Rosângela Rennó

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Rosângela Rennó
Nascimento 19 de novembro de 1962
Belo Horizonte, MG
Nacionalidade Brasil
Prémios The Paris Photo, Aperture Foundation PhotoBook Awards 2013 - First PhotoBook and PhotoBook of the Year.

Prêmio Mário Pedrosa, Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA 2008 Prêmio Porto Seguro de Fotografia 2008. Prêmio Jabuti, 2004, categoria Projeto e Produção Gráfica para o livro O Arquivo Universal e outros Arquivos. Prêmio Marc Ferrez de Fotografia (IBAC/FUNARTE), 1992.

Área artes plásticas, fotografia
Formação Arquitetura pela UFMG, artes plásticas pela Escola Guignard, doutorado em artes plásticas pela ECA/USP
Página oficial
Website oficial

Rosângela Rennó Gomes (Belo Horizonte, MG, 1962) é uma artista plástica brasileira que vive e trabalha no Rio de Janeiro.

Biografia[editar | editar código-fonte]

A artista formou-se em arquitetura pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1986 e em artes plásticas pela Escola Guignard, em Minas Gerais, em 1987. Ela produz fotografias, instalações e objetos por meio da utilização de imagens fotográficas de arquivos públicos e privados, abordando questões acerca da natureza da imagem, seu valor simbólico e seu processo de despersonalização.[1] Obteve seu doutorado em ciências da comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em 1997, com um livro de artista desenvolvido a partir da série Cicatriz (1996), realizada com reproduções de negativos fotográficos do Arquivo do Museu Penitenciário Paulista.[2]

Carreira artística[editar | editar código-fonte]

Rosângela Rennó iniciou sua trajetória artística na década de 1980, tendo realizado sua primeira exposição coletiva em 1985 na Galeria IAB, Belo Horizonte, e primeira exposição individual, Anti-Cinema, quatro anos depois, em 1990, na Galeria Corpo, também em Belo Horizonte,[3] obtendo em pouco tempo rápido reconhecimento nacional e internacional.[4]

Em 1988, quando começa a pós-graduação na USP, desenvolve uma série de fotografias a partir de fotogramas jogados nos lixos próximos às salas de montagem.[5] Paralelamente, no final da década de 1980, Rennó foca nos universos familiar e feminino, voltando-se para imagens recolhidas em álbuns e arquivos fotográficos de sua família, interessada nas possibilidades de ressignificação da memória.[6]

Com sua mudança para o Rio de Janeiro em 1989, seu foco se desloca dos conflitos da esfera privada, como os laços de família, para a esfera pública ou coletiva. Rennó passa a trabalhar com negativos e cópias esquecidas de retratos 3x4 adquiridos em estúdios fotográficos populares. Mais tarde, fixou-se na narrativa fotográfica, recolhendo textos que falavam de fotografia em jornais de circulação nacional.[7]

Em meados da década de 1990, a artista começa a utilizar fotografias recolhidas em arquivos históricos e criminais, como as imagens de presos do extinto Departamento de Medicina e Criminologia, pertencentes ao Museu Penitenciário Paulista; ou retratados de antigos funcionários da companhia de construção do governo Novacap encontrados no Arquivo Público do Distrito Federal.

Comentário Crítico[editar | editar código-fonte]

Seu trabalho se apropria e traz visibilidade a um repertório anônimo de fotografias e negativos encontrados em feiras de antiguidade, álbuns pessoais, jornais e arquivos, traduzidas por processos de transferência de um contexto a outro, de um suporte a outro. A artista utiliza a fotografia por meio de um discurso fotográfico que vai além da bidimensionalidade. Ela trabalha com conceitos como memória, sujeito e identidade, oferecendo novas possibilidades de leituras sobre histórias esquecidas, ou realizando novas leituras. O principal instrumento de trabalho de Rennó é a memória do sujeito, em seus trabalhos ela cria ambientes com a ampliação das reflexões artísticas entre realidade e ficção, público e privado e sujeito e memória. O interesse pelas imagens descartadas e o hábito de colecionar foram decisivos para a formação de sua estratégia de trabalho.[8]

