Conjuração Carioca
| Conjuração Carioca | |||
|---|---|---|---|
| Local | Rio de Janeiro, Capitania do Rio de Janeiro, Estado do Brasil | ||
| Resultado | Prisão dos suspeitos; ausência de provas concretas; libertação em 1797 | ||
| Baixas | |||
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A Inconfidência Carioca, também chamada Conjuração Carioca, Conjuração do Rio de Janeiro ou Inconfidência do Rio de Janeiro, foi um episódio de perseguição política e cultural ocorrido entre 1794 e 1797, na cidade do Rio de Janeiro, no contexto das tensões provocadas pela disseminação das ideias iluministas no Brasil Colonial.[1]
Antecedentes
[editar | editar código]Ao final do século XVIII, o mundo ocidental foi profundamente impactado pela Ilustração. A Independência dos Estados Unidos (1776), a Revolução Francesa (1789) e a revolução dos escravizados em São Domingos (1791) inspiraram movimentos contestatórios em outras regiões, incluindo o Brasil. A Inconfidência Mineira (1789) foi a primeira manifestação concreta dessas ideias na colônia. No Rio de Janeiro, professores régios, como Manuel Inácio da Silva Alvarenga e João Marques Pinto, passaram a denunciar as interferências religiosas na educação, o que os tornou alvo de perseguições e, posteriormente, de delações.[2]
Conjuntura e contexto
[editar | editar código]No final do século XVIII, o Rio de Janeiro era o principal entreposto comercial da América Portuguesa, o que levou as autoridades coloniais a uma intensa vigilância. A política repressiva anti-revolucionária imposta pelo governo de Pina Manique em Portugal encontrava eco na administração do vice-rei José Luís de Castro, Conde de Resende, notório opositor das artes e ciências, que temia que tais atividades inspirassem levantes revolucionários. Além disso, obedecia rigidamente à política de vigilância e prisão de estrangeiros, especialmente franceses.[3]
Sociedade Literária do Rio de Janeiro
[editar | editar código]A Sociedade Literária do Rio de Janeiro foi fundada em 1786, com aprovação do vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa, como prolongamento da Academia Científica criada pelo Marquês de Lavradio em 1771. Reunia médicos, professores régios e intelectuais com o objetivo inicial de compartilhar conhecimento científico. Contudo, as discussões passaram a abranger ideias ilustradas vindas da Europa, o que despertou a preocupação das autoridades portuguesas.[4]
Em 1793, a Coroa portuguesa proibiu a presença de sociedades de letrados na colônia, temendo que se repetissem eventos como a Inconfidência Mineira e a execução de Tiradentes (1792). Apesar da proibição, as reuniões da Sociedade continuaram a ocorrer, frequentemente na residência de Silva Alvarenga, situada na Rua do Cano (atual Rua Sete de Setembro), que passou a ser visto como o principal fomentador da subversão.[5]
A devassa
[editar | editar código]Em 1794, o governador e vice-rei José Luís de Castro, Conde de Resende, desconfiado da circulação de ideias subversivas, solicitou ao Desembargador Antônio Dinis da Cruz e Silva, Chanceler da Relação, a abertura de uma devassa contra os membros da Sociedade Literária.[6] Inicialmente, o pedido foi negado por falta de provas.
Determinando-se a obter evidências, o Conde de Resende enviou dois homens de confiança: José Bernardo da Silveira Frade, que se infiltrou na Sociedade, e Diogo Francisco Delgado, encarregado de colher informações na cidade. Em 8 de dezembro de 1794, com as provas reunidas, o vice-rei conseguiu a abertura oficial do processo.
Onze membros da Sociedade foram então acusados de conspirar contra o domínio português e presos na Fortaleza da Conceição, onde permaneceram detidos durante o inquérito, que durou cerca de três anos, envolvendo 65 testemunhas. Apesar da longa investigação, não se encontrou nenhuma prova concreta de que planejavam uma revolta ou a separação de Portugal.
Em fevereiro de 1797, a Coroa determinou a libertação dos presos, considerando que já haviam sido suficientemente punidos pelos anos de encarceramento. Muitos deles permaneceram presos até 1798.[7]
Caracterização
[editar | editar código]O episódio, embora consagrado como “Inconfidência Carioca” ou “Conjuração Carioca”, não corresponde propriamente a esses títulos, já que os membros da Sociedade não pretendiam tomar o poder nem separar-se de Portugal. Limitavam-se a discutir novas ideias vindas da Europa.
