Pensamento de grupo
Pensamento de grupo (em inglês, groupthink) é uma expressão cunhada pelo psicólogo Irving Janis em 1972, para descrever o processo pelo qual um grupo social pode tomar decisões inadequadas ou irracionais. A adesão do indivíduo ao pensamento de grupo pode ocorrer quando desejo de manter a lealdade do grupo se torna mais importante do que fazer as melhores escolhas. O pensamento de grupo pode fazer com que grupos tomem decisões precipitadas e irracionais, já que a atitude crítica e o dissenso tendem a ser frequentemente tratados como elementos disruptores do equilíbrio coletivo. Segundo Janis, o pensamento de grupo é "uma deterioração da eficiência mental, da capacidade de confrontar a realidade e de julgamento moral que resulta de pressões dentro do grupo". Os membros do grupo frequentemente sofrem de excesso de confiança e têm uma crença inquestionável na competência e na autoridade moral do próprio grupo. A dissidência costuma ser desencorajada e pode até mesmo levar à sua expulsão de membros grupo, e estes, para evitar punições, permanecem em silêncio, o que cria a ilusão de concordância ou unanimidade no grupo.[1]
Ao participar de uma tomada de decisão em grupo, cada indivíduo tende a moldar suas atitudes ou opiniões ao consenso grupal, não só no intuito de reafirmar sua conformidade ao grupo mas também de preservar a própria coesão grupal. Tal comportamento, ainda que prefeitamente racional, pode conduzir cada participante a concordar, a qualquer custo, com o que lhe parece ser o pensamento dominante no grupo. Desse modo produzem-se decisões grupais desconformes com o pensamento de cada indivíduo, o que caracteriza um processo decisório disfuncional ou irracional.[2] Nesse processo de busca da decisão consensual, o grupo tende a minimizar a importância dos conflitos ou mesmo a negar sua existência (eventualmente, desqualificando ou inibindo a expressão de pontos de vista divergentes), em prejuízo de uma avaliação crítica das ideias.
O pensamento de grupo é uma construção da psicologia social, mas tem amplo alcance e influencia a literatura nos campos de comunicação social, ciência política, administração e teoria organizacional,[3][4] tendo sido aplicado também ao estudo do comportamento de grupos religiosos.[5][6]
Origem
[editar | editar código-fonte]A expressão foi criada em 1952 por William H. Whyte, na revista Fortune:
“ | Sendo groupthink um neologismo — e assumidamente tendencioso — é o caso de dar ao termo uma definição operacional. Não estamos falando de mero conformismo instintivo — esta é, afinal, uma falha perene da humanidade. Estamos falando é de um conformismo racionalizado — uma filosofia declarada e articulada segundo a qual os valores do grupo são não apenas convenientes, mas também são bons e justos.[7][8] | ” |
Irving Janis foi o precursor das pesquisas sobre a teoria do pensamento de grupo. Ele não cita Whyte, mas explica que a palavra groupthink foi criada por analogia com doublethink [9]e termos similares que integravam o vocabulário da novilíngua do romance 1984, de George Orwell. A princípio, assim ele definiu o conceito de pensamento de grupo:
“ | Utilizo o termo groupthink como uma maneira rápida e fácil de me referir ao modo de pensar que as pessoas adotam quando a busca de consenso se torna tão dominante em um grupo coeso que tende a se sobrepor à avaliação realista de cursos de ação alternativos. Groupthink é um termo da mesma ordem que as palavras do vocabulário de novilíngua que George Orwell usou em seu mundo desolador de 1984. Nesse contexto, o groupthink assume uma conotação injusta. Tal conotação é exatamente intencional, pois o termo se refere a uma deterioração na eficiência mental, na verificação da realidade e nos julgamentos morais, como resultado de pressões de grupo.[10][11] :43 | ” |
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ «Groupthink». Ethics Unwrapped (em inglês)
- ↑ «Leadership Glossary: Essential Terms for the 21st Century». Choice Reviews Online. 52 (11): 52-5672-52-5672. 18 de junho de 2015. ISSN 0009-4978. doi:10.5860/choice.190440
- ↑ Marques, Juracy C. Pensamento de grupo: O risco de decisões equivocadas e a diversidade de perspectivas na solução de problemas
- ↑ Turner, M. E.; Pratkanis, A. R. (1998). «Twenty-five years of groupthink theory and research: lessons from the evaluation of a theory» (PDF). Organizational Behavior and Human Decision Processes. 73 (2-3): 105-115. PMID 9705798. doi:10.1006/obhd.1998.2756. Cópia arquivada (PDF) em 19 de outubro de 2017
- ↑ Wexler, Mark N. (1995). «Expanding the groupthink explanation to the study of contemporary cults». Cultic Studies Journal. 12 (1): 49-71
- ↑ Turner, M.; Pratkanis, A. (1998). «A social identity maintenance model of groupthink». Organizational Behavior and Human Decision Processes. 73 (2–3): 210–235. PMID 9705803. doi:10.1006/obhd.1998.2757
- ↑ Whyte, W. H., Jr. (março de 1952). «Groupthink». Fortune. pp. 114–117, 142, 146
- ↑ Safire, William (8 de agosto de 2004). «Groupthink». The New York Times.
If the committee's other conclusions are as outdated as its etymology, we're all in trouble. 'Groupthink' (one word, no hyphen) was the title of an article in Fortune magazine in March 1952 by William H. Whyte Jr. ... Whyte derided the notion he argued was held by a trained elite of Washington's 'social engineers.'
- ↑ Traduzido em português como duplipensar. Nessa linha, o termo groupthink poderia ser traduzido como "grupipensar".
- ↑ Janis, Irving L. Victims of Groupthink. Boston: Houghton Mifflin Company, 1972, página 9.
- ↑ Janis, I. L. (novembro de 1971). «Groupthink» (PDF). Psychology Today. 5 (6): 43–46, 74–76. Cópia arquivada (PDF) em 1º de abril de 2010
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Giddens, Anthony; Duneier, Mitchell; Appelbaum, Richard P.. Essentials of Sociology. New York. W.W. Norton & Company, 2006.
- McCauley, Clark. The Nature of Social Influence in Groupthink: Compliance and Internalization. "Journal of Personality and Social Psychology". Vol. 57 (1987), pp. 250–260.
- Vaughan, Diane. The Challenger Launch Decision: Risky Technology, Culture, and Deviance at NASA. Chicago. University of and Chicago Press, 1996.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Existe uma origem da crise de identidade do professor? in "Revista Espaço Acadêmico" nº 31, dezembro de 2003 (ISSN 1519.6186)
- Trabalho em equipe in "Recanto das Letras", 15 de setembro de 2006
- Um exemplo prático de pensamento de grupo (em inglês)