Teologia da libertação: diferenças entre revisões

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A '''teologia da libertação''' é uma corrente teológica que engloba diversas teologias cristãs<ref name="Tamayo J.J 1999">Tamayo J. J. Teologias da libertação. In: Dicionário de Conceitos Fundamentais do Cristianismo. São Paulo: Paulus, 1999. {{ISBN|85-349-1298-X}}</ref> desenvolvidas no [[Terceiro Mundo]] ou nas periferias pobres do [[Primeiro Mundo]] a partir dos anos 70 do [[século XX]], baseadas na opção pelos pobres contra a pobreza e pela sua libertação. Desenvolveu-se inicialmente na América Latina.
A '''teologia da libertação''' é uma corrente teológica que engloba diversas teologias cristãs<ref name="Tamayo J.J 1999">Tamayo J. J. Teologias da libertação. In: Dicionário de Conceitos Fundamentais do Cristianismo. São Paulo: Paulus, 1999. {{ISBN|85-349-1298-X}}</ref> desenvolvidas no [[Terceiro Mundo]] ou nas periferias pobres do [[Primeiro Mundo]] a partir dos anos 70 do [[século XX]], baseada na opção pelos pobres contra a pobreza e pela sua libertação, condenando o capitalismo e a livre iniciativa economica, procurando imbuir a revolta nas massas pobres para provocar danos patrimoniais ao empresariado em geral. Desenvolveu-se inicialmente na América Latina.


Estas teologias utilizam como ponto de partida de sua reflexão a situação de [[pobreza]] e [[exclusão social]] à luz da [[cristianismo|fé cristã]]. Esta situação é interpretada como produto de ''estruturas econômicas e sociais injustas'', influenciada pela visão das [[ciências sociais]], sobretudo a [[teoria da dependência]] na América Latina, que possui inspiração [[marxismo|marxista]].
Estas teologias justificam o fomentar da violència, utilizam como ponto de partida de sua reflexão a situação de [[pobreza]] e [[exclusão social]] à luz da [[cristianismo|fé cristã]]. Esta situação é interpretada como produto de ''estruturas econômicas e sociais injustas'', influenciada pela visão das [[ciências sociais]], sobretudo a [[teoria da dependência]] na América Latina, que possui inspiração [[marxismo|marxista]].


A situação de pobreza é denunciada como ''pecado estrutural'' e estas teologias propõem o engajamento político dos cristãos na ''construção de uma sociedade mais justa e solidária'', cujo projeto identifica-se com ideais da [[esquerda]]. Uma característica da Teologia da Libertação é considerar o pobre, não um objeto de caridade, mas sujeito de sua própria libertação. Assim, seus teólogos propõem uma [[pastoral católica|pastoral]] baseada nas [[comunidades eclesiais de base]], nas quais os cristãos das classes populares se reúnem para articular fé e vida, e juntos se organizam em busca de melhorias de suas condições sociais, através da militância no [[movimento social]] ou através da [[política]], tornando-se protagonistas do processo de libertação. Além disto, apresentam as [[Comunidades Eclesiais de Base]] como uma nova forma de ser igreja, com forte vivência comunitária, solidária e participativa.
A situação de pobreza é denunciada como ''pecado estrutural'' e estas teologias propõem o engajamento político dos cristãos na ''construção de uma sociedade mais justa e solidária'', cujo projeto identifica-se com ideais da [[esquerda]], i. e., fomentar o caos e a revolta nas massas para instaurar um regime autoritàrio. Uma característica da Teologia da Libertação é considerar o pobre, não um objeto de caridade, mas sujeito de sua própria libertação. Assim, seus teólogos propõem uma [[pastoral católica|pastoral]] baseada nas [[comunidades eclesiais de base]], nas quais os cristãos das classes populares se reúnem para articular fé e vida, e juntos se organizam em busca de melhorias de suas condições sociais, através da militância no [[movimento social]] ou através da [[política]], tornando-se protagonistas do processo de libertação. Além disto, apresentam as [[Comunidades Eclesiais de Base]] como uma nova forma de ser igreja, com forte vivência comunitária, solidária e participativa.


