Antão Vasques de Almada

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outros significados de Antão de Almada, veja Antão de Almada (desambiguação).
Antão Vasques de Almada
Morte novembro de 1388
Cidadania Portugal
Ocupação militar

Antão Vasques de Almada ou António Vasques de Almada[1] ( - Novembro de 1388), cavaleiro nobre português.

Identificado por Fernão Lopes como «um dos bons da cidade (de Lisboa)» e como vassalo de D. João Afonso Telo. Afinal é referido nas fontes documentais como cavaleiro, morador em Lisboa e vassalo do rei. Dotado de uma preeminência económica, mantinha ao serviço régio uma companhia pessoal de cerca de 70 lanças[2].

O olisipógrafo José Sarmento de Matos, no segundo volume de «A Invenção de Lisboa», indo buscar uma investigação antiga abordada por alguns historiadores anteriores, refere que o facto de ele ser um dos mais próximos do Mestre de Avis e isso se deve por eles serem primos co-irmãos e terem crescido juntos. E reforça essa ideia, referindo o facto do ainda um pequeno príncipe e futuro rei ter sido entregue à guarda do homem-bom Lourenço Martins da Praça, cidadão de Lisboa, para ele o educar, por este ser avô de ambos[3].

Biografia[editar | editar código-fonte]

Ocupou os lugares de alvazil do crime (1383-1384), alcaide-mor de Lisboa (1385-1388), alcaide de Torres Vedras (1386-1388), senhor de Alcáçovas (1387 - 1388)[4] e de juro e herdade de Unhos com sua freguesia, assim como, trazia arrendado Vidal Judeu e a Adega de Camarate, em Loures (1384)[5].

O mesmo cronista refere-se às suas várias façanhas ao longo da sua turbulenta vida de batalhador na qualidade de nobre[6] e apresenta-o como alvazil do crime em Lisboa, em Dezembro de 1383, quando o D. João, Mestre de Avis, lhe pede para mandar apregoar pela cidade, em seu nome, que a Judiaria da cidade não seja atacada pela multidão[7].

Diz textualmente Fernão Lopes, aquando do ataque do povo à Judiaria de Lisboa: Ali disse o Mestre a Antão Vasques, que era Juiz do Crime na cidade, que mandasse apregoar da parte da Rainha, sob certa pena, que não fosse nenhum tão ousado de ir à Judiaria para fazer mal aos Judeus, e ele (Antão Vasques) disse que o mandaria apregoar da sua parte (do Mestre), e não já da Rainha, e o Mestre lhe defendeu que o não fizesse, mas ele não curou em isto de sua defesa (proibição), e mandou-o apregoar da sua parte. As gentes todas quando ouviram este pregão....

Em carta datada de 26 de Agosto de 1386, do Arcebispo de Braga, Dr. Lourenço Vicente, dirigida a Dr. João de Ornelas, Abade de Alcobaça, encontram-se relatados alguns episódios da Batalha de Aljubarrota, mencionando-o a ele e ao seu irmão João Vasques de Almada[8][9][10].

O historiador Joaquim Freire, em "fronteiras de Portugal", conta que foi um dos vinte e nove heróis que falando rosto a rosto, com o Mestre de Avis, ofereceu-se para ir a luta. Ainda segundo o mesmo, diz que além de ter sido armado Cavalheiro nessa própria batalha, foi o comandante da ala esquerda (a ala da Madre-Silva), com duzentas lanças e cem besteiros e um dos que mais concorreram para a derrota dos Castelhanos, tendo tido o feito de tomar a bandeira do inimigo (do Reino de Castela).

Oliveira Martins, na vida de D. Nuno Álvares Pereira referindo-se aos despojos da Aljubarrota, diz mas nenhum encheu de maior alegria o Rei, do que ver esse estandarte de Castela, verde com o dragão bordado, que Antão Vasques de Almada trazia aos ombros, vestido com ela, a dançar. Dizendo-lhe: "Tomai Senhor, esta bandeira do maior inimigo que no mundo há e afastando-se bailando, à luz dos archotes, entre fortes gargalhadas dos guerreiros contentes".

Em virtude das suas façanhas bélicas em Aljubarrota obteve, duas semanas depois da batalha, a renda do serviço da comuna dos judeus de Santarém e a importante alcaidaria de Lisboa, que manteve até à sua morte. Participou nas Cortes de Coimbra de 1385[11]. A sua presença junto do rei, com uma companhia própria nas acções bélicas subsequentes, valeu-lhe posteriormente a alcaidaria de Torres Vedras[12][13]. A campanha efectuada em 1387 granjeou-lhe ainda a obtenção do senhorio da aldeia das Alcáçovas no Alentejo[12].

Na Crónica do Contestável de Portugal D. Nuno Alvares Pereira, quando conta que tendo Rei mandado o condestável juntar gente para a Batalha de Aljubarrota este passou pelo Porto de Muja tendo-o abandonado a maior parte dos homens que levava temor para os Castelhanos que estavam em Santarém. Antão Vasques de Almada foi um dos que ficou aquela noite nunca dormiu, guardando a ponte de Muja e dizendo que todos os Castelhanos de Santarém viessem que ele os defenderia. Ele era homem de solta palavra e porem assas valente.

