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Nascimento e vida escolar[editar | editar código-fonte]

Nascido em 1920[1], Antonio Dias Leite Júnior estudou em casa até ingressar, no ginásio, no Colégio Anglo-Americano. Depois estudou no Colégio Pedro II e, em 1937, matriculou-se na Escola Nacional de Engenharia (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro), onde se formou em 1941[2]. Durante o curso, se aproximou da Economia e do professor Jorge Kafuri, de quem se tornaria assistente, iniciando a partir daí a sua vinculação simultânea à Universidade, à Economia e à Engenharia[3].

Estágio nos Estados Unidos[editar | editar código-fonte]

Ao fim do curso de Engenharia, Dias Leite recebeu uma oferta de um estágio de seis meses para ir para os Estados Unidos que se converteu em uma oferta de emprego que acabou ficando por 2 anos durante a guerra[4]. Para a vaga de estágio nos Estados Unidos, foi entrevistado por Nelson Rockefeller, que seria governador de Nova York de 1959 a 1973 e vice-presidente em 1974 dos Estados Unidos. Em vez de ficar seis meses, permaneceu dois anos. A experiência de ter trabalhado em uma indústria de bens de capital de alta tecnologia no chão de fábrica e na gestão da empresa teria impacto sobre sua futura visão econômica.

Retorno ao Brasil[editar | editar código-fonte]

Ao retornar ao Brasil, em 1943, o país também tinha ingressado na guerra contra a Alemanha, depois de decisão do presidente Getúlio Vargas. Dias Leite foi convocado para o serviço militar como oficial da reserva. Não foi enviado para a Itália, para onde a maioria dos militares brasileiros viajou para participar do conflito, mas, por conta de sua proficiência na língua inglesa, foi trabalhar na Comissão de Recebimento de Material dos Estados Unidos. Em 1945, com o casamento com Manira Alcure e o fim da guerra, Dias Leite se dedicou à vida acadêmica, como professor da Escola de Engenharia dando aulas no curso de Estatística e Economia, e à de consultor, desenvolvendo estudos na Ecotec (Economia e Engenharia Industrial), escritório de consultoria criado pelo professor Jorge Kafuri, que faria estudos em várias áreas, como seguros, siderurgia, energia.

Debate histórico sobre rumos da economia brasileira[editar | editar código-fonte]

Em 1945, começou a trabalhar na Comissão de Planejamento Econômico, criada no âmbito do Conselho Nacional de Segurança, com o objetivo de planejar a economia brasileira pós-guerra[5]. Nessa esfera, assistiu de perto a um dos principais debates econômicos do Brasil da primeira metade do século XX, protagonizado pelo líder industrial paulista Roberto Simonsen e o economista liberal carioca Eugenio Gudin[6], de quem ficaria próximo e a quem sempre consideraria uma de suas principais influências. Entre agosto de 1944 e agosto de 1945, o debate ocorrido no interior do governo Vargas lançou as bases para uma disputa de concepções econômicas que atravessaria décadas: na pauta, o papel do Estado e quais setores o país deveria privilegiar[7].

O Brasil do pós-segunda guerra mundial tinha assistido a turbulências, como a crise de 1929 e duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945), o que fazia ganhar corpo no meio acadêmico uma discussão sobre como deveria se dar o desenvolvimento do Brasil nas décadas seguintes[8]. Após meses de trabalho, Roberto Simonsen apresentou o trabalho “A planificação da economia brasileira”, cujas concepções centrais do documento eram planejamento, presença do Estado na economia e necessidade da industrialização, como forma de aumentar a renda nacional[9]. Entre outros pontos, nesse trabalho, Simonsen destacava que impunha-se a planificação da economia brasileira em moldes capazes de proporcionar os meios adequados para satisfazer as necessidades essenciais de nossas populações e prover o país de uma estruturação econômica e social, forte e estável, fornecendo à nação os recursos indispensáveis à sua segurança e sua colocação em lugar condigno, na esfera internacional[10].

