Governo Civil

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Paço da Ribeira, sede do Governo Civil do Distrito de Lisboa
O edifício do Governo Civil do Porto
O edifício do Governo Civil do Distrito de Bragança
O edifício do Governo Civil do Distrito de Faro

O Governo Civil, em Portugal, é o órgão da administração pública que representa, administrativamente, o Governo da República Portuguesa em cada distrito. Cada governo civil é dirigido por um magistrado administrativo, designado governador civil, nomeado pelo Conselho de Ministros, dependendo, na prática, do Ministério da Administração Interna.

As funções dos governos civis têm vindo a decrescer desde a sua criação em meados do século XIX. No início tinham um competência alargada de representação do governo central e de coordenação de todos os serviços do Estado localizados no seu distrito. Atualmente funcionam na prática como uma simples delegação do Ministério da Administração Interna. Dentre as funções de um governo civil encontram-se a emissão de passaportes, a segurança pública, a proteção civil e a gestão de processos eleitorais.

História

No antigo regime, a Coroa era representada em cada comarca de Portugal, por um magistrado designado "corregedor". Numa época em que não existia, ainda, a separação de poderes, o corregedor tinha funções tanto administrativas como judiciais.

Na sequência da revolução liberal de 1820, foi proposta a substituição da comarca, como unidade administrativa, pelo distrito, em cada qual, o governo central seria representado por um "administrador-geral". Ao contrário dos antigos corregedores, os administradores-gerais não teriam funções judiciais, mas seriam apenas magistrados administrativos. As contra-revoluções miguelistas, no entanto, levaram ao adiamento desta reforma.

Só em 1832, o governo liberal sediado na ilha Terceira e chefiado por Pedro de Sousa Holstein, Duque de Palmela, decretou uma reforma administrativa que vem substituir a antiga: as chamadas reformas de Mouzinho da Silveira. Foram mantidas as províncias e as comarcas, como divisões administrativas. À frente das primeiras estaria um magistrado administrativo designado "prefeito". Cada prefeito seria representado, nas comarcas que não fossem sede de província, por um magistrado administrativo designado "subprefeito". A nova reforma, apenas foi implantada em todo o território nacional, depois da vitória liberal na Guerra Civil, em 1834.

A reforma de Mouzinho da Silveira foi logo alterada em 1835. A reforma levada a cabo nesse ano, seguiu um modelo semelhante ao proposto a seguir à revolução de 1820. O país foi dividido em distritos, cuja área correspondia, aproximadamente à das anteriores comarcas. O magistrado administrativo junto de cada distrito passou a designar-se "governador civil". O cargo de governador civil manteve-se, desde então, até à atualidade.

Inicialmente, os governadores civis dispunham de funções bastante alargadas, representando o governo central e coordenando as suas políticas e serviços da administração pública em cada distrito. No entanto, sobretudo a partir de meados do século XX, as suas funções foram-se esvaziando, à medida que cada ministério foi criando as suas próprias delegações e serviços regionais. As funções dos governadores civis foram-se limitando às de delegado do Ministério do Interior (Ministério da Administração Interna, desde 1974), atuando, essencialmente, apenas nos setores da competência deste ministério.

Tal como a anterior Constituição portuguesa de 1933, a Constituição de 1976 veio prever a regionalização do país, o que levaria à extinção dos distritos e, consequentemente, dos governos civis. Essa regionalização foi, no entanto, rejeitada em referendo, mantendo-se os distritos e os seus governadores civis.

Enquadramento jurídico actual

Distintivo de governador civil

O enquadramento jurídico dos Governadores Civis deriva diretamente da existência de distritos e assenta no disposto no artigo 291.º da Constituição da República Portuguesa, o qual estabelece que:

  1. Enquanto as regiões administrativas não estiverem concretamente instituídas, subsistirá a divisão distrital no espaço por elas não abrangido.
  2. Haverá em cada distrito, em termos a definir por lei, uma assembleia deliberativa, composta por representantes dos municípios.
  3. Compete ao governador civil, assistido por um conselho, representar o Governo e exercer os poderes de tutela na área do distrito.

Nestes termos os governos civis apenas podem ser extintos quando for implantada a regionalização do território, a qual depende da aprovação em referendo. Em alternativa, pode a extinção ocorrer por alteração da Constituição, removendo-se do texto constitucional as normas referentes aos distritos, matéria que não consta dos limites materiais da revisão a que se refere o artigo 288.º na sua versão actual[1] Logo, as anunciadas intenções de extinção dos governos civis sem regionalização ou revisão constitucional são infundadas, por contrárias à Constituição.

A missão, atribuições e orgânica dos serviços de apoio aos Governadores Civis está estabelecida nos seguintes diplomas:

Extinção

O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho anunciou na sua tomada de posse a 21 de junho de 2011 que não iria nomear novos governadores civis e que iria promover a extinção de todos os Governos Civis. Em 8 de Setembro de 2011, o Governo extinguiu de facto todos os Governos Civis mediante a aprovação de um decreto-lei[2] que transfere todas as competências destes órgãos para outros órgãos administrativos (como as Câmaras Municipais, a Polícia de Segurança Pública, a Guarda Nacional Republicana e a Autoridade Nacional de Protecção Civil), procedendo ainda à liquidação do património dos Governos Civis e à transferência dos seus funcionários para a Polícia de Segurança Pública e a Guarda Nacional Republicana.[3][4]

O Governo anunciou que em futura revisão constitucional promoverá a inclusão da extinção de jure dos Governos Civis na Constituição da República.

Ver também

Referências

Bibliografia

Ligações externas