Platyrrhinus lineatus

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Como ler uma infocaixa de taxonomiaPlatyrrhinus lineatus[1]

Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [2]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Chiroptera
Família: Phyllostomidae
Subfamília: Stenodermatinae
Gênero: Platyrrhinus
Espécie: P. lineatus
Nome binomial
Platyrrhinus lineatus
(É. Geoffroy, 1810)

Platyrrhinus lineatus é uma espécie de morcego da família Phyllostomidae, conhecido também como morcego-de-linha-branca.[3][4]

É um morcego de tamanha médio, sua coloração varia de pardo ou cinza escuro, marrom-chocolate e pardo claro na região dorsal, já na região ventral é pardo acinzentado.[5] Os P. lineatus apresentam em seu dorso uma linha branca longitudinal que vai da parte posterior da cabeça até a base da membrana interfemural ou uropatágio, membrana que liga as patas posteriores dos morcegos. Na cabeça, há quatro listras brancas, onde duas delas são paralelas na frente da base da folha nasal até a parte posterior lateral das orelhas, e as outras duas listras brancas na face, paralelas entre os olhos.[6]

Os P. lineatus possuem, como todo morcego, a capacidade de voar, isto é voo autônomo e manobrável, sendo uma característica única entre os mamíferos. Apresentam os membros anteriores adaptados como asas. O polegar é o único dedo que fica livre, os demais dedos e respectivos metacarpos dão suporte à membrana que forma a superfície da asa.[5]

Espécie endêmica da América do Sul, possui uma ampla distribuição pelo continente entre os países Sul-americanos, como: Colômbia, Peru, Equador, Guiana Francesa, Suriname, Bolívia, Venezuela,Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina.[7] Pode ser encontrado tanto em ambientes úmidos como em ambientes mais secos. Comum nas florestas e se alimenta de insetos, folhas, frutos e néctar. Abriga-se normalmente em grutas e sob a folhagem das árvores frondosas.

Ecologia e comportamento[editar | editar código-fonte]

Dieta[editar | editar código-fonte]

Este quiróptero tem uma dieta bem diversa, predominando uma alimentação frugívora, ou seja, baseada da ingestão de frutos, possuem uma preferência por frutos do gênero Cecrisa, F. insipida e C. pachystachyamas, plantas da família Solanaceae, entre outros, sendo a maioria pioneira, propiciando o início de processos sucessionais de uma formação florestal, classificados como vegetação primária e secundária.[8][9] Também consome insetos, néctar, folhas e pólen.[6][10]

Importância para o ecossistema[editar | editar código-fonte]

Os P. lineatus possuem uma dieta alimentar composta principalmente de frutos, são frugívoros. Por conta de sua dieta, torna-se muito importante para o bom funcionamento de todo ecossistema. Os P. lineatus quando se alimentam de frutos, deixam as sementes intactas, isso contribuí substancialmente para a estrutura e dinâmica dos ecossistemas, pois auxilia na perpetuação de muitas espécies de plantas, atuando como polinizadores e dispersantes de sementes, possibilitando o processo de regeneração e sucessão secundária na formação de florestas, incluindo muitas espécies de plantas pioneiras.[11][12] Entre todos os mamíferos, os morcegos se destacam entre os dispersores que mais contribuem com a manutenção e perpetuação das florestas com uma variedade enorme de plantas que, quase exclusivamente, dependem dos morcegos frugívoros para espalhar suas sementes, dispersando centenas delas por noite e milhares em um período de frutificação das árvores.[13][8] Os morcegos da família Phyllostomidae, como os P. lineatus possuem uma capacidade motora de carregar sementes por até 10 km do local em que se alimentou do fruto.[14] Como também se alimentam de insetos, contribuem para o controle e prevenção de pragas agrícolas.[10] Compreende-se a contribuição do P. lineatus para os processos ecológicos em que estão envolvidos, visto que o seu desaparecimento poderá causar um enorme desequilíbrio ambiental, resultando em maiores danos do que os causados pela sua proximidade com o homem.[11]

Reprodução[editar | editar código-fonte]

A época reprodutiva das fêmeas variam todo ano, com uma duração que varia entre 8 a 12 meses, gerando uma média de 10,6 meses.[15] A fêmea procria um filhote de cada vez, mas há eventualidade do nascimento de gêmeos.[4] Esta espécie apresenta o reprodução considerada segmentada, poliestria bimodal, ou seja, possui a estação de acasalamento relativamente restrita, com dois picos de nascimentos durante a estação chuvosa.[16] Nos biomas brasileiros Cerrado e Caatinga, que possuem respectivamente os climas predominantes tropical sazonal e semiárido, os P. lineatus fêmeas apresentam em cada época reprodutiva até dois ciclos reprodutivos, com fêmeas grávidas na época seca e os primeiros partos ocorrendo na época das chuvas. Na Mata Atlântica, bioma de floresta tropical-úmido, a época demonstra ser bem demarcada, com fêmeas grávidas perceptivelmente em agosto, setembro e outubro. A gestação nesta espécie dura de três a quatro meses, com a possibilidade de palpar o fetos a partir de 1 mês de gestação. A capacidade de produzir o leite como alimento para os filhotes ocorre quando há uma maior disponibilidade de recursos, pois essa atividade, denominada lactação, demanda elevados gastos energéticos.[15]

Comportamento[editar | editar código-fonte]

Os P. lineatus encontram-se abrigados normalmente em bromélias, folhas de palmeira, cavernas e fendas em rochas em grupos de seis até vinte indivíduos da mesma espécie[17] formando haréns onde um macho acasala com mais de uma fêmea, enquanto cada fêmea acasala com apenas um macho durante toda sua vida.[15]

A folha nasal desenvolvida e lanceolada proeminente toma parte importante no direcionamento dos ultrassons que são refletidos por superfícies do ambiente, a ecolocalização que indica a direção e a distância relativa dos objetos, dos insetos que caçam e para emitir avisos como acasalamento e agressão.[10]

Habitat e distribuição geográfica[editar | editar código-fonte]

Família Phyllostomidae[editar | editar código-fonte]

Os morcegos desta família apresentam como característica marcante uma estrutura facial utilizada na emissão de ultrassons, a folha nasal, que é membranosa em forma de lança ou folha, na extremidade do focinho.[18] É uma família muito numerosa, com mais de 90 espécies pelo território Sul-americano.[10] São a família de mamíferos com a maior diversidade de hábitos alimentares, é um grupo muito versátil em explorar recursos alimentares, inter-relacionando-se com muitas espécies de animais e vegetais, contribuindo na dispersão de sementes de muitas plantas pioneiras, sendo cruciais para a dinâmica de florestas tropicais e controle de pragas.[19][9]

Origem e evolução[editar | editar código-fonte]

Permanece indefinida a ancestralidade dos morcegos pela dificuldade em associá-lo a outros quaisquer grupos de mamíferos, sugerindo uma origem muito mais antiga. Os P. lineatus possuem um esqueleto muito leve, delicado, pequeno e frágil, dessa maneira, é evidente a dificuldade de encontrar fósseis inteiros e completos desses morcegos. Além disso, o esqueleto de animais não se preserva bem nas florestas onde as condições não são favoráveis à fossilização, geralmente o que se encontra são apenas pequenos pedaços e dentes isolados.[10] Foi encontrado em La Venta na Colômbia o fóssil mais antigo de Phyllostomidae com cerca de 16 milhões de anos.[20]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O Platyrrhinus lineatus também é conhecido como morcego-de-linha-branca ou morcego de nariz largo de linha branca.[17][3] O termo Platyrrhinus origina-se do grego platys que significa plano[21] e rhinus que significa nariz externo.[22] Lineatus se origina do latim lineatus, linea, "marcado por linhas, com linhas, linha".[23] Morcego no tupi-guarani recebe o nome andirá, guandira ou guandiruçu e em grego é verpertilio que se relaciona ao hábito de vida noturna.[10]

Referências

  1. Simmons, N.B. (2005). Wilson, D.E.; Reeder, D.M. (eds.), eds. Mammal Species of the World 3 ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press. pp. 312–529. ISBN 978-0-8018-8221-0. OCLC 62265494 
  2. Barquez, R.; Diaz, M. (2008). Platyrrhinus lineatus (em inglês). IUCN 2014. Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. 2014. Página visitada em 20 de fevereiro de 2015..
  3. a b «Platyrrhinus lineatus - Nucleotide - NCBI». www.ncbi.nlm.nih.gov (em inglês). Consultado em 13 de outubro de 2021 
  4. a b «Lista de morcegos Chiroptera» 
  5. a b Witt, A. A. (2012). «Guia de Manejo e Controle de Morcegos Técnicas de identificação, captura e coleta» (PDF). Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul. Consultado em 30 de novembro de 2021 
  6. a b c «Morcego-de-linha-branca (Platyrrhinus lineatus)». FAUNA DIGITAL DO RIO GRANDE DO SUL. Consultado em 13 de outubro de 2021 
  7. a b Barquez, R. & Diaz (20 de julho de 2015). «IUCN Red List of Threatened Species: Platyrrhinus lineatus». IUCN Red List of Threatened Species. Consultado em 13 de outubro de 2021 
  8. a b Sato, Therys Midori; Passos, Fernando de Camargo; Nogueira, Antonio Carlos (2008). «Frugivoria de morcegos (Mammalia, Chiroptera) em Cecropia pachystachya (Urticaceae) e seus efeitos na germinação das sementes». Papéis Avulsos de Zoologia: 19–26. ISSN 0031-1049. doi:10.1590/S0031-10492008000300001. Consultado em 27 de novembro de 2021 
  9. a b Ribeiro Sartore, Eduardo. «Oferta de alimentos e sua procura pelos morcegos frugívoros artibeus lituratus e platyrrhinus lineatus» (PDF). Laboratório de Ecologia de Mamíferos, Universidade Estadual de Londrina. Consultado em 30 de novembro de 2021 
  10. a b c d e f g h Reis NL, Peracchi AL, Pedro WA, Lima IP (2007). «Morcegos do Brasil» (PDF). Editora da Universidae Estadual de Londrina 
  11. a b Martins, Mariana Pires Veiga; Torres, Jaire Marinho; Anjos, Elaine Aparecida Carvalho dos (2014). «Dieta de morcegos filostomídeos (Mammalia, Chiroptera, Phyllostomidae) em fragmento urbano do Instituto São Vicente, Campo Grande, Mato Grosso do Sul». Papéis Avulsos de Zoologia: 299–305. ISSN 0031-1049. doi:10.1590/0031-1049.2014.54.20. Consultado em 13 de outubro de 2021 
  12. Galetti, M.; Morellato, L. P. C. (1 de janeiro de 1994). «DIET OF THE LARGE FRUIT-EATING BAT ARTIBEUS-LITURATUS IN A FOREST FRAGMENT IN BRAZIL». Mammalia. 661 páginas. ISSN 0025-1461. doi:10.1515/mamm.1994.58.4.657. Consultado em 27 de novembro de 2021 
  13. Fleming, T. H.; Sosa, V. J. (18 de novembro de 1994). «Effects of Nectarivorous and Frugivorous Mammals on Reproductive Success of Plants». Journal of Mammalogy (em inglês) (4): 845–851. ISSN 1545-1542. doi:10.2307/1382466. Consultado em 27 de novembro de 2021 
  14. Morrison, D. W. (20 de fevereiro de 1980). «Foraging and Day-Roosting Dynamics of Canopy Fruit Bats in Panama». Journal of Mammalogy (em inglês) (1): 20–29. ISSN 1545-1542. doi:10.2307/1379953. Consultado em 27 de novembro de 2021 
  15. a b c d Costa, Luciana M.; Almeida, Juliana C.; Esbérard, Carlos E. L. (junho de 2007). «Dados de reprodução de Platyrrhinus lineatus em estudo de longo prazo no Estado do Rio de Janeiro (Mammalia, Chiroptera, Phyllostomidae)». Iheringia. Série Zoologia: 152–156. ISSN 0073-4721. doi:10.1590/S0073-47212007000200004. Consultado em 13 de outubro de 2021 
  16. «Ciência e Conservação na Serra dos Órgãos» (PDF). Ibama 
  17. a b c d «Mamíferos do Campus do Pici | Prefeitura Especial de Gestão Ambiental». Consultado em 13 de outubro de 2021 
  18. Reis, Nélio Roberto dos; Lima, Isaac Passos de; Peracchi, Adriano Lúcio (setembro de 2002). «Morcegos (Chiroptera) da área urbana de Londrina, Paraná, Brasil». Revista Brasileira de Zoologia (3): 739–746. ISSN 0101-8175. doi:10.1590/s0101-81752002000300011. Consultado em 23 de outubro de 2021 
  19. Tavoloni, Patrícia (2006). «Diversidade e frugivoria de morcegos filostomídeos (Chiroptera, Phyllostomidae) em habitats secundários e plantios de Pinus spp., no município de Anhembi - SP». Biota Neotropica. ISSN 1676-0611. doi:10.1590/S1676-06032006000200036. Consultado em 23 de outubro de 2021 
  20. Eiting, Thomas P.; Gunnell, Gregg F. (setembro de 2009). «Global Completeness of the Bat Fossil Record». Journal of Mammalian Evolution (em inglês) (3): 151–173. ISSN 1064-7554. doi:10.1007/s10914-009-9118-x. Consultado em 23 de outubro de 2021 
  21. Infopédia. «plati- | Definição ou significado de plati- no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 13 de outubro de 2021 
  22. «Sistema respiratório» (PDF). Unesp 
  23. «linha | Palavras | Origem Da Palavra». origemdapalavra.com.br. Consultado em 13 de outubro de 2021 
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