VASPR
A vacina antissarampo, parotidite e rubéola (VASPR) (português europeu) ou tríplice viral (português brasileiro) é uma vacina contra o sarampo, parotidite e rubéola.[1] A primeira dose é geralmente administrada a crianças entre os 9 e 15 meses de idade e a segunda dose entre os 15 meses e 6 anos de idade, devendo o intervalo entre doses ser de pelo menos 4 semanas.[2][3] Duas doses garantem a 97% das pessoas imunidade contra o sarampo , a 88% imunidade contra a parotidite e a pelo menos 97% imunidade contra a rubéola.[2] A vacina é também recomendada para adultos sem evidência de imunidade,[2] com VIH/SIDA sob controlo[4][5] e no prazo de 72 horas após exposição ao sarampo, mesmo em pessoas vacinadas.[3] A VASPR é administrada por injeção.[2]
A VASPR é amplamente administrada em todo o mundo. Em 2001 foram administradas 500 milhões de doses em mais de 100 países.[6][7] Antes da vacinação se ter tornado comum, o sarampo era a causa de 2,6 milhões de mortes em cada ano.[7] Em 2012, este valor diminuiu para 122 000 mortes, a maioria das quais em países em vias de desenvolvimento.[7] Nos países em que há vacinação, a frequência de sarampo é muito baixa.[7] No entanto, a prevalência de doenças tem vindo a aumentar em grupos populacionais que não são vacinados.[7] Entre 2000 e 2016, a vacinação diminuiu em 84% as mortes por sarampo.[8]
Os efeitos secundários da vacinação são geralmente ligeiros e resolvem-se sem necessidade de qualquer tratamento específico.[9] Os efeitos secundários mais comuns são febre e dor ou vermelhidão no local da injeção.[9] Numa em cada milhão de pessoas ocorrem reações alérgicas graves.[9] A VASPR não é recomendada durante a gravidez, podendo no entanto ser administrada durante a amamentação.[2] A administração a par de outras vacinas é segura.[9] A vacinação recente não aumenta o risco de transmitir sarampo, parotidite ou rubéola a outras pessoas.[2] A vacina não aumenta o risco de autismo.[10][11] A VASPR é uma combinação de vírus atenuados de cada uma das três doenças.[2]
A VASPR foi desenvolvida por Maurice Hilleman[1] e introduzida no mercado em 1971 pela farmacêutica Merck.[12] As vacinas isoladas contra o sarampo, contra a parotidite e contra a rubéola tinham já sido autorizadas em 1963, 1967 e 1969, respetivamente.[12][13] As recomendações para uma segunda dose foram introduzidas em 1989.[12] Está também disponível uma versão que também imuniza contra a varicela, denominada VASPRV.[2] Está ainda disponível uma versão que não oferece imunização contra a parotidite.[14]
Falsas alegações sobre autismo
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Em 1999, o médico Andrew Wakefield publicou no periódico científico The Lancet o artigo "MMR vaccination and autism", estabelecendo uma suposta relação entre a vacina contra o sarampo e o autismo.[15] Diversos estudos médicos foram conduzidos desde então buscando comprovar ou não essa relação, e não foram encontradas evidências nesses novos estudos acerca dessa hipótese. Em 2010 os editores da The Lancet anunciaram a retratação do artigo porque vários aspectos estavam incorretos e contrariavam as descobertas mais recentes. Outra razão para a retratação foi a descoberta de afirmações falsas no artigo.[16] O Conselho Médico Geral Britânico considerou que Wakefield agiu de maneira antiética e desonesta por não ter submetido a pesquisa a um comitê de ética local e cassou sua licença médica. Ainda de acordo com o Conselho, a sua conduta trouxe má reputação à profissão médica depois que ele coletou amostras de sangue de jovens na festa de aniversário de seu filho pagando-lhes £5.[17]
Considera-se que o artigo de Wakefield tenha sido responsável pelo ressurgimento do sarampo no Reino Unido devido ao receio dos pais em vacinarem os filhos. As taxas de vacinação nunca mais voltaram a subir e surtos da doença tornaram-se comuns.[17] Outra corrente acusa a influente indústria farmacêutica de fazer lobby para "abafar" o caso, mas sempre mencionando o artigo ou Wakefield.[18]
