Ésquines Socrático

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 Nota: Para o orador ateniense, veja Ésquines.
Ésquines
Αἰσχίνης
Ésquines Socrático
Nascimento ca. 425 a.C.
Atenas
Morte ca. 350 a.C. (75 anos)
Nacionalidade grego
Ocupação Filósofo

Ésquines Socrático (em grego: Αἰσχίνης; em latim: Aeschines Socraticus) ou Ésquines de Esfeto, algumas vezes, mas hoje raramente escrito como Aischines ou Æschines; ca. 425 - ca. 350 a.C., filho de Lisânias, do demo de Esfeto, em Atenas, foi em sua juventude um seguidor de Sócrates.[1] Os historiadores chamam-no de Ésquines Socrático para diferenciá-lo do orador ateniense historicamente mais influente também chamado Ésquines.

Ésquines e Sócrates

De acordo com Platão, Ésquines de Esfeto esteve presente no julgamento e execução de Sócrates.[2] Sabe-se que após a morte de Sócrates, Ésquines passou a escrever diálogos filosóficos, assim como fazia Platão, nos quais Sócrates era o orador principal. Embora os diálogos de Ésquines tenham sobrevivido apenas como fragmentos e citações de escritores antigos, ele era renomado na antiguidade por sua descrição exata das conversas socráticas. Nesse aspecto, Ésquines foi provavelmente superior a Xenofonte e pode aproximar-se mais de Platão na habilidade dramática. (Alguns estudiosos modernos acreditam que os escritos de Xenofonte são inspirados, quase que inteiramente, por Platão e/ou pela influência de outros socráticos, tais como Antístenes e Hermógenes.[3] Por outro lado, não há nenhuma boa razão para pensar que os escritos de Ésquines não foram baseados quase que inteiramente em suas próprias lembranças pessoais de Sócrates.)

Diálogos socráticos

Sabemos que Ésquines escreveu os seguintes diálogos:

Destes, temos mais informações sobre Alcibíades e Aspásia, e apenas um pouco sobre os outros. O Suda, uma enciclopédia bizantina compilada uma dúzia de séculos depois, atribui a Ésquines várias outras obras chamadas de "acéfalas" (akephaloi): Phaidon, Polyainos, Drakon, Eryxias, Por Excelência, O Erasistratoi, e A Skythikoi.[4] Poucos estudiosos modernos acreditam que essas outras obras foram escritas por Ésquines.[5]

O sofista Publius Aelius Aristides, do século II, cita o Alcibíades em sua totalidade, preservando-nos a maior parte sobrevivente do trabalho escrito por Ésquines. Pouco antes da Primeira Guerra Mundial, Arthur Hunt recuperou em Oxirrinco, no Egito, um papiro (#1608) contendo uma longa e fragmentada passagem desse diálogo que encontrava-se perdido desde os tempos antigos.[6] No diálogo, Sócrates conversa com um jovem e ambicioso Alcibíades sobre Temístocles e argumenta que Alcebíades não está preparado para a carreira política uma vez que deixou de "cuidar de si mesmo" de maneira a evitar pensar que ele sabe mais do que realmente sabe sobre assuntos da maior importância. Sócrates parece defender a ideia de que o sucesso é diretamente proporcional ao conhecimento (embora o conhecimento não seja suficiente para o completo sucesso), em vez de ser dependente apenas da sorte ou providência divina, independente do conhecimento. Os argumentos de Sócrates fazem com que o normalmente arrogante Alcibíades comece a chorar de vergonha e desespero; um resultado também atestado por Platão no Simpósio. Sócrates afirma que é somente através do Alcibíades amoroso, que ele pode melhorá-lo (por cultivar nele um desejo de busca pelo conhecimento?), uma vez que Sócrates não tem conhecimento de si próprio para ensinar.

As principais fontes de Aspásia são: Ateneu, Plutarco, e Cícero. No diálogo, Sócrates recomenda que Cálias envie seu filho Hipônico para Aspásia a fim de aprender Política com ela. No diálogo, Sócrates argumenta, entre outras coisas, que as mulheres são capazes de ter exatamente as mesmas "virtudes" políticas e militares dos homens, que como prova refere-se a Cálias, no exemplo da própria Aspásia (que uma vez avisou Péricles), de Targélia de Mileto (uma cortesã que supostamente persuadiu muitos gregos a aliarem-se a Xerxes I, que por sua vez, deu a Targélia parte da Tessália para governar), e da lendária rainha guerreira persa Rhodogyne. (A doutrina é também encontrada em Mênon e A República de Platão, e por isso é confirmado como genuinamente socrático). Um certo Xenofonte também é mencionado no diálogo, Sócrates diz que Aspásia exortou este Xenofonte e sua esposa para cultivarem o conhecimento de si mesmos como meio para a virtude; porém, este Xenofonte pode não ser o mesmo Xenofonte, que nos é mais familiar como historiador e um outro autor das memórias socráticas.

No Telauges, Sócrates dialoga com o asceta pitagórico Telauges (um companheiro de Hermógenes, que era meio-irmão de Cálias e seguidor de Sócrates) e o jovem filho de Críton, Critóbulo. No diálogo, Sócrates critica Telauges por seu extremo ascetismo e Critóbulo por sua ostentação, aparentemente em uma tentativa de defender uma posição moderada.

