Segurança do trabalho


A segurança do trabalho (ou também denominada segurança ocupacional) é uma ciência que tem o objetivo de promover a proteção do trabalhador em seu local de trabalho, visando a redução de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.
É uma das áreas da segurança e saúde do trabalho (ou também denominada segurança e saúde ocupacional), cujo objetivo é identificar, avaliar e controlar situações de risco, proporcionando um local de trabalho seguro e saudável para as pessoas.
Destacam-se entre as principais atividades de segurança do trabalho: prevenção de acidentes; promoção da saúde; promoção de cursos e treinamentos; elaboração de documentos técnicos, elaboração de pericias trabalhistas; consultoria ou assessoria.
Brasil
[editar | editar código-fonte]No Brasil, a segurança e saúde do trabalho é regulamentada na forma do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT). Este serviço está previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e regulamentado pela portaria nº 3.214 de 08 de junho de 1978, considerando o disposto no art. 200, da CLT, com redação dada pela Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977 do Ministério do Trabalho e Emprego, por intermédio da Norma Regulamentadora nº 4 (NR 4),[2] e as normas da ABNT referentes a segurança do trabalho.
Segundo Nogueira (1987), a primeira estatística oficial disponível sobre acidentes de trabalho no Brasil data de 1969, tendo-se registrado a marca alarmante de 1.059.296 acidentes em uma população de 7.268.449 trabalhadores, sendo que pelo menos 14,47% daqueles trabalhadores tinham sofrido pelo menos um acidente durante aquele ano. Esse índice apresentou tendências crescentes até atingir o máximo de 18,10% em 1972. A partir de 1975, com a adoção de medidas preventivas e a atuação governamental nessa área, os índices tenderam a decrescer, baixando para 3,84% em 1984.[3]
O país tem investido em ações de legislação, fiscalização e a implantação de preceitos e valores de prevenção na segurança do trabalho.[4] De acordo com pesquisa realizada pelo Serviço Social da Indústria, entre outubro de 2015 e fevereiro de 2016, 71,6% das indústrias afirmaram dar alta atenção à saúde e segurança dos trabalhadores. Empresas grandes e médias de todo o Brasil que participaram do levantamento, indicaram que os investimentos em segurança e saúde do trabalho dão retorno aos negócios. A mesma pesquisa mostrou que o grau de atenção da indústria brasileira ao tema deve aumentar nos próximos cinco anos.[5] E desde 2012, o Conselho Superior da Justiça do Trabalho promove o Programa Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho,[6]
Contudo, o Brasil ainda permanece como um dos países com maior índice de acidentes. Este se concentra em alguns setores, como na construção civil e transportes.[7]
História
[editar | editar código-fonte]A história da segurança do trabalho no Brasil acompanha o desenvolvimento da industrialização e da legislação trabalhista no país, tendo evoluído significativamente a partir do século XX. Os primeiros registros de preocupação institucional com a proteção à saúde e à integridade física dos trabalhadores datam do início da Era Vargas, com a criação de normas e órgãos voltados à fiscalização das condições de trabalho[8].
Primeiras iniciativas legais
[editar | editar código-fonte]A primeira legislação brasileira a tratar da segurança no trabalho foi o Decreto nº 1.313, de 17 de janeiro de 1891, que dispunha sobre a inspeção dos estabelecimentos industriais nas capitais dos estados[9]. No entanto, sua aplicação foi limitada e pouco efetiva. Somente com o avanço das políticas trabalhistas na década de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, é que surgiram medidas mais sistemáticas. Em 1934, a Constituição Federal já previa a proteção ao trabalhador, estabelecendo direitos como a jornada de trabalho de oito horas e descanso semanal remunerado[10][11].
O marco inicial mais relevante da segurança do trabalho no Brasil ocorreu com a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1º de maio de 1943. A CLT estabeleceu normas específicas relacionadas à higiene, medicina e segurança do trabalho, organizando os direitos dos trabalhadores em uma legislação unificada[12].
Consolidação e regulamentações técnicas
[editar | editar código-fonte]Com o processo de modernização e crescimento industrial do país, especialmente a partir da década de 1960, intensificou-se a preocupação com a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais[13]. Em 1977, o Brasil criou o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e, em 1978, foi instituída a Portaria nº 3.214 do Ministério do Trabalho, que regulamentou as chamadas Normas Regulamentadoras (NRs)[14][15]. Essas normas definem os requisitos técnicos e legais para assegurar condições seguras e saudáveis de trabalho, abrangendo desde o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) até a ergonomia e o trabalho em altura.
Ao longo das décadas seguintes, as NRs foram continuamente revisadas e atualizadas, incorporando avanços técnicos e científicos, bem como diretrizes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é membro desde 1919[16].
Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho
[editar | editar código-fonte]Em 2011, foi instituída a Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho (PNSST) por meio do Decreto nº 7.602. A política tem como objetivo integrar ações dos poderes públicos nas áreas de saúde, trabalho e previdência social, promovendo uma cultura nacional de prevenção. Ela estabelece diretrizes para a gestão de riscos ocupacionais, a vigilância sanitária e epidemiológica, e a formação e capacitação de trabalhadores e empregadores[17][18][19].
Tendências contemporâneas
[editar | editar código-fonte]Nos últimos anos, a segurança do trabalho no Brasil tem sido influenciada por temas como sustentabilidade, bem-estar organizacional, diversidade e inclusão, além da incorporação de tecnologias como inteligência artificial, internet das coisas (IoT) e análise de dados na gestão da segurança ocupacional[20][21][22]. A pandemia de COVID-19 também ampliou o foco em biossegurança e saúde mental no ambiente de trabalho[23].
O fortalecimento de políticas de compliance trabalhista, a fiscalização digital por meio do eSocial, e a adoção de boas práticas internacionais têm contribuído para uma maior institucionalização da cultura de prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho no Brasil[24].
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ «Preventing the Injury of Workers by Robots». CDC (em inglês). Dezembro de 1984. Consultado em 15 de agosto de 2020
- ↑ Ministério do Trabalho e Emprego (2008). «Inspeção do Trabalho Segurança e Saúde do Trabalho - Normas regulamentadoras». Ministério do Trabalho e Emprego. Consultado em 20 de maio de 2010
- ↑ NOGUEIRA, D. P. (1987). Prevention of accidents and injuries in Brazil. [S.l.]: Ergonomics v.30, n.2. pp. 387–393
- ↑ Peixoto, Neverton Hofstadler. Curso técnico em automação industrial : segurança do trabalho. – 3. ed. – Santa Maria : Universidade Federal de Santa Maria : Colégio Técnico Industrial de Santa Maria, 2011. 128 p. : il.
- ↑ «Pesquisa publicada no portal A Crítica». Consultado em 22 de agosto de 2016
- ↑ «Programa Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho». Tribunal Superior do Trabalho. Consultado em 11 de setembro de 2018
- ↑ Lida, Itiro (2005). Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blücher. 422 páginas
- ↑ Luz, Alex Faverzani da; Santin, Janaína Rigo (dezembro de 2010). «As relações de trabalho e sua regulamentação no Brasil a partir da revolução de 1930». História (São Paulo): 268–278. ISSN 0101-9074. doi:10.1590/S0101-90742010000200015. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ «Portal da Câmara dos Deputados». www2.camara.leg.br. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ Treinamentos, I. S. C. «História da Segurança do Trabalho: Saiba como iniciou no Brasil!». ISC Treinamentos. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ «DECRETO-LEI Nº 5.452, DE 01 DE MAIO DE 1943». www.jusbrasil.com.br. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ «História: A criação da CLT». Jusbrasil. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ Nacional, Imprensa. «DECRETO Nº 10.761, DE 2 DE AGOSTO DE 2021 - DOU - Imprensa Nacional». www.in.gov.br. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ «PORTARIA Nº 3.214, DE 08 DE JUNHO DE 1978». Portal da Câmara dos Deputados. Junho de 1978. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ «Norma Regulamentadora No. 32 (NR-32)». Ministério do Trabalho e Emprego. 22 de outubro de 2020. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ «Trabalho doméstico remunerado na América Latina e Caribe» (PDF). Organização Internacional do Trabalho. 27 de agosto de 2014. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ «Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho (PNSST) | International Labour Organization». www.ilo.org. 7 de novembro de 2011. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ Catálogo. «Catálogo - Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho». catalogo.ipea.gov.br. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ «DECRETO Nº 7.602, DE 7 DE NOVEMBRO DE 2011.». www.planalto.gov.br. 7 de novembro de 2011. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ «PROGRAMA DE INTEGRIDADE ADOTADO PELAS EMPRESAS: O COMPLIANCE TRABALHISTA E A GOVERNANÇA CORPORATIVA – ISSN 1678-0817 Qualis B2». Revista ft. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ «Tecnologias emergentes na gestão de segurança: IA e IoT na proteção do trabalhador». psico-smart.com. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ «Entenda o que é o conceito e como funciona!». Bosch no Brasil. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ Rosário, Celita Almeida; Souto, Ester Paiva; Morosini, Márcia Valéria Guimarães Cardoso; Petra, Priscila Cardia; Matta, Gustavo Corrêa (11 de outubro de 2024). «Transformação do trabalho no contexto da covid-19: experiências de trabalhadores da Estratégia Saúde da Família». Trabalho, Educação e Saúde: e02904268. ISSN 1678-1007. doi:10.1590/1981-7746-ojs2904. Consultado em 22 de abril de 2025
- ↑ felipesilva; Construção, CBIC-Câmara Brasileira da Indústria da (18 de julho de 2024). «Artigo: Programa de Compliance Trabalhista: Benefícios e Implementação». CBIC – Câmara Brasileira da Industria da Construção. Consultado em 22 de abril de 2025