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Las Hurdes

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(Redirecionado de Terra sem pão)
 Nota: Para o filme de Luis Buñuel, veja Las Hurdes, tierra sin pan.
Espanha Las Hurdes

As Hurdes • Las Jurdes • Las Jurdis

 
  Comarca  
Paisagem nas vizinhanças da aldeia de Martilandrán, do município de Nuñomoral
Paisagem nas vizinhanças da aldeia de Martilandrán, do município de Nuñomoral
Paisagem nas vizinhanças da aldeia de Martilandrán, do município de Nuñomoral
Localização
Localização de Las Hurdes na província de Cáceres e Estremadura
Localização de Las Hurdes na província de Cáceres e Estremadura
Localização de Las Hurdes na província de Cáceres e Estremadura
Las Hurdes está localizado em: Espanha
Las Hurdes
Localização de Las Hurdes na Espanha
Coordenadas 40° 22′ 44″ N, 6° 16′ 48″ O
País Espanha
Comunidade autónoma Estremadura
Província Cáceres
Administração
Capital Nuñomoral
Características geográficas
Área total [♦] 502 km²
População total (2021) [1] [♦] 5 694 hab.
Densidade 11,3 hab./km²
Website www.mancomunidadhurdes.es
[♦] ^ A área e população referem-se à Mancomunidade de Las Hurdes. Os dados da comarca histórica são, respetivamente, 465 km² e 4 635 habitantes.

Las Hurdes (em português: As Hurdes; em estremenho: Las Jurdes ou Las Jurdis) é uma comarca histórica da Espanha, situada na extremidade norte da província de Cáceres e da comunidade autónoma da Estremadura. É composta por 5 municípios e 43 povoações menores, 4 das quais já estão despovoadas.

A comarca histórica propriamente dita não tem qualquer estatuto administrativo atualmente, mas em 1996 foi constituída a Mancomunidade de Las Hurdes, a qual, além dos municípios da comarca histórica, integra o município de Casar de Palomero.[2] A comarca está localizada na região da Serra de Gata e está ligado ao vale de Las Batuecas, em cuja parte baixa está assentada a alquería (alcaria) hurdana de Las Mestas. A riqueza natural da comarca é de caráter florestal.

Pré-história

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Os primeiros dados sobre a atividade humana na comarca remonta ao Calcolítico. A esta época pertencen os desenhos rupestres mais antigos de um conjunto de arte pré-histórica que abrange um arco temporal compreendido entre o século IV a.C. até à época romana. Se bem que, tendo em conta as representações de pintura esquemática das Batuecas, nas proximidades de Las Mestas, os primeiros vestígios de povoamento podem antecipar-se ao século VIII a.C. Porém, a ocupação de Las Hurdes deve ter sido descontínua e não produziu núcleos habitados relevantes, que tampouco conheceram um desenvolvimento em épocas mais recentes. O ídolo-estela de El Cerezal, atualmente no Museu Provincial de Cáceres, é o testemunho mais destacado da Pré-história hurdana.[3]

Época romana e árabe

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A romanização inclui-se dentro da Província de Lusitânia, se bem as provas arqueológicas deste período são meramente testemunhais. Com a invasão árabe, provavelmente Las Hurdes se encontraram despovoadas, ainda que a lenda anotada por Lope de Veja em uma de suas obras, "As Batuecas do duque de Alba", fala de grupos humanos isolados descendentes dos godos a finais do século XVII. Mais além das elucubrações do escritor, os primeiros testemunhos escritos sobre alguma “alquería” se remontam ao final do século XII, citando-se os nomes de "Riomalo", Batuecas, "Mestas" e "Ovejuela". O pastoreio de cabras traria novamente ao homem nestas terras.