O Axíoco, que recebe este nome em homenagem ao tio de Alcibíades, critica Alcibíades por ser beberrão e mulherengo. Evidentemente, era, como o Alcibíades, uma das muitas obras que os socráticos publicaram para limpar Sócrates de qualquer culpa da corrupção de Alcibíades.

Em Cálias, há uma discussão sobre o "uso correto" da riqueza; argumenta-se que a maneira como alguém tolera o estado de pobreza é uma medida melhor de virtude de quão bem a pessoa faz uso da riqueza. No diálogo, Pródico é criticado por ter ensinado Terâmenes.

A ambientação do Milcíades é o stoa de Zeus Eleutério. O diálogo é entre Sócrates, Eurípedes, Hagnão (padrasto de Terâmenes) e Milcíades, filho de Stesagoras. Este Milcíades não deve ser confundido com Milcíades, o Jovem, mas é provavelmente um parente próximo dele. O diálogo contém um elogio a Milcíades por ter tido uma formação e educação exemplar em sua juventude, talvez em contraste com o tipo de educação oferecida por sofistas, como Protágoras.

Comentários

Diógenes Laércio, em sua breve Vida de Ésquines, relata que Ésquines, tendo caído em grandes dificuldades financeiras, foi para a corte de Dionísio, o Jovem, em Siracusa e, em seguida, retornou a Atenas depois que Dionísio foi deposto por Dion. (Se isso for verdade, Ésquines deve ter vivido pelo menos até o ano 356, o que significa que provavelmente morreu de velhice em Atenas, uma vez que provavelmente teria menos de 18 anos na época do julgamento de Sócrates, em 399 a.C.) Diz-se também que praticou retórica, escrevendo discursos para os litigantes.[7]

Ateneu cita um trecho de um discurso de acusação, atualmente perdido, atribuído a Lísias, Contra Ésquines, no qual o adversário de Ésquines castiga-o por incorrer numa dívida, enquanto trabalhava como vendedor de perfumes e por não tê-lo pago, algo surpreendente - o orador alega - uma vez que Ésquines foi aluno de Sócrates e que ambos falaram tanto de virtude e justiça. Entre outras acusações, Ésquines é basicamente caracterizado como um sofista no discurso. (Conclui-se que o litígio em questão foi interposto pelo próprio Ésquines contra seu credor, por razões que não são esclarecidas nas citações de Ateneu.)[8]

Diógenes Laércio afirma que, ao contrário do Críton de Platão, foi Ésquines, ao invés de Críton, que pediu a Sócrates, após o seu julgamento, para fugir de Atenas, em vez de enfrentar sua sentença; Diógenes diz que Platão coloca os argumentos na boca de Críton porque Platão não gostava de Ésquines devido à sua associação com Aristipo.[9] Mas a fonte de Diógenes para isso é Idomeneu de Lâmpsaco, um difamador notório.

Conhecimento

Os fragmentos e citações existentes sobre Ésquines foram recolhidos pelo estudioso alemão Heinrich Dittmar.[10] Essa coleção foi suplantada pelo trabalho do estudioso italiano Gabriele Giannantoni sobre escritos socráticos.[11] Traduções em inglês são difíceis de encontrar. G.C. Field[12] tem uma tradução de algo dos fragmentos do Alcibíades, paráfrases e outros fragmentos do Alcibíades, e uma tradução de trechos de Cícero da Aspásia.[13] Mais recentemente, David Johnson publicou uma tradução do todas as passagens existentes do Alcibíades.[14]

Charles Kahn oferece uma boa atualização dos escritos de Ésquines, com muitas referências à literatura secundária sobre a temática[15], embora Kahn acredite, com ou sem razão, que os escritos de Ésquines, e em geral todos os diálogos socráticos da época, constituam literatura e não podem ser em última instância fonte confiável de informação histórica.

O tratamento de Kahn poderia ser proveitosamente comparado com a posição de Alfred Edward Taylor, que tanto Platão quanto Ésquines preservam um legado histórico fiel em seus relatos sobre Sócrates.[16]

Referências

  1. Platão. Apologia, 33d-e
  2. Platão. Apologia 33e, Fédon 59b.
  3. por exemplo, Charles Kahn, Platão e o Diálogo socrático, pp. 76-79 e 393-401
  4. "Αἰσχίνης". Suda. Adler number: alphaiota,346
  5. "É de consenso geral que a declaração do Suda relativo a [akephaloi] não é confiável" (D. E. Eichholz, "O Diálogo Pseudo-platônico Eryxias", The Classical Quarterly, Vol. 29, No. 3. (1935), pp. 129-149 at pp. 140-141).
  6. John Burnet, Platonism (1928), cap. II.
  7. Diógenes Laércio, Vidas dos Filósofos Eminentes, 2.60-64
  8. Ateneu, Deipnosophistae, xiii. 611-612.
  9. Diógenes Laércio, Vidas dos Filósofos Eminentes, 2.60
  10. Heinrich Dittmar. Aischines von Sphettos. 1912
  11. Gabriele Giannantoni.Socratis et Socraticorum Reliquiae. 1991
  12. G.C. Field. Plato and His Contemporaries. 1930 (esgotado)
  13. Cicero's De Inventione, 1.31.51-52
  14. David Johnson. Socrates and Alcibiades. 2003
  15. Charles Kahn's Plato and the Socratic Dialogue. pp. 18-29
  16. "Aeschines of Sphettus." A.E. Taylor. Philosophical Studies, 1934

Ligações externas