Santa Casa da Misericórdia

As Misericórdias, também conhecidas como Santas Casas ou Santas Casas das Misericórdias são irmandades católicas que têm como missão o tratamento e sustento a enfermos e inválidos, além de dar assistência a “expostos” — recém-nascidos abandonados na instituição.
A sua organização e missão remonta ao Compromisso da Misericórdia de Lisboa, composto por 14 obras de misericórdia, sendo sete delas espirituais — "ensinar os simples, dar bons conselhos, castigar os que erram, consolar os tristes, perdoar as ofensas, sofrer com paciência, orar pelos vivos e pelos mortos" — e sete corporais — "visitar os enfermos e os presos, remir os cativos, vestir os nus, dar de comer aos famintos e de beber aos sedentos, abrigar os viajantes e enterrar os mortos". Todas as obras possuem fundamentos na doutrina cristã, como nos textos bíblicos do Evangelho de São Mateus e as Epístolas de São Paulo e demais doutores da Igreja Católica, ou então provêm de tradições de povos antigos que foram incorporadas ao Cristianismo. Para realizá-las, muitas vezes a irmandade não precisa de ter uma instituição física, fazendo cumprir as catorze obras nas ruas, em presídios, etc.
Por estímulo do Rei Manuel I de Portugal, fundador da instituição, e de seus sucessores, houve a criação de Santas Casas por todo o Reino de Portugal e restantes províncias ultramarinas, chegando a ter unidades da instituição na África e Ásia, além da América e Europa. A atuação destas instituições apresentou duas fases: a primeira compreendeu o período de meados do século XVIII até 1837, de natureza caritativa; a segunda, o período de 1838 a 1940, com preocupações de natureza filantrópica.[1]
Em Portugal[editar | editar código-fonte]

A primeira Misericórdia em Portugal, a de Lisboa, foi fundada pela rainha D. Leonor, viúva de D. João II, que inspirou a criação de outras Misericórdias em Portugal e na diáspora portuguesa.
A instituição remonta à fundação, em 1498, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, pela rainha D. Leonor. A Rainha D. Leonor, viúva de Dom João II, passou a dedicar-se intensamente aos doentes, pobres, órfãos, prisioneiros e artistas e patrocinou a fundação da Santa Casa, instituindo a primeira legítima ONG do mundo, em um tempo em que seria impensável a existência de uma instituição social que se declarasse leiga e não governamental.
A instituição surgiu a partir da remodelação da Confraria de Caridade Nossa Senhora da Piedade, que era destinada a enterrar os mortos, visitar os presos e acompanhar os condenados à morte até o local de sua execução. Destinada inicialmente a atender a população mais necessitada, com funções como alimentar os famintos, assistir aos enfermos, consolar os tristes, educar os enjeitados entre outras, mais tarde passou ainda a prestar assistência aos "expostos" — recém-nascidos abandonados numa roda para que não se conhecessem os pais. Essa obrigatoriedade foi confirmada pelos Alvarás-Régios de 22 de agosto de 1654 e de 22 de dezembro de 1656. As crianças então recebiam o batismo para salvar suas almas, a amamentação das amas de leite para salvar suas vidas. As meninas deveriam também ter sua honra salva, por isso foram criados os recolhimentos, nos quais permaneciam preservadas até o casamento, quando receberiam um chamado para serem boas esposas e mães cristãs. Durante esse período, as garotas eram enclausuradas na Santa Casa, com regras a serem cumpridas, como a obrigação de se confessarem todos os primeiros domingos do mês, receberem o santíssimo sacramento da eucaristia diariamente, etc. e eram punidas caso não cumprissem com tais princípios.
O Hospital cresceu com ajuda de doações e pelo prestígio que a Santa Casa ganhava com o desenvolvimento econômico da colônia. Da época de sua fundação até a metade do século XVIII, a Santa Casa foi dirigida por pessoas situadas nos altos escalões do governo. As Santas Casas constituíam-se no principal instrumento de ação social da Coroa portuguesa, e a sua criação acompanhou o estabelecimento dos primeiros poderes governamentais.
