''' ([[Vargem Grande]], [[4 de dezembro]] de [[1862]] — [[Paris]], [[17 de julho]] de [[1906]]) foi um [[medicina legal|médico legista]], [[psiquiatria|psiquiatra]], [[professor]], [[antropologia|antropólogo]] [[brasil]]eiro.
'''Raimundo Nina Rodrigues''' ([[Vargem Grande]], [[4 de dezembro]] de [[1862]] — [[Paris]], [[17 de julho]] de [[1906]]) foi um [[medicina legal|médico legista]], [[psiquiatria|psiquiatra]], [[professor]], [[antropologia|antropólogo]] e racista [[brasil]]eiro.


=== Formação ===
=== Formação ===

Revisão das 13h50min de 23 de junho de 2014

 Nota: Para outros significados, veja Nina Rodrigues (desambiguação).
Nina Rodrigues
Nina Rodrigues
Nascimento 4 de dezembro de 1862
Vargem Grande, Maranhão, Brasil
Morte 17 de julho de 1906 (43 anos)
Paris, França
Ocupação Médico
Instituições Faculdade de Medicina da Bahia
Especialidade Medicina Legal, Psiquiatria
Pesquisa Antropologia

Raimundo Nina Rodrigues (Vargem Grande, 4 de dezembro de 1862Paris, 17 de julho de 1906) foi um médico legista, psiquiatra, professor, antropólogo e racista brasileiro.

Formação

Filho do coronel Francisco Solano Rodrigues e de dona Luísa Rosa Nina Rodrigues cresceu em seu município natal no Maranhão, sob os cuidados da madrinha mulata, que auxiliava sua mãe nos afazeres com a prole.

Nina Rodrigues estudou no Colégio São Paulo e no Seminário das Mercês, em São Luís. Pelas suas próprias, e pelas referências de seus colegas, parece ter tido uma saúde frágil. Nas lembranças familiares, era descrito como franzino, "muito feio", e irritadiço. Em 1882, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, seguindo o curso até 1885, quando se transferiu para o Rio de Janeiro, onde concluiu o quarto ano de faculdade. Voltou à Bahia no ano seguinte, quando escreveu seu primeiro artigo, sobre a lepra no Maranhão.

Retornando ao Rio, concluiu o curso, defendendo uma tese sobre três casos de paralisia progressiva numa família, em 1887. No ano de 1888, clinicou em São Luís, tendo consultório na antiga rua do Sol, hoje Nina Rodrigues. Após esse rápido regresso à terra natal, onde foi incompreendido e hostilizado pelos médicos conterrâneos por atribuir à má alimentação problemas de saúde da população carente da região onde vivera, resolveu fugir do provincianismo e do apelido de Dr. Farinha Seca e adotar definitivamente a Bahia como morada.

Em Salvador encontrou ambiente favorável às pesquisas sociais que tanto o atraíam. Tais pesquisas eram herdeiras diretas da antropologia criminal do médico italiano Cesare Lombroso e, obviamente, do inicial positivismo sociológico na área penal.

Na cidade que tinha mais de 2 mil africanos catalogados à época da abolição da escravatura dedicou-se à clínica médica e ao atendimento dos menos favorecidos, sendo logo intitulado Doutor dos Pobres.

Em 1889, prestou concurso para a Faculdade de Medicina da Bahia, vindo a ocupar o lugar de adjunto da Cadeira de Clínica Médica, cujo titular era o conselheiro José Luís de Almeida Couto, republicano histórico, abolicionista e político de projeção nacional. Mas seu objeto de estudo e pesquisa estava fora dos limites físicos da instituição acadêmica. Por isso, não abria mão de conviver com as mazelas da população excluída do centro de poder por mais criticado que fosse. "Nina está maluco! Frequenta candomblés, deita-se com as inhaôs (sic) e come a comida dos orixás", era uma das picuinhas típicas dos seus colegas catedráticos, segundo narra o discípulo e admirador Estácio de Lima, no livro Velho e Novo Nina.