Por seu método e opções políticas, trata-se de uma teologia extremamente controversa, tanto pelas suas implicações nas igrejas quanto na sociedade. A partir dos anos 1980, com a redemocratização das sociedades latino-americanas e a [[queda do muro de Berlim]] com consequente crise das [[esquerda]]s e as transformações sociais e econômicas provocadas pela [[globalização]] e o avanço do [[neoliberalismo]] esta teologia perdeu parte de sua combatividade política e social.
Por seu método e opções políticas, trata-se de uma teologia extremamente controversa, tanto pelas suas implicações nas igrejas quanto na sociedade. A partir dos anos 1980, com a redemocratização das sociedades latino-americanas e a [[queda do muro de Berlim]] com consequente crise das [[esquerda]]s e as transformações sociais e econômicas provocadas pela [[globalização]] e o avanço do [[neoliberalismo]] a ideologia de esquerda teve que se adaptar, abandonando o ateìsmo marxista, e ligando-se a religiào, pois assim seria mais fàcil dominar as camadas mais pobres da populaçào, formada por crentes devotos e suporsticiosos.


==América Latina==
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Em agosto de 1988, um pequeno grupo de teólogos [[xiita]]s liderados pelo Aiatolá Yafhar Subhanni, enviados do Aiatolá [[Ruhollah Khomeini]], chegou à [[Argentina]] buscando contatos com a Teologia da Libertação através do [[Prêmio Nobel da Paz]] e ativista dos [[Direitos Humanos]] [[Adolfo Pérez Esquivel]]. Iniciou-se então um diálogo singelo porém duradouro e crescente. Ocorreram vários encontros na [[cidade de São Paulo]], [[Rio de Janeiro]] e [[Buenos Aires]]. Do lado cristão participaram [[Leonardo Boff]], [[Clodovis Boff]], [[Rosalvo Salgueiro]], Adolfo Pérez Esquivel, Dom [[Paulo Evaristo Arns]], [[Pedro Ribeiro de Oliveira]], Paulo de Andrade entre outros, e do lado islâmico participaram principalmente professores da Universidade da Cidade Santa iraniana de [[Qom]], como o Aiatolá Yafhar Subhanni, o Aiatolá Taqui Misbah al Yasdi, o Huyatolislam Mohsen Rabanni, o Sheik Abdul Karin Paz, o embaixador do [[Irã]] no Vaticano Maseyami Y, o historiador Shamsudin Helia, e a teóloga Lili Kashanni.
Em agosto de 1988, um pequeno grupo de teólogos [[xiita]]s liderados pelo Aiatolá Yafhar Subhanni, enviados do Aiatolá [[Ruhollah Khomeini]], chegou à [[Argentina]] buscando contatos com a Teologia da Libertação através do [[Prêmio Nobel da Paz]] e ativista dos [[Direitos Humanos]] [[Adolfo Pérez Esquivel]]. Iniciou-se então um diálogo singelo porém duradouro e crescente. Ocorreram vários encontros na [[cidade de São Paulo]], [[Rio de Janeiro]] e [[Buenos Aires]]. Do lado cristão participaram [[Leonardo Boff]], [[Clodovis Boff]], [[Rosalvo Salgueiro]], Adolfo Pérez Esquivel, Dom [[Paulo Evaristo Arns]], [[Pedro Ribeiro de Oliveira]], Paulo de Andrade entre outros, e do lado islâmico participaram principalmente professores da Universidade da Cidade Santa iraniana de [[Qom]], como o Aiatolá Yafhar Subhanni, o Aiatolá Taqui Misbah al Yasdi, o Huyatolislam Mohsen Rabanni, o Sheik Abdul Karin Paz, o embaixador do [[Irã]] no Vaticano Maseyami Y, o historiador Shamsudin Helia, e a teóloga Lili Kashanni.


