Ficus insipida

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tronco e copa da quaxinduba
tronco e copa da quaxinduba
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Clado: eudicotiledóneas
Clado: rosídeas
Ordem: Rosales
Família: Moraceae
Género: Ficus
Espécie: F. insipida
Nome binomial
Ficus insipida
Willd.
Sinónimos
[1]

Ficus anthelmintica Mart.
Ficus crassiuscula Warb. ex Standl.
Ficus glabrata Kunth
Ficus mexicana (Miq.) Miq.
Ficus radulina S.Watson
Ficus segoviae Miq.
Ficus werckleana Rossberg
Pharmacosycea angustifolia Liebm.

A quaxinduba (Ficus insipida), também conhecida como quaxinguba, gameleira, apuí, apuizeiro e figueira-brava, é uma árvore da família das moráceas com propriedades medicinais. Possui ampla sinonímia tanto na nomenclatura popular como científica, entre essas temos Ficus nymphaefolium (Mil.) e Ficus anthelmintica, a Gameleira do Pará, a Gameleira lombrigueira, como o nome indica drástica e vermífuga. (Menezes, 1949) [2] [3] [4]

Habita matas úmidas e matas de galeria, ou seja, distintas formações florestais, segundo o Reflora (2019): "floresta de terra firme" e "floresta ombrófila" ou "floresta pluvial". [5] Planta lactescente de 10-20 m de altura dotada de copa ampla. Suas folhas são alternas, espiraladas, elípticas a ovaladas, coriáceas. [6] [7]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

"Quaxinduba" e "quaxinguba" provêm do tupi kwaxin'guba.[7] "Gameleira" provém de "gamela".[8] Apuí vócabulo de origem tupi [4] segundo algumas traduções significa braço forte. Há referências também ao termo Apu na língua quechua significando senhor, espírito, divindade tutelar. [9]

Entre seus nomes populares podem ainda ser citados: Ojé Rosado (Peru); Higuerota (Venezuela); Huacra (Peru); Renaco (Peru); Huito (Peru); Gambo (Ecuador); Chilo (Ecuador); Marañón (Ecuador); Huila (Ecuador); Caucho (Colombia); Matapalo (Colombia); Cauchillo (Colombia); Bibosi Palomo (Bolivia); Bibosi Grande (Bolivia); Higuero (Panama); Matapau (Brasil); Higuerón (Venezuela); Ojé (Peru); Matapalo (Ecuador); Cauchillo (Ecuador); Higuerón (Colombia); Corcho (Bolivia); Ají (Bolivia); Bibosi (Bolivia); Faveiro-Vermelho (Brasil); Caviúna-Rajada (Brazil); Higuerón (Ecuador) [10]

Uso religioso e tradicional[editar | editar código-fonte]

A gameleira é cultuada no Candomblé Queto sob a forma do orixá Iroco.[11] Alves et al. identificaram a presença da Ficus doliaria Mart. ou Ficus gomelleira no culto nagô, onde além de representar "Iroko", é indicadora de um local sagrado, adequado para se deixar oferendas para outros orixás, assinalando simultaneamente utilização de madeira para fazer gamelas e uso medicinal. [12] [13]

Entre os Lucumis, nome como são conhecidos os descendentes dos Iorubás em Cuba, a "Higuera", também conhecida como "potó" ou "opopó" (Ficus carica, Lin.) é uma planta medicinal, da qual se fazem cataplasmas para tumores ou furúnculos e se utiliza como “arma-huesos”, num procedimento mágico-xamanístico que consiste numa massagem com sebo de carneiro na fratura ou luxação e se amarra uma folha da figueira com um pedaço de pano da cor do "Santo" (Orixá) do curandeiro ou do paciente. Observe-se que a espécie referida é a figueira cultivada para produzir frutos, originária da Ásia Menor e da Síria, mas a planta utilizada nos candomblés iorubás, como referido é a F. doliaria ou F. gomelleira. [14] [15] O Ficus insipida é usado por wajacas (xamã s) da tribo Craós no Brasil como estimulante da memória.[16]

Raízes do apuí, gameleira ou quaxinduba
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Uso medicinal[editar | editar código-fonte]

