Povo sertanejo

O povo sertanejo é um povo que habita campos de roça e estão ligados à pecuária e agricultura no sertão nordestino, especificamente em áreas do bioma caatinga, que pegam grande parte dos territórios da Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe e Alagoas, e do cerrado, que pega partes do Maranhão, Bahia e Piauí, além da região do Agreste nordestino, onde ocorre a transição entre a Mata Atlântica e Caatinga.[1][2]
O povo sertanejo primitivo é fruto basicamente da miscigenação entre portugueses e indígenas, sobretudo os falantes de línguas macro-jê. O escravo africano esteve pouco presente no Sertão, visto que a pecuária normalmente utilizava a mão-de-obra livre dos vaqueiros.[3][4]
O sertanejo é considerado, por muitos, o estereótipo do homem nordestino, sendo comparável ao caipira ou ao gaúcho.

Origem e cultura[editar | editar código-fonte]

O gado bovino foi introduzido na Zona da Mata canavieira logo no início do ciclo do açúcar e os bois serviam de tração animal para os canaviais e alimento. Com o passar das décadas, os rebanhos bovinos se multiplicaram e trouxeram transtornos às plantações de cana. Com isso, grupos de portugueses e mamelucos desprovidos de recursos financeiros e poder político são empurrados, junto com o gado dos canaviais, para o Sertão nordestino. O primeiro fixamento dos homens no sertão nordestino se deu na Bahia. Estes pioneiros e seus descendentes entraram em constante conflito com os indígenas, apesar da forte miscigenação com estes, e avançaram, entre os séculos XVI e XVIII, pelo Sertão, povoando-o, seguindo os cursos dos rios.[5][6]
Algumas partes da região da Chapada Diamantina tiveram uma formação histórica e social diferentes do restante do Sertão. Foram ocupadas nos séculos XVIII e XIX por causa da extração de pedras preciosas e sua população foi formada essencialmente pela miscigenação entre portugueses, indígenas e africanos. A garimpagem nesta região sertaneja da Bahia empregava a mão-de-obra escrava africana. Apesar disso, esses sertanejos baianos possuem um forte caráter rural.[7]
Havia dois grandes latifúndios que dominavam o Sertão: a Casa da Torre, da família Garcia d'Ávila,[8] e a Casa da Ponte, da família Guedes de Brito. Estes latifúndios eram divididos em fazendas menores, as quais eram alugadas para os vaqueiros.
A vida dos ocupantes do sertão era difícil. Havia abundância apenas de leite e carne e utilizavam-se do leite coalhado e do queijo apenas para o próprio consumo. A farinha de mandioca juntou-se à carne, originando a paçoca, um prato típico sertanejo. Do couro dos bois produzia-se diversos artefatos da vida do sertanejo, como cabanas, cantis, mochilas e vestimentas. A seca sempre esteve presente no Sertão. Darcy Ribeiro comparou os vaqueiros e lavradores sertanejos aos camponeses em servidão na Europa Feudal, visto que ambos nasciam e viviam na região de seus pais e avós, ficavam presos a uma terra que não lhes pertencia e tinham que pagar altos impostos ao proprietário das terras que utilizavam.[5][9]
Os contatos entre sertão e litoral eram esporádicos, ocorrendo apenas em determinadas épocas do ano, por meio de feiras em que se reuniam criadores e comerciantes, muitas das quais deram origem a núcleos de povoamento, embriões de cidades atuais como Feira de Santana (BA), Campina Grande (PB), Pastos Bons (MA), Serra Talhada (PE) e Oeiras (PI).[9]
Culinária[editar | editar código-fonte]


A culinária sertaneja é muito antiga, sendo uma das mais diversas e ricas em sabores, tendo diversas variações de estado para estado. Esta culinária, por ser muito consumida em uma região semiárida, ela se adapta às condições climáticas adversas da região, ingredientes como carne seca, mandioca, milho, feijão e outros alimentos que se adaptam ao clima seco são muito presentes no cardápio do povo sertanejo, independente do estado, isto é o que faz ligar todos os estados do Nordeste a essa culinária, mesmo com as diversas variações de cada estado.
A culinária do povo sertanejo é fruto da antiga miscigenação de povos no Nordeste brasileiro, principalmente entre europeus, africanos, indígenas e árabes, o que faz dessa gastronomia extremamente rica, levando como ingredientes, elementos de origem europeia, africana, indígena e árabe. O mininico de carneiro, um dos pratos consumidos no interior da Bahia, tem influência árabe.[10]
Ver também[editar | editar código-fonte]
Referências
- ↑ Ab'Sáber, Aziz Nacib (1999). «Sertões e sertanejos: uma geografia humana sofrida». Estudos Avançados (36): 7–59. ISSN 0103-4014. doi:10.1590/S0103-40141999000200002. Consultado em 3 de abril de 2021
- ↑ Barreiros, Liliane Lemos Santana (2011). «Vida Sertaneja: edição e estudo de vocabulário dos males sertanejos.» (PDF). Anais do XV Congresso Nacional de Linguística e Filologia (5). Consultado em 2 de abril de 2021
- ↑ CUNHA, Euclides da (1905). Os Sertões (PDF) 3ª ed. [S.l.]: Laemmert e Cia. p. 92
- ↑ Tipos e aspectos do Brasil (PDF). Rio de Janeiro: IBGE. 1972. p. 259
- ↑ a b RIBEIRO, Darcy (1995). O povo brasileiro (PDF) 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras. pp. 338–362
- ↑ BARROS, Rafael Aubert de Araújo; SOUZA, Luiz Eduardo Simões de (2016). «Manuel Correia de Andrade: a Pecuária no Desbravamento do Sertão Nordestino» (PDF). Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica. VIII Encontro de Pós Graduação em História Econômica. Consultado em 21 de outubro de 2022
- ↑ SILVA, Ana Paula Soares da (2014). APA Estadual Serra do Barbado: dos empecilhos à possível viabilidade socioambiental de um território no Circuito do Ouro – Chapada Diamantina (PDF) (Dissertação de mestrado). Salvador: UFBA. p. 22
- ↑ Martins, Eduardo (18 de dezembro de 2020). «Resenha do Livro "As ruínas da tradição: a Casa da Torre de Garcia d'Ávila, família e propriedade no nordeste colonial", de Ângelo Emílio da Silva Pessoa». Fronteiras (40): 193–197. ISSN 2175-0742. doi:10.30612/frh.v22i40.13268. Consultado em 28 de março de 2023
- ↑ a b «MultiRio — A vida no sertão: fazendeiros de gado, vaqueiros e». MultiRio. Consultado em 15 de outubro de 2022
- ↑ «Culinária sertaneja baiana - PDF»