Dessa forma, as irmandades ocupam lugar de destaque numa história de assistência, isto é, práticas ligadas aos costumes e ensinamentos cristãos e, por tanto, realizadas pelo amor de Deus e em nome da salvação da alma, como se acreditava na época de sua criação. Atualmente, a instituição está presente em todo o país, sendo a de maior porte a de Lisboa, que se encontra no Largo Trindade Coelho, entre o Chiado e o Bairro Alto. Este largo é denominado popularmente como Largo da Misericórdia ou Largo do Cauteleiro, devido à estátua representando um cauteleiro no largo, que evoca a lotaria e os jogos organizados pela Santa Casa.
As 388 Misericórdias atualmente ativas em Portugal apoiam diariamente cerca de 165 mil pessoas e, para o efeito, contam com mais de 45 mil colaboradores diretos.[2]
Nos Açores[editar | editar código-fonte]
Na Região Autónoma dos Açores existem 23 Misericórdias. Em 2019, a Santa Casa da Misericórdia do Divino Espírito Santo da Maia celebra 100 anos.
Na Madeira[editar | editar código-fonte]
Na Região Autónoma da Madeira existem 5 Misericórdias. A mais antiga foi fundada em 1508.
No Brasil[editar | editar código-fonte]


No Brasil, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia surgiu ainda no período colonial, instalando-se em Olinda, na Capitania de Pernambuco, em 1539. No ano seguinte já funcionava ali a primeira instituição hospitalar do país, destinada a atender os enfermos dos navios dos portos e moradores das cidades. O estabelecimento funcionou ininterruptamente até a invasão holandesa, quando foi saqueado e incendiado. Chegou a ser reconstruído depois da expulsão dos flamengos, mas foi extinto com a criação da Santa Casa de Misericórdia do Recife.[3][4] Depois do Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Olinda surgiram as Santas Casas de Santos, da Bahia, do Espírito Santo, do Rio de Janeiro e de São Paulo. Nesse período, entretanto, não se pode destacar nenhuma prática como científica, porque esses saberes só emergiram no país a partir da vinda da Corte portuguesa e da criação das faculdades de Medicina e de Direito.[5]
Além disso, pode-se destacar, com a fundação do município do Rio de Janeiro, por exemplo, a Santa Casa da Misericórdia do estado, instalada pelo Padre José de Anchieta para socorrer os tripulantes da esquadra do Almirante Diogo Flores Valdez, aportada à baía de Guanabara em 25 de março de 1582 com escorbuto a bordo. Nesta cidade, responsabilizou-se, secularmente, pela administração dos cemitérios.
Em Porto Alegre, existe atualmente o chamado Complexo Hospitalar Santa Casa, um conjunto de sete hospitais que atende todas as especialidades médicas para particulares e convênios. Um centro cultural está sendo construído junto ao complexo, aproveitando os prédios históricos da instituição. Há também atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), através de convênio entre o MEC, a UFCSPA e a Santa Casa. Atualmente, no Brasil, existem mais de 2500 hospitais da Santa Casa. Em Minas Gerais, esse número representa 323 instituições filantrópicas de saúde. Em Belo Horizonte a Santa Casa é uma empresa que faz parte do Grupo Santa Casa de Belo Horizonte e é o maior complexo hospitalar do estado. Hoje a obra está presente em quase todas as capitais e em muitos municípios do interior do país.