Em 2021, houve o registro de surtos da doença em 21 estados do Brasil e 2 mortes de crianças com menos de 1 ano. No mesmo ano, a cobertura vacinal atingiu metade do público alvo. Especialistas atribuíram o aumento nos casos de sarampo às falsas alegações do movimento antivacina e à elevação da transmissão devido às medidas de isolamento impostas pela pandemia de COVID-19.[19][20]
Referências
- ↑ a b «Maurice R. Hilleman, PhD, DSc». Seminars in Pediatric Infectious Diseases. 16 (3): 225–226. Julho de 2005. doi:10.1053/j.spid.2005.05.002
- ↑ a b c d e f g h «MMR Vaccination What You Should Know Measles, Mumps, Rubella». CDC (em inglês). 2 de fevereiro de 2018. Consultado em 10 de setembro de 2018
- ↑ a b «Measles vaccines: WHO position paper – April 2017». Releve Epidemiologique Hebdomadaire. 92 (17): 205–27. 28 de abril de 2017. PMID 28459148
- ↑ Kinney, Rebecca (2 de maio de 2017). «Core Concepts - Immunizations in Adults - Basic HIV Primary Care - National HIV CurriculumImmunizations in Adults». www.hiv.uw.edu (em inglês)
- ↑ Watson, JC; Hadler, SC; Dykewicz, CA; Reef, S; Phillips, L (22 de maio de 1998). «Measles, mumps, and rubella--vaccine use and strategies for elimination of measles, rubella, and congenital rubella syndrome and control of mumps: recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP)». MMWR. Recommendations and Reports : Morbidity and Mortality Weekly Report. Recommendations and Reports. 47 (RR-8): 1–57. PMID 9639369
- ↑ «Top 10 myths about MMR, Top 10 truths about MMR» (PDF). NHS. Consultado em 10 de setembro de 2018
- ↑ a b c d e «Addressing misconceptions on measles vaccination». European Centre for Disease Prevention and Control (em inglês). Consultado em 10 de setembro de 2018
- ↑ «Measles Fact Sheet #286». World Health Organization. Consultado em 1 de dezembro de 2014
- ↑ a b c d «Vaccine Information Statement Measles-Mumps-Rubella». CDC (em inglês). 11 de julho de 2018. Consultado em 10 de setembro de 2018
- ↑ Hussain, A; Ali, S; Ahmed, M; Hussain, S (3 de julho de 2018). «The Anti-vaccination Movement: A Regression in Modern Medicine». Cureus. 10 (7): e2919. PMC 6122668. PMID 30186724. doi:10.7759/cureus.2919
- ↑ Spencer, JP; Trondsen Pawlowski, RH; Thomas, S (15 de junho de 2017). «Vaccine Adverse Events: Separating Myth from Reality». American Family Physician. 95 (12): 786–794. PMID 28671426
- ↑ a b c Goodson, JL; Seward, JF (dezembro de 2015). «Measles 50 Years After Use of Measles Vaccine». Infectious Disease Clinics of North America. 29 (4): 725–43. PMID 26610423. doi:10.1016/j.idc.2015.08.001
- ↑ «Measles: information about the disease and vaccines Questions and Answers» (PDF). Immunization Action Coalition. Consultado em 10 de setembro de 2018
- ↑ «Information Sheet Observed Rae of Vaccine Reactions Measles, Mumps, and Rubella Vaccines» (PDF). WHO. Maio de 2014. Consultado em 10 de setembro de 2018
- ↑ Andrew J Wakefield (1999). «MMR vaccination and autism». The Lancet (em inglês). 354 (9182): 949 - 950. doi:10.1016/S0140-6736(05)75696-8. Consultado em 31 de maio de 2010
- ↑ The Editors of The Lancet (2010). «Retraction—Ileal-lymphoid-nodular hyperplasia, non-specific colitis, and pervasive developmental disorder in children». The Lancet (em inglês). 375 (9713). 445 páginas. doi:10.1016/S0140-6736(10)60175-4. Consultado em 11 de fevereiro de 2015
- ↑ a b «Artigo que associa vacina a autismo é condenado». Estadão. 3 de fevereiro de 2010. Consultado em 11 de fevereiro de 2015
- ↑ Oakes, April. «Vacinas Infantis - O que os Laboratórios e Médicos não falam». Autistas.org. Consultado em 11 de junho de 2010. Cópia arquivada em 24 de junho de 2003
- ↑ «Aumento de casos de sarampo preocupa autoridades médicas». G1. Consultado em 27 de junho de 2022
- ↑ «Sarampo: aumento no número de casos preocupa e acende alerta para todo Brasil». SBMT - Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Consultado em 27 de junho de 2022