Já, do outro lado, Eugenio Gudin era contrário à centralização do planejamento, que em sua visão levaria ao totalitarismo. Considerava a iniciativa privada capaz de conduzir a expansão da economia, se houvesse competitividade e produtividade no setor público e privado.[11] Este debate teve um reflexo impacto direto sobre Dias Leite, que a partir daí sempre estaria no centro do debate econômico no Brasil[12]. A argumentação do industrial Roberto Simonsen – presidente da Fiesp – estava baseada num trabalho sobre a renda nacional preparado por um técnico do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Isso fez com que surgissem discussões se os números faziam ou não sentido, enquanto economistas iniciaram debates para que o país começasse a reunir e coletar dados oficiais[13]. Isso levou Gudin a liderar um processo de criação de estatísticas formais da economia brasileira e, para essa tarefa, incumbiu Dias Leite[14]. Daí nasceu uma amizade entre os dois que perdurou por décadas[15]. "O Brasil não tinha o balanço de pagamentos nessa ocasião. Tinha o balanço comercial, mercadorias importadas e exportadas, os outros fluxos de dinheiro, sob outra forma, não se conheciam. E então, nessa ocasião, as contas que o Simonsen apresentou foram umas contas feitas no Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comércio. Na época era tudo constituído num só Ministério. E era uma coisa horrorosa. Então me coube comentar isso, preparar o documento”, disse Dias Leite[16].

Trabalho pioneiro sobre PIB[editar | editar código-fonte]

O trabalho pioneiro de se debruçar sobre a primeira estatística formal de produção de riqueza no Brasil se deu, em 1947[17], sob a liderança de Eugenio Gudin, que formou na FGV, que tinha sido criada em 1944, um Núcleo de Economia, que debatia semanalmente os rumos da economia nacional e como se coletar e tabular os dados quantitativos necessários para nortear a política econômica[18]. Dias Leite então ganhou a atribuição de Gudin para elaborar a metodologia para estimar, pela primeira vez, o PIB do Brasil[19]. O país estava atrasado no tema, já que os Estados Unidos tinham realizado sua primeira avaliação sistemática formal de renda nacional em 1937[20].

Sob liderança de Dias Leite, constituiu-se um grupo pequeno, formado principalmente por estudantes, estagiários e a colaboração de Genival Almeida Santos, que seriam encarregados de avaliar pela primeira vez o PIB do Brasil[21]. “Tempo anterior à Tecnologia da Informação, os cálculos eram feitos através de máquinas de calcular acionadas manualmente ou, quando mais sofisticados, através da régua de cálculo. A despeito das limitações da época, Dias Leite levou a bom termo a missão que o Núcleo de Economia lhe havia cometido. O êxito obtido atraiu a atenção de consultores, e o cálculo da renda nacional evoluiu para o Sistema de Contas Nacionais”, escreveu Julian M. Chacel, aluno de Dias Leite, em artigo em maio de 2017 para a revista Conjuntura Econômica da FGV[22].

A coordenação da primeira avaliação do PIB nacional (1951) marca o início de estatísticas sistemáticas desde então mantidas pela FGV e que desde então viabilizam o acompanhamento e a análise quantitativa da evolução econômica do Brasil[23]. A questão da industrialização e do crescimento passou a ser discutida com base em números, trazendo mais racionalidade ao debate.

Eisenhower Fellowships[editar | editar código-fonte]

Sua visão sobre a economia mundial e brasileira ganhou outra dimensão com um convite inesperado recebido no fim de 1959[24]. “Um dia, no tempo em que era tranquilo andar a pé pelo centro do Rio de Janeiro, encontro o professor Eugênio Gudin na rua da Quitanda. Ele, engenheiro de formação como eu, na ocasião o mais respeitado economista brasileiro, havia sido ministro da Fazenda do governo Café Filho. Disse-me que estava responsável por sugerir um nome a quem pudesse ser oferecida uma bolsa de estudos nos Estados Unidos pela Fundação Eisenhower Fellowships. Pensavam em mim”, escreveu Dias Leite em seu livro “Meu Século”[25]. O encontro inesperado rendeu o convite formal para novamente ir para os Estados Unidos. Entre janeiro e setembro de 1960, por indicação de Gudin, foi um dos 40 selecionados entre profissionais de todo o mundo, para participar de uma bolsa de estudos da Fundação Eisenhower Fellowships, entidade privada, sem fins lucrativos, criada em 1953 para honrar o presidente americano Eisenhower por sua contribuição em prol da humanidade[26]. A bolsa, que não compreendeu apenas atividades acadêmicas, mas representou dez meses de viagens por 27 estados norte-americanos com visitas a mais de 40 empresas, tinha por objetivo aprofundar o conhecimento do funcionamento da economia dos Estados Unidos. A viagem trouxe a possibilidade de compreender a maneira pragmática e objetiva dos Estados Unidos de conduzir negócios e o governos[27].