Rosângela Rennó compõe sua obra pela apropriação de imagens e textos de autores anônimos. Em 1985, realiza o trabalho Hora do Ângelus, em que combina desenho e fotografia. Conclui o curso de artes plásticas em 1987. A partir daí trabalha com peças agrupadas em séries. Na série Conto de Bruxas (1988), subverte as ilustrações de histórias infantis e lhes dá um caráter surrealista. Em 1988, cria a série Pequena Ecologia da Imagem, em que, pela primeira vez, se apropria de fotografias de autores anônimos. As obras de sua individual de 1989, Anti-Cinema - Veleidades Fotográficas, na Sala Corpo de Exposições, em Belo Horizonte, são feitas com manipulação de fotogramas de cinema recolhidos de arquivos.

Muda-se para o Rio de Janeiro em 1989. Passa a utilizar fotografias como matéria para a composição de objetos e progressivamente adquire interesse pelo espaço. Trabalha com publicações, como O Grande Livro do Adeus (1989) e Private Eye (1992). Também utiliza fotografias em trabalhos lúdicos, como Puzzles (1990). Depois de 1991, faz instalações, como Duas Lições de Realismo Fantástico (1991) e Atentado ao Poder (1992). O crítico de arte Paulo Herkenhoff comenta que, na época, a temática da artista desloca-se "dos conflitos da esfera privada para os da esfera pública ou coletiva".1 Dialoga com a obra de artistas como Christian Boltanski (1944) e John Baldessari (1931).

Em 1993, inicia o projeto Arquivo Universal. Nesta série, substitui as imagens por notícias sobre a fotografia. Em outras instalações, combina imagem e texto, como em In Oblivionem (1994/1995). São textos que falam da imagem ausente. A manipulação dos significados da escrita guarda relação com o trabalho do artista norte-americano Joseph Kosuth (1945). Em 1994, participa da 22a Bienal Internacional de São Paulo com a instalação Candelária. Na série Cicatriz, de 1996, trabalha com imagens recolhidas do Museu Penitenciário Paulista. Negativos do mesmo arquivo são utilizados no conjunto Vulgo, de 1998. Em 2003, participa da Bienal de Veneza e monta retrospectiva no Centro Cultural Banco do Brasil - CCBB, no Rio de Janeiro, com trabalhos de 1990 a 2003. Entre eles, mostra a série Bibliotheca (2002), feita com imagens recolhidas de álbuns fotográficos de anônimos. Esta série é exibida, no mesmo ano, no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte, e na Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo.[9]

Curadoria[editar | editar código-fonte]

Em 2014, Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, apontou Rennó para o cargo de curadora-adjunta de fotografia. Após organizar uma exposição em 2016 sobre o Foto Cine Clube Bandeirante, seu contrato de um ano não foi renovado.[10]

Exposições[editar | editar código-fonte]

Realizou numerosas exposições individuais e coletivas, tendo participado de duas edições da Bienal Internacional de São Paulo (a 24ª, em 1994, e a 29ª, em 2010); de duas edições da Bienal de Artes Visuais do Mercosul (a 1ª, em 1997, e a 7ª, em 2009), da 50ª Bienal de Veneza, em 1993, e da 6ª Bienal de Havana, em 1997. Conquistou bolsas do Centro Nacional de Pesquisa Tecnológica, em 1991; da Fundação Nacional de Artes, em 1992; da Civitella Ranieri Foundation, de Umbertide (Itália), em 1997; da Fundação Vitae, em 1998, assim como da Guggenheim (EUA), em 1999.

Prêmios e Bolsas[editar | editar código-fonte]

Ano Prêmio / Bolsa
1986 Prêmio aquisitivo [Accquisition Prize] Empresa Cautos, XXXIX Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, Recife
1988 2o. Prêmio [2nd Award] no XIII SARP (Salão de Artes Plásticas de Ribeirão Preto), Ribeirão Preto

Prêmio aquisitivo [Accquisition Prize] Hoescht do Brasil, XX Salão Nacional de Arte, Belo Horizonte

1989 Prêmio [Award] Fotoptica, VII Salão Paulista de Arte Contemporânea, São Paulo
1991 Prêmio aquisitivo [Accquisition Prize], XVI SARP (Salão de Artes de Ribeirão Preto), Ribeirão Preto
1992 Prêmio Marc Ferrez de Fotografia (IBAC/FUNARTE), Rio de Janeiro, [Photography Award]
1993 Prêmio aquisitivo [Accquisition Prize], II Salão Paraense de Arte Contemporânea, Curitiba