O diálogo se esmaeceu e a última reunião ocorreu há mais de dez anos, em setembro de 1997. Outras tentativas de diálogos foram e estão sendo tentadas mas os principais momentos de encontro acabam ocorrendo por ocasião do [[Fórum Social Mundial]].
O diálogo se esmaeceu e a última reunião ocorreu há mais de dez anos, em setembro de 1997. Outras tentativas de diálogos foram e estão sendo tentadas mas os principais momentos de encontro acabam ocorrendo por ocasião do [[Fórum Social Mundial]]. Obviamente, o intento dessa relaçào com o Islà é em copià-lo, visto que é o regime xiita é tào somente um regime autoritàrio travestido de teocracia.


==Associação Ecumênica de Teólogos do Terceiro Mundo==
==Associação Ecumênica de Teólogos do Terceiro Mundo==

Revisão das 23h22min de 17 de maio de 2010

Predefinição:História da teologia A teologia da libertação é uma corrente teológica que engloba diversas teologias cristãs[1] desenvolvidas no Terceiro Mundo ou nas periferias pobres do Primeiro Mundo a partir dos anos 70 do século XX, baseada na opção pelos pobres contra a pobreza e pela sua libertação, condenando o capitalismo e a livre iniciativa economica, procurando imbuir a revolta nas massas pobres para provocar danos patrimoniais ao empresariado em geral. Desenvolveu-se inicialmente na América Latina.

Estas teologias justificam o fomentar da violència, utilizam como ponto de partida de sua reflexão a situação de pobreza e exclusão social à luz da fé cristã. Esta situação é interpretada como produto de estruturas econômicas e sociais injustas, influenciada pela visão das ciências sociais, sobretudo a teoria da dependência na América Latina, que possui inspiração marxista.

A situação de pobreza é denunciada como pecado estrutural e estas teologias propõem o engajamento político dos cristãos na construção de uma sociedade mais justa e solidária, cujo projeto identifica-se com ideais da esquerda, i. e., fomentar o caos e a revolta nas massas para instaurar um regime autoritàrio. Uma característica da Teologia da Libertação é considerar o pobre, não um objeto de caridade, mas sujeito de sua própria libertação. Assim, seus teólogos propõem uma pastoral baseada nas comunidades eclesiais de base, nas quais os cristãos das classes populares se reúnem para articular fé e vida, e juntos se organizam em busca de melhorias de suas condições sociais, através da militância no movimento social ou através da política, tornando-se protagonistas do processo de libertação. Além disto, apresentam as Comunidades Eclesiais de Base como uma nova forma de ser igreja, com forte vivência comunitária, solidária e participativa.

Por seu método e opções políticas, trata-se de uma teologia extremamente controversa, tanto pelas suas implicações nas igrejas quanto na sociedade. A partir dos anos 1980, com a redemocratização das sociedades latino-americanas e a queda do muro de Berlim com consequente crise das esquerdas e as transformações sociais e econômicas provocadas pela globalização e o avanço do neoliberalismo a ideologia de esquerda teve que se adaptar, abandonando o ateìsmo marxista, e ligando-se a religiào, pois assim seria mais fàcil dominar as camadas mais pobres da populaçào, formada por crentes devotos e suporsticiosos.

América Latina

Contextualização histórica

Segundo Gonçalves,[2] o nascimento e o desenvolvimento da Teologia da Libertação na América Latina e no Caribe se deve basicamente a três fatores:

  1. Situação política, econômica e social do continente: A Teologia da Libertação foi gestada durante os regimes militares que governavam países do continente.
  2. O desenvolvimento do marxismo como instrumento de análise social: as ciências sociais, entre elas a análise marxista eram utilizados para compreender a origem das contradições da sociedade, embora, segundo Gonçalves, o marxismo não fosse utilizado como ferramenta para construção do projeto social alternativo.
  3. Mudanças no âmbito da Igreja Católica. Do ponto de vista católico, algumas mudanças na Igreja possibilitaram o surgimento da Teologia da Libertação:
    1. A experiência da Ação Católica e seu método VER-JULGAR-AGIR. Esta pedagogia ajudou na busca de uma compreensão crítica da realidade e impulsionou uma ação transformadora.
    2. A realização do Concílio Vaticano II, entre 1962-1965 e a busca de diálogo da Igreja com o mundo moderno.
    3. A Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em Medellín, Colômbia, ocorrida na vigência dos regimes militares.
    4. O florescimento das Comunidades Eclesiais de Base, que impulsionadas pela Conferência de Medellín e pela pedagogia da Ação Católica através do método VER-JULGAR-AGIR, lutavam pela transformação social.
    5. O enfrentamento dos regimes militares por parte dos bispos, quer através das conferências episcopais nacionais, quer por bispos isolados, como Dom Hélder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Oscar Romero, entre outros.