Integração na Alberca

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Em 1289 "la dehesa de Jurde" é cedida pela Villa de Granadilla a La Alberca, na Província de Salamanca, começando uma época de submissão à vila salmantina que se prolongaria durante séculos para além da metade da Comarca, a dependente do Concelho de Nuñomoral. A outra parte, pertencente ao Conselho do Franqueado se veria isenta da submissão aos albercanos. No século XVI se estabeleceu um censo enfitêutico sobre os habitantes de Las Hurdes. É también nesta época quando a Lenda Negra começa a ter força quando Lope de Vega, baseando-se nas notícias do licenciado Alonso Sánchez, escreve sua peça teatral. A fascinação criada pela peça teatral fez com que, de agora em adiante, sejam muitos os que escrevam sobre a comarca, aumentando a lenda.

Séculos XIX e XX

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Já no século XIX,[4] após separar-se de La Alberca, com a divisão provincial de Javier de Burgos, em 1833, os visitantes ilustres da comarca, que é também um lugar para desterrados, começaram a crescer. O doutor Bide, em 1892, após viajar por Las Hurdes, apresenta um informe no "Boletín da Sociedad Geográfica de Madrid", no qual denuncia as difíceis condições de vida dos hurdanos. A Sociedade "Esperanza de Las Hurdes", dirigida por Francisco Jarrín, bispo de Coria, inicia obras caritativas na Comarca, que têm seu ponto álgido com o I Congreso Nacional de Hurdanos e hurdanófilos, em 1908. Em 1904, Gabriel e Galán recita "La Jurdana". Em 1913, Unamuno dedica um capítulo de "Andanzas y Visiones Españolas" a Las Hurdes, denunciando ainda mais as condições sanitárias de seus habitantes. Posteriores informes de Marañón e Legendre, cônsul francês em Madrid, fazem que Afonso XIII decida conhecer a comarca em 1922. Após a Visita Real surgem iniciativas para promover o desenvolvimento hurdano, tendo como prioridade o fator assistencial. Las Hurdes, não obstante, passam a converter-se no paradigma do atraso do meio rural na Espanha, a raiz do filme Las Hurdes, tierra sin pan,[5] que Luis Buñuel realizou em 1932 e na que se denunciava a dura situação da comarca. Buñuel vê no lugar a matéria-prima para desenvolver suas idéias cinematográficas; as lentes da câmera captam de maneira crua a vida miserável dos hurdanos, seus costumes e tradições, as doenças, as migrações, a precariedade da sua agricultura, a distância que os habitantes precisam percorrer para levar os mortos ao cemitério mais próximo. Um lugar esquecido, onde "a morte é quase um dos únicos eventos". À época de seu lançamento, Las Hurdes foi bastante criticado por, supostamentente, denegrir a imagem da Espanha. Pode-se ainda, no decorrer do documentário, perceber temas que mais tarde Buñuel aprofundaria em Os Esquecidos, de 1950.

Após a Guerra Civil, o ditador Francisco Franco põe em prática um plano para a comarca cuja base é o repovoamento florestal de grandes massas de pinheirais. Os salários que estes trabalhos proporcionam aos hurdanos ajudam a paliar a fome e freiam a emigração, mas acabam com um eco-sistema propicio para o pastoreio e a apicultura, os dois principais setores da economia hurdana. Em 1976, se produz um novo intento de desenvolvimento, o Plano Hurdes de Manuel Fraga Iribarne. A pesar do bom acolhimento entre os hurdanos não se demorou em descobrir o pouco efeito na comarca. Cresce, como nunca, o despovoamento e os incêndios florestais arrasam Las Hurdes. Em 1988, o II Congreso Nacional de Hurdanos e Hurdanófilos, organizado por AS-Hurdes, demanda maior participação dos hurdanos nas políticas que afetam diretamente a comarca. O congresso conta com a participação de especialistas renomados, mas, no geral, o nível de seus participantes é claramente inferior ao de 1908. Na década dos Noventa o turismo cresce nas Hurdes e se consolida como uma nova fonte de lucro. A Visita Real de 1998 foi utilizada pelos hurdanos para oferecer uma imagem de normalidade ao mesmo tempo para oferecer à sociedade um lugar com características singulares. Os planos de desenvolvimento rural, com fundos FEDER, que, pouco depois, apostaram pelo turismo conseguem que o turismo se consolide como grande fonte de lucro na comarca junto com a apicultura [6] e as oliveiras.

