Museu de Lamego

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Museu de Lamego
Museu de Lamego
Tipo museu
Inauguração 21 de maio de 1918 (105 anos)
Visitantes 12.200 (1º semestre de 2015)[1]
Administração
Diretor(a) Alexandra Braga
[www.museudelamego.pt/ Página oficial] (Website)
Geografia
Coordenadas 41° 5' 50.51" N 7° 48' 22.216" O
Mapa
Localização Largo de Camões, Lamego - Portugal

O Museu de Lamego encontra-se no centro histórico da cidade de Lamego, no antigo Paço Episcopal, um edifício reconstruído na segunda metade do século XVIII, sob o patrocínio do bispo D. Manuel de Vasconcelos Pereira. Hoje o Museu de Lamego é uma importante referência no panorama regional, nacional, e mesmo internacional, dada a qualidade e a singularidade de algumas das obras de arte que possui, assumindo especial relevância os objetos classificados em 2006 pelo Estado Português como Tesouros Nacionais: um sarcófago medieval, decorado com uma cena de caça, em baixo-relevo; os painéis que Vasco Fernandes pintou para a Sé de Lamego, entre 1506-1511; o conjunto de tapeçarias flamengas, tecidas em Bruxelas na primeira metade do século XVI, e os painéis de azulejos figurados com cenas bucólicas e de caça, do século XVII.

História[editar | editar código-fonte]

No século XVI o rio Coura tinha o seu curso mais perto da Sé de Lamego e do local onde se situava o paço episcopal. O bispo D. Fernando de Menezes Coutinho de Vasconcelos, no século XVI, fez desviar o curso do rio de modo a criar um amplo terreiro em frente ao paço. Mais tarde, a antiga construção é reedificada pelo bispo D. Manuel de Vasconcelos Pereira, em estilo barroco provincial, no sentido de dotar o paço dos bispos de uma linguagem mais renovada, em uso no século XVIII. Até 1842 a Administração do Concelho encontrava-se a funcionar num dos sótãos do palácio dos bispos, tendo o edifício acolhido igualmente o Liceu, a Biblioteca Municipal, o quartel da GNR, uma repartição de Obras Públicas e o quartel dos Bombeiros.

D. Francisco José Ribeiro de Vieira e Brito, bispo de Lamego entre 1901 e 1922, pretendeu instalar no palácio um Museu de Arte Sacra, mas a Revolução de 1910 fez com que os trabalhos fossem suspensos, confiscando a residência do prelado. Em 1911, a Câmara Municipal criou um Museu Artístico a partir das coleções episcopais, sendo em 1916 o edifício arrendado por 360 escudos anuais e em 1917 publicada em Diário do Governo a criação do Museu de Obras de Arte, Arqueologia e Numismática.

Coleções e património[editar | editar código-fonte]

O património do museu é eclético, incluindo um espólio variado que assenta na coleção primitiva de mobiliário, tapeçaria, escultura e pintura, que já se encontrava no paço episcopal. Após a constituição do museu foi complementado com ourivesaria, paramentaria, capelas e respetivas esculturas originárias do extinto Convento das Chagas de Lamego, de rico valor artístico e iconográfico. A Câmara Municipal e diversos particulares acrescentaram-lhe o acervo arqueológico.

As peças da coleção são na maioria do século XVIII, embora abranjam um largo período que vai do século I aos nossos dias, com destaque para o período renascentista, representado pelas pinturas de Vasco Fernandes, o célebre «Grão Vasco», e por um conjunto de seis tapeçarias flamengas, das quais fazem parte quatro panos, figurando a história do Rei Édipo, um pano intitulado «A Música» e outro «O Templo de Latona».

A coleção inclui ainda secções de:

As tábuas de Grão Vasco[editar | editar código-fonte]

Pintadas por Vasco Fernandes entre 1506 e 1511, faziam parte do Políptico da Capela-mor da Sé de Lamego, onde permaneceram até ao século XVIII. Os painéis sobreviventes deste Políptico e que se encontram no Museu são a "Criação dos Animais", "Anunciação", "Visitação", "Circuncisão" e "Apresentação no Templo".

direitaCriação dos Animais, Grão Vasco.
  • Criação dos Animais - O Criador surge em primeiro plano, numa figura vigorosa com os atributos de máxima majestade (manto vermelho-vivo, coroa imperial) ocupando grande espaço da composição e com o pé descalço assente no solo. Encontra-se rodeado pelos animais acabados de criar: um cavalinho branco, com as patas de frente flectidas; mais discretos encontram-se um boi, um cordeiro, um lobo e um porco; e num plano mais recuado, distinguem-se diversas aves, um veado, um elefante e um unicórnio. Apesar de alguns erros de desenho no cavalo em primeiro plano, a desenvoltura plástica na conquista do espaço ou na modelação do manto compensam-na e permitem obter um conjunto harmónico de grande mestria;[2]
  • Anunciação - apresenta como figura em maior evidência o anjo são Gabriel a trazer a mensagem do Céu, e a Virgem que religiosamente o escuta. As figuras estão envoltas em requintada indumentária, com praguedos angulosos de invulgar plasticidade. Grão Vasco deu atenção à organização espacial das composições, com utilização da luz para evidenciar planos intermédios e uma equilibrada distribuição da cor;[3]
  • Visitação - representação do encontro de Nossa Senhora e Santa Isabel, sua prima. No primeiro plano, o abraço entre as duas mulheres, envoltas em amplos e elaborados panejamentos. A cena é prolongada por uma magnífica paisagem de fundo, de influência flamenga.[4]
  • Circuncisão - representação da Circuncisão do Menino Jesus numa composição concentrada e vigorosa. No plano superior, um retábulo repartido em edículas, preenchido com pequenas e simuladas esculturas em grisalha onde figuram temas do Antigo Testamento: ao centro, Deus Pai sobre as Tábuas da Lei, ladeadas por duas figuras em adoração, talvez o Rei David e o profeta Elias; à esquerda, o Sacrifício de Isaac (Génesis 12:1); à direita, o episódio do Burro de Baalão (Números 22:22–29); Ao centro da composição, figura a Circuncisão do Menino rodeado pelos pais e dois sacerdotes.[5]
  • Apresentação - representa o interior de uma capela com caraterísticas renascentistas. As figuras são a Virgem, São José e o velho Simeão com o Menino sobre os braços e duas mulheres jovens, à esquerda, uma das quais segura uma cesta com pombos da oferenda. Os óculos permitem uma solução engenhosa para a entrada de luz num ambiente interior.[6]

As tapeçarias flamengas[editar | editar código-fonte]

Série de Édipo - constituída por quatro panos executados em e seda, c. 1525-1535. Os cartões preparatórios estão atribuídos ao pintor Bernard Van Orley. Cada uma das peças corresponde a um episódio da tragédia de Édipo. A primeira representa Laio, rei de Tebas, que consulta o Oráculo de Delfos que lhe diz que o filho que a sua mulher dará a luz, Édipo, virá a assassiná-lo. A segunda revela o episódio da adoção de Édipo pelos reis de Corinto. Na terceira tapeçaria, pode ver-se a chegada de Édipo a Tebas, onde conhece a sua própria mãe, sem o saber, e a cena em que Édipo mata o pai e na última, figura Édipo coroado rei de Tebas, depois de ter casado com a mãe.

Referências

  1. «Museus do Estado do Norte aumentam 12,5% o número de visitantes no 1.º semestre». RTP Notícias. 15 de julho de 2015. Consultado em 20 de setembro de 2018 
  2. «Criação dos Animais». Governo de Portugal, Patrimônio Cultural. Consultado em 20 de setembro de 2018 
  3. «Anunciação». Governo de Portugal, Patrimônio Cultural. Consultado em 20 de setembro de 2018 
  4. «Visitação». Governo de Portugal, Patrimônio Cultural. Consultado em 20 de setembro de 2018 
  5. «Circuncisão de Jesus». Governo de Portugal, Patrimônio Cultural. Consultado em 20 de setembro de 2018 
  6. «Apresentação de Jesus no Templo». Governo de Portugal, Patrimônio Cultural. Consultado em 20 de setembro de 2018 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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