Já no caso de São Paulo, existem centenas de Santas Casas e as principais, são às chamadas Santas Casas que são "hospitais estruturantes", que atualmente estão em número de vinte. Há também às Santas Casas "estratégicas" e as de "apoio".[6]
- Santa Casa de Misericórdia de Araçatuba
- Santa Casa de Misericórdia de Araraquara
- Santa Casa de Misericórdia da Bahia
- Santa Casa de Misericórdia de Barretos
- Santa Casa de Misericórdia de Belém
- Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte
- Santa Casa de Misericórdia de Campinas
- Santa Casa de Misericórdia de Corumbá
- Santa Casa de Misericórdia de Curitiba
- Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza
- Santa Casa de Misericórdia de Franca
- Santa Casa de Misericórdia de Goiânia
- Santa Casa de Misericórdia de Itapeva
- Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora
- Santa Casa de Misericórdia de Jundiaí
- Santa Casa de Misericórdia de Limeira
- Santa Casa de Misericórdia de Manaus
- Santa Casa de Misericórdia de Marília
- Santa Casa de Misericórdia de Mogi Guaçu
- Santa Casa de Misericórdia de Olinda
- Santa Casa de Misericórdia de Olímpia
- Santa Casa de Misericórdia de Ourinhos
- Santa Casa de Misericórdia do Pará
- Santa Casa de Misericórdia de Paraty
- Santa Casa de Misericórdia de Passos
- Santa Casa de Misericórdia de Pelotas
- Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba
- Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
- Santa Casa de Misericórdia de Presidente Prudente
- Santa Casa de Misericórdia do Recife
- Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro
- Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro
- Santa Casa de Misericórdia de Santos
- Santa Casa de Misericórdia de São Carlos
- Santa Casa de Misericórdia de São João da Boa Vista
- Santa Casa de Misericórdia de São João del Rei
- Santa Casa de Misericórdia de São José do Rio Preto
- Santa Casa de Misericórdia de São José dos Campos
- Santa Casa de Misericórdia de São Paulo
- Santa Casa de Misericórdia de Sobral
- Santa Casa de Misericórdia de Vitória
- Santa Casa de Misericórdia de Votuporanga
Localização de outras Misericórdias [2][editar | editar código-fonte]

- Angola:
- Santa Casa da Misericórdia de Luanda
- Santa Casa da Misericórdia de Huambo
- Espanha:
- Santa Casa da Misericórdia de Pamplona
- Santa Casa da Misericórdia de Barcelona
- Santa Casa da Misericórdia de Bilbao
- Santa Casa da Misericórdia de Azpeitia
- Santa Casa da Misericórdia de Olivenza
- Santa Casa da Misericórdia de Ávila
- Santa Casa da Misericórdia de Alcuéscar (Cáceres)
- Santa Casa da Misericórdia de Tudela
- França:
- Santa Casa da Misericórdia de Paris
- Itália:
- Santa Casa da Misericórdia de Florença
- Luxemburgo:
- Santa Casa da Misericórdia de Luxemburgo
- China:
- Moçambique:
- Santa Casa da Misericórdia de Maputo
- Palestina:
- Santa Casa da Misericórdia de Belém
- Ilhas de São Tomé e Príncipe:
- Santa Casa da Misericórdia de São Tomé e Príncipe
- Ucrânia:
- Santa Casa da Misericórdia de Kiev
Ver também[editar | editar código-fonte]
Referências
- ↑ http://www.scmp.org.br/materia/61/a-historia-das-santas-casas
- ↑ a b «União das Misericórdias Portuguesas (UMP)». Consultado em 23 de abril de 2019
- ↑ «Catálogo - ID: 44158». IBGE. Consultado em 8 de junho de 2018
- ↑ «A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Olinda e seu prestígio social e político em Pernambuco». ABHR. Consultado em 8 de junho de 2018
- ↑ http://iscmitu.org.br/historia-das-santas-casas/
- ↑ http://www.saocarlos.sp.gov.br/index.php/noticias-2014/165224-santa-casa-se-consolida-como-hospital-estruturante-e-esta-entre-as-12-melhores-do-estado.html
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hosp. e Entidades Filantrópicas - CMB
- Portugaliae Monumenta Misericordiarum, vol. 3, A Fundação das Misericórdias: o reinado de D. Manuel I (coord. científica), por José Pedro Paiva, União das Misericórdias Portuguesas e Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2004