Foi a partir do engajamento de grupos cristãos na política que surgiu a Teologia da Libertação, como uma reflexão teórica destas experiências, retro alimentando este movimento de busca da mudança para uma sociedade com viés esquerdista.

Ao final dos anos 70 e início dos 80, a redemocratização das sociedades latino-americanas e caribenhas faz com que a Teologia da Libertação perdesse parte de sua combatividade política e social. Aliado a este fator, a queda do socialismo real e a crise da esquerda política fazem com que estes movimentos repensem sua identidade. Fatores no interior da Igreja Católica também tiveram seu impacto: a eleição de João Paulo II. A experiência do novo papa, vindo de um regime comunista hostil à Igreja , fez com que ele visse com suspeita os movimentos de libertação latino-americanos. Muitos teólogos da libertação foram acusados de fomentar a formação de células comunistas dentro da Igreja através das comunidades eclesiais de base.

As mudanças ocorridas na sociedade desde então apresentam novos desafios ao que atualmente se chama de Cristianismo de Libertação: o neoliberalismo econômico e a exclusão social, a globalização, o pluralismo cultural e religioso,[3] a crise das igrejas cristãs históricas ante o fenômeno da pós-modernidade.

Uma visão mais ampla da libertação passa a ser almejada, não apenas focada em uma visão economicista, mas baseada também em dados antropológicos, psicológicos e religiosos. Além disto, temas como a igualdade entre homem e mulher, a discriminação racial, o diálogo inter-religioso, as minorias e a ecologia vão sendo progressivamente incorporados ao engajamento dos cristãos e à reflexão teológica sobre a libertação.

Nascimento

A Teologia da Libertação nasceu da influência de três frentes de pensamento: o Evangelho Social das igrejas norte-americanas, trazido ao Brasil pelo missionário e teólogo presbiteriano Richard Shaull; a Teologia da Esperança, do teólogo reformado Jürgen Moltmann; e a teologia política que tinha como seus grandes expoentes o teólogo católico Johann Baptist Metz, na Europa, e o teólogo batista Harvey Cox, nos Estados Unidos.

Há uma série de eventos que precederam o nascimento da Teologia da Libertação:

  • 1952: O missionário presbiteriano Richard Shaull chega ao Brasil trazendo o Evangelho Social e cria uma estreita relação com os pastores presbiterianos Rubem Alves e Jaime Wright;
  • 1964: O teólogo reformado Jürgen Moltmann publica sua obra Teologia da Esperança;
  • 1965: O teólogo batista Harvey Cox publica A Cidade Secular;
  • 1967: O teólogo católico Johann Baptist Metz pronuncia a conferência Sobre a Teologia do Mundo;

O marco do nascedouro da Teologia da Libertação está na publicação da obra Da Esperança, de Rubem Alves, que tinha o título de Teologia da Libertação, criticando a teologia metafísica de uma forma geral e propondo o nascimento de novas comunidades de cristãos animados por uma visão e por uma paixão pela libertação humana e cuja linguagem teológica se tornava histórica.

A primeira participação católica no lançamento da Teologia da Libertação foi a publicação da Teologia da Revolução, em 1970, pelo teólogo belga radicado no Brasil José Comblin. Em 1971, Gustavo Gutiérrez publicou Teologia da Libertação. Somente em 1972, Leonardo Boff surge no cenário teológico com a publicação de Jesus Cristo Libertador. Como Rubem Alves estava asilado nos EUA neste período, Boff passou a ser o mais conhecido representante desta corrente teológica que vivia no Brasil, devido à proteção recebida pela ordem dos franciscanos, à qual ele pertencia

.

