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Língua nheengatu: diferenças entre revisões

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==História==
==História==
O nheengatu é uma [[língua artificial]]<ref>{{Citation | url = http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=449FDS004 | contribution = As origens da língua brasílica | title = Observatório | newspaper = Último segundo | publisher = iG | place = [[Brasil |BR]]}}.</ref> que se originou a partir do [[século XVII]] no [[Pará]] e [[Maranhão]], como ''[[lingua franca]]''<ref>{{Citation | title = Habilidades | publisher = RPG ficção | url = http://rpg_ficcao.sites.uol.com.br/Habilidades/Lingua01.htm | contribution = Línguas}}.</ref> criada pelos [[jesuítas]] portugueses a partir do vocabulário e pronúncia [[tupinambás]], que foram enquadrados em uma [[gramática]] modelada na língua portuguesa. Para conceitos e objetos estranhos à língua, emprestaram-se inúmeros vocábulos do português e [[língua espanhola |espanhol]]. A essa [[pidgin|mistura]], deu-se o nome ''ie’engatu'', que significa "língua boa".
O nheengatu é uma [[língua artificial]] que se originou a partir do [[século XVII]] no [[Pará]] e [[Maranhão]], como ''[[lingua franca]]''<ref>{{Citation | title = Habilidades | publisher = RPG ficção | url = http://rpg_ficcao.sites.uol.com.br/Habilidades/Lingua01.htm | contribution = Línguas}}.</ref> criada pelos [[jesuítas]] portugueses a partir do vocabulário e pronúncia [[tupinambás]], que foram enquadrados em uma [[gramática]] modelada na língua portuguesa. Para conceitos e objetos estranhos à língua, emprestaram-se inúmeros vocábulos do português e [[língua espanhola |espanhol]]. A essa [[pidgin|mistura]], deu-se o nome ''ie’engatu'', que significa "língua boa".


Em sentido diverso, o [[tupinólogo]] [[Eduardo de Almeida Navarro]] defende que o nheengatu teria surgido somente no século 19, como uma [[Diacronia|evolução natural]] da [[língua geral setentrional]].<ref>NAVARRO, E. A. ''Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil''. São Paulo. Global. 2013. p. 537.</ref>
Em sentido diverso, o [[tupinólogo]] [[Eduardo de Almeida Navarro]] defende que o nheengatu teria surgido somente no século 19, como uma [[Diacronia|evolução natural]] da [[língua geral setentrional]].<ref>NAVARRO, E. A. ''Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil''. São Paulo. Global. 2013. p. 537.</ref>

Revisão das 19h55min de 29 de abril de 2014

 Nota: Para o álbum de Titãs, veja Nheengatu (álbum).
Nheengatu
Falado(a) em: Brasil, Colômbia, Venezuela
Região: Amazônia
Total de falantes: 8 000[1]
Família: Proto-tupi
 Tupi
  Tupi-guarani
   Subgrupo III
    Nheengatu
Estatuto oficial
Língua oficial de: São Gabriel da Cachoeira
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: sai
ISO 639-3: yrl

O nheengatu, também conhecido como nhengatu, nhangatu, inhangatu, língua geral amazônica, língua brasílica, tupi, língua geral, nenhengatu[2] e tupi moderno[3], é uma língua artificial derivada do tronco tupi. Pertence à família linguística tupi-guarani. Teria sido criada no século XVII, tendo sido a segunda língua geral indígena desenvolvida no Brasil, após a língua geral paulista. Em sentido diverso, no entanto, o tupinólogo Eduardo de Almeida Navarro defende que o nheengatu teria surgido somente no século 19, como uma evolução natural da língua geral setentrional.[4] Até o século XIX, foi veículo da catequese e da ação social e política luso-brasileira na Amazônia, sendo mais falada que o português no Amazonas e no Pará até 1877.[5] Atualmente, continua a ser falado por aproximadamente 8 000 pessoas na região do vale do Rio Negro.[6]

Aiumâna (traduzido do nheengatu, "abraço")[7]

Etimologia

"Nheengatu" e "nenhengatu" são originários do termo tupi nheenga'tu, que significa "língua boa".[8]

Amâna (traduzido do nheengatu, "chuva")[9]

História

O nheengatu é uma língua artificial que se originou a partir do século XVII no Pará e Maranhão, como lingua franca[10] criada pelos jesuítas portugueses a partir do vocabulário e pronúncia tupinambás, que foram enquadrados em uma gramática modelada na língua portuguesa. Para conceitos e objetos estranhos à língua, emprestaram-se inúmeros vocábulos do português e espanhol. A essa mistura, deu-se o nome ie’engatu, que significa "língua boa".

Em sentido diverso, o tupinólogo Eduardo de Almeida Navarro defende que o nheengatu teria surgido somente no século 19, como uma evolução natural da língua geral setentrional.[11]

Em seu auge, chegou a ser a língua dominante do vasto território brasileiro em conjunto com sua irmã idiomática, a língua geral paulista, sendo usada não apenas por índios e jesuítas, mas também como língua corrente de muitos colonos de sangue português. Segundo o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, "até o fim do século XVIII, em São Paulo, falava-se a língua geral, o nhangatu, uma derivação do tupi. Foi uma língua imposta pelos missionários, até hoje ouvida em alguns locais da Amazônia."[12] Na visão do poeta Jorge Mautner, "Anchieta e Nóbrega chegam e inventam o Brasil já numa atitude linguística. Eles pegam o tupi-guarani e transformam, facilitam, e isso vira a língua geral inhangatu (mistura de tupi e português), que vai ser falada em São Paulo até 1930 (sic), quando 70 ou 60 por cento da população falava só essa língua."[13] (em vez de 1930, a data mais correta seria 1830, quando, aproximadamente, faleceram os últimos falantes paulistas remanescentes da cultura predominante antes do ciclo do ouro das Minas Gerais)

Entretanto, a língua entrou em declínio no fim do século XVIII, com o aumento da imigração portuguesa, e sofreu duro golpe em 1758, ao ser banida pelo Marquês de Pombal, por ser associada aos jesuítas, que haviam sido expulsos dos territórios dominados por Portugal. Esse declínio do nheengatu na Amazônia se acentuou com a chegada de migrantes nordestinos falantes do português por ocasião da grande seca de 1877.[14].

