Stent bioabsorvível

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Stent bioabsorvível
Informações
Nome completo:
stent bioabsorvível
stent biodegradável
stent de absorção natural
Campo da medicina:
hemodinâmica
Tipo de intervenção:
percutânea minimamente invasiva
Primeira aplicação:
final dos anos 2000
Aviso médico
Enfatiza-se a leitura de A Wikipédia não dá conselhos médicos


Stent bioabsorvível, ou stent biodegradável, ou ainda stent de absorção natural, é um tipo de stent utilizado na angioplastia, fabricado a partir de materiais que podem ser absorvidos pelo sistema circulatório.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

O uso de stents metálicos que liberam fármacos, os chamados stents farmacológicos, apresenta algumas desvantagens potenciais, tais como predisposição à formação tardia de trombos no stent, dificuldade tardia de adaptação ou expansão do vaso sanguíneo, impedimento da revascularização cirúrgica e comprometimento na obtenção de imagens por tomografia.[1][2] Para superar essas possíveis desvantagens, foram desenvolvidos os stents bioabsorvíveis. Assim como os stents metálicos, a sua implantação dentro do vaso sanguíneo visa a restaurar o fluxo do sangue e auxiliar o processo de cicatrização. No entanto, diferencia-se dos outros tipos de stents, por ser gradualmente absorvido e expelido pelo corpo após alguns meses subsequentes ao implante, não deixando nenhum resíduo permanente dentro do vaso.

Estudos demonstraram que o período mais crítico de cicatrização do vaso é concluído em aproximadamente três meses.[3][4] Portanto, o objetivo de um stent bioabsorvível é permanecer íntegro e suportar totalmente o vaso durante este período crítico e, em seguida, ser absorvido pelo corpo, quando já não é mais necessário.

Materiais básicos[editar | editar código-fonte]

As estruturas bioabsorvíveis incluem materiais de base que podem ser metais ou polímeros. Os mais amplamente utilizados têm como base os polímeros, material semelhante ao usado ​​em pontos cirúrgicos bioabsorvíveis.

Base metálica[editar | editar código-fonte]

Os stents metálicos mais comuns têm como base o ferro, o magnésio, o zinco e suas ligas.

O stent de ferro foi pesquisado em 2011, utilizando o método de avaliação in vivo, implantado na aorta abdominal de um roedor da espécie murinae. O procedimento resultou na formação de uma cavidade circundada por óxido de ferro na parede vascular, levando a resultados indesejáveis, reduzindo significativamente o lúmen(biolog.) e gerando um ambiente potencial para a ruptura do endotélio depois da degradação do stent. Ocorreu uma biocorrosão significativa em 22 dias, com uma excessiva retenção do material oxidado na parede do vaso aos nove meses.[5]

O magnésio é um material cuja aplicação em stents bioabsorvíveis é relativamente recente.[6] Apesar de se degradar sem apresentar riscos ao organismo, demonstrou possuir um tempo de degradação funcional de cerca de trinta dias in vivo, considerado curto, comparado a um período desejável de três a seis meses para stents bioabsorvíveis. Assim, pesquisou-se uma redução drástica na taxa de corrosão do magnésio através de novas ligas e revestimentos.[7] Novos métodos surgiram para minimizar a taxa de penetração e evolução do hidrogênio (taxa de corrosão). Um dos mais bem sucedidos envolveu a descoberta de uma liga metálica amorfa bioabsorvível e vítrea, obtida com uma rápida solidificação durante o processo de produção. Outras soluções alternativas incluíram o desenvolvimento de ligas de magnésio/terra-rara (Mg-Re), que se beneficiam da baixa citotoxicidade do elemento químico rênio. Foram desenvolvidos novos revestimentos e processamentos de outros materiais raros para tentar diminuir ainda mais a taxa de corrosão. No entanto, continuaram a ocorrer limitações para o desenvolvimento de biomateriais a partir do magnésio.[8]

O zinco apresentou um excelente comportamento de corrosão fisiológica, atingindo uma taxa de penetração de referência de vinte μm por ano. As pesquisas também concluíram que as ligas de zinco geralmente atendem ou mesmo excedem as expectativas de comportamento mecânico, como ductilidade e resistência à tração. Embora promissor, o uso deste material no campo da biomedicina é relativamente novo, sendo necessário um avanço adicional nas pesquisas para comprovar que é um material-base viável para uso em stents.[9]

Base polimerizada[editar | editar código-fonte]

Outro tipo de stent utilizado amplamente é o de poliácido láctico (PLLA), base polimerizada que tem como propriedade principal para esta utilização, a capacidade de manter uma estrutura radialmente resistente, desintegrando-se ao longo do tempo e transformando-se em ácido lático, uma molécula orgânica que o corpo utiliza no seu metabolismo. Alguns tipos, como o Absorb, produzido pelo laboratório norte-americano Abbott, são construídos de forma a liberar substâncias imunossupressoras como o everolimo.[10] São também desenvolvidas pesquisas de stents à base de outros polímeros, como a tirosina policarbonato e o ácido salicílico.[11]

Pesquisas clínicas e utilização[editar | editar código-fonte]

As pesquisas clínicas demonstraram que os stents bioabsorvíveis possuem a mesma eficácia e perfil de segurança dos stents farmacológicos. Estudos realizados entre 2008 e 2015, especificamente com o stent Absorb, comparando-o ao stent farmacológico Xience (ambos produzidos pelo laboratório Abbott), comprovaram que os principais eventos cardíacos adversos precoces e tardios, revascularizações e formação de trombos foram incomuns e similares nos dois tipos.[2][1]

