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Segurança do trabalho

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(Redirecionado de Segurança no trabalho)
Cartazes afixados na Avenida Amazonas, em Belo Horizonte, alertando sobre a segurança do trabalho na Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG).
Acidente fatal ocorrido com um robô industrial, em 1984, como relatado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças.[1]

A segurança do trabalho (ou também denominada segurança ocupacional) é uma ciência que tem o objetivo de promover a proteção do trabalhador em seu local de trabalho, visando a redução de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.

É uma das áreas da segurança e saúde do trabalho (ou também denominada segurança e saúde ocupacional), cujo objetivo é identificar, avaliar e controlar situações de risco, proporcionando um local de trabalho seguro e saudável para as pessoas.

Destacam-se entre as principais atividades de segurança do trabalho: prevenção de acidentes; promoção da saúde; promoção de cursos e treinamentos; elaboração de documentos técnicos, elaboração de pericias trabalhistas; consultoria ou assessoria.

No Brasil, a segurança e saúde do trabalho é regulamentada na forma do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT). Este serviço está previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e regulamentado pela portaria nº 3.214 de 08 de junho de 1978, considerando o disposto no art. 200, da CLT, com redação dada pela Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977 do Ministério do Trabalho e Emprego, por intermédio da Norma Regulamentadora nº 4 (NR 4),[2] e as normas da ABNT referentes a segurança do trabalho.

Segundo Nogueira (1987), a primeira estatística oficial disponível sobre acidentes de trabalho no Brasil data de 1969, tendo-se registrado a marca alarmante de 1.059.296 acidentes em uma população de 7.268.449 trabalhadores, sendo que pelo menos 14,47% daqueles trabalhadores tinham sofrido pelo menos um acidente durante aquele ano. Esse índice apresentou tendências crescentes até atingir o máximo de 18,10% em 1972. A partir de 1975, com a adoção de medidas preventivas e a atuação governamental nessa área, os índices tenderam a decrescer, baixando para 3,84% em 1984.[3]

O país tem investido em ações de legislação, fiscalização e a implantação de preceitos e valores de prevenção na segurança do trabalho.[4] De acordo com pesquisa realizada pelo Serviço Social da Indústria, entre outubro de 2015 e fevereiro de 2016, 71,6% das indústrias afirmaram dar alta atenção à saúde e segurança dos trabalhadores. Empresas grandes e médias de todo o Brasil que participaram do levantamento, indicaram que os investimentos em segurança e saúde do trabalho dão retorno aos negócios. A mesma pesquisa mostrou que o grau de atenção da indústria brasileira ao tema deve aumentar nos próximos cinco anos.[5] E desde 2012, o Conselho Superior da Justiça do Trabalho promove o Programa Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho,[6]

Contudo, o Brasil ainda permanece como um dos países com maior índice de acidentes. Este se concentra em alguns setores, como na construção civil e transportes.[7]

A história da segurança do trabalho no Brasil acompanha o desenvolvimento da industrialização e da legislação trabalhista no país, tendo evoluído significativamente a partir do século XX. Os primeiros registros de preocupação institucional com a proteção à saúde e à integridade física dos trabalhadores datam do início da Era Vargas, com a criação de normas e órgãos voltados à fiscalização das condições de trabalho[8].

Primeiras iniciativas legais

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A primeira legislação brasileira a tratar da segurança no trabalho foi o Decreto nº 1.313, de 17 de janeiro de 1891, que dispunha sobre a inspeção dos estabelecimentos industriais nas capitais dos estados[9]. No entanto, sua aplicação foi limitada e pouco efetiva. Somente com o avanço das políticas trabalhistas na década de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, é que surgiram medidas mais sistemáticas. Em 1934, a Constituição Federal já previa a proteção ao trabalhador, estabelecendo direitos como a jornada de trabalho de oito horas e descanso semanal remunerado[10][11].

O marco inicial mais relevante da segurança do trabalho no Brasil ocorreu com a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1º de maio de 1943. A CLT estabeleceu normas específicas relacionadas à higiene, medicina e segurança do trabalho, organizando os direitos dos trabalhadores em uma legislação unificada[12].

Consolidação e regulamentações técnicas

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Com o processo de modernização e crescimento industrial do país, especialmente a partir da década de 1960, intensificou-se a preocupação com a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais[13]. Em 1977, o Brasil criou o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e, em 1978, foi instituída a Portaria nº 3.214 do Ministério do Trabalho, que regulamentou as chamadas Normas Regulamentadoras (NRs)[14][15]. Essas normas definem os requisitos técnicos e legais para assegurar condições seguras e saudáveis de trabalho, abrangendo desde o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) até a ergonomia e o trabalho em altura.

Ao longo das décadas seguintes, as NRs foram continuamente revisadas e atualizadas, incorporando avanços técnicos e científicos, bem como diretrizes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é membro desde 1919[16].

Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho

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Em 2011, foi instituída a Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho (PNSST) por meio do Decreto nº 7.602. A política tem como objetivo integrar ações dos poderes públicos nas áreas de saúde, trabalho e previdência social, promovendo uma cultura nacional de prevenção. Ela estabelece diretrizes para a gestão de riscos ocupacionais, a vigilância sanitária e epidemiológica, e a formação e capacitação de trabalhadores e empregadores[17][18][19].