Bóia (traduzido do nheengatu, "cobra")[15]

Uso atual

Atualmente, o nheengatu ainda é falado por cerca de 8 000 pessoas no Brasil (3 000), Colômbia (3 000) e Venezuela (2 000), especialmente na bacia do rio Negro (rios Uaupés e Içana).[1] Para além disso, é a língua materna da população cabocla e mantém o caráter de língua de comunicação entre índios e não índios, ou entre índios de diferentes línguas. Constitui, ainda, um instrumento de afirmação étnica dos povos que perderam suas línguas, como os barés, os arapaços, os baniuas, os Werekena e outros.

O nheengatu é uma das quatro línguas oficiais do município de São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, no Brasil.[16]

Características

Além da anteriormente mencionada língua geral paulista, agora extinta, o nheengatu é bastante relacionado com o tupi antigo, idioma extinto, e com o guarani do Paraguai, que, longe de estar extinto, é o idioma mais falado naquele país e uma de suas línguas oficiais. Segundo algumas fontes, o nheengatu e o guarani paraguaio chegam a ser mutuamente inteligíveis.

Escrita

O nheengatu usa o alfabeto latino, devidamente adaptado por missionários à língua. São as cinco vogais tradicionais na forma curta (simples) mais aa, ee, ii, uu (forma longa); entre as consoantes, não existem F, J, L, Q, V, W, Z.

Alguns detalhes do uso do alfabeto:

  • G representa sempre o fonema /g/, como nas palavras portuguesas gato, guri, mesmo diante "E" ou "I" (gue, gui);
  • R representa o fonema /ɾ/, semelhante ao que temos em português nas palavras barata, caro, areia, ira (em nossa língua ocorre apenas entre vogais);
  • S é sempre sibilante surda, equivalente aos nossos S inicial, SS, C diante de "E" ou "I", Ç, como nas palavras sapo, sina, som, aceite, cebola, ação etc.;
  • X representa sembre o fonema /ʃ/ (nosso ch), como nas palavras portuguesas xarope, roxo, eixo.

Comparação com o tupi antigo

Tomando como exemplo os pronomes pessoais, veja-se uma comparação entre o tupi antigo e o nheengatu:

Tupi Antigo Nheengatu Português
xe, ixé se, ixé eu
ne/nde, endé ne, indé tu
a'e, i (singular) aé, i ele, ela
oré ø nós (exclusivo);
iandé iandé nós (inclusivo);
pe, pe'ẽ pe, penhẽ vós
a'e, i (plural) aintá/tá eles, elas

Amostra de texto

Nheengatu
Brasil, ker pi upé, coaracyáua,
Çaiçú í çaarúçáua çui ouié,
Marecê, ne yuakaupé, poranga.
Ocenipuca Curuça iepé!
Português
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido,
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.

Ver também

Referências

  1. a b «Nheengatu», Etnólogo .
  2. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p.1 192, 1 727.
  3. NAVARRO, E. A. Método moderno de tupi antigo: a língua do Brasil dos primeiros séculos. 3ª edição. São Paulo. Global. 2005. p. 13.
  4. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 537.
  5. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. XVIII.
  6. NAVARRO, E. A. Método moderno de tupi antigo: a língua do Brasil dos primeiros séculos. 3ª edição. São Paulo. Global. 2005. p. 13.
  7. Supermanual do escoteiro mirim. São Paulo. Abril. 1979. p. 357.
  8. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p.1 192.
  9. Supermanual do escoteiro mirim. São Paulo. Abril. 1979. p. 357.
  10. «Línguas», Habilidades, RPG ficção .
  11. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 537.
  12. Pinheiro, Flávio; Greenhalgh, Laura (20 de abril de 2008), «Suplemento Aliás», Estadão (entrevista)  |contribution= ignorado (ajuda).
  13. Mautner, Jorge (2009), BRRevista FIGAS (entrevista), 1 (1) http://www.revistafigas.com.br/ed01/ed01_mat11.html |url= missing title (ajuda)  |contribution= ignorado (ajuda).
  14. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 537.
  15. Supermanual do escoteiro mirim. São Paulo. Abril. 1979. p. 357.
  16. Martin, Flávia; Moreno, Vitor, «Na Babel brasileira, português é 2ª língua», Folha de S. Paulo, consultado em 30 de outubro de 2012 

Bibliografia

  • NAVARRO, Eduardo de Almeida (2011), Curso de língua geral (nheengatu ou tupi moderno) – A língua das origens da civilização amazônica, ISBN 978-85-912620-0-7, São Paulo: Edição do autor . 112 pp.
  • Simpson, Pedro Luís, Gramática da língua brasileira: brasílica, tupi ou nheengatu .
  • Casasnovas, Padre A (2006), Noções de língua geral ou nheengatu 2ª ed. , Manaus: UFAM; Faculdade Salesiana Dom Bosco ,

Ligações externas

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