Situação atual

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Mapa da comarca

Ainda que a situação atual de Las Hurdes continua sendo difícil e a perda e o envelhecimento da população seu principal lastre.[7] Os municípios de Caminomorisco e Pinofranqueado tiveram certo desenvolvimento, mas em Nuñomoral, Casares de las Hurdes e Ladrillar a recessão é muito forte.

Historicamente ha sido una comarca isolada de seu entorno e de difíceis condições econômicas para seus habitantes, mas se baseia no auto-abastecimento através de pequenos cultivos de vários tipos. A população se distribui em pequenos povoados de 100 a 400 habitantes e em algumas “alquerías” (pequenos distritos). A economia tradicional de Las Hurdes tem se baseado nos produtos naturais do lugar: mel, azeitona, batatas, cereais, cortiça, carvão de “brezo”, etc. Na atualidade, a economia da comarca tem melhorado notavelmente. O turismo rural está tendo cada vez mais importância.

Trata-se de um terreno montanhoso de clima mediterrâneo com influência atlântica. Limita com Sierra de Gata, Terras de Granadilla e Sierra de Francia, (Salamanca). Forma parte da chamada "Espanha úmida". 7 rios regam seus vales: o rio Malo ou Ladrillar, o rio Batuecas, o rio Hurdano, o rio Malvellido, o rio Esperabán, o rio Ovejuela e o rio dos Ángeles.

Concelhos e alquerías

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O povoamento disperso da comarca faz com que os municípios estejam formados por pequenas povoações que são conhecidas com o nome de alquerías (alcarias).

Municípios da comarca histórica Las Hurdes
Município Área
(km²)
População
(2021)[1]
Densidade
(hab./km²)
Alquerías (aldeias)
Caminomorisco 147,6 1 161 7,9 AceñaArrocerezoArrofrancoArrolobosCambrónCambroncinoDehesillaHuertaRiomalo de Abajo
Casares de las Hurdes 20,8 383 18,4 CarabusinoCasarrubiaHerasHuetreRobledo
Ladrillar 53,0 185 3,5 CabezoLas MestasRiomalo de Arriba
Nuñomoral 94,8 1 224 12,9 AceitunillaAsegurBatuequillaCerezalLa FragosaEl GascoHorcajadaMartilandránRubiacoVegas de Coria
Pinofranqueado 148,9 1 682 11,3 AldehuelaAvellanarCastilloLas EríasHorcajoMesegalEl MoralMuelaOvejuelaRobledoSauceda

A Mancomunidade de Las Hurdes inclui, além dos municípios acima mencionados, inclui o município de Casar de Palomero, que historicamente pertence à comarca das Terras de Granadilla. Casar de Palomero tem 36,9 km² de área e em 2021) tinha 1 059 habitantes (densidade: 28,7 hab./km²); além da sede municipal tem três alquerías: Azabal, Pedro-Muñoz e Rivera Oveja.

Referências

  1. a b «Cifras oficiales de población resultantes de la revisión del Padrón municipal a 1 de enero» (ZIP). www.ine.es (em espanhol). Instituto Nacional de Estatística de Espanha. Consultado em 19 de abril de 2022 
  2. http://www.mancomunidadhurdes.org/
  3. http://www.mancomunidadhurdes.org/index.php?opcion=historia
  4. «Cópia arquivada». Consultado em 10 de dezembro de 2008. Arquivado do original em 6 de janeiro de 2009 
  5. http://www.cinehistoria.com/las_hurdes.pdf
  6. http://www.elperiodicoextremadura.com/noticias/noticia.asp?pkid=411778[ligação inativa]
  7. González Salgado, José Antonio. «El marco geográfico (Origen y distribución del léxico extremeño, vol. I, págs. 42-60)» (em espanhol). Cartografía lingüística de Extremadura. es.geocities.com/vozextremadura. Consultado em 10 de dezembro de 2008. Arquivado do original em 15 de dezembro de 2008 

Ligações externas

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