Artigos na imprensa brasileira[editar | editar código-fonte]

No retorno ao Brasil, começou a fazer palestras e conferências para públicos mais amplos e, instado por amigos, começou a publicar artigos periódicos sobre estratégias de crescimento para a economia brasileira no Jornal do Brasil, na Folha de S. Paulo e na revista Síntese. Esses textos – que mais tarde seriam reunidos no livro “Caminhos do Desenvolvimento”, publicado em 1966 – fizeram a “cabeça” de uma geração de técnicos, políticos e dos planejadores brasileiros nos anos seguintes, segundo o empresário José Luiz Alquéres, que foi presidente da Eletrobras, Light e Alstom. Nos artigos, Dias Leite buscou escapar nos textos a relação binária entre Estado e iniciativa privada, com ideias originais sobre o equilíbrio entre investimentos públicos e privados e a regulação do Estado. Também enfatizou a importância da educação como fator indispensável para a construção de um Brasil desenvolvido.

Geração intelectual anos 60[editar | editar código-fonte]

Nos anos 1960, Dias Leite integrou a geração intelectual formada por San Tiago Dantas, Celso Furtado, que também participou de debates em torno da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), reuniando-se aos sábados para discutir o desenvolvimento do Brasil e da América Latina Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; refs sem parâmetro de nome devem ter conteúdo associado. A CEPAL dos anos 60 seria um fórum para debater ideias críticas do processo de desenvolvimento em andamento. O debate girava em torno de três pontos: primeiro, a interpretação de que a industrialização havia seguido um curso que não conseguia incorporar na maioria da população os frutos da modernidade e do progresso técnico; segundo, a interpretação de que a industrialização não havia eliminado a vulnerabilidade externa e a dependência, pois só se havia modificado sua natureza; e terceiro, a ideia de que ambos os processos obstruíam o desenvolvimento. A aproximação de Dias Leite nesse círculo se deu, em 1963, no governo João Goulart, quando foi convidado pelo ministro da Fazenda, San Tiago Dantas, para integrar o Ministério como subsecretário para Assuntos Econômicos, cargo que ocupou por seis meses. “Nessa oportunidade eu me comuniquei com o Celso Furtado para nos entendermos. Foi bom”, disse Dias Leite em uma entrevista à publicação Cadernos do Desenvolvimento. José Luiz Bulhões Pedreira e Oscar Lorenzo também foram nomeados como secretários trabalhando ao lado de Dantas.



