A integral múltipla é uma integral definida para funções de múltiplas variáveis.
Assim como a integral definida de uma função positiva de uma variável representa a área entre o gráfico e o eixo x, a integral dupla de uma função de duas variáveis representa o volume entre o gráfico e o plano que contém seu domínio. Se houver mais de duas variáveis, a integral representa o hipervolume de funções multidimensionais.
Integrais múltiplas de uma função de n variáveis sobre um domínio D são geralmente representadas por sinais de integrais juntos na ordem reversa de execução (a integral mais à esquerda é computada por último) seguidos pela função e pelos símbolos de diferenciais das variáveis de integração na ordem apropriada (a variável mais à direita é integrada por último). O domínio de integração é representado simbolicamente em todos os sinais de integração ou é, freqüentemente, abreviado por uma letra no sinal de integração mais à direita:
Uma vez que é impossível calcular a primitiva de uma função de múltiplas variáveis, não existem integrais múltiplas indefinidas. Assim, todas as integrais múltiplas são definidas.
Consideramos um retângulo de dimensões semi-aberto:
Particionamos cada intervalo em uma família de intervalos disjuntos semi-abertos (fechados na esquerda e aberto na direita). Desta forma,
é uma família finita de subretângulos disjuntos que forma uma partição de .
Seja uma função definida em . Para cada partição de temos
onde é o número de subretângulos pertencentes à partição e denota o -ésimo retângulo desta. Uma soma de Riemann de associada à partição é dada por:
onde para cada k, é um ponto pertencente a e é o produto dos comprimentos dos intervalos que formam .
Dizemos que a função é integrável pelo conceito de Riemann (ou, simplesmente, Riemann integrável) se o limite
existe, onde este é tomado sobre todas as partições possíveis de cujo diâmetro de cada subretângulo é no máximo δ. Se é Riemann integrável, é chamada integral de Riemann de sobre . Escrevemos:
A integral múltipla sobre um subconjunto compacto de
A integral de Riemann de uma função definida sobre um subconjunto compacto qualquer pode ser definida estendendo a função para um retângulo semi-aberto cujos valores fora do domínio original são nulos. Mais precisamente, sejam compacto e função limitada definida em . Consideramos a extensão de para o domínio assumindo que fora de . Como é limitado, tomamos um retângulo .
De forma análogo ao caso anterior, dizemos que a função é Riemann integrável sobre quando existe (valor da integral) tal que, para todo número real , existe uma partição de tal que se é um refinamento de e é qualquer soma de Riemann de associada à partição , então .
Note que o limite , quando existe, não depende da escolha do retângulo , desde que ele contenha .
As integrais múltiplas têm várias propriedades análogas às integrais simples (unicidade, linearidade, aditividade, etc).[2] Além disso, uma integral múltipla pode ser usada para definir o valor médio de uma função em um dado conjunto. Dado um conjunto e uma função integrável sobre , a valor médio de sobre seu domínio é dado por
A resolução de problemas com integrais múltiplas consiste na maioria dos casos em achar um método de reduzir a integral múltipla a uma série de integrais de uma variável, sendo cada uma diretamente integrável. Este procedimento é garantido pelo Teorema de Fubini.
Fórmulas de redução usam o conceito de domínio simples para possibilitar a decomposição da integral múltipla como um produto de integrais simples. Essas têm que ser resolvidas da direita para a esquerda considerando as outras variáveis como constantes (o mesmo procedimento adotado para o cálculo de derivadas parciais).
Às vezes, regiões complicadas podem ser transformadas em regiões simples através de uma mudança de variável. Seja e uma bijeção de em . A substituição de variáveis para pode ser feita conforme seque:
onde é a função nas variáveis e é o determinante da matriz Jacobiana da transformação.
O motivo de, numa mudança de variáveis, multiplicar-se o integrando pelo determinante da matriz jacobiana pode ser visualizado, para o caso de 2 variáveis, na figura abaixo:
Nesse exemplo, um mapeamento linear de (u,v) em (x,y) resulta num aumento de área e distorção angular da figura.
Se selecionarmos um subdomínio do quadrado maior em (u,v), os ângulos entre lados opostos diminuem, e a imagem mapeada tende a um paralelogramo, para uma função contínua e diferenciável.
A área do paralelogramo é o produto dos lados pelo seno do ângulo entre eles.
Como na figura, o ângulo entre os lados é :
,
Como :
Dividindo por para determinar a relação entre as áreas:
é o deslocamento vertical em () correspondente a .
é o deslocamento vertical em () correspondente a .
Portanto quando tende a zero,
,
a relação entre as áreas infinitesimais é o determinante da matriz jacobiana.
Um mapeamento não linear também leva ao mesmo resultado, porque ele tende à situação linear à medida que se reduz o domínio.[3]