Arte tradicional iorubá

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Escultura em bronze da cabeça do Rei de Ifé atualmente em exposição no Museu Britânico

A arte tradicional iorubá, do sul da África Ocidental é uma arte contemporânea e tradicional muito rica. Os Iorubás estavam e ainda estão localizados tanto na República do Benim, quanto em Gana, Camarões e Serra Leoa. O povo iorubá também pode ser encontrado diversos outros países, como em Cuba, Brasil, Trinidad e Tobago, Jamaica, Reino Unido, El Salvador, Estados Unidos, Bahamas, Haiti, entre outros.[1]

Os iorubás são um dos maiores grupos étnicos na África, totalizando mais de 40 milhões de pessoas no mundo todo. Tendo em vista esta força, a cultura iorubá se espalhou pelo mundo, fazendo com que fosse praticada por mais de 100 milhões de pessoas. Sabe-se que os mesmos preservavam o costume da produção de artefatos artísticos como: ornato de cordas, debrum, as tranças, tatuagem, perolização, o uso da argila e cerâmica, bronze, tecelagem e tingimento, escultura em madeira entre outras formas de arte. Outras características são: os cultos egunguns, Guelede, a arte de Ifá e os atributos estéticos utilizados pelos mesmos - seja através das vestimentas ou através das máscaras. Dessa forma, não apenas deve-se atentar a arte tradicional, mas também a arte contemporânea que, mesmo sendo influenciada ao longo dos séculos pelo cruzamento de ideias estrangeiras com suas ideias, permaneceu viva e ainda intrinsecamente ligada a questões mitológicas dos indivíduos (como os orixás Ogum, Obatalá, Oxum e Oxalufã).

O Culto egungum[editar | editar código-fonte]

Entendendo o que refere-se aos cultos da tradição iorubana, pode-se analisar que a máscara egungum é um dos mais significativos exemplos de culto aos povos antepassados desta tradição. O culto aos egunguns, conhecido também como Ãrá-Orun-Kìnkìn, representa a crença iorubá na vida após a morte, fazendo assim, com que os mascarados performem os espíritos de seus ancestrais mortos que retornam para visitar seus descendentes que ainda estão vivos. Dessa forma, acredita-se que os mesmos possuem o poder de purificar o lugar, curar os que estão enfermos e ajudar a solucionar problemas territoriais. A vestimenta, que é um aspecto crucial, raramente reflete sua identidade - que é acondicionada porque evoca os ancestrais masculinos, utiliza-se uma máscara que pode ser de madeira, a qual cobre sua cabeça por completo. Como o indivíduo fica completamente coberto, incluindo os pés e as mãos, não pode-se saber quem é.

O coelho para o povo Iorubá é visto como um animal que tem capacidade de afastar más influências, e que tem atividades noturnas, assim como o culto egungum, no qual também acontece no período noturno. Na parte de trás das máscaras utilizadas é possível notar uma representação do animal com suas orelhas pontiagudas. A tradição veio para o Brasil e resiste com esforço na ilha de Itaparica, na Bahia e, nos dias atuais, é possível encontrá-la em outras regiões do país.

Os Gêmeos na Cultura Iorubá[editar | editar código-fonte]

O povo Iorubá  possui uma das mais altas incidências de nascimento de gêmeos do mundo, nascendo assim, um par de gêmeos a cada 11 crianças. um fenômeno atribuído a fatores genéticos. Entre eles, os gêmeos são vistos como seres especiais e extraordinários, protegidos pela entidade Xangô, entidade o qual acredita-se ser a dos raios e trovões (também conhecido em algumas regiões do Brasil como orixá da justiça). A questão que concerne à riqueza e pobreza também está intrinsecamente ligada aos gêmeos, principalmente em algumas regiões de Benim e da Nigéria. Nestas regiões acreditam que os gêmeos são responsáveis por trazer riqueza às suas respectivas famílias. Contudo, os mesmos podem causar pobreza a seus familiares, quando ofendidos ou descuidados. Dessa forma, é comum que os pais de gêmeos dediquem aos mesmos toda a atenção possível e, também, lhe façam oferendas. Na Nigéria sempre acontece uma grande festa quando nascem gêmeos. Sempre há grandes quantidades de comida, bebida e muita dança. As pessoas fazem bacias de feijão cozido com sal e epo, e todos comem nesta bacia, com as mãos. Na festa de Ibeji, a mãe dos gêmeos abre as comemorações, presenteando Esu.

