Clementina (fruta)

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Detalhes
Espécie Citrus × clementina
Híbrido C. deliciosa e C. sinensis (tangerina x laranja doce)
Origem Argélia

A clementina (Citrus clementina) é um tangor, um híbrido de frutas cítricas entre uma tangerina de folha de salgueiro (C. deliciosa) e uma laranja doce (C. sinensis),[1][2][3] batizada em homenagem a Clément Rodier, um missionário francês que descobriu e propagou a cultivar na Argélia.[4] O exterior é de cor laranja profunda com aparência lisa e brilhante. As clementinas podem ser separadas em 7 a 14 segmentos. Semelhante às tangerinas, elas tendem a ser fáceis de descascar. Normalmente são suculentas e doces, com menos ácido do que as laranjas.[4] Seus óleos, como os de outras frutas cítricas, contêm principalmente limoneno, bem como mirceno, linalol, α-pineno e muitos outros aromáticos complexos.[5]

História[editar | editar código-fonte]

Cultivar italiana, clementinas do Golfo de Taranto.
The Clementine Mural painting in Puisserguier France, representing Father Abram, founder of the Algerian Misserghin orphanage where the 1st citrus clementina was selected by brother Clement, a map of the different locations mentionned, and the citrus flowers, whole smooth fruit and some of its easy to peel separated sections.
Mural da Clementina em Puisserguier, França, celebrando o Padre Abram, fundador do orfanato argelino Misserghin, onde a primeira clementina cítrica foi selecionada.

A clementina é um híbrido cítrico espontâneo que surgiu no final do século XIX em Misserghin, na Argélia, no jardim do orfanato do irmão missionário francês Clément Rodier, que lhe deu o nome oficial em 1902.[6][7][8] Algumas fontes atribuíram uma origem anterior ao híbrido, apontando para frutas similares nativas das províncias de Guangxi e Guangdong, na atual China,[9] mas essas são provavelmente híbridos distintos de tangerina,[10] e a análise genômica da clementina mostrou que ela surgiu de um cruzamento entre uma laranja doce (Citrus sinensis) e a tangerina folha de salgueiro mediterrânea (willowleaf) (Citrus deliciosa), consistente com a origem argelina.[1][2]

Há três tipos de clementinas: clementinas sem sementes, clementinas (máximo de 10 sementes) e Monreal (mais de 10 sementes). As clementinas se assemelham a outras variedades cítricas, como a mikan e as tangerinas.[11]

Cultivo[editar | editar código-fonte]

As clementinas diferem de outros cítricos por terem menor necessidade de calor, o que significa que a tolerância à maturidade dos frutos e a sensibilidade a condições desfavoráveis durante o período de floração e frutificação são maiores. Entretanto, em regiões de calor total elevado, a clementina frutifica cedo, apenas um pouco mais tarde do que a tangerina satsuma. Essas regiões, como o norte da África, a bacia do Mediterrâneo e a Califórnia, também favorecem a maximização do tamanho e da qualidade da clementina. Como resultado, as Clementinas mais saborosas são provenientes dessas regiões quentes.[12]

Ela foi introduzida na agricultura comercial da Califórnia em 1914, embora tenha sido cultivada no Citrus Research Center (agora parte da Universidade da Califórnia, Riverside) já em 1909.[12] As clementinas perdem sua característica desejável de não ter sementes quando sofrem polinização cruzada com outras frutas. Em 2006, para evitar isso, produtores como a Paramount Citrus, na Califórnia, ameaçaram processar os apicultores locais para manter as abelhas longe de suas plantações.[13]

Tipos[editar | editar código-fonte]

Clementina sem sementes, com casca e descascada.
  • Sem sementes - existe no norte da África. As versões sem sementes da clementina são conhecidas como o tipo comum (sem sementes ou praticamente sem sementes). As clementinas comuns são muito parecidas com o tipo Monreal; os dois tipos são praticamente idênticos em termos de características específicas da árvore. A árvore de clementina sem sementes é autoincompatível; é por isso que a fruta possui tão poucas ou nenhuma semente. Para ser polinizada, ela precisa de polinização cruzada.[12]
  • Monreal - existe no norte da África. A clementina Monreal pode se autopolinizar e tem sementes. As clementinas Monreal são, em média, maiores do que a variedade sem sementes, têm uma floração mais abundante e são mais doces.[12]
  • Sweetclems - são normalmente cultivadas na Espanha e no norte da África. Ao contrário de outras variedades de clementina, elas geralmente têm 10 fatias. Elas são um pouco menores do que as clementinas comuns. Possuem um sabor doce, como sugere seu nome ("sweet" em inglês significa "doce"), mas não é excessivo e é bastante suave.