Segundo alguns historiadores, trata-se mais de uma “fantasia” do que de uma verdadeira conspiração.[8]
Participantes
[editar | editar código]Réus e condenados
[editar | editar código]- Manuel Inácio da Silva Alvarenga – considerado rebelde
- João Marques Pinto – considerado rebelde
- Mariano José Pereira da Fonseca – considerado rebelde
- Jacinto José da Silva – considerado rebelde
- Francisco Coelho Solano – considerado rebelde
- Gervásio Ferreira – considerado rebelde
- Antônio Gonçalves dos Santos – considerado rebelde
- João de Sá da Conceição – considerado rebelde
- João da Silva Antunes – considerado rebelde
- Francisco Antônio Lisboa – considerado rebelde
- José Antônio de Almeida – considerado rebelde
Delatores
[editar | editar código]- José Bernardo da Silveira Frade – se posicionou como leal
- Diogo Francisco Delgado – se posicionou como leal
Autoridades
[editar | editar código]- José Luís de Castro, Conde de Resende – vice-rei e governador da capitania
- Antônio Dinis da Cruz e Silva – chanceler da Relação
Números do episódio
[editar | editar código]- Duração: aproximadamente 3 anos
- Participantes: cerca de 76, entre elites locais, letrados e oficiais mecânicos
- Réus acusados formalmente: 11
- Testemunhas: 65
Ações de protesto
[editar | editar código]- Não violentas: reuniões em lugares privados
- Violentas: não registradas
Repressão
[editar | editar código]- Contenção: devassa e vigilância
- Prisões: 11 membros detidos
- Punição: anos de encarceramento; ausência de outras punições documentadas
Referências
- ↑ «Inconfidência Carioca – Rio de Janeiro | Revoltas | Impressões Rebeldes». www.historia.uff.br. Consultado em 10 de fevereiro de 2021
- ↑ «Inconfidência Carioca – Rio de Janeiro | Revoltas | Impressões Rebeldes». www.historia.uff.br. Consultado em 10 de fevereiro de 2021
- ↑ «Inconfidência Carioca – Rio de Janeiro | Revoltas | Impressões Rebeldes». www.historia.uff.br. Consultado em 10 de fevereiro de 2021
- ↑ Arquivo[ligação inativa] Portal Portal EducaBrasil
- ↑ «Inconfidência Carioca – Rio de Janeiro | Revoltas | Impressões Rebeldes». www.historia.uff.br. Consultado em 10 de fevereiro de 2021
- ↑ Conjuração Carioca[ligação inativa] Portal São Francisco
- ↑ «Inconfidência Carioca – Rio de Janeiro | Revoltas | Impressões Rebeldes». www.historia.uff.br. Consultado em 10 de fevereiro de 2021
- ↑ Wermelinger, Giovanna; Machado, Leandro. Pesquisadores do projeto “Um Rio de Revoltas” – FAPERJ -CNE/2018-2021
Bibliografia
[editar | editar código]- MARCELO, Cristiane Maria. "Manoel Inácio da Silva e as luzes portuguesas". Usos do passado: XVII encontro regional de história – Anpuh. Rio de Janeiro, 2006.
- NEVES, Guilherme Pereira das. "O Rio de Janeiro de 1794 no Tribunal das Luzes de Reinhart Koselleck". História, teoria e variações. Rio de Janeiro: Contra Capa, Companhia das Índias, 2011, p. 255-279.
- SANTOS, Afonso Carlos Marques dos. No rascunho da nação: inconfidência no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Biblioteca Carioca, 1992.
- TUNA, Gustavo. “Conjuração do Rio de Janeiro (1794)”. In: SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa M. (org.). Dicionário da República: 51 textos críticos. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p. 60-66.
- VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 139-140.
Fontes primárias
[editar | editar código]- Autos da devassa: prisão dos letrados do Rio de Janeiro, 1794. Brasil, UERJ, 1994.
- Devassa ordenada pelo vice-rei Conde de Resende – 1794. Anais da Biblioteca Nacional, vol. LXI, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1941, p. 239-323.
Outras conjurações em domínios portugueses
[editar | editar código]- Conjuração dos Pintos (1787)
- Conjuração Mineira (1789)
- Conjuração Baiana (1798)
- Conspiração dos Suassunas (1801)
- Revolução Pernambucana (1817)