Nina Rodrigues e Alfredo Tomé de Brito, também médico e mais tarde diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, casaram-se com filhas do Conselheiro – a família conta que cada um noivara antes com a irmã que casaria com o outro.

Em sua segunda incursão na classificação racial da população, dessa vez a nível nacional, num artigo publicado na Gazeta e no Brazil Médico, do Rio de Janeiro, em 1890, aparece pela primeira vez a rubrica antropologia – "anthropologia patológica". Escreve também uma nota apoiando a iniciativa de Brás do Amaral - professor de Elementos de Antropologia, no Instituto de Instrução Secundária de Salvador - de iniciar uma coleção de "objetos antropológicos" – esqueletos, chumaços de cabelo e recortes de pele dos índios do Estado. No Terceiro Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia, reunido em Salvador, em outubro desse ano, e de cuja comissão executiva Nina Rodrigues foi eleito tesoureiro pela Congregação da Faculdade, apresenta três trabalhos – sendo um deles o relatório de uma autópsia que fizera - a única autópsia realizada durante uma epidemia de influenza que ocorrera recentemente na Bahia.

Medicina Legal em destaque

Transferiu-se, em 1891, para a cadeira de Medicina Pública, ocupada por Virgilio Damásio, como professor na disciplina de Medicina Legal, empenha-se desde então em por em prática as propostas de Damásio que, depois de visitar vários países da Europa, sugerira em seu relatório da visita a implantação do ensino prático e a nomeação dos professores de medicina legal como peritos da polícia. Na Medicina Legal, como em tudo o mais, transformou. Afrânio Peixoto nos conta que Nina "deu tal lustro à especialidade que, por todo o país, foi a cadeira mais ambicionada".

Com o resultados de seus estudos propôs uma reformulação no conceito de responsabilidade penal, sugeriu a reforma dos exames médico-legais e foi pioneiro da assistência médico-legal a doentes mentais, além de defender a aplicação da perícia psiquiátrica não apenas nos manicômios, mas também nos tribunais. Também analisou em profundidade os problemas do negro no Brasil, fazendo escola no assunto e faleceu em Paris, França. Entre seus livros destacaram-se As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil (1894), O animismo fetichista dos negros da Bahia (1900) e Os africanos no Brasil (1932). O Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), o mais antigo dos quatro órgãos que compõem a estrutura do Departamento de Polícia Técnica da Bahia, foi criado (1906) pelo Prof. Oscar Freire e intitulado Nina Rodrigues pela Congregação da Faculdade de Medicina da Bahia, em homenagem ao famoso professor catedrático de Medicina-Legal, falecido naquele mesmo ano, aos 44 anos de idade.

Clínico, professor, escritor, dietólogo, 'tropicalista', sexologista, legista, higienista, antropólogo, biógrafo, epdemiologista, etnólogo. Nina Rodrigues foi um homem múltiplo.

A posição singular de Nina Rodrigues na história do pensamento antropológico brasileiro (que deve ser remetida à leitura de obras como As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil , O animismo fetichista dos negros da Bahia e Os africanos no Brasil), foi estudada pela professora Mariza Corrêa (Unicamp), que publicou o volume As ilusões da liberdade: a Escola Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil. Bragança Paulista: Edusf, 487 p. 1998.

Para maiores informações sobre o movimento do positivismo sociológico no mundo, em correlação com o nascimento das ciências sociais no Brasil e na América Latina (e também a recepção de ideias italianas entre os juristas de todas as áreas no Brasil oitocentista, especialmente as idéias penais), cfr. o denso volume de Marcela Varejão, Il positivismo dall'Italia al Brasile. Sociologia giuridica, giuristi, legislazione, 1822-1935 (Giuffrè, Milano 2005, XI-464 pp.). Neste volume, todo um capítulo é dedicado à Escola antropológico-criminal de Raimundo Nina Rodrigues.