Este povo acredita que os gêmeos possuem a mesma alma e, quando um dos gêmeos morre, ele é honrado com a criação de uma escultura humana em madeira conhecida como Ibeji. Se ambos morrem, os mesmos são honrados com um par de esculturas. Assim, é o escultor quem determina as características formais da obra, no caso específico dos Ibeji a sua estatueta quase sempre expõe braços paralelos ao corpo cujas mãos podem ou não ser arqueadas. Depois que a obra se encontra pronta a estatueta receberá os cuidados da mãe ou do irmão que está vivo - que envolvem dar banho, enfeitá-la, oferecer alimentos, mantendo assim viva a memória do mesmo entre seus familiares.

As Máscaras Gueledé[editar | editar código-fonte]

As máscaras Gueledé, assim como os egunguns e as Epa, são as mais conhecidas e populares na cultura iorubá. O culto das Gueledé pode acontecer em relação a divindade - ou, talvez, um herói desta cultura - mas, também, sua função mais tradicional é a de ponderar a Iá Nlá, conhecida como A grande mãe e suas discípulas, conhecidas como As mães poderosas. Ianlá é esposa da divindade Obatalá, que na cultura dos mesmos é conhecido como O grande pai, e é considerada a Mãe da Natureza. Assim, representa o princípio maternal na mundividência Iorubá, que traz em si a particularidade de todas as demais divindades femininas (como por exemplo Iemanjá e Oiá). O que está esculpido na parte superior da máscara está, também, relacionado a inúmeros aspectos da vida e crença dos Iorubá como as ocupações profissionais, mitos, entre outros temas. Atualmente o uso destas máscaras conta com representações de, por exemplo, aviões ou demais tecnologias contemporâneas, mostrando a capacidade de adaptação da cultura dos mesmos.

A composição estética das máscaras Gueledé conta com atributos característicos do povo iorubanos. A figuração dos olhos em grande maioria tem um formato losangular; no nariz representado nas máscaras há, também, um formato proeminente e triangular, assim como o queixo que é, em geral, afinado e a maçã do rosto arredondado. Outras características presentes são as marcas na face, chamas escarificações, que indicam tanto a identidade dos indivíduos e a hierarquia. Outras máscaras Gueledé trazem barbas, atributos masculinos, podendo indicar poderes especiais quando presente em uma figuração feminina - assim, geralmente, as máscaras Gueledé com tais características são mostradas durante a noite e na escuridão. É importante ressaltar que a divindade Esu é representada por uma estátua de barro, pedra, madeira ou ferro. Geralmente com dezessete marcas em forma de olhos, na frente e nas costas. Estas marcas significam a relação Esu/Ifá e possuem, ainda, sete marcas de um lado e cinco do outro, totalizando doze, as quais possuem cada qual um determinado significado. Uma das características mais importantes das Gueledé é que, segundo os mesmos, as mulheres possuem o poder da natureza - considerado o mais terrível e, também, o mais belo, que é o da criação - sendo, assim também, detentoras do poder da destruição. Acredita-se, portanto, que elas são respeitadas por este poder.

A Arte de Ifá[editar | editar código-fonte]

A arte de Ifá, citada acima, é apresentada pela cultura iorubá da seguinte forma: as esculturas e objetos desta determinada arte vão desde objetos encontrados na natureza, como nozes, sem uma grande quantidade de adornos, indo até esculturas mais aprimoradas e primorosas. Tais objetos preservam a fé não apenas em sua religião, mas em suas representações artísticas e seus valores, havendo um elo entre a religião e a representação artística. Acredita-se que para colocar as mãos em Ifá há uma necessidade de um aprendizado. Depois de anos aprendendo o indivíduo passa por diversas provações, incluindo aqueles com fogo.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ALMEIDA, Maria Inez Couto de. Cultura Iorubá: costumes e tradições. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2006.
  • BEVILACQUA, Juliana Ribeiro da Silva; SILVA, Renato Araújo da. África em Artes. São Paulo: Museu Afro Brasil, 2015.
  • FERREIRA, Luzia Gomes. As Máscaras Africanas e Suas Múltiplas Faces. Universidade Federal da Bahia.
  • ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 2016.
  • HAMA & KI-ZERBO. Lugar da história na Sociedade Africana. In: KI-ZERBO. História Geral da África. Vol. 1: Metodologia e Pré-História. Brasília: UNESCO, 2010, p. 23 – 35.
  • JOHNSON, Samuel. Religion. In.:­­______. The History of the Yorubas. Lagos: C.M.S. (Nigeria) Bookshops: 1960, p. 26 – 39.

Referências

  1. Drewal, Henry John; Pemberton III, John; Abiodun, Rowland (1989). Wardwell, Allen, ed. Yoruba : nine centuries of African art and thought. New York: Center for African Art in Association with H.N. Abrams. ISBN 0-8109-1794-7 

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências