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Construíram-as pedra por pedra da [[região]] de [[Fonte Boa (Esposende)]] à beira-mar, em cima da areia, a primeira do lado Sul de uma duna de areia. As outras utilizaram o mesmo sistema de forma, de que a anterior é a protetora da seguinte, resultou um alinhamento de construções ao longo da costa marítima, paralelas ao mar. |
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Com este estratagema, os antigos conseguiram, nos meses mais quentes, a criação de um espaço exterior com sombra e protegido da Nortada. A construção oval, situada a Sul, proporciona a sombra e a construção situada a Norte, a protecção das [[nortada]]s muito frequentes nas épocas anteriores às [[Maré alta|marés-altas]] "mareada", entre os [[equinócios]]. Desta forma as pessoas podem estar nos intervalos exteriores protegidos dos males e com vista para o [[mar]]. |
Com este estratagema, os antigos conseguiram, nos meses mais quentes, a criação de um espaço exterior com sombra e protegido da Nortada. A construção oval, situada a Sul, proporciona a sombra e a construção situada a Norte, a protecção das [[nortada]]s muito frequentes nas épocas anteriores às [[Maré alta|marés-altas]] "mareada", entre os [[equinócios]]. Desta forma as pessoas podem estar nos intervalos exteriores protegidos dos males e com vista para o [[mar]]. |
Revisão das 18h24min de 9 de dezembro de 2012
Pedrinhas é um lugar à beira mar, situado entre Ofir e Apúlia,concelho de Esposende e Distrito de Braga, com uma paisagem natural marítima atlântica e temperatura característica do litoral norte de Portugal.
É o Lugar onde se encontram as casas-barco mais antigas do mundo ocidental. Ainda hoje podemos ver as casas ainda apresentam a cobertura com quilha em V do casco do barco oriundo da sua origem.
Lugar-das-Pedrinhas candidatou-se em Setembro de 2010 a Património, proposto por mais de quarenta Arquitectos, Professores e Doutores (processo DRP/CLS - 2445 da Direcção Regional de Cultura do Norte (Ministério da Cultura)).O Despacho do Senhor Director do IGESPAR em Março de 2011 afirma " Lugar das Pedrinhas tem um inequivoco interesse como memória de um povo e das suas actividades ancestrais, acrescido de um património móvel e imaterial ..."
Descrição
Dizem que quando se deu a invasão romana da península ibérica e as legiões romanas chegaram aqui, as construções ovais de origem Celta[1] ou pré-Celta fizeram-lhes lembrar as construções da Puglia em Itália (antiga Apúlia em Itália), daí terem batizado a povoação ao lado com o mesmo nome. O etnólogo Jorge Dias chega a afirmar que estas construções são reminiscência de uma prática arquitectónica muito antiga, podendo mesmo recuar-se até à Idade do bronze atlântica, é "uma tendência ancestral inconsciente".
A Legião Romana romanizou o lugar erguendo construções rectangulares, retiraram o colmo e/ou palha e introduziram a telha cerâmica. Tropas auxiliares romanas deram continuidade ao entreposto do salarium argentum, "pagamento em sal" – forma primária de pagamento oferecida aos soldados do Império Romano. Tendo ficado uma reminiscência do equipamento típico dos soldados de infantaria romana do século I e século II com o traje típico local do sargaceiro.
Orla Maritima que a região ocidental da Península Ibérica, antes chamada Oestriminis ("Extreme West"), se chamava agora Ophiussa, e que o seu nome lhe vinha de uma grande invasão de serpentes que fizeram fugir os antigos habitantes da terra. Os seus actuais donos chamavam-se Sefes e Cempsos (Saefes e Cempsi), e que também fugiram para as colinas e para os campos de Ophiussa no século IV com a chegada dos Dragani ("People of the Dragons"), os vikings.
No século X mercadores escandinavos continuavam a vir buscar o sal a Portugal, estando estabelecidas colónias ou feitorias nas construções ovais, grubehus [2] , do tipo viking, que lhes eram familiares e das rectangulares resultado do acampamento militar [3] Romano. O Lugar-das-Pedrinhas foi um dos mais importantes centros salineiros do Oceano Atlântico na Idade Média.
Existem registos dos normandos (nome dado aos vikings pelos franceses e italianos na Idade Média) do século XI, do estabelecimento de relações amigáveis com a população local, e terão sido eles a transmitir os conhecimentos da navegação atlântica, de onde séculos mais tarde os pescadores portugueses iriam utilizar, até para irem ter aos países nordicos para a pesca do bacalhau (gadus morhua). A passagem de barcos normandos no século XII pelo Lugar-das-Pedrinhas na rota maritima que ligava Normandia e a Sicilia, Puglia e Calabria tinham paragem obrigatória não só para abastecimento de água potável (na lagoa da Apúlia) mas também de alimentos frescos. Neste mesmo século Berengária, filha de D. Sancho I casa com Valdemar II da Dinamarca, o que inicia uma ligação grande entre os dois reinos, que dada o seu distanciamento físico, se devia aos fortes laços comerciais existentes. Sendo o Lugar-das-Pedrinhas um desses lugares de comércio.
No século XIII desenvolveu-se a Liga Hanseática com o fim da Idade Média e o começo da Idade Moderna (entre os séculos XIII e XVII). Iniciou-se a era da talassocracia onde tem o comércio com base essencialmente econômico, neste periodo o Lugar-das-Pedrinhas passou para a sombra, visto agora as transações se realizarem entre as cidades portuárias, onde havia os mercados para transacionar.
No século XV, em 1409 os terrenos do Lugar-das-Pedrinhas foram doados pelo Rei D. João I a seu filho natural D. Afonso, Conde de Barcelos e mais tarde 1º Duque de Bragança.
No século XIX, em 1877, o Rei, pela Casa de Bragança mandou fazer uma escritura d´Aforamento aos "Cem homens bons", para que ali nas suas construções, pudessem usufruir as suas barracas, com a função de poderem pescar o pilado muito abundante e para apanharem o sargaço (algas), com o fim de estrumarem as suas terras, masseiras e terem uma colheita mais rica.
Arquitectura Vernácula
Ergueram-se duas tipologias de construções, cujas funções eram de repouso e abrigo de jangadas (jangada de Fonte-Boa - parece um carro de madeira com 4 rodas, tendo interiormente o fundo de cortiça, e nas bordas duas toleteiras para os remos), bateiras e barcos. Serem arrecadação de utensílios de mar e agrícolas (galhapão, graveta, arrastão, carrela, gancha, foicinhão, carrêlo).
* Construções ovais
Forma | Oval |
Material | Pedra de xisto e granito, madeira e barro (telha canudo) |
Cobertura | Constituída por 3 águas |
Entrada | Poente, virada para o mar, constituída por duas folhas de abrir |
Implantação | Isoladas |
Origem | i)Pré-Celta ou ii) Celta ou iii)Viking |
* Construções rectangulares
Forma | Rectangular |
Material | Pedra de xisto e granito, madeira e barro (telha canudo) |
Cobertura | Constituída por 2 águas |
Entrada | Poente, virada para o mar, constituída por duas folhas de abrir |
Implantação | Em banda |
Origem | Romana |
Localização e funcionamento das construções
Construíram-as pedra por pedra da região de Fonte Boa (Esposende) à beira-mar, em cima da areia, a primeira do lado Sul de uma duna de areia. As outras utilizaram o mesmo sistema de forma, de que a anterior é a protetora da seguinte, resultou um alinhamento de construções ao longo da costa marítima, paralelas ao mar.
Com este estratagema, os antigos conseguiram, nos meses mais quentes, a criação de um espaço exterior com sombra e protegido da Nortada. A construção oval, situada a Sul, proporciona a sombra e a construção situada a Norte, a protecção das nortadas muito frequentes nas épocas anteriores às marés-altas "mareada", entre os equinócios. Desta forma as pessoas podem estar nos intervalos exteriores protegidos dos males e com vista para o mar.
Actividade sazonal
As actividades agro-marítimas só eram realizadas numa determinada época do ano, altura ideal e propicia para os trabalhos destinados. Toda a área envolvente era limpa anualmente, para que o sargaço pudesse ser espalhado e secar durante três dias, permitindo levar uma maior quantidade no carro de bois para estrumar as terras.
Evolução
Ao longo dos anos a actividade do pilado foi-se extinguindo e a apanha do sargaço (argaço como lhe chamam) aumentou, chegando ao ponto dos agricultores tornarem-se verdadeiros sargaceiros. Já sabiam distinguir as várias qualidades de sargaço, estende-lo por qualidades, separando-os por tipos: a Taborra e o Maio com fins fertilizantes para estrumar as masseiras, a Botelha para realizar tintura de iodo e a Guia para fins medicinais e beleza(ex. sabonetes). Para além da actividade agro-maritima, sempre houve uma actividade pescatória forte e com a existência de cordões rochosos, com a vinda da legião romana houve um desenvolvimento da pesca de cefalópodes (principalmente o polvo) que ensinaram os locais a usar os alcatruzes (tipo de ânforas de barro que são presas com uma corda a um elemento de cortiça que suporta uma bandeira sinalética). <br-pt />
Identidade
Tendo-se enriquecido culturalmente ao longo dos vários anos e gerações de agricultores, que tiveram filhos que passaram para sargaceiros, que tiveram netos que passaram para pescadores, que tiveram bisnetos que hoje contemplam e têm orgulho da sua história. Existe neste lugar um "Locus" onde a cultura, a história, as memórias e as famílias se entrelaçam na identidade de um povo.
Referências
- ↑ Sobretudo pela tribo dos Sefes, que segundo Bosh-Gimpera eram celtas, como os estudos das lendas ofiliátricas, feitos por Quevillhas y Bouza Brey, que confirmam as origem das construções circulares no litoral português, onde as únicas são em Fão (demolidas no verão 1945), Pedrinhas e Cedovém.
- ↑ palavra Dinamarquesa que traduzida para Português significa "casa da cova". Esta casa tem forma oval, e apareceu do resultado dos vikings levarem as suas embarcações para terra, virarem-nas ao contrário para consertar danos no casco, ao mesmo tempo que se protegiam por debaixo da embarcação, fazendo um buraco na areia. Assim sendo, começaram aparecer situações semi-definitivas, semi-enterradas, nas quais os vikings construiam a estrutura da cobertura da mesma maneira que o casco das suas embarcações- Mark Vestby Selsø.
- ↑ Os acampamentos militares Romanos obedeciam a um alinhamento rigoroso que ainda hoje podemos observar nas construções existentes.
Bibliografia
- Matos, Manuel António de. Setembro 1705. Compêndio de táctica militar (manuscrito), Lisboa. 28-Mayo de 1707.
- Sarmento, Francisco Martins. 1882. Etnologia - Os Celtas na Lusitânia. Revista Scientifica. Porto
- Baldaque da Silva, António Arthur. Anno 1886. Estado actual das pescas em Portugal: Comprehendendo a pesca marítima, fluvial e lacustre em todo o continente do reino.
- Ramalho Ortigão,José Duarte. 1896.O Culto da Arte en Portugal.António Maria Pereira Livreiro-Editor. Lisboa.pp 30
- Leitão, Joaquim. 1908. Guia ilustrado de Esposende. Porto.
- Vieira, José da Silva, 1915. Caderno de apontamentos para a história do Concelho de Esposende. Esposende.
- Guimarães, Alfredo. 1916 "Os sargaceiros (litoral minhoto)". A terra Portuguesa, 1. Lisboa. pp 17–22.
- Antonio Garcia y Bellido, 1942 - Archivo Español de Arqueologia, n.os 42, 44, 48.