Estudos de imagem mostraram ainda que o stent bioabsorvível Absorb começa a se dissolver entre seis e doze meses e é totalmente absorvido pelo organismo entre dois e três anos após o implante na artéria.[12] Dois pequenos marcadores de platina permanecem para identificar a localização do procedimento original. Depois de dois anos, a artéria é capaz de dilatar-se e contrair-se normalmente, movimentos conhecidos como vasomotricidade [en], recuperando-se assim a condição original e saudável do vaso sanguíneo.[1] Esta recuperação fica comprometida quando se usa os tipos convencionais de stents.[13]

As pesquisas no campo dos stents bioabsorvíveis continuam a ser feitas em pacientes por todo o mundo.[12][14][15] No Brasil, o seu uso foi aprovado pela Anvisa em novembro de 2014.[16]

Referências

  1. a b c Ormiston JA; Serruys PW; Regar E; et al. (2009). «A bioabsorbable everolimus-eluting coronary stent system (ABSORB): 2-year outcomes and results from multiple imaging methods» (em inglês). 373. Lancet. pp. 897–910. PMID 19286089. Cópia arquivada em 4 de março de 2013 
  2. a b Ormiston JA; Serruys PW; Regar E; et al. (2008). «A bioabsorbable everolimus-eluting coronary stent system for patients with single de-novo coronary artery lesions (ABSORB): a prospective open-label trial» (em inglês). 371. Lancet. pp. 899–907. PMID 18342684. 18342684. Cópia arquivada em 4 de março de 2013 
  3. Serruys PW; Luijten HE; Beatt KJ; et al. (fevereiro de 1988). «Incidence of restenosis after successful coronary angioplasty: a time-related phenomenon. A quantitative angiographic study in 342 consecutive patients at 1, 2, 3, and 4 months» (em inglês). 77. Circulation. pp. 361–71. PMID 2962786. Cópia arquivada em 31 de agosto de 2017 
  4. Post MJ; Borst C; Kuntz RE (1994). «The relative importance of arterial remodeling compared with intimal hyperplasia in lumen renarrowing after balloon angioplasty: a study in the normal rabbit and the hypercholesterolemic Yucatan micropig» (em inglês). 89. Circulation. pp. 2816–2821. PMID 8205696. Cópia arquivada em 26 de agosto de 2017 
  5. Pierson D; Edick J; et al. (janeiro de 2012). «A simplified in vivo approach for evaluating the bioabsorbable behavior of candidate stent materials» (em inglês). 100B. J Biomed Mater Res B. pp. 58–67. PMID 21905215. doi:10.1002/jbm.b.31922. Cópia arquivada em 1 de dezembro de 2017 
  6. Kirkland N; Birbilis N (2013). Magnesium Biomaterials: Design, Testing and Best Practice (em inglês). Nova Iorque: Springer. ISBN 9783319021232. Cópia arquivada em 21 de dezembro de 2017 
  7. Li N; Zheng Y (2013). «Novel magnesium alloys developed for biomedical application: a review» (em inglês). Journal of Materials Science & Technology. ISBN 9783319021232 
  8. Kirkland, Nicholas T. (2012). «Magnesium biomaterials: past, present and future» (em inglês). 47. Corrosion Engineering, Science and Technology. pp. 322–328. Cópia arquivada em 21 de dezembro de 2017 
  9. Bowen,PK; Drelich, J; Goldman, J (14 de março de 2013). «Zinc Exhibits Ideal Physiological Corrosion Behavior for Bioabsorbable Stents» (em inglês). 25. Advanced Materials. pp. 2577–82. PMID 23495090. Cópia arquivada em 21 de dezembro de 2017 
  10. «Absorb GT1 Bioresorbable Vascular Scaffold» (em inglês). Abbott. Cópia arquivada em 12 de dezembro de 2017 
  11. Gogas BD, Farooq V, Onuma Y, Serruys PW (2012). «The ABSORB bioresorbable vascular scaffold: an evolution or revolution in interventional cardiology?» (PDF) (em inglês). 53. Hellenic J Cardiol. pp. 301–309. 22796817. Cópia arquivada (PDF) em 9 de agosto de 2017 
  12. a b Ormiston JA; Serruys PW; Regar E; et al. (2014). «Dynamics of vessel wall changes following the implantation of the absorb everolimus-eluting bioresorbable vascular scaffold: a multi-imaging modality study at 6, 12, 24 and 36 months» (em inglês). 9. EuroIntervention. pp. 1271–1284. PMID 24291783. Cópia arquivada em 23 de junho de 2016 
  13. Fernandes, Rósley, W. A. (2012). Impacto dos stents e do sirolimus por via oral na vasomotricidade coronariana dependente e independente do endotélio (Tese). UNIFESP. Cópia arquivada em 21 de dezembro de 2017 
  14. Serruys PW; Chevalier B; Dudek D; et al. (2015). «A bioresorbable everolimus-eluting scaffold versus a metallic everolimus-eluting stent for ischaemic heart disease caused by de-novo native coronary artery lesions (ABSORB II): an interim 1-year analysis of clinical and procedural secondary outcomes from a randomised controlled trial» (em inglês). 385. Lancet. pp. 43–54. PMID 25230593. Cópia arquivada em 21 de dezembro de 2017 
  15. Smits P, Ziekenhuis M, Absorb Extend: an interim report on the 36-month clinical outcomes from the first 250 patients enrolled. Estudo apresentado na conferência Transcatheter Cardiovascular Therapeutics (TCT) em setembro de 2014, Washington, DC (em inglês)
  16. «Stent bioabsorvível passa a ser usado em cirurgia cardíaca». Revista Veja. 9 de dezembro de 2014. Consultado em 23 de maio de 2017. Cópia arquivada em 30 de maio de 2016 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]