No Portugal Histórico Dinastia de Avis, de Fernando Mendes, lê-se a respeito das campanhas que se seguiram à Batalha de Aljubarrota que Antão Vasques de Almada, num ímpeto patriótico, resolveu-se a combater sob a bandeira de Nuno Álvares Pereira e saiu de Lisboa à procura dele, do contestável. Sabendo em Estremoz que ele havia partido, reúne uns quatrocentos homens e entra com eles em Castela. A sua acção foi prodigiosa e castelos e vilas caíram em seu poder pondo algumas destas a resgate. Na volta, soube que uns oitocentos castelhanos haviam se fortificado num monte, a fim de lhe cortarem a retirada. Antão Vasques de Almada, por despeito da vantajosa posição do inimigo e da inferioridade numérica dos valentes que os acompanhavam na marcha sobre os castelhanos, desaloja-os e toma serenamente o caminho de Portugal, trazendo consigo cinco mil vacas, mil porcos e mil ovelhas que lá apreendera.

Se refere correctamente a ele o Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, no canto IV, dando-lhe o seu verdadeiro nome mas enganando-se atribuindo-lhe o título nobiliárquico de conde de Avranches que só seria usado pelo seu sobrinho, Álvaro Vaz de Almada, pela primeira vez e anos mais tarde, filho do seu irmão João Vasques de Almada que estava igualmente presente na mesma batalha de Aljubarrota[14].

A sua morte, que o seu padrasto situa em Dezembro de 1388, estando ele «a pregar em favor do papa Urbano VI», teve lugar algures no mês anterior[12].

Sobre Antão Vasques de Almada, além das obras acima citadas, ver também "Dicionário Popular" de Manuel Pinheiro Chagas, tomo 3º pg. 107; colecção "Portugal Histórico" - Dinastia de Avis, de Fernando Mendes e o "Auto de Aljubarrota" de Ramiro de Campos.

Dados Genealógicos[editar | editar código-fonte]

Filho de: Vasco Lourenço de Almada

Casado com: Inês Gomes, Sem geração. (De facto, após a sua morte, os seus herdeiros universais são a sua mãe e o seu padrasto, o ouvidor Gonçalo Miguéis[15].

Teve (bastardos de Leonor Martins de Góis, filha de Martim Vasques, senhor de Góis e alcaide-mor de Coimbra, e de Violante de Mello[16]. Freira do Mosteiro de Lorvão[17] e irmã de Estêvão Vasques de Góis, sucessor de Antão Vasques na alcaidaria-mor de Lisboa[18]).

