Sarcófago (banda)
| Sarcófago | |
|---|---|
Foto da banda na época de I.N.R.I. (1987) | |
| Informações gerais | |
| Origem | Belo Horizonte, Minas Gerais |
| País | Brasil |
| Gênero(s) | |
| Período em atividade | 1985–2000 |
| Gravadora(s) | Cogumelo Records |
| Afiliação(ões) | Holocausto, Sextrash, Sepultura, Scourge, Angel Butcher, Mutilator, Insulter, Cirrhosis, Zona Morta, Overdose, Komando Kaos |
| Integrantes | Wagner Lamounier Gerald "Incubus" Fábio Jhasko |
| Ex-integrantes | Eduardo "D.D. Crazy" Manu Joker Armando "Leprous" Zéder "Butcher" Lucio Olliver Juninho "Pussy Fucker" Eugênio "Dead Zone" Roberto "UFO" |
Sarcófago foi uma banda brasileira de metal extremo formada em 1985. Eles eram liderados pelo vocalista original do Sepultura, Wagner Lamounier, e Geraldo Minelli.
A capa do álbum de estreia da banda, I.N.R.I., é considerada uma grande influência no estilo corpse paint do black metal.[1] Esse disco também é considerado um dos álbuns da "primeira onda" que ajudou a moldar o gênero.
A banda se separou em 2000, após o lançamento do EP Crust. Os ex-integrantes, exceto Wagner, tocaram por todo o Brasil em 2006 sob o nome Tributo ao Sarcófago. Em 2009, surgiram rumores de que a formação original do I.N.R.I. estava se reunindo para uma pequena turnê de alto nível, mas se provaram falsos.[2] Uma reedição de seu catálogo anterior está em andamento, um esforço conjunto entre a Cogumelo Records e a gravadora americana Greyhaze.[3]
História
[editar | editar código]Primeiros Anos e I.N.R.I. (1985-1988)
[editar | editar código]Sarcófago foi formado em 1985 em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.[4] Igualmente em dívida com o hardcore punk finlandês e os primeiros grupos de metal extremo como Bathory, Celtic Frost e Slayer,[5] o objetivo do Sarcófago era criar a música mais agressiva de todos os tempos.[6] Wagner Lamounier, que se separou acrimoniosamente do Sepultura em março de 1985,[7] foi convidado a se juntar à banda.[8] Embora o Sepultura nunca tenha gravado nada com Lamounier, ele contribuiu com a letra da música "Antichrist" em seu EP Bestial Devastation.[9] A estreia do Sarcófago em vinil foi no álbum split da Cogumelo Produções, Warfare Noise I, lançado originalmente em 1986. O Sarcófago contribuiu com as três faixas "Recrucify", "The Black Vomit" e "Satanas". Sua música e letras foram consideradas chocantes na época, algo que lhes trouxe uma quantidade considerável de atenção.[10] A formação da banda naquele momento consistia em "Butcher" (guitarras), "Antichrist" (Lamounier; vocais), "Incubus" (Geraldo Minelli; baixo) e "Leprous" (Armando Sampaio; bateria).[11]
Com o novo baterista "D.D. Crazy"[12] — aclamado como um pioneiro no mundo do metal por seu uso extensivo de blast beats neste álbum[13] — Sarcófago lançou I.N.R.I. em julho de 1987.[4] O traje da banda na capa do álbum — corpse paint, jaquetas de couro e cintos de bala — é considerado a primeira declaração definitiva da apresentação visual e do estilo do black metal.[14] A música foi igualmente influente, um marco no desenvolvimento do gênero.[15] Apesar do status agora lendário do disco, Lamounier estava insatisfeito com os resultados finais, expressando reclamações sobre a qualidade das sessões de gravação e a banda sendo atormentada por conflitos internos.[5] Após o lançamento de I.N.R.I., o Sarcófago se separou brevemente. Lamounier se mudou para Uberlândia para estudar economia na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), enquanto Butcher e seu irmão D.D. Crazy deixaram o grupo.[6] Este último tocaria bateria na estreia do Sextrash, Sexual Carnage, de 1990.[8]
Rotting (1989-1990)
[editar | editar código]Quando Rotting foi lançado, gerou uma enorme controvérsia devido à sua arte de capa — uma figura tradicional de um ceifador lambendo o que parece ser o rosto de Jesus Cristo.[16] Foi baseado em uma pintura medieval. O próprio artista da capa, Kelson Frost, recusou-se a pintar uma coroa de espinhos sobre a cabeça do homem, o que o identificaria prontamente como o messias cristão.[17]
O Rotting difere musicalmente do black metal cru e hiperveloz do I.N.R.I. Session. O baterista "Joker" trouxe um conjunto diferente de influências para a banda (como crossover thrash); Wagner também aprendeu rapidamente a tocar guitarra e contribuiu com muitos dos riffs de guitarra do álbum.[17] O Rotting também marcou sua primeira mudança de pseudônimos: a dupla principal do grupo se renomeou "Wagner Antichrist" e "Gerald Incubus". Seu departamento visual também passou por mudanças - eles abandonaram os pregos nos braços e pernas porque dificultavam tocar ao vivo.[18]