Referências

  1. Memória da Eletricidade. https://www.memoriadaeletricidade.com.br/acervo/1309/dias-leite. Consultado em outubro de 2023.
  2. Entrevista na página do https://infopetro.wordpress.com/2017/04/10/antonio-dias-leite-1920-2017/
  3. Biografia no Jornal Estado de Minas. https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2017/04/12/internas_economia,861708/ex-ministro-de-minas-e-energia-dias-leite-morreu-no-dia-6-de-abril.shtml. Consultado em outubro de 2023.
  4. Memória da Eletricidade. https://www.memoriadaeletricidade.com.br/acervo/1309/dias-leite. Consultado em outubro de 2023.
  5. Revista Conjuntura Econômica. https://periodicos.fgv.br/rce/article/download/73119/70233. Maio de 2017. Consultado em outubro de 2023.
  6. A controvérsia do planejamento na economia brasileira. 2010. https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3183/1/livro_A_controv%c3%a9rsia_do_planejamento_na_economia_brasileira_3ed.pdf.
  7. Paulo. Gala. https://www.paulogala.com.br/roberto-simonsen-contra-eugenio-gudin-em-1944-a-grande-briga-entre-industria-e-agricultura-no-brasil/. Consultado em outubro de 2023.
  8. Cavalcanti, Pedro Ferreira. O Desenvolvimento Econômico Brasileiro no Pós-Guerra. https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/14054/O_Desenvolvimento_Econ%C3%B4mico_Brasileiro_no_P%C3%B3s_Guerra.pdf
  9. Luis Nassif. https://jornalggn.com.br/economia/a-discussao-entre-gudin-e-simonsen/. Jornal GGN. Consultado em outubro de 2023
  10. A controvérsia do planejamento na economia brasileira. 2010. https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3183/1/livro_A_controv%c3%a9rsia_do_planejamento_na_economia_brasileira_3ed.pdf
  11. GUDIN, Eugênio. Carta à Comissão de Planejamento. In: A Controvérsia do planejamento na economia brasileira; coletânea da polêmica Simonsen X Gudin, desencadeada com as primeiras propostas formais de planejamento da economia brasileira ao final do Estado Novo. Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1977.
  12. Antônio Dias Leite Júnior (2017). Meu século: O Brasil em que vivi. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro. ISBN 978-85-7811-044-4
  13. Texto do Ipea. https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1841:catid=28&Itemid=23
  14. Estimativa da Renda Nacional do Brasil 1947-1949. https://periodicos.fgv.br/rbe/article/view/2403/2365
  15. Revista Conjuntura Econômica. https://periodicos.fgv.br/rce/article/download/73119/70233. Maio de 2017. Consultado em outubro de 2023.
  16. Antônio Dias Leite Júnior (2017). Meu século: O Brasil em que vivi. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro. ISBN 978-85-7811-044-4
  17. Cintra, Marco Antonio. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi0709200407.htm Folha de S. Paulo. Consultado outubro de 2023
  18. Estimativa da Renda Nacional do Brasil 1947-1949. https://periodicos.fgv.br/rbe/article/view/2403/2365
  19. Biografia. O Globo. https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/engenheiro-economista-antonio-dias-leite-foi-um-dos-criadores-da-usina-itaipu-21193020
  20. O Globo. https://oglobo.globo.com/economia/ferramenta-para-calcular-pib-so-foi-criada-em-1937-13473427
  21. Magalhães, Fernando. Revista Conjuntura Econômica. https://periodicos.fgv.br/rce/article/download/51393/50168/0. Março de 1995. Consultado em outubro de 2023.
  22. Chacel, Julian. https://periodicos.fgv.br/rce/article/download/73119/70233 Revista Conjuntura Econômica. Maio 2017.
  23. Gusmão Veloso, Maria Alice. Revista Conjuntura Econômica. https://periodicos.fgv.br/rce/article/download/27176/26050. Maio de 2007. Consultado em outubro de 2023.
  24. Antônio Dias Leite Júnior (2017). Meu século: O Brasil em que vivi. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro. ISBN 9788594730084 
  25. Antônio Dias Leite Júnior (2017). Meu século: O Brasil em que vivi. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro. ISBN 9788594730084 
  26. Eisenhower Fellowships. https://www.efworld.org/passing-of-antonio-dias-leite-jr/ . Consultado em outubro de 2023.
  27. Estado de S. Paulo. 12/04/2017. https://abcdoabc.com.br/morreu-no-ultimo-dia-6-antonio-dias-leite-ex-ministro-de-minas-e-energia/. Consultado em outubro de 2023.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Antônio Dias Leite Júnior (2017). Meu século: O Brasil em que vivi. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro. ISBN 9788594730084 
  • Roberto Simonsen e Eugenio Gudin (2010). A controvérsia do planejamento na economia brasileira. Brasília: Ipea. ISBN 978-85-7811-044-4 

Filmografia