Referências

  1. Soveral, Manuel Abranches de; seu verbete na [1] «Antão Vasques (de Almada)», visitado em 11/03/2012
  2. A oligarquia camarária de Lisboa (1325-1433), Anexo 1 – Corpo prosopográfico, por Mário Sérgio da Silva Farelo, ‎2009, pág. 371 e 372
  3. A Invenção de Lisboa, As Vésperas, José Sarmento de Matos, Livro II, Temas e Debates, Janeiro de 2009, pág. 393 a 409
  4. A oligarquia camarária de Lisboa (1325-1433), Anexo 1 – Corpo prosopográfico, por Mário Sérgio da Silva Farelo, ‎2009, pág. 368 e 371
  5. Soveral, Manuel Abranches de; seu verbete na [2] «Antão Vasques (de Almada)», visitado em 11/12/2013
  6. Através dos dados fornecidos por Fernão Lopes, podemos acompanhar o trajecto de Antão Vasques como um dos quarenta escudeiros da companhia de D. Nuno Álvares Pereira quando este foi nomeado fronteiro Entre-o-Tejo-e-Odiana (Crónica de D. João I, parte I, cap. LXXXVII, p. 167), quando integrou a frota enviada para o Porto, no início de 1384 e durante a incursão de forças portuguesas na Galiza (ib, parte I, cap. CXX, p. 235; cap. CXXIV, p. 243). Participou depois da defesa de Lisboa, aquando do cerco de D. Juan I (ib., parte I, cap. XLI, p. 80) e no cerco a Torres Vedras, tendo comandado a ala esquerda do «quadrado» luso na batalha de Aljubarrota, onde terá conseguido conquistar o pendão do rei de Castela. Depois da sua desavença com Nuno Álvares Pereira, participou na campanha de 1386 (ib., parte II, cap. XVII, p. 39; cap. XXII, p. 51; cap. LVIII, p. 153-156; ib., parte II, cap. LXX, p. 179; cap. LXXI, p. 168; cap. LXXVI, p. 175) e, no ano seguinte, na conquista de Roales (ib., parte II, cap. CIV, p. 221). Morreu em combate no final de 1388 durante o ataque a um povoado castelhano situado entre Badajoz e Olivença (ib., parte II, cap. CXXXVII, p. 281). Todos estes dados do Cronista, e outros, foram convenientemente contextualizados em Miguel Gomes MARTINS, Lisboa e a Guerra…, p. 124-130 A oligarquia camarária de Lisboa (1325-1433), Anexo 1 – Corpo prosopográfico, por Mário Sérgio da Silva Farelo, ‎2009, nota 2190 pág. 371
  7. A oligarquia camarária de Lisboa (1325-1433), Anexo 1 – Corpo prosopográfico, por Mário Sérgio da Silva Farelo, ‎2009, pág. 370
  8. No Nobiliário de Famílias de Portugal de Felgueiras Gaio, faz parte da Relação dos Fidalgos que o Rei João I armou Cavalheiros antes de entrarem na Batalha de Aljubarrota, pela sua própria mão como consta das memórias para a História de Portugal, que compreende o governo do dito Rei João I: João Vasques de Almada; Rui Vasques de Castelo Branco; Afonso Pires da Charneca, irmão do Dr. Martim Afonso Charneca que foi Bispo de Coimbra e arcebispo de Braga. - Nobiliário das Famílias de Portugal, Felgueiras Gayo, Carvalhos de Basto, 2ª Edição, Braga, 1989. vol. IV-pg. 245 (Castros) e vol. VII-pg. 397.
  9. Pedatura Lusitana - 6 vols. Cristovão Alão de Morais, Carvalhos de Basto, 2ª Edição, Braga, 1997. vol. III-pg. 73.
  10. Na Monarquia Luzitana, de Frei Manuel dos Santos, lê-se, a propósito da Batalha de Aljubarrota, na descrição da formatura do exército português na ala esquerda, que sabia da outra parte oposta, puseram outras duzentas lanças em que entravam alguns ingleses auxiliares, mandados da Inglaterra pelos embaixadores que estavam em Londres; sua bandeira a de São Jorge; e seus Capitães Antão Vasques de Almada, João Monferrara e Martins Paulo, os fidalgos e escudeiros de nome que eram presentes no exército, e ganharam com Rei esta batalha de tanta glória foram O Arcebispo Primaz Dr. Lourenço Vicente, o Contestável D. Nuno Alvares Pereira, Diogo Lopes Pacheco, o Dr. João das Regras, o Dr. Gil Docena, o Dr. Martim Afonso da Charneca, estes já eram armados Cavalheiros; os seguintes eram escudeiros João Vasques de Almada, Antão Vasques de Almada, Rui Brás de Castelo Branco e Afonso Pires da Charneca.
  11. Na referida Monarquia Lusitana, cap. XXXIII pg. 701, acerca da notícia das pessoas Eclesiásticas e Seculares que foram presentes nas Côrtes acima de Coimbra, diz: Antão Vasques de Almada, Alcaide Mór de Lisboa, neste tempo das Cortes, e cavaleiro valoroso desta ilustre família.
  12. a b c A oligarquia camarária de Lisboa (1325-1433), Anexo 1 – Corpo prosopográfico, por Mário Sérgio da Silva Farelo, ‎2009, pág. 371
  13. A sua nomeação como alcaide de Torres Vedras resultava em parte dos seus interesses nessa zona, como testemunha o emprazamento obtido do mosteiro de Alcobaça em 1382 da quinta de Monfalim A oligarquia camarária de Lisboa (1325-1433), Anexo 1 – Corpo prosopográfico, por Mário Sérgio da Silva Farelo, ‎2009, pág. 372
  14. Lusíadas, canto 04 (25-1-3) , instituto-camoes.pt[ligação inativa]
  15. Gonçalo Miguéis que inseria-se geograficamente em Lisboa, mais precisamente na freguesia da Sé, e também em São Lourenço de Alhos Vedros. Era bacharel em Direito Canónico desde 1368, com forte ligação ao Desembargo régio e ao importante grupo familiar dos «Nogueiras». Sobrinho do bispo de Évora D. Afonso Dinis, Gonçalo Miguéis foi criado pelo privado afonsino e fernandino Mestre João das Leis - A oligarquia camarária de Lisboa (1325-1433), Anexo 1 – Corpo prosopográfico, de MSS Farelo, ‎2009, pág. 371
  16. a b Soveral, Manuel Abranches de; seu verbete na [3] «Leonor Martins de Góis», visitado em 11/12/2013
  17. A oligarquia camarária de Lisboa (1325-1433), Anexo 1 – Corpo prosopográfico, por Mário Sérgio da Silva Farelo, ‎2009, pág. 368 e 369
  18. A oligarquia camarária de Lisboa (1325-1433), Anexo 1 – Corpo prosopográfico, por Mário Sérgio da Silva Farelo, ‎2009, nota 2210 (ANTT, Arquivos Particulares. Arquivo da Casa de Abrantes, liv. 10T (n. 162)
  19. Soveral, Manuel Abranches de; seu verbete na Roglo «Nuno de Góis», visitado em 11/12/2013