Rotting foi o primeiro lançamento do Sarcófago a ter distribuição internacional, administrado na Europa pela gravadora britânica Music for Nations,[18] e pela Maze/Kraze na América.[19] A Maze Records lançou uma versão censurada de Rotting, apagando a capa original e adicionando um adesivo que dizia "Apresentando o vocalista original do Sepultura" sem consultar a banda. Enfurecido pelas ações da gravadora, o Sarcófago os processou.[6]
The Laws of Scourge (1991–1993)
[editar | editar código]Em seguida veio The Laws of Scourge (1991), considerado uma "revolução" na carreira da banda.[10] Uma combinação de melhor musicalidade,[20] valores de produção aprimorados,[10] e composições mais sofisticadas[20] os colocou no território do death metal técnico.[8] A nova direção musical do Sarcófago foi parcialmente influenciada pelos novos membros Fábio "Jhasko" (guitarra) e Lúcio Olliver (bateria),[21] e inspirada por uma nova safra de bandas de metal extremo como Godflesh, Paradise Lost, Bolt Thrower, Deicide e Morbid Angel.[22]
The Laws of Scourge se tornou o disco mais vendido do Sarcófago e responsável por sua agenda de turnês mais extensa até hoje.[21] Sua turnê também incluiu suas primeiras datas internacionais: eles visitaram países da América do Sul, como Peru e Chile, e na Europa fizeram shows em Portugal e Espanha.[6] No Brasil, seu show mais importante foi abrir para os pioneiros do crossover thrash do Texas, Dirty Rotten Imbeciles, em São Paulo.[17]
Hate (1994-1996)
[editar | editar código]Musicalmente falando, Hate é notável por sua abordagem simplificada e direta e pelo uso de uma bateria eletrônica,[21] este último gerando alguma controvérsia.[23] Lamounier afirmou não ter escrúpulos em usar este dispositivo, com base no fato de que a maioria dos bateristas de death metal usa trigger pads para fins de gravação, o que no final produz o mesmo som homogeneizado de uma bateria eletrônica.[21]
A banda cortou o cabelo curto, em protesto contra o estilo masculino de cabelo longo que se tornou popular devido ao enorme sucesso do grunge no início dos anos 1990.[6] Homens que ostentam cabelo comprido são tradicionalmente associados a grupos de contracultura,[24] e estão especialmente presentes na subcultura metalhead.[25] Wagner declarou:
"Todos os indivíduos por aí ostentando cabelos compridos, camisetas do Nirvana e do Pearl Jam, entre outros. Não temos nada contra essas bandas, mas somos contrários a seguir a multidão. Não é saudável quando algo se torna uma moda, pois a massificação empobrece as pessoas."[26]
No final de 1995, o Sarcófago lançou a compilação Decade of Decay, que incluía, entre outras coisas, versões demo de suas primeiras músicas e fotos raras dos bastidores. A banda descreveu o CD como um "presente" para seus fiéis seguidores.[27]
The Worst e Crust (1996–2000)
[editar | editar código]O quarto e último álbum do Sarcófago, The Worst (1996), vê a banda desacelerando em relação ao Hate, que era voltado para a velocidade, e tendo uma melhor compreensão da programação de bateria. Minelli e Lamounier viram este disco como um "resumo" de sua carreira.[23]
Com a virada do milênio, veio o EP Crust, o último lançamento do Sarcófago. Era para ser uma prévia de um próximo álbum, mas a dupla principal da banda se separou antes de começar a gravar.[8]
Turnê de Tributo ao Sarcófago (2006–2009)
[editar | editar código]Em comemoração ao 20º aniversário do álbum Warfare Noise, a Cogumelo Records e Gerald Incubus organizaram um show de retorno com o Sarcófago em Belo Horizonte.[17] Junto com Minelli, a formação para esse evento foi Fábio Jhasko nas guitarras, Manu Joker e o velho amigo Juarez "Tibanha" nos vocais.[28] Essa apresentação foi gravada e há planos para lançá-la em formato DVD. Lamounier optou por não se juntar a essa banda "Sarcófago Tribute" pela falta de desejo de tocar profissionalmente.[17] No entanto, Wagner ainda persegue seus interesses musicais - ele toca na banda crust punk Commando Kaos.[13]
Em outubro de 2007,[28] o Sarcófago voou para Santiago, Chile, para tocar no Black Shadows Festival,[13] ao lado dos pioneiros do death metal Possessed.[28]
Em março de 2009, Wagner supostamente anunciou que o Sarcófago se reuniria, e seu itinerário de turnê incluiria apresentações nos festivais Wacken Open Air e Hole in the Sky, bem como datas em Londres, Nova Iorque, Los Angeles e Tóquio. Ele afirmou que seria a formação original do I.N.R.I., mas que esta seria a única turnê que eles fariam e não haveria material novo.[29] Alguns dias depois, o próprio Lamounier escreveu à imprensa musical expondo esta notícia como uma farsa.[2]
Integrantes
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Última formação