Prêmio aquisitivo [Accquisition Prize], 13o. Salão Nacional de Artes Plásticas,IBAC/FUNARTE, Rio de Janeiro

1995-1997 Programa Artista em Residência, Fondaccione Civitella Ranieri, Umbertide. [Artist in Residence Program, Civitella Ranieri Foundation]
1997 Prêmio Santista Juventude, categoria Fotografia [Photography category], Fundação Santista [Foundation], São Paulo
1998 Bolsa Vitae de Arte [Grant], categoria Artes Plásticas [Fine Arts category], São Paulo

Prêmio aquisitivo no Prêmio Brasília de Artes Visuais, Museu de Arte de Brasília, Brasília. [Accquisition Prize in Brasilia Award for Visual Arts]

1999 Bolsa Guggenheim [Fellowship], Nova York [New York]

Prémio ARCO Electrónico/Media Art'99 [Award], Madri [Madrid]

2000 Prêmio Cultural Sérgio Motta para novas mídias e tecnologia [New-media and technology Award]
2001 13. Festival Internacional de Arte Eletrônica VideoBrasil, São Paulo. [13rd International Festival of Electronic Art]
2004 Prêmio JABUTI, categoria Projeto e Produção Gráfica [Award, category Graphic design and production]
2008 Prêmio [award] Porto Seguro de Fotografia, categoria especial [special category]
2008 Edital Arte e Patrimônio, Rio de Janeiro, para o projeto de livro de artista
2009 Prêmio [award] Mário Pedrosa, Associação Brasileira de Críticos de Arte - ABCA
2013 Paris Photo-Aperture Foundation PhotoBook of the Year Award pelo livro [for the book] A01 [COD. 19.1.1.43] - A27 [S|COD.23] Prix du Livre Historique 2013/Historical Book Award 2013 - Les Rencontres ARLES Photographie, pelo livro A01 [COD. 19.1.1.43] - A27 [S|COD.23] 2012 1st ALICE Awards (Marcas artísticas na experiência contemporânea), nas categorias Arte política e voto popular. [Artistic landmarks in the contemporary experience, Political art and popular vote categories]
2014 CIFO Grants & Commissions Program

Acervos que possuem suas obras[editar | editar código-fonte]

Coleções nacionais[editar | editar código-fonte]

Coleções internacionais[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Rennó, Rosângela (1 de janeiro de 1997). Rosângela Rennó. [S.l.]: EdUSP. ISBN 9788531403743 
  2. «Rosângela Rennó / História dos Artistas Mineiros - Fotógrafos / Acervo de entrevistas / Início - História Oral - FAFICH/UFMG». www.fafich.ufmg.br. Consultado em 19 de abril de 2017 
  3. Rennó, Rosângela (1997). Rosângela Rennó. São Paulo: EdUSP. ISBN 9788531403743 
  4. Funarte -. «Biografia de Rosângela Rennó | Brasil Memória das Artes». Consultado em 20 de abril de 2017 
  5. Alzugaray, Paula (2007). Aqui passa o trópico (Folder de exposição.). São Paulo: Paço das Artes 
  6. Tvardovskas, Luana Saturnino; Rago, Luzia Margareth (25 de junho de 2008). «Figurações feministas na arte contemporanea  : Marcia X., Fernanda Magalhaes e Rosangela Renno». www.bibliotecadigital.unicamp.br. Consultado em 18 de abril de 2017 
  7. Rennó, Rosângela (2003). Rosângela Rennó: depoimento. Belo Horizonte: Com Arte 
  8. Herkenhoff, Paulo (1996). «Rennó ou a beleza e o dulçor do presente». Rosângela Rennó. São Paulo: Edusp 
  9. HERKENHOFF, Paulo. Rennó ou a beleza e o dulçor do presente. In: RENNÓ, Rosângela. Rosângela Rennó. São Paulo: Edusp, 1998. (Artistas da Usp, 9). p. 136
  10. «Após única mostra, Rosângela Rennó deixará área de fotografia do Masp». Folha de S.Paulo 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]