Tendências contemporâneas

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Nos últimos anos, a segurança do trabalho no Brasil tem sido influenciada por temas como sustentabilidade, bem-estar organizacional, diversidade e inclusão, além da incorporação de tecnologias como inteligência artificial, internet das coisas (IoT) e análise de dados na gestão da segurança ocupacional[20][21][22]. A pandemia de COVID-19 também ampliou o foco em biossegurança e saúde mental no ambiente de trabalho[23].

O fortalecimento de políticas de compliance trabalhista, a fiscalização digital por meio do eSocial, e a adoção de boas práticas internacionais têm contribuído para uma maior institucionalização da cultura de prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho no Brasil[24].

Referências

  1. «Preventing the Injury of Workers by Robots». CDC (em inglês). Dezembro de 1984. Consultado em 15 de agosto de 2020 
  2. Ministério do Trabalho e Emprego (2008). «Inspeção do Trabalho Segurança e Saúde do Trabalho - Normas regulamentadoras». Ministério do Trabalho e Emprego. Consultado em 20 de maio de 2010 
  3. NOGUEIRA, D. P. (1987). Prevention of accidents and injuries in Brazil. [S.l.]: Ergonomics v.30, n.2. pp. 387–393 
  4. Peixoto, Neverton Hofstadler. Curso técnico em automação industrial : segurança do trabalho. – 3. ed. – Santa Maria : Universidade Federal de Santa Maria : Colégio Técnico Industrial de Santa Maria, 2011. 128 p. : il.
  5. «Pesquisa publicada no portal A Crítica». Consultado em 22 de agosto de 2016 
  6. «Programa Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho». Tribunal Superior do Trabalho. Consultado em 11 de setembro de 2018 
  7. Lida, Itiro (2005). Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard Blücher. 422 páginas 
  8. Luz, Alex Faverzani da; Santin, Janaína Rigo (dezembro de 2010). «As relações de trabalho e sua regulamentação no Brasil a partir da revolução de 1930». História (São Paulo): 268–278. ISSN 0101-9074. doi:10.1590/S0101-90742010000200015. Consultado em 22 de abril de 2025 
  9. «Portal da Câmara dos Deputados». www2.camara.leg.br. Consultado em 22 de abril de 2025 
  10. Treinamentos, I. S. C. «História da Segurança do Trabalho: Saiba como iniciou no Brasil!». ISC Treinamentos. Consultado em 22 de abril de 2025 
  11. «DECRETO-LEI Nº 5.452, DE 01 DE MAIO DE 1943». www.jusbrasil.com.br. Consultado em 22 de abril de 2025 
  12. «História: A criação da CLT». Jusbrasil. Consultado em 22 de abril de 2025 
  13. Nacional, Imprensa. «DECRETO Nº 10.761, DE 2 DE AGOSTO DE 2021 - DOU - Imprensa Nacional». www.in.gov.br. Consultado em 22 de abril de 2025 
  14. «PORTARIA Nº 3.214, DE 08 DE JUNHO DE 1978». Portal da Câmara dos Deputados. Junho de 1978. Consultado em 22 de abril de 2025 
  15. «Norma Regulamentadora No. 32 (NR-32)». Ministério do Trabalho e Emprego. 22 de outubro de 2020. Consultado em 22 de abril de 2025 
  16. «Trabalho doméstico remunerado na América Latina e Caribe» (PDF). Organização Internacional do Trabalho. 27 de agosto de 2014. Consultado em 22 de abril de 2025 
  17. «Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho (PNSST) | International Labour Organization». www.ilo.org. 7 de novembro de 2011. Consultado em 22 de abril de 2025 
  18. Catálogo. «Catálogo - Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho». catalogo.ipea.gov.br. Consultado em 22 de abril de 2025 
  19. «DECRETO Nº 7.602, DE 7 DE NOVEMBRO DE 2011.». www.planalto.gov.br. 7 de novembro de 2011. Consultado em 22 de abril de 2025 
  20. «PROGRAMA DE INTEGRIDADE ADOTADO PELAS EMPRESAS: O COMPLIANCE TRABALHISTA E A GOVERNANÇA CORPORATIVA – ISSN 1678-0817 Qualis B2». Revista ft. Consultado em 22 de abril de 2025 
  21. «Tecnologias emergentes na gestão de segurança: IA e IoT na proteção do trabalhador». psico-smart.com. Consultado em 22 de abril de 2025 
  22. «Entenda o que é o conceito e como funciona!». Bosch no Brasil. Consultado em 22 de abril de 2025 
  23. Rosário, Celita Almeida; Souto, Ester Paiva; Morosini, Márcia Valéria Guimarães Cardoso; Petra, Priscila Cardia; Matta, Gustavo Corrêa (11 de outubro de 2024). «Transformação do trabalho no contexto da covid-19: experiências de trabalhadores da Estratégia Saúde da Família». Trabalho, Educação e Saúde: e02904268. ISSN 1678-1007. doi:10.1590/1981-7746-ojs2904. Consultado em 22 de abril de 2025 
  24. felipesilva; Construção, CBIC-Câmara Brasileira da Indústria da (18 de julho de 2024). «Artigo: Programa de Compliance Trabalhista: Benefícios e Implementação». CBIC – Câmara Brasileira da Industria da Construção. Consultado em 22 de abril de 2025 

Ligações externas

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