O método destas teologias é indutivo:[1] não parte da Revelação e da Tradição eclesial para fazer interpretações teológicas e aplicá-las à realidade, mas partem da interpretação da realidade da pobreza e exclusão e do compromisso com a libertação para fazer a reflexão teológica e convidar à ação transformadora desta mesma realidade. Ocorre também uma crítica à teologia moderna e sua pretensão de universalidade. Consideram esta teologia eurocêntrica e desconectada da realidade dos países periféricos.

Polêmica e críticas

A Teologia da Libertação é herética e, como tal, foi condenada em documentos da Igreja. Aliás, foi condenada duas vezes pelo atual Papa: a primeira em 1984, quando o então cardeal Ratzinger, enquanto Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, assinou a instrução Libertatis nuntius; e a segunda em discurso de 2009.

Enquanto pese as análises positivas acerca da Teologia da libertação, acusa-se tal ideologia de ter fechado os olhos para os assassinatos praticados em regimes ditos socialistas, como os de Cuba, com Fidel Castro, e da URSS stalinista.

Ainda, acusa-se tal movimento de ser condescendente com a culpabilidade da Igreja, que segundos estudiosos, é bem menor do que julgam os promotores, e de deturpar o caminho divino, colocando-o em segundo plano diante da missão terrena de ajudar os pobres.[4]

Integrantes do movimento afirmam que este movimento sempre foi baseado em ideais de amor e libertação de todas as formas de opressão (especialmente opressão econômica). Também afirmam que ele teria uma forte base nas escrituras sacras. Por outro lado, alguns aspectos da teologia da libertação têm sido fortemente criticados pela Santa Sé e por várias igrejas protestantes (embora a Igreja Luterana a tenha adotado), como por exemplo o fato dos adeptos da Teologia da Libertação assumirem o papel político da igreja e pela utilização do Marxismo como base ideológica do movimento.

Posição oficial da Igreja Católica

Na Igreja Católica, a Congregação para a Doutrina da Fé publicou dois documentos sobre esta teologia: Libertatis Nuntius (1984) e Libertatis conscientia (1986). Neles, a Igreja, apesar de defender a importância do seu compromisso radical para com os pobres, considerou-a como heterodoxa. Isto principalmente porque a Igreja acha que a disposição da teologia da libertação em aceitar postulados do marxismo ou de outras ideologias políticas não era compatível com a doutrina católica, especialmente ao afirmar que "só seria possível alcançar a redenção cristã com um compromisso político". Nestes documentos, a Igreja salienta muito o risco da instrumentalização política da .

Alguns afirmam que o que ocorreu não foi uma crítica ou repressão ao movimento em si, mas sim correção de certos exageros de alguns de seus representantes (como sacerdotes mais tendentes à política). Outros afirmam que houve uma deliberada sanção à Igreja Latino-Americana na repressão à sua forma mais pungente de ação e crítica social. Entretanto, o próprio Papa João Paulo II dirigiu uma carta à CNBB, datada de 9 de abril de 1986, pedindo o compromisso com o verdadeiro desenvolvimento desta teologia: "...estamos convencidos, nós e os senhores, de que a Teologia da Libertação é não só oportuna, mas útil e necessária. Ela deve constituir uma nova etapa - em estreita conexão com as anteriores - daquela reflexão teológica iniciada com a tradição apostólica e continuada com os grandes padres e doutores, com o magistério ordinário e extraordinário e, na época mais recente, com o rico patrimônio da Doutrina Social da Igreja expressa em documentos que vão da Rerum Novarum a Laborem Exercens". "Os pobres deste país, que tem nos senhores os seus pastores, os pobres deste continente são os primeiros a sentir urgente necessidade deste evangelho da libertação radical e integral. Sonegá-lo seria defraudá-los e desiludi-los". Para concluir, o Papa incita ao seu verdadeiro desenvolvimento de modo homogêneo e não heterogêneo com relação à teologia de todos os tempos, em plena fidelidade à doutrina da Igreja, atenta a um amor preferencial e não excludente nem exclusivo para com os pobres.[5]

