Procissão da cavalaria

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Jovem romano sobre um cavalo. Possivelmente um membro da dinastia júlio-claudiana

procissão da cavalaria (em latim: transvectio equitum), na Roma Antiga, era uma parada de jovens membros (iuventus) da classe equestre (equites) que ocorria anualmente em 15 de julho. Teria sido institucionalizada em 304 a.C. pelo censores daquele ano como forma de celebrar a ajuda prestada aos romanos pelos Dióscuros durante a batalha do Lago Regilo contra os latinos. Ela iniciava-se no Templo de Marte da Via Ápia e marchava até o Templo de Júpiter Ótimo Máximo, no monte Capitolino. No meio do percurso a procissão parava em frente ao Templo de Castor e Pólux para realização de sacrifícios.

Organização[editar | editar código-fonte]

A cerimônia ocorreu anualmente no dia 15 de julho.[1][2] Segundo Dionísio de Halicarnasso, os jovens equestres romanos, trajando a toga trábea e montando seus cavalos, se reuniam diante do Templo de Marte da Via Ápia,[3] c. 2 quilômetros fora da Porta Capena.[4] Os censores, então, passavam entre os cavaleiros em revista (recognitio/probatio equitum) e orientavam a procissão através de Roma. Eles seguiam a Via Ápia através da Porta Capena e então rumavam ao monte Capitolino.[2] Segundo Tito Lívio, eles paravam e realizavam sacrifícios no Templo de Castor e Pólux, no Fórum Romano, antes de continuar para o Templo de Júpiter Ótimo Máximo, no Capitólio.[1][5]

Durante o Império Romano, após a reorganização realizada pelo imperador Augusto (r. 27 a.C.–14 d.C.),[6] os cavaleiros eram divididos em seis turmas (esquadrões) conduzidos cada um por um séviro das turmas de cavaleiros romanos (sevir turmae equitum Romanorum), cargo honorífico ocupado por Caio e Lúcio César sob Augusto[7] e por Adriano em 94.[8] Em sua restauração por Augusto, o percurso da procissão parece ter sido modificado para que os cavaleiros atravessassem o Templo de Marte Vingador no recém-construído Fórum de Augusto, embora o caminho sempre levou para o Capitólio.[9]

Segundo a Evidência epigráfica existente, alguns dos equestres que participaram desse rito eram muito jovens.[10] Segundo John Pollini, um relevo esculpido em Como, na Itália, provavelmente descreve essa procissão.[11] Para Zinon Papakonstantinou, é provável que houvesse uma ligação estreita entre a procissão da cavalaria e o Jogo de Troia (Lusus Troiae).[12]

História[editar | editar código-fonte]

Áureo de Augusto (r. 27 a.C.–14 d.C.)

A para teria sido instituída pelos censores de 304 a.C., incluindo Quinto Fábio Máximo Ruliano afim de celebrar a vitória na batalha do Lago Regilo e a intervenção, do lado romano, dos Dióscuros.[13] Fontes posteriores alegaram que a procissão, no momento de sua instituição, teria partido do Templo da Honra e Virtude, próximo a Porta Capena, uma afirmação reconhecida como improvável Samuel Ball Platner devido o conflito entre a data do relato e a fundação do edifício.[14] Seja como for, em 230 a.C., o censor Quinto Fábio Máximo Verrucoso realizou a procissão partindo do Templo da Virtude e Honra.[15] A cerimônia foi organizada durante décadas, porém gradualmente perdeu importância a ponto de desaparecer. Sua celebração, contudo, seria posteriormente retomada por Augusto.[16]

Referências

  1. a b Scullard 1981.
  2. a b Siebert 2013.
  3. Dionísio de Halicarnasso século I a.C., 6.3.
  4. McDonnell 2006, p. 216-.
  5. Tito Lívio século I a.C., 9.46.15.
  6. Mattingly 1910, p. 49-.
  7. Bonnefond 1987, p. 267.
  8. ILS 308 = CIL III.150
  9. Bonnefond 1987, p. 268.
  10. ILS 316; CIL 6.3512; CIL 14.3624; CIL 6.31847
  11. Pollini 2012, p. 430.
  12. Papakonstantinou 2013, p. 335.
  13. Tito Lívio século I a.C., 2.9.
  14. Platner 1929, p. 259.
  15. Massa-Pairault 1995, p. 42.
  16. Suetônio 121, 38.3.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Bonnefond, Marianne (1987). «Transferts de fonctions et mutation idéologique : le Capitole et le Forum d'Auguste». L'Urbs : espace urbain et histoire. Roma: [s.n.] 
  • Mattingly, Harold (1910). The Imperial Civil Service of Rome. [S.l.]: CUP Archive 
  • Massa-Pairault, Françoise-Hélène (1995). «Eques romanus - Eques latinus (Ve-Ive siècle)». Roma: Mélange de l'École française de Rome. 107 
  • McDonnell, Myles (2006). Roman Manliness: "Virtus" and the Roman Republic. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-82788-1 
  • Papakonstantinou, Zinon (2013). Sport in the Cultures of the Ancient World: New Perspectives. [S.l.]: Routledge. ISBN 978-1-317-98948-6 
  • Platner, Samuel Ball (1929). A Topographical Dictionary of Ancient Rome. Londres: Oxford University Press 
  • Pollini, John (2012). From Republic to Empire: Rhetoric, Religion, and Power in the Visual Culture of Ancient Rome. [S.l.]: University of Oklahoma Press. ISBN 978-0-8061-8816-4 
  • Scullard, H. H. (1981). Festivals and Ceremonies of the Roman Republic. Nova Iorque: Cornell University Press 
  • Siebert, Anne Viola (2013). Transvectio equitum. [S.l.]: Hubert Cancik and Helmuth Schneider