A visão de Nina Rodrigues: o negro como marginal

Nina Rodrigues defendeu idéias que hoje podem ser qualificadas como racistas, mas, à época, eram consideradas científicas e avançadas. Ele foi fortemente influenciado pelas idéias do criminólogo italiano Cesare Lombroso. No ano da abolição da escravatura, escreveu: "A igualdade é falsa, a igualdade só existe nas mãos dos juristas". Em 1894, publicou um ensaio no qual defendeu a tese de que deveriam existir códigos penais diferentes para raças diferentes.

Nina Rodrigues foi um dos introdutores da antropologia criminal, da antropometria e da frenologia no país. Em 1899 publicou Mestiçagem, Degenerescência e Crime, procurando provar suas teses sobre a degenerescência e as tendências ao crime dos negros e mestiços. Os demais títulos publicados também não deixam dúvidas sobre seus objetivos: "Antropologia patológica: os mestiços", "Degenerescência física e mental entre os mestiços nas terras quentes". Para ele, negros e os mestiços se constituíam na causa da inferioridade do Brasil.

Na sua grande obra, Os Africanos no Brasil, escreveu: "Para dar-lhe [a escravidão] esta feição impressionante foi necessário ou conveniente emprestar ao negro a organização psíquica dos povos brancos mais cultos (…) O sentimento nobilíssimo de simpatia e piedade, ampliado nas proporções duma avalanche enorme na sugestão coletiva de todo um povo, ao negro havia conferido (…) qualidades, sentimentos, dotes morais ou idéias que ele não tinha e que não podia ter; e naquela emergência não havia que apelar de tal sentença, pois a exaltação sentimental não dava tempo nem calma para reflexões e raciocínios".

Segundo Nina, a inferioridade do negro – e dos não brancos – seria "um fenômeno de ordem perfeitamente natural, produto da marcha desigual do desenvolvimento filogenético da humanidade nas suas diversas divisões e seções". No Brasil os arianos deveriam cumprir a missão de não permitir que as massas de negros e mestiços pudessem interferir nos destinos do país. "A civilização ariana está representada no Brasil por uma fraca minoria da raça branca a quem ficou o encargo de defendê-la (…) (dos) atos anti-sociais das raças inferiores, sejam estes verdadeiros crimes no conceito dessas raças, sejam, ao contrário, manifestações do conflito, da luta pela existência entre a civilização superior da raça branca e os esboços de civilização das raças conquistadas ou submetidas".[1]

Produção teórica e trabalhos publicados

Estima-se que sua obra inclui cerca de sessenta livros e artigos sobre temas que abrangem diversas especialidades médicas, particularmente Medicina Legal, Antropologia, Direito, Psicologia e Sociologia, publicados em jornais da época, entre as quais: Gazeta Médica (da qual foi redator chefe); Jornal do Comércio; Revista Médica de São Paulo; Annales Médico-Psychologiques; Revista Brazileira; Revista Médico Legal da Bahia, (órgão da Sociedade, da qual integrava seu conselho editorial). [2] Alguns dos seus trabalhos publicados em francês ainda estão inéditos na língua portuguesa. Entre suas principais obras inclui-se

  • A Morféia em Andajatuba (1886).
  • Das amiotrofias de origem periférica. (Tese doutourado, 1888)
  • As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil (1894). PDF
  • O animismo fetichista dos negros baianos (1900),
  • O alienado no Direito Civil Brasileiro (1901).
  • Manual de autópsia médico-legal. Salvador. (1901).
  • Os Africanos no Brasil (1932). PDF
  • As Coletividades anormais. (1939).

A visão da crítica sobre Nina Rodrigues

Diversos escritores criticaram o professor Nina Rodrigues por suas idéias. Foi citado em diversos livros, por vezes com nome trocado, como no livro Tenda dos Milagres de Jorge Amado, no qual o autor deu-lhe o nome de professor Nilo Argolo. Porém, o nome do livro escrito pelo personagem era Mestiçagem, Degenerescência e Crime, o que liga diretamente o personagem a Nina Rodrigues.

Ver também

Referências

  1. Reflexões sobre o marxismo e a questão racial
  2. Corrêa, Mariza Raimundo Nina Rodrigues. Sociedade Brasileira de História da Medicina, Vultos da Medicina Brasileira

Ligações externas