Porem, João Paulo II depois a condenou. O Cardeal Ratzinger, no retiro espiritual que pregou ao Papa João Paulo II e aos Cardeais em 1986, demonstrou que a Teologia da Libertação repete o desafio do demônio a Cristo na primeira tentação que fez ao Verbo Encarnado, no deserto: "Se és o Filho de Deus, transforma essas pedras em pães". E Nosso Senhor lhe respondeu que: "Não só de pão vive o homem , mas de toda a palavra que sai da boca de Deus". Isto é, que um homem pode estar passando fome material, e ter vida espiritual perfeita, aderindo à Palavra de Deus, que é um alimento superior. Escreveu o então Cardeal Ratzinger:

"Sem resposta para a fome da verdade, sem cura das doenças da alma ferida por causa da mentira ou, numa palavra, sem a verdade e sem Deus, o homem não se pode se salvar. Aqui descobrimos a essência da mentira do demônio. Deus aparece na sua visão do mundo como supérfluo, desnecessário à salvação do homem. Deus é um luxo dos ricos. Segundo ele, a única coisa decisiva é o pão, a matéria. O centro do homem seria o estômago" (Cardeal Joseph Ratzinger, O Caminho Pascal,-- Curso de Exercícios Espirituais realizado no Vaticano na presença de S.S. João Paulo II, Loyola, São Paulo, 1986, p. 14-15).

E perguntou o Cardeal Ratzinger, falando aos Cardeais: "Porventura não existe uma tendência, também entre nós, de adiar o anúncio da verdade de Deus, para antes fazer as coisas "mais necessárias"? Vemos, porém, que um desenvolvimento econômico sem desenvolvimento espiritual destrói o homem e o mundo" (Cardeal Joseph Ratzinger, O Caminho Pascal,-- Curso de Exercícios Espirituais realizado no Vaticano na presença de S.S. João Paulo II, Loyola, São Paulo, 1986, p. 15).

No mundo

Segundo Tamayo,[6] a Teologia da Libertação surgiu na América Latina como sistematização de um novo método teológico. Entretanto, nas últimas décadas, desenvolveu-se no Terceiro Mundo e nos ambientes marginalizados dos países desenvolvidos reflexões teológicas que também podem ser classificadas como teologia da libertação.

Teologia da libertação africana

A reflexão teológica sobre a libertação trabalha com categorias antropológicas: a aculturação e consequente perda da identidade coletiva dos povos, além de sua pobreza estrutural e seu sistema de dominação. Defende-se uma verdadeira inculturação do cristianismo. Os teólogos africanos associaram-se na Associação Ecumênica de Teólogos Africanos.

Teologia da libertação sul-africana

Esta teologia distingue-se da teologia africana por tratar do tema do apartheid. Trabalha intensamente a questão da raça, da negritude.

Teologia da libertação negra nos Estados Unidos

Esta teologia surgiu e se desenvolveu a partir da luta pelos direitos civis dos negros, liderados por Martin Luther King e a busca do poder negro de Malcolm Little. Busca dois meios de libertação: a consciência negra e o poder negro. Posteriormente, ampliou seus horizontes para a busca de libertação dos pobres e minorias da sociedade americana, como os hispânicos, os asiáticos.

Esta teologia brotou inicialmente nas igrejas negras e seminários protestantes. O marco dessa teologia negra a publicação em 1969 da obra Black Theology and Black Power (Teologia negra e poder negro) pelo Rev. James Cone.[7] Esta teologia vem ganhando destaque devido à sua influência sobre Barack Obama, eleito Presidente dos Estados Unidos da América.

Teologia da libertação na Ásia

Tomando como base o desenvolvimento da Teologia da Libertação na América Latina, os teólogos asiáticos refletem basicamente sobre dois aspectos: a interação entre filosofia (como uma cosmovisão religiosa) e religião (como filosofia vivida) e a interação entre religiosidade e pobreza na Ásia. Um dos baluartes desta teologia é o diálogo inter-religioso, dada a situação não-cristã dos pobres da Ásia.

