Sábado de Aleluia
Sábado Santo | |
---|---|
Representação de Cristo resgatando as almas dos justos, capela de Millstatt am See, Áustria | |
Tipo | Cristão |
Data | feriado móvel; sábado antes da Páscoa |
Significado | Esperança da Ressurreição, recordação do corpo sepultado de Jesus, devoção a Nossa Senhora da Solidão e descida de Cristo à morada dos mortos |
Frequência | anual |
O Sábado Santo (em latim: Sabbatum Sanctum), também conhecido como Sábado de Aleluia e Véspera da Páscoa,[1] é uma festividade religiosa que recorda o aguardo pela ressurreição de Jesus após sua crucificação no Calvário, conforme o relato do Novo Testamento. É o último dia da Semana Santa, na qual os cristãos se preparam para a celebração da festa da Páscoa. Nele se celebra o dia que o corpo de Jesus Cristo permaneceu sepultado no túmulo.[2][3]
Na tradição cristã, especialmente na católica, este é também o dia marcado pela solidão de Virgem Maria, que, permanecendo firme na fé mesmo em meio à dor, é invocada sob o título de Nossa Senhora da Solidão. Essa devoção expressa não apenas o luto materno, mas também a esperança silenciosa e confiante na promessa da ressurreição.[4] Segundo a tradição da Igreja, acredita-se que neste dia Jesus, em sua alma gloriosa, desceu à Mansão dos Mortos" (o "sheol" ou "hades"), também chamado de Limbo, Seio de Abraão ou Infernos, resgatando os justos do Antigo Testamento que aguardavam a salvação prometida. Esse mistério, conhecido como a "descida de Cristo aos infernos", é professado no Credo dos Apóstolos: "desceu à mansão dos mortos, ao terceiro dia ressuscitou dos mortos..."[5]
Somente à noite, com o cair da escuridão, inicia-se a solene Vigília Pascal, que já pertence ao Domingo da Ressurreição. Essa celebração marca o ponto central do Ano Litúrgico, com a proclamação da vitória de Cristo sobre a morte e o início de um novo tempo: o Tempo Pascal.[6]
Práticas ocidentais
[editar | editar código-fonte]Nas igrejas católicas romanas, todo o coro (inclusive o altar) permanece sem decoração nenhuma (a partir da missa da Quinta-Feira Santa) e a administração dos sacramentos é bastante limitada. A Eucaristia depois do serviço litúrgico da Sexta-Feira Santa é dada apenas aos moribundos (viático). Batismos, confissões e a Unção dos Enfermos também podem ser administradas por que eles, como o viático, asseguram a salvação dos que estão para morrer.

As missas são limitadas e nenhuma é realizada na liturgia normal neste dia, embora a missa possa ser dita numa Sexta-Feira Santa ou no Sábado de Aleluia em casos extremamente graves ou numa situação solene com a autorização da Santa Sé ou do bispo local. Muitas igrejas da Comunhão Anglicana assim como diversas luteranas, metodistas e mais algumas outras denominações cristãs também segue estes costumes; porém, seus altares podem ser cobertos com panos negros ao invés de terem a decoração retirada.
Em algumas igrejas anglicanas, incluindo a Igreja Episcopal dos Estados Unidos, uma liturgia da palavra muito simples se realiza neste dia, com leituras comemorando o enterro de Jesus. Os ofícios diários também são observados. O Livro da Oração Comum anglicano chama este dia de "Véspera da Páscoa".
Entre os católicos filipinos, o Sábado de Aleluia é chamado de "Sábado Negro", um sinal de luto. Depois das alterações litúrgicas proclamadas pelo Concílio Vaticano II, o termo "Sábado Glorioso" também passou a ser amplamente utilizado, uma lembrança do corpo glorioso de Jesus na Vigília de Páscoa.
Em termos litúrgicos, o Sábado Santo vai até às 18:00 (crepúsculo), quando se celebra a Vigília de Páscoa e se inicia oficialmente a Época da Páscoa. As rubricas[7] afirmam que a Vigília deve acontecer depois do anoitecer e terminar antes do amanhecer. O serviço pode começar com fogo e o acendimento do novo Círio Pascal. Na observância católica e em algumas anglicanas, a missa é a primeira a ser realizada desde a Quinta-Feira Santa e nela, o "Glória" - que permaneceu ausente durante toda a Quaresma - volta a ser utilizado e é durante o canto que as imagens e ícones, que estavam cobertos de mantos púrpuras fora do coro e do altar durante a Época da Paixão, são novamente revelados para alegria dos fieis. Algumas igrejas anglicanas preferem celebrar a Páscoa e o acendimento do novo Círio ao amanhecer da Páscoa. É comum que se realizem batismos ou renovações de votos batismais nesta missa.
Práticas orientais
[editar | editar código-fonte]

Ícone do fim do século XIV atualmente no Museu de Arte Walters, em Baltimore.
Na Ortodoxia, este dia, conhecido como Grande e Santo Sábado, é chamado também de Grande Sabá (veja Shabat), pois foi neste dia que Jesus "descansou" . Nas tradições coptas, etíope e eritreia, este dia é conhecido como Sábado de Alegria.