Como referido um dos usos medicinais de origem tradicional é a utilização de preparados sua seiva ou látex como vermífugo, entre outras indicações podem ainda ser citadas as affecções rumáticas e a febre terçã. Duke e Vasquez, identificam nessa planta e seus preparados a presença de: lavandulol, lupeol, β-amirina, eloxantina (eloxanthine), phyllanthol, e a enzima proteolítica ficin [17] Na medicina tradicional do Perú é comercializado como "Oje" ou "Doctor Oje" [18] Além de vemífugo (helmintíase) é empregado contra leishmaniose ou "uta" (o látex fresco aplicado nas partes afetadas); é considerado um depurativo (purificador do sangue); utilizado para anemia dor de dente e dores reumáticas (aplicação do látex na área afetada), e contra mordidas de animais (serpente, raia, peixes e formigas). [19] [20]

Ainda sobre sua utilização como vermífugo, há recomendações de alerta quanto ao uso do látex não fermentado, como causador de lesões internas "queima" o interior da pessoa. O látex é tóxico e overdoses são perigosas. [21] [22] No Brasil, do látex da F. doliaria, já foi fabricado uma preparação farmacêutica, comercializada na segunda metade dos séc. XIX no Rio de Janeiro, com o nome de "Pó de Doliarina e Ferro" indicada para "opilação" (obstrução de um ducto natural ou ancilostomíase, ou outra verminose) [13]

Estudos químicos vêm sendo realizados com espécies de Ficus e revelam a presença de furanocumarinas, lactonas, triterpenos, esteróis, flavonóides livres e glicosilados Alguns extratos de Ficus revelaram atividade bactericida (F. sycomorus L., F. benjamina L., F. benghalensis L., F. religiosa L. e F. racemosa), anti-inflamatória (F. racemosa) e gastrointestinal (F. sur), anti-helmíntica (F. platyphylla, F. glabrata). [13] [23]

Já foram identificadas as propriedades anti-inflamatória e analgésica da mistura binária α- e β-amirina presentes, como referido, nesta espécie de Ficus (a β-amirina), e em outras árvores sem parentesco botânico como a Protium heptaphyllum e Himaatanthus sucuuba. [24] [25] Outros efeitos sobre o sistema nervoso além de analgesia, a exemplo das propriedades estimulantes da memória (referida também pelos índios craós) e afrodisíacas de seus frutos, que inclusive podem ser consumidos por humanos, e precisam ser melhor estudados. [26] [6] [27]