Diálogo com o Islã

Em agosto de 1988, um pequeno grupo de teólogos xiitas liderados pelo Aiatolá Yafhar Subhanni, enviados do Aiatolá Ruhollah Khomeini, chegou à Argentina buscando contatos com a Teologia da Libertação através do Prêmio Nobel da Paz e ativista dos Direitos Humanos Adolfo Pérez Esquivel. Iniciou-se então um diálogo singelo porém duradouro e crescente. Ocorreram vários encontros na cidade de São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires. Do lado cristão participaram Leonardo Boff, Clodovis Boff, Rosalvo Salgueiro, Adolfo Pérez Esquivel, Dom Paulo Evaristo Arns, Pedro Ribeiro de Oliveira, Paulo de Andrade entre outros, e do lado islâmico participaram principalmente professores da Universidade da Cidade Santa iraniana de Qom, como o Aiatolá Yafhar Subhanni, o Aiatolá Taqui Misbah al Yasdi, o Huyatolislam Mohsen Rabanni, o Sheik Abdul Karin Paz, o embaixador do Irã no Vaticano Maseyami Y, o historiador Shamsudin Helia, e a teóloga Lili Kashanni.

O diálogo se esmaeceu e a última reunião ocorreu há mais de dez anos, em setembro de 1997. Outras tentativas de diálogos foram e estão sendo tentadas mas os principais momentos de encontro acabam ocorrendo por ocasião do Fórum Social Mundial. Obviamente, o intento dessa relaçào com o Islà é em copià-lo, visto que é o regime xiita é tào somente um regime autoritàrio travestido de teocracia.

Associação Ecumênica de Teólogos do Terceiro Mundo

A Associação Ecumênica de Teólogos do Terceiro Mundo reúne diversos teólogos da América Latina, Ásia e África e das minorias dos Estados Unidos em torno de encontros e reflexões. Publica a revista semestral Voices of the Third World, editada na Índia.

Fórum Mundial de Teologia e Libertação

Os teólogos da libertação atualmente reúnem-se no Fórum Mundial de Teologia e Libertação. Este fórum surgiu de um encontro de teólogos durante o III Fórum Social Mundial, em 2003.[8] O primeiro Fórum Mundial ocorreu em Porto Alegre, em janeiro de 2005. O II Fórum ocorreu em janeiro de 2007 em Nairóbi, capital do Quênia, com o tema “Espiritualidade para outro mundo possível”. Estes Fóruns antecedem o Fórum Social Mundial (FSM). O último fórum ocorreu em Belém (Pará) de 21 a 25 de janeiro de 2009, aberto ao público e com entrada gratuita. Seu tema geral foi Água, Terra, Teologia - para outro mundo possível. A proposta do fórum é reunir teólogos e teólogas cristãs dos diversos continentes que trabalhem com o tema da libertação, em todas as suas dimensões, tornando-se "um espaço de encontro para reflexão teológica de alternativas e possibilidades de mundo, tendo em vista contribuir para a construção e uma rede mundial de teologias contextuais marcadas por perspectivas de libertação".[9]

Teólogos da libertação

Ver também

Referências

  1. a b Tamayo J. J. Teologias da libertação. In: Dicionário de Conceitos Fundamentais do Cristianismo. São Paulo: Paulus, 1999. ISBN 85-349-1298-X
  2. Gonçalves, A. J (2007). Gênese, crise e desafios da Teologia da Libertação,<http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=28241&busca= Agência de Informação Frei Tito para a América Latina>, www.adital.com.br, acessado em 16 de janeiro de 2008.
  3. Teixeira, F. O desafio do pluralismo religioso para a teologia latino-americana. Iser Assessoria, acessado em 21 de janeiro de 2008.
  4. Teologia da Libertação no blog cancaonova
  5. João Paulo II. Carta à CNBB sobre a missão da Igreja e a Teologia da Libertação, acessada em 24 de março de 2008.
  6. Tamayo, J. J.: Teologias da Libertação, em: “Dicionário de Conceitos Fundamentais do Cristianismo”. Editora Paulus, São Paulo, 1999.
  7. Barack Obama e a teologia negra da libertação. Página da Unisinos, acessada em 15 de abril de 2008.
  8. Adital (2008): Belém lança III Fórum Mundial de Teologia e Libertação
  9. Página do Fórum Mundial de Teologia e Libertação, acessada em 30 de agosto de 2009.