Variedades[editar | editar código-fonte]

Produção de clementinas, tangerinas e mikan* em 2016
País milhões (de toneladas)
 China 17,2
Espanha 7,9
 Turquia 1,3
 Marrocos 1,1
 Egito 1,0
 Brasil 1,0
Mundo 37,8
*FAOSTAT das Nações Unidas, que agrupa essas frutas em seus dados[14]
  • Clementina espanhola, possivelmente da cultivar Fina..
    Algerian, a cultivar original de Rodier.[15]
  • Fina, uma cultivar espanhola originalmente cultivada em um porta-enxerto de laranja amarga que lhe dava um sabor excelente, mas devido à vulnerabilidade a doenças, agora é cultivada em uma variedade maior de porta-enxertos, afetando o perfil de sabor.[15]
  • Clemenules ou Nules - uma clementina popular, sem sementes, fácil de descascar e com um sabor doce muito agradável. Uma mutação da variedade Fina, a Nules é a clementina mais plantada na Espanha, onde amadurece de meados de novembro a meados ou final de janeiro. Também é amplamente plantada na Califórnia, onde amadurece de outubro a dezembro.[16] Produz frutos sem sementes que são maiores que os da Fina, mas menos doces.[15]
  • Clementine del Golfo di Taranto, uma cultivar italiana (praticamente) sem sementes que recebeu o status de Indicação Geográfica Protegida (IGP) da União Europeia, produzida ao redor do Golfo de Taranto. Elas têm um sabor doce e um aroma intenso.[17]
  • Clementine di Calabria, outra variedade italiana com IGP, cultivada na região da Calábria.[18]

Nutrição[editar | editar código-fonte]

Uma clementina contém 87% de água, 12% de carboidratos e quantidades insignificantes de gordura e proteína (tabela). Entre os micronutrientes, apenas a vitamina C tem um teor significativo (59% do valor diário) em uma porção de referência de 100 gramas, com todos os outros nutrientes em quantidades baixas.

Clementina
Valor nutricional por 100 g (3,53 oz)
Energia 198 kJ (50 kcal)
Carboidratos
Carboidratos totais 12,02 g
 • Açúcares 9,18 g
 • Fibra dietética 1,7 g
Gorduras
Gorduras totais 0,15 g
Proteínas
Proteínas totais 0,85 g
Água 86,58 g
Vitaminas
Tiamina (vit. B1) 0.086 mg (7%)
Riboflavina (vit. B2) 0.030 mg (3%)
Niacina (vit. B3) 0.636 mg (4%)
Ácido pantotênico (B5) 0.151 mg (3%)
Vitamina B6 0.075 mg (6%)
Ácido fólico (vit. B9) 24 µg (6%)
Colina 14 mg (3%)
Vitamina C 48.8 mg (59%)
Vitamina E 0.20 mg (1%)
Minerais
Cálcio 30 mg (3%)
Ferro 0.14 mg (1%)
Magnésio 10 mg (3%)
Manganês 0.023 mg (1%)
Fósforo 21 mg (3%)
Potássio 177 mg (4%)
Sódio 1 mg (0%)
Zinco 0.06 mg (1%)
Entry
Percentuais são relativos ao nível de ingestão diária recomendada para adultos.
Fonte: USDA Nutrient Database

Possíveis interações medicamentosas[editar | editar código-fonte]

Um estudo de 2017 indicou que os fitoquímicos da clementina podem interagir com medicamentos de forma semelhante aos da toranja.[19] Um estudo de acompanhamento realizado em 2019, no entanto, questionou esses resultados.[20]

