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Relaxante muscular

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Os relaxantes musculares são uma classe de fármacos composta por substâncias que atuam sobre o sistema musculoesquelético diminuindo o tónus muscular. É usado para aliviar sintomas tais como espasmo muscular, dor e hiper-reflexia, como no tratamento de fibromialgia.

A primeira descrição dos relaxantes musculares data do séc. XVI, quando os exploradores europeus encontraram nativos da Amazônia na América do Sul usando setas envenenadas que provocavam a morte por paralisia muscular. Este veneno, conhecido hoje como Curare, liderou os primeiros estudos em Farmacologia. O seu princípio ativo a tubocurarina, assim como muitos dos seus derivados sintéticos, desempenharam um papel importante nas experiências científicas que determinaram a função da acetilcolina na transmissão neuromuscular.[1] A partir de 1943 os bloqueadores neuromuculares foram admitidos como relaxantes musculares na anestesia e cirurgia.[2] A Food and Drug Administration (FDA) aprovou o uso do carisoprodol em 1959, a metaxalona em agosto de 1962 e a ciclobenzaprina em agosto de 1977.[3]

Classificação

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Visão detalhada de uma junção neuromuscular:1. Terminal pré-sináptico2. Sarcolema3. Vesícula sináptica4. Receptor de aceticolcolina nicotínico5. Mitocôndria

O relaxantes musculares pode ser classificados de acordo com seu mecanismo de ação:[4]

  • Relaxantes musculares de ação periférica ou bloqueadores neuromusculares, que atuam interferindo na transmissão a nível da junção neuromuscular e não têm atividade a nível do sistema nervoso central (SNC). São frequentemente usados durante a cirurgia e nas Unidades de Cuidados Intensivos para inibir a contratilidade muscular.
  • Relaxantes musculares de ação central que atuam a nível do sistema nervoso central, a nível encefálico ou medular tais como o Carisoprodol, a Tizanidina de mecanismo de ação ainda mal conhecido e o baclofeno.[5] São usados para aliviar dor musculo-esquelética e espasmos e para reduzir a espasticidade em várias patologias neurológicas.[6][7][8][9]

Mecanismo de ação

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Diagrama químico do pancurónio, com linhas vermelhas que indicam as duas "moléculas" de acetilcolina na estrutura

O relaxamento muscular e a paralisia podem ocorrer teoricamente pela interrupção da função a vários níveis, incluindo o sistema nervoso central, os nervos somáticos mielinizados, os nervos motores terminais desmielinizados, os recetores acetilcolínicos, a junção neuromuscular, a membrana muscular e o aparelho contrátil. A maioria dos bloqueadores neuro-musculares atuam bloqueando a transmissão a nível da junção neuromuscular. Normalmente o impulso nervoso chega ao nervo motor terminal, iniciando um influxo de ions de cálcio, (Ca2+), que causa a exocitose das vesículas sinápticas que contém a acetilcolina. Esta difunde-se então através da abertura sináptica. Pode ser hidrolisada pela acetilcolinaesterase ou ligada aos recetores nicotínicos localizados na placa neuromuscular. A ligação de duas moléculas de acetilcolina ao recetor originam uma transformação proteica do recetor nicotínico que abre os canais de sódio-potássio. Isto faz com que os iões de Na+ e Ca2+ entrem na célula com saída do K+, causando a despolarização da placa neuromuscular e a contração muscular.[10] - A seguir à despolarização, as moléculas de acetilcolina são removidas da placa e enzimaticamente hidrolisadas pela acetilcolinaesterase.[1] O normal funcionamento da placa neuromuscular pode ser bloquedo por dois mecanismos. Agentes não despolarizantes, como a tubocurarina, bloqueiam a ligação do agonista, acetilcolina, e a ativação dos recetores nicotínicos impedindo assim a despolarização. Por outro lado, agentes despolarizantes como a succinilcolina, são agonistas dos recetores nicotínicos, competem com a acetilcolina na ligação a estes recetores e bloqueiam a contração despolarizando de tal modo o recetor que o dessensibiliza e o torna incapaz de iniciar um um novo potencial de acção.[1] Ambas estas classes de bloqueadores neuromusculares são estruturalmente semelhantes à acetilcolina, em muitos casos contendo duas moléculas de acetilcolina ligadas em termino-terminal por um anel rígido de carbono, como o pancurónio (um agente não despolarizante).[1]

Espasmolíticos

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Medula espinhal e músculo esquelético mostrando a ação dos vários relaxantes musculares - as setas pretas representam os químicos ou as ações que potencializam o target, as azuis os que o inibem

A geração do potencial de ação nos neurónios motores que levam à contração muscular, está dependente do equilíbrio entre a excitação e inibição sináptica que o neurónio motor recebe. Os agentes espasmolíticos atuam ou aumentando o nível de inibição ou reduzindo o nível de excitação. A inibição é ampliada pela imitação ou pelo aumento de ação das substâncias inibidoras endógenas, tais como o Ácido gama-aminobutírico(GABA).

