Women on Waves

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Women on Waves é uma organização holandesa sem fins lucrativos que pretende promover o acesso ao aborto seguro mesmo em países que não o legalizaram. Ela afirma ter como missão empoderar as mulheres para tomar decisões conscientes e bem informadas sobre planejamento familiar, prevenir a gravidez indesejada, assegurar o aborto seguro e legal, reduzir o sofrimento físico e psicológico desnecessário e as mortes por aborto ilegal e incentivar o apoio à liberalização das leis do aborto em todo o mundo. 

A organização possui um navio, que atraca no mar de diversos países, onde fornecem contraceptivos, informação, workshops e abortos seguros e legais fora das águas territoriais de países onde o aborto é ilegal.

Formação[editar | editar código-fonte]

A organização foi fundada pela médica holandesa Rebecca Gomperts. Depois que terminou sua graduação, Gomperts viajou com o navio do Greenpeace, Rainbow Warrior, como médica e ativista. Ao navegar pela América do Sul, ela encontrou muitas mulheres que sofreram com a falta de acesso a serviços de saúde reprodutiva e abortos legais e seguros. Inspirada nessas histórias, Rebecca decidiu criar a Women on Waves em 1999.[1]

Em resposta ao crescente número de emails de mulheres de todo o mundo pedindo ajuda, Rebecca fundou a Women on Web, um serviço de atendimento médico online para mulheres que precisam abortar, em 2005. O serviço atende mulheres que vivem em países onde o aborto seguro não está disponível, proporcionando a elas informação e acesso aos medicamentos abortivos.[1][2]

Atuação[editar | editar código-fonte]

Com o navio, as Women on Waves fornecem contraceptivos, informação, workshops e abortos seguros e legais fora das águas territoriais de países onde o aborto não é permitido. Trabalhando em colaboração com organizações locais, a organização responde a necessidades médicas urgentes, proporcionando às mulheres a possibilidade de abortar de forma legal e segura, e atraindo a atenção pública para as consequências da gravidez indesejada e do aborto ilegal.

O navio viaja com uma médica especializada em interrupções de gravidez, uma médica ginecologista e uma enfermeira especializada. Os serviços são prestados em águas internacionais, por isso não estão sujeitos às restrições legais dos países visitados pela embarcação. Quando em águas internacionais, a embarcação obedece às leis holandesas, que permitem o aborto em gravidez de até seis semanas e meia.[3]

As atividades das Women on Waves são apoiadas por financiamentos privados e filantrópicos

Viagens[4][editar | editar código-fonte]

A organização navegou até países onde o aborto é ilegal. No navio - onde as leis holandesas vigoram - os abortos médicos foram fornecidos com segurança, profissional e legalmente. A Women on Wawes atuou na Irlanda (2001), Polônia (2003), Portugal (2004), Espanha (2008) e em Marrocos (2012). Em 2008, a WoW chegou a planejar uma campanha no Brasil, mas a dificuldade na logística devido ao tamanho do País e a complicada situação legal impediram que os planos saíssem do papel.[5]

Irlanda[editar | editar código-fonte]

Em 2001, a organização fez sua viagem inaugural a bordo da Aurora para a Irlanda, o país europeu com a legislação mais restritiva em relação ao aborto. O navio transportou dois médicos e uma enfermeira holandeses e foi equipado com uma clínica ginecológica montada em um contêiner.[6]

O objetivo da viagem era destacar a situação do aborto na Irlanda; incentivar os esforços para liberalizar a lei do aborto; e para testar a viabilidade de usar um navio como uma clínica de saúde reprodutiva. O plano era fornecer serviços de saúde reprodutiva em um navio, incluindo a pílula abortiva, fora das águas territoriais da Irlanda.[7]

Polônia[editar | editar código-fonte]

Em junho de 2003, a Women on Waves partiu para a Polônia com o Langenort. Um documentário sobre o projeto (“Abortionship”) foi feito pelo programa da BBC 'Correspondent'.[8] Uma pesquisa revelou que a porcentagem da população que apoia a liberalização do aborto foi de 44% para 56% após a visita da organização.[9]

Portugal[editar | editar código-fonte]

O navio Borndiep permaneceu em águas internacionais, a 12 milhas de Figueira da Foz, de 28 de Agosto a 9 de Setembro de 2004. O navio foi impedido de entrar nas águas nacionais portuguesas por dois navios de guerra portugueses.[10]

Espanha[editar | editar código-fonte]