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Referências

  1. MBG [2008a,b]
  2. MENEZES, Antônio Inácio. Flóra da Bahia. SP: Brasiliana, 1949. p.24 e 107 PDF Ace. 14 de Agosto de 2019
  3. PEDERNEIRAS, Leandro Cardoso; COELHO, Victor Peçanha de Miranda; NETO, Sergio Romaniuc. Ficus subg. Pharmacosycea sect. Pharmacosycea (Moraceae) do Brasil. Rodriguésia, Rio de Janeiro , v. 68, n. 2, p. 445-462, June 2017 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-78602017000200445&lng=en&nrm=iso>. access on 14 Aug. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/2175-7860201768210.
  4. a b AURÉLIO. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.0. Rr, Positivo, 2004
  5. REFLORA - Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ficus insipida Willd. RJ: COPPETEC-UFRJ. On-Line Pub.http://servicos.jbrj.gov.br/flora/search/Ficus_insipida Acesso em 14 de agosto de 2019
  6. a b LORENZI, Harri. Arvores brasileiras, manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do Brasil, 3 v. V 1. SP: Nova Odessa / Instituto Plantarum, 2008 p.273
  7. a b FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 427.
  8. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 833.
  9. PERU, Ministerio de Educación Yachakuqkunapa Simi Qullqa (Diccionario quechua-castellano). Peru: Ministerio de Educación, 2005 ISBN: 9972-881-32-6
  10. ITTO -International Tropical Timber Organization. BIBOSI (Ficus insipida). On-Line Pub. http://www.tropicaltimber.info/pt-br/specie/bibosi-ficus-insipida/ Aces. Agosto de 2019
  11. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 969.
  12. Michaelis, Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Opilação consulta on-line 14/08/2019
  13. a b c ALVES, Adriana Brügger; CARAUTA, Jorge Pedro Pereira; PINTO, Angelo da Cunha. A história das figueiras ou gameleiras. Sociedade Brasileira de Química. RJ: UNIRIO – Herbário, Pub. on-line Acesso: 14 de agosto de 2019
  14. LEONEL, Sarita. A figueira. Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal , v. 30, n. 3, Sept. 2008 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-29452008000300001&lng=en&nrm=iso>. access on 14 Aug. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-29452008000300001.
  15. CABRERA, Lidia. El Monte. Miami: Ediciones Universal, 1983 ISBN-10: 0897290097; ISBN-13: 978-0897290098 p.453
  16. Rodrigues, Eliana & Carlini, E.A. (2006): Plants with possible psychoactive effects used by the Krahô Indians, Brazil. Revista Brasileira de Psiquiatria 28(4): 277–282. PDF fulltext
  17. DUKE, James; VASQUEZ, Rodolfo. Amazonian Ethnobotanical Dictionary. CRC Press, Boca Raton, FL. 1994. ISBN 0-8493-3664-3. Google Books Aces. Aug. 2019
  18. Weight Care (Products) Doctor OJE. Natural Remedies Haven Ltd. Aces. Aug. 2019
  19. Instituto de Investigaciones de la Amazonía Peruana (IIAP). Plantas Medicinales de la Amazonía Peruana. Estudio de su uso y cultivo.Iquitos, Perú, Imprensa del Ejército, 1997
  20. ITTO -International Tropical Timber Organization. Projeto: “extrativismo não-madeireiro e desenvolvimento sustentável na amazônia (ITTO – pd 31/99 ver. 3 (i)”.banco de dados “Non Wood” Disponível: YUMPU Acesso 14 de agosto de 2019
  21. RCF - Rainforest Conservation Fund. Ficus insipida, F. glabrata, Ficus spp. (Ojé). Rainforest Conservation Fund. On-Line Pub. https://www.rainforestconservation.org/agroforestry-ethnobotany/agroforestry-ethnobotany/ficus-insipida-f-glabrata-ficus-spp-oje/ Ace. Agosto de 2019
  22. HANSSON A.; ZELADA, J.C.; NORIEGA, H.P. Reevaluation of risks with the use of Ficus insipida latex as a traditional anthelmintic remedy in the Amazon. J Ethnopharmacol. 2005 Apr 26;98(3):251-7. Abstract Aces. 14 de agosto de 2019
  23. AMARAL, Daniel F. et al . Flavones from the leaves of Ficus gomelleira. J. Braz. Chem. Soc., São Paulo , v. 12, n. 4, p. 538-541, Aug. 2001 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-50532001000400016&lng=en&nrm=iso>. access on 14 Aug. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-50532001000400016.
  24. BANDEIRA, Paulo N. et al . Obtenção de derivados da mistura triterpenoídica alfa- e beta-amirina. Rev. bras. farmacogn., João Pessoa , v. 17, n. 2, p. 204-208, June 2007 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-695X2007000200012&lng=en&nrm=iso>. access on 14 Aug. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-695X2007000200012.
  25. Miranda ALP, Silva JRA, Rezenda CM, Neves JS, Parrini SC, Pinheiro MLB, Cordeiro MC, Tamborini E, Pinto AC 2000. Anti-inflamatory and analgesic activies of the latex containing triterpenes from Himaatanthus sucuuba. Planta Med 66: 284-286.
  26. PERU ECOLOGICO. Plantas medicinales. Ojé (Ficus insipida). Peru. Disponível em: http://www.peruecologico.com.pe/flora_medic_gal_03.htm Acesso em: 14/08/2019.
  27. MORS, W.B., RIZZINI, C.T., PEREIRA, N.A. Medicinal plants of Brazil. Michigan: Reference Publications, 2000. Abstract apud: GONÇALVES, Airton Luiz. Estudo da atividade antimicrobiana de algumas árvores medicinais nativas com potencial de conservação/recuperação de florestas tropicais. 2007. 193 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro, 2007. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/103944>. Aces. Agosto de 2019