Referências

  1. a b Shimizu, Tokurou; et al. (2016). «Hybrid Origins of Citrus Varieties Inferred from DNA Marker Analysis of Nuclear and Organelle Genomes». PLOS ONE (em inglês). 11 (11): e0166969. Bibcode:2016PLoSO..1166969S. PMC 5130255Acessível livremente. PMID 27902727. doi:10.1371/journal.pone.0166969Acessível livremente 
  2. a b Wu, GA; et al. (2014). «Sequencing of diverse mandarin, pummelo and orange genomes reveals complex history of admixture during citrus domestication». Nature Biotechnology (em inglês). 32 (7): 656–662. PMC 4113729Acessível livremente. PMID 24908277. doi:10.1038/nbt.2906 
  3. Barkley, NA; Roose, ML; Krueger, RR; Federici, CT (2006). «Assessing genetic diversity and population structure in a citrus germplasm collection utilizing simple sequence repeat markers (SSRs)». Theoretical and Applied Genetics (em inglês). 112 (8): 1519–1531. PMID 16699791. doi:10.1007/s00122-006-0255-9. Consultado em 29 de dezembro de 2018. Cópia arquivada em 9 de março de 2021 
  4. a b Edible: An Illustrated Guide to the World's Food Plants (em inglês). [S.l.]: National Geographic. 2008. p. 73. ISBN 978-1-4262-0372-5 
  5. Ziegler, Herta (2007). Flavourings: production, composition, applications, regulations (em inglês). [S.l.]: Wiley, John & Sons, Incorporated. p. 203. ISBN 978-3-527-31406-5 
  6. Trabut, J. L. (1902). «L'hybridation des Citrus: une nouvelle tangérine "la Clémentine"». Revue Horticole (em inglês). 74: 232–234 
  7. Bretó, M. P.; Ruiz, C.; Pina, J.A.; Asíns, M.J. (2001). «The Diversification of Citrus clementina Hort. ex Tan., a Vegetatively Propagated Crop Species». Molecular Phylogenetics and Evolution. 21 (2): 285–293. PMID 11697922. doi:10.1006/mpev.2001.1008 
  8. Laszlo, Pierre (2007). Citrus: a history (em inglês). [S.l.]: University of Chicago Press. pp. 23–24 
  9. Saunt, James (1 de janeiro de 2000). Citrus Varieties of the World (em inglês) 2nd ed. [S.l.]: Sinclair International Business Resources. ISBN 978-1-872960-01-2 
  10. Nosowitz, Dan (23 de fevereiro de 2016). «Your Guide to Everyone's Favorite Winter Citrus: Clementines». smithsonianmag.com (em inglês). Smithsonian Institution. Consultado em 15 de março de 2018 
  11. Nosowitz, Dan (23 de fevereiro de 2016). «Your Guide to Everyone's Favorite Winter Citrus: Clementines». smithsonianmag.com (em inglês). Smithsonian Institution. Consultado em 15 de março de 2018 
  12. a b c d Hodgson, Richard Willard (1967). «Horticultural Varieties of Citrus». The Citrus Industry Revised ed. [S.l.]: University of California, Riverside. Consultado em 14 de fevereiro de 2009. Cópia arquivada em 8 de março de 2008 
  13. «Calif. Beekeepers Fear No-Fly Zones». KATU.com (em inglês). Associated Press. 2 de dezembro de 2006. Consultado em 17 de julho de 2010 
  14. «Clementine production* in 2016, Crops/Regions/World list/Production Quantity (pick lists)» (em inglês). UN Food and Agriculture Organization, Corporate Statistical Database (FAOSTAT). 2017. Consultado em 18 de março de 2018 
  15. a b c David Karp (30 de dezembro de 2012). «Farmers Markets: How to be choosy with clementines». Los Angeles Times (em inglês). Consultado em 30 de julho de 2018 
  16. «Nules clementine». Citrus Variety Collection (em inglês). College of Natural and Agricultural Sciences, University of California Riverside. Consultado em 19 de fevereiro de 2015 – via citrusvariety.ucr.edu 
  17. «Clementine del Golfo di Taranto PGI»  (em italiano)
  18. Hicham Benabdelkamel; Leonardo Di Donna; Fabio Mazzotti; Attilio Naccarato; Giovanni Sindona; Antonio Tagarelli; Domenico Taverna (2012). «Authenticity of PGI "Clementine of Calabria" by Multielement Fingerprint». J. Agric. Food Chem. (em inglês). 60 (14): 3717–3726. PMID 22458691. doi:10.1021/jf2050075 
  19. Theile, Dirk; Hohmann, Nicolas; Kiemel, Dominik; Gattuso, Giuseppe; Barreca, Davide; Mikus, Gerd; Haefeli, Walter Emil; Schwenger, Vedat; Weiss, Johanna (15 de janeiro de 2017). «Clementine juice has the potential for drug interactions – In vitro comparison with grapefruit and mandarin juice». European Journal of Pharmaceutical Sciences (em inglês). 97: 247–256. PMID 27890698. doi:10.1016/j.ejps.2016.11.021 
  20. Hohmann, Nicolas; Mikus, Gerd; Haefeli, Walter Emil; Schwenger, Vedat; Gattuso, Giuseppe; Barreca, Davide; Weiss, Johanna (15 de maio de 2019). «A follow-up report on potential drug interactions with clementines: Two single case experiments show no effect on CYP3A-dependent midazolam clearance». European Journal of Pharmaceutical Sciences (em inglês). 133: 54–58. ISSN 0928-0987. doi:10.1016/j.ejps.2019.03.013 

Ver também[editar | editar código-fonte]