As matinas do Grande e Santo Sábado (geralmente realizadas na noite de sexta por conta de antigas tradições eclesiásticas que remontam aos costumes judaicos) se realiza na forma de um funeral para Cristo. O serviço todo se realiza à volta do epitaphios, um ícone na forma de um tecido bordado com a imagem de Cristo sendo preparado para o sepultamento. Na primeira parte do serviço se canta o Salmo 119 (118) com hinos (enkomia) intercalados entre os versículos. O tema central da cerimônia não é tanto de luto, mas de vigilante expectativa:[8]
“ | Hoje vós não guardareis santo o sétimo dia, Que vós abençoastes desde sempre repousando de vossa labuta. Vós criastes tudo e vós renovastes todas as coisas, Observando o descanso sabático, meu Salvador, e restaurando a força. |
” |
— Matinas, Cânon do Grande e Santo Sábado, Ode 4.
|
No final das matinas, depois das laudes, no fim da Grande Doxologia, o Epitaphios é erguido e levado em procissão para fora da igreja, circundando-a, enquanto todos cantam o Trisagion, exatamente como se faz num enterro cristão ortodoxo.
Na manhã de sábado, uma véspera da Divina Liturgia de São Basílio, o Grande é celebrada, chamada de serviço da Primeira Ressurreição (em grego: Ἡ Πρώτη Ἀνάστασις), chamado assim por ser mais antigo que o serviço criado por São João Damasceno depois e não por ocorrer antes liturgicamente.[9]
É a mais longa Divina Liturgia do ano e também a última. Depois da Pequena Entrada, são feitas quinze leituras do Antigo Testamento que relembram a história da salvação. Imediatamente antes da leitura do evangelho (Mateus 28:1–20), o antepêndio, a toalha do altar e as vestimentas são trocadas do negro para o branco e o diácono incensa a igreja com o turíbulo. Na tradição grega, os clérigos espalham folhas de louro e pétalas de flores por toda a igreja para simbolizar os cacos dos portões e os grilhões rompidos do inferno e a vitória de Jesus sobre a morte. Apesar de a atmosfera litúrgica ir mudando da tristeza para a alegria neste serviço, a saudação pascal "Cristo ressuscitou!" só será trocada depois da Vigília de Páscoa à noite e os fiéis continuam jejuando. O motivo é que a Divina Liturgia do Grande e Santo Sábado representa a proclamação da vitória de Jesus sobre a morte para os que estavam no inferno, mas a Ressurreição ainda não havia sido anunciada para os que estavam na terra.
À tarde, os fiéis tradicionalmente se reúnem na igreja para a leitura completa dos Atos dos Apóstolos. Antes da meia-noite, a Vigília começa com o Ofício da Meia-Noite, durante o qual o Cânon do Santo Sábado é repetido. Então, todas as velas e luzes da igreja são apagadas e todos esperam no escuro e em silêncio a proclamação da Ressurreição de Jesus.[10]
Tradições culturais
[editar | editar código-fonte]A "Święconka", que significa "benção das cestas de Páscoa", ocorre no Sábado de Aleluia e é uma das mais antigas e amadas tradições polonesas, inclusive sendo praticada por descendentes de imigrantes a exemplo das comunidades no estado brasileiro do Paraná.[11][12][13][14][15]
Referências
- ↑ «Public Report on Audience Complaints and Comments, April-June 2006» (PDF). Australian Broadcasting Corporation. Consultado em 4 de maio de 2013
- ↑ Como em Nova Gales do Sul (Public Holidays Act 2010)
- ↑ «Confusing Easter Dates». The Liturgical Commission of the Roman Catholic Archdiocese of Brisbane. Consultado em 25 de abril de 2011. Arquivado do original em 19 de janeiro de 2012
- ↑ «História de Nossa Senhora da Solidão - Santos e Ícones Católicos - Cruz Terra Santa». cruzterrasanta.com.br. Consultado em 18 de março de 2025
- ↑ «Jesus desceu mesmo à mansão dos mortos?». Formação. 17 de abril de 2014. Consultado em 18 de março de 2025
- ↑ «A Vigília Pascal faz do Sábado Santo uma noite de luz». Canção Nova
- ↑ Roman Missal, 3rd Edition. [S.l.: s.n.]
- ↑ Kallistos (Ware), Bishop; Mary, Mother (1977). The Lenten Triodion. South Canaan PA: St. Tikhon's Seminary Press (publicado em 2002). p. 63. ISBN 1-878997-51-3. OCLC 189871515
- ↑ Parry, Ken; Melling, David J.; Brady, Dimitri; Griffith, Sidney H.; Healey, John F. (1999). The Blackwell Dictionary of Eastern Christianity. Oxford: Blackwell. p. 390-391. ISBN 0-631-23203-6
- ↑ «Páscoa da Ressurreição do Senhor Sábado Santo – Solene Vigília Pascal». www.cliturgica.org. 3 de abril de 2010. Consultado em 18 de março de 2025
- ↑ «Święconka: bênção de Páscoa polonesa sobrevive a gerações e se adapta à cultura local | Portal RDX». 7 de abril de 2023. Consultado em 18 de março de 2025
- ↑ «The Curious Transformation of Polish Easter in the US & UK». Culture.pl (em inglês). Consultado em 18 de março de 2025
- ↑ «Comunidades polonesa e ucraniana de Curitiba celebram a Páscoa com a benção dos alimentos». 1 de janeiro de 2023. Consultado em 18 de março de 2025
- ↑ CGN (8 de abril de 2023). «Descendentes de poloneses celebram a Páscoa no Bosque do Papa». CGN - O maior portal de notícias de Cascavel e do Paraná. Consultado em 18 de março de 2025
- ↑ Tartuce, Ayrton (28 de março de 2024). «Sábado é dia de evento de páscoa das comunidades polonesas e ucranianas em Curitiba». Bem Paraná. Consultado em 18 de março de 2025
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Parry, Ken; David Melling (editors) (1999). The Blackwell Dictionary of Eastern Christianity. Malden, MA.: Blackwell Publishing. ISBN 0-631-23203-6. OCLC 156905118
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Grande e Santo Sábado» (em inglês). Comentário pelo protopresbítero Alexander Schmemann