- P. Bosch-Gimpera - Los Celtas em Portugal y sus camiños, Homenagem a Martins Sarmento.
- Dias, Jorge ,1946 - Construções circulares no litoral português : contribuição para o estudo das construções circulares do noroeste da Península Ibérica / Jorge Dias.- Porto : Imprensa Portuguesa, 1946.- 4 p..- Sep. de Trabalhos de Antropologia e Etnologia, vol XI, fasc. 1/Etnologia / Antropologia - Portugal / Algarve (Portugal)
- Dias, Jorge ,1946 - Las construcciones circulares del Nordeste de la Península Ibérica Y las citanias. Cuadernos de Estudos Gallegos, fasc. VI 173-194.
- Dias, Jorge ,1948 - Las chozas de los Cabeçudos y las construcciones circulares de las citanias españolas Y portuguesas. Archivo Español de Arqueologia, enero-marzo, pp 164–172.
- Caro, Rodrigo, 1948 - Archivo Español de Arqueologia, Instituto Diego Velázquez, Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Spain, Instituto Español de Archqueologia.
- Trabalhos de antropologia e etnologia, 1954. Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, Centro de Estudos de Etnologia Peninsular.Volumes 15-16
- Arquitectura Popular Portuguesa, 1ª edição, Sindicato Nacional dos Arquitectos, Lisboa, 1961, Zona 1 - Arq. Fernando Távora, Arq. Rui Pimentel, Arq. António Meneres
- Matos, Maria da Conceição Faria. 1969. Apúlia intima comunhão entre a terra e o mar. Dissertação de Licenciatura em geografia. Lisboa: Faculdade de Letras de lisboa (polc).
- Moutinho, Mário C., A Arquitectura Popular Portuguesa, imprensa Universitária, 2ª edição 1979, Editorial Estampa, Lisboa.
- Arquitectura Popular Portuguesa, 2ª edição, Associação dos Arquitectos Portugueses, Lisboa, 1980.
- Actas do Colóquio Manuel de Boaventura, 1985. Casa da Cultura/Biblioteca Municipal, 1987.
- Moutinho, Mário Canova. 1995. Arquitectura Popular Portuguesa, 3ª edição, Estampa, Lisboa, 1995
- Oliveira, Ernesto Veiga; Fernando Galhardo; Benjamim Enes Pereira, 1988. Construções primitivas em Portugal. Publicações Dom Quixote
- Lobo, Mário Tavarela,"Manual do direito de àguas", Vol I, Coimbra editora, 1989, pág. 182, nota 3.
- Campelo, Álvaro. Para uma Ecologia Humana-Cedovém. Universidade Fernando Pessoa. Portugal
- (1975). Actividades Agro-marítimas em Portugal. 1990 Lisboa. Dom Quixote
- Martins, Manuela. 1991. As Vilas do Norte de Portugal de Alberto Sampaio. Revista de Guimarães
- Arquitectura Tradicional Portuguesa.1995. Dom Quixote. Lisboa.
- Neiva, Manuel Alves P., Apúlia na História e na Tradição, Apúlia 2000, edição comemorativa do 10º aniversário da associação cultural e recreativa da Apúlia.
- Távora, Fernando, 1923-,co-autor; Fernanda Roseta, Helena, 1948-,pref. 2004.Arquitectura Popular em Portugal / Fernando Távora; Prof. Helena Roseta. Centro Editor da Ordem dos Arquitectos, Lisboa.
- memória,Edição um,Revista Trama,Porto,2010
Ver também
- Pré-história da Península Ibérica
- Navegação na antiguidade
- Vikings na Península Ibérica
- Pesca do bacalhau
- Ireland
- Atlantic Europe
Ligações externas
- The Celtic Fringe
- Localização do Lugar das Pedrinhas na Wikimapia
- Small Craft of Portugal after Baldaque da Silva - Estado Actual das Pescas em Portugal, 1892 - Cap. 3