Bibliografia

Em português

  • Vigil, J. M., Barros, M., Tomita, L. E. Pluralismo e Libertação. São Paulo: Edições Loyola, 2005. ISBN 9788515029938
  • Boff, L. e Boff, C. Como fazer Teologia da Libertação. 8a edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2005. ISBN 8532605427
  • Boff, L. Jesus Cristo Libertador. 18a edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2003. ISBN 8532606407
  • Dussel, E. Ética da Libertação na idade de globalização e exclusão. 2a edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2002. ISBN 8532621430
  • Dussel, E. Teologia da Libertação – Um panorama do seu desenvolvimento. Petrópolis: Editora Vozes, 1999. ISBN 8532622046
  • Dussel, E. e outros: Por um mundo diferente – Alternativas para o mercado global. Petrópolis: Editora Vozes, 2003. ISBN 8532628931
  • Gutiérrez, G. Teologia da Libertação. Perspectivas. São Paulo: Edições Loyola, 2000. ISBN 9788515020362
  • Libânio, J. B. Teologia da Libertação. Roteiro didático para um estudo. São Paulo: Edições Loyola, 1987. ISBN 9788515031580
  • Segundo, J. L. A história perdida e recuperada de Jesus de Nazaré. São Paulo: Editora Paulus, 1997. ISBN 8534907420
  • Sobrino, J. Espiritualidade da Libertação. Estrutura e conteúdos. São Paulo: Edições Loyola, 1992. ISBN 9788515006809
  • SOBRINO, J. A Fé em Jesus Cristo: ensaio a partir das vítimas. Petrópolis: Vozes, 2001, 512 p. ISBN 8532623948
  • SOBRINO, J. Jesus, o Libertador. I - A História de Jesus de Nazaré. Petrópolis: Vozes, 1994, 392 p. ISBN 8532609805

Em inglês

  • Lernoux, Penny: Cry of the people: United States involvement in the rise of fascism, torture, and murder and the persecution of the Catholic Church in Latin America, 1940-Publication: Garden City, N.Y. : Doubleday, 1980
  • Lernoux, Penny:In banks we trust / Author: Lernoux, Penny, 1940- Publication: Garden City, N.Y. : Anchor Press/Doubleday, 1984
  • Lernoux, Penny:People of God : the struggle for world Catholicism / Author: Lernoux, Penny, 1940- Publication: New York : Viking, 1989
  • Berryman, Phillip, Liberation Theology (1987).
  • Gutiérrez, Gustavo, A Theology of Liberation: History, Politics and Salvation, Orbis Books, 1988.
  • Hillar, Marian, "Liberation Theology: Religious Response to Social Problems. A Survey," published in Humanism and Social Issues. Anthology of Essays. M. Hillar and H.R. Leuchtag, eds., American Humanist Association, Houston, 1993, pp. 35-52 [1].
  • Mahan, Brian and L. Dale Richesin, The Challenge of Liberation Theology: A First World Response, 1981, Orbis Books, Maryknoll, NY.
  • Mueller, Andreas, OFM, Arno Tausch and Paul Michael Zulehner (Eds.) Global capitalism, liberation theology, and the social sciences" Haupauge, New York: Nova Science Publishers
  • Petrella, Ivan, The Future of Liberation Theology: An Argument and Manifesto Aldershot: Ashgate, 2004
  • Ratzinger, Joseph Cardinal, "Liberation Theology" (preliminary notes to 1984 Instruction)
  • Sigmund, P.E., Liberation Theology at the Crossroads (1990).
  • Smith, Christian, The Emergence of Liberation Theology: Radical Religion and the Social Movement Theory, University of Chicago Press, 1991.

Ligações externas

Associações teológicas

Geral

Posição do Vaticano

Predefinição:Catolicismo2