A Espanha recebeu a organização em outubro de 2008.[11] Lá o aborto só era legal quando a gravidez representa uma ameaça para a saúde física ou mental da mulher, ou em caso de estupro ou malformações fetais. O barco navegou para águas internacionais com várias mulheres. Fora das águas territoriais espanholas, as mulheres a bordo poderiam obter um aborto médico seguro. A campanha foi coberta pela mídia em todo o mundo. A Espanha legalizou o aborto em 2010.[12]

Marrocos[editar | editar código-fonte]

Em 3 de outubro de 2012, o Ministério da Saúde marroquino implementou uma proibição que impedia a entrada do navio Women on Waves Langenort no porto de Smir.[13] Um dos objetivos da campanha era apoiar o movimento MALI (Alternative Movement for Individual Freedoms, em português Movimento Alternativo para a Liberdade Individual) e iniciar um debate no país sobre a necessidade de legalizar o aborto, e com a repercussão da visita na mídia esse objetivo foi alcançado. Em 2015, o rei de Marrocos, Mohammed VI, decidiu flexibilizar a lei que limita a prática do aborto no país.[14] Agora, o procedimento pode ser realizado em casos de estupro, incesto, risco à saúde da mãe ou má formação do feto.

Outras formas de atuação[editar | editar código-fonte]

Nos últimos anos, a organização tem focado mais em divulgar informações sobre Misoprostol, como usar e seus efeitos. 

Internet[editar | editar código-fonte]

Desde 2005, a Women on Web atua na internet através de seu site, disponibilizando informações sobre gravidez, contraceptivos e aborto; realizando consultas online e possibilitando às mulheres de diversos lugares do mundo o acesso aos medicamentos abortivos.

Em dezembro de 2019, o jornal The Intercept revela que dois fornecedores de acesso à internet do Brasil, a Vivo e a Claro bloqueiam o acesso ao site Women on Web.[15] No entanto, o acesso permanece possível pelo meio de uso de serviços de rede virtual privada (VPNs).

Drones[editar | editar código-fonte]

A primeira experiência com drones ocorreu em 2015. O drone partiu da Alemanha e desembarcou no lado oposto do rio em Slubice, na Polônia.[16] Duas mulheres receberam os medicamentos prescritos. O voo não necessitava de autorização, segundo o grupo, já que o drone não seria usado para fins comerciais, ficaria sob observação de seu piloto e não atingiria espaço aéreo controlado. A segunda experiência ocorreu na Irlanda do Norte. A polícia monitorou a ação mas não reagiu e nenhuma pílula foi confiscada.[17][18]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «Aborto em alto-mar - ISTOÉ Independente». ISTOÉ Independente. 20 de junho de 2001 
  2. «Organização holandesa leva aborto seguro a países onde a prática é criminalizada | MdeMulher». M DE MULHER. 17 de junho de 2016 
  3. «Quem somos?». Women on Waves. Consultado em 21 de novembro de 2016 
  4. «Campaigns». Women on Waves. Consultado em 21 de novembro de 2016 
  5. «O drone do aborto | Superinteressante». Superinteressante. 16 de dezembro de 2015 
  6. «The "abortion boat" steams toward Ireland». Salon. Consultado em 21 de novembro de 2016 
  7. «Ireland 2001». Women on Waves. Consultado em 21 de novembro de 2016 
  8. «BBC NEWS | Programmes | Correspondent | Abortion Ship». news.bbc.co.uk. Consultado em 21 de novembro de 2016 
  9. «Poland 2003». Women on Waves. Consultado em 21 de novembro de 2016 
  10. «BBC NEWS | Europe | Abortion ship sails for Portugal». news.bbc.co.uk. Consultado em 21 de novembro de 2016 
  11. «Spain 2008». Women on Waves. Consultado em 21 de novembro de 2016 
  12. «La nueva Ley del Aborto entrará en vigor a partir del 5 de julio | España | elmundo.es». www.elmundo.es. Consultado em 21 de novembro de 2016 
  13. «Dutch abortion ship 'blocked' from Morocco port of Smir». BBC News (em inglês). 4 de outubro de 2012 
  14. «Marrocos flexibiliza lei que restringe o aborto | EXAME.com - Negócios, economia, tecnologia e carreira». exame.abril.com.br. Consultado em 21 de novembro de 2016 
  15. «NET, Claro e Vivo bloqueiam acesso a site com informações sobre aborto seguro». The Intercept Brasil. 12 de dezembro de 2019. Consultado em 12 de dezembro de 2019 
  16. «'Drone do aborto' lança pílulas sobre país que proíbe prática». Mundo. 27 de junho de 2015 
  17. «Ativistas protestam na Irlanda com drones com pílulas abortivas - AFP - UOL Notícias». UOL Notícias 
  18. Association, Press (21 de junho de 2016). «Drone delivers abortion pills to Northern Irish women». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]