Na medida em que atuam a nível do córtex, do eixo cerebral ou da medula, ou concomitantemente nas três áreas, foram chamados de "relaxantes musculares de ação central". Contudo sabe-se hoje que nem todas as moléculas nesta classe têm atividade sobre o SNC (por exemplo o dantrolene).[1] Assim, de acordo com MeSH, O dantrolene é classificado de relaxante muscular de ação central.[11] a OMS na ATC, usa o termo de "agentes de ação central"[5] mas adiciona uma categoria diferente "agentes de ação direta" para o dantrolene[12] O uso desta terminologia data de 1973.[13]

O termo "espasmolítico" é sinónimo de antiespasmódico.[14]

Os espasmolíticos tais como o carisoprodol, ciclobenzaprina, mataxalona e metocarbamol são comumente prescritos para as dores musculares lombares ou cervicais, fibromialgia e a síndrome da mialgia fascicular.[15] Contudo não são recomendados como medicamentos de primeira linha; na dor aguda, não são mais eficazes que o paracetamol ou os antiinflamatórios não esteróides (AINE)[16][17] e na fibromialgia não são mais eficazes que os antidepressivos.[15] Não está provado que uma droga seja melhor que a outra e todas têm efeitos colaterais, principalmente vertigens e sonolência.[15][17] Os cuidados a ter contra um possível abuso e a interação com outras drogas limita o seu uso.[15] A escolha de um relaxante muscular deve ser feita com base nos seus efeitos adversos, tolerância e custo.[18]

Os relaxantes musculares são recomendados sobretudo em situações neurológicas tais como a paralisia cerebral e a esclerose múltipla[15] O dantroleno embora considerado como um agente de ação periférica tem também ação central, enquanto a atividade do baclofeno é exclusivamente central.

Esta classe de medicamentos tem sido usada nas síndromes dolorosas, com base na teoria de que a dor induz um espasmo muscular e o espasmo causa dor. Contudo, vários estudos contradizem esta teoria. Em geral não são aprovados pela FDA para uso a longo termo. contudo os reumatologistas prescrevem frequentemente a ciclobenzaprina à noite, diariamente para prolongar a fase 4 do sono. Aumentando esta fase do sono, os pacientes sentem-se melhor de manhã e também é muito útil nos pacientes que têm fibromialgia.[19]

Outros, como a tizanidina são prescritos no tratamento das cefaleias,[20] o diazepam e o carisoprodol requerem acompanhamento médico próximo e redução para a menor dose efetiva na pessoa idosa, gestante, nas pessoas que sofrem de depressão e alcoolismo.[21]

Referências

  1. a b c d e Miller, R.D. "Skeletal Muscle Relaxants," in, "Basic & Clinical Pharmacology: Seventh Edition," by Bertram G. Katzung. Published by Appleton & Lange, 1998, p.434-449. ISBN 0-8385-0565-1
  2. Bowman WC (2006). «Neuromuscular block». Br. J. Pharmacol. 147 Suppl 1: S277–86. PMC 1760749Acessível livremente. PMID 16402115. doi:10.1038/sj.bjp.0706404 
  3. «Brief History». Consultado em 2 de dezembro de 2012 
  4. «Relaxantes musculares». Consultado em 2 de dezembro de 2012. Arquivado do original em 23 de novembro de 2008 
  5. a b «OMS-ATC/DDD Index» 
  6. «Definição de Relaxante muscular». Consultado em 2 de dezembro de 2012 
  7. «relaxante muscular»  Texto "mediLexicon. (c) 2007" ignorado (ajuda); Parâmetro desconhecido |Acessdata= ignorado (ajuda).
  8. «Relaxante muscular WebMD» 🔗. Consultado em 2 de dezembro de 2012  Texto " Last Updated: February 15, 2006" ignorado (ajuda).
  9. «Relaxante muscular esquelético(Via oral, Via Parenteral) Mayo Clinic. Last Updated: April 1, 2007» 🔗. Consultado em 2 de dezembro de 2012 .
  10. C.R. Craig, R. E. Stitzel (2003) Modern Pharmacology with clinical applications Lippincott Williams & Wilkins ISBN 0-7817-3762-1 p339
  11. MeSH Dantrolene
  12. «ATC/DDD Index» 
  13. Ellis KO, Castellion AW, Honkomp LJ, Wessels FL, Carpenter JE, Halliday RP (1973). «Dantrolene, a direct acting skeletal muscle relaxant». J Pharm Sci. 62 (6): 948–51. PMID 4712630. doi:10.1002/jps.2600620619 
  14. «Dorlands Medical Dictionary:antispasmodic». Arquivado do original em 1 de outubro de 2009 
  15. a b c d e See S, Ginzburg R (2008). «Choosing a skeletal muscle relaxant». Am Fam Physician. 78 (3): 365–370. ISSN 0002-838X. PMID 18711953 
  16. Chou R; Qaseem A; Snow V; et al. (2007). «Diagnosis and treatment of low back pain: a joint clinical practice guideline from the American College of Physicians and the American Pain Society». Ann. Intern. Med. 147 (7): 478–91. PMID 17909209. doi:10.7326/0003-4819-147-7-200710020-00006  Parâmetro desconhecido |author-separator= ignorado (ajuda)
  17. a b van Tulder MW, Touray T, Furlan AD, Solway S, Bouter LM (2003). Van Tulder, Maurits W, ed. «Muscle relaxants for non-specific low back pain». Cochrane Database Syst Rev (2): CD004252. PMID 12804507. doi:10.1002/14651858.CD004252 
  18. See, S.; Ginzburg, R. (2008). «Skeletal muscle relaxants». Pharmacotherapy. 28 (2): 207–13. PMID 18225966. doi:10.1592/phco.28.2.207 
  19. «When Are Muscle Relaxers Prescribed For Arthritis Patients?». Consultado em 9 de julho de 2010 
  20. «Tension Headache». Consultado em 9 de julho de 2010 
  21. «Muscle Relaxants». Consultado em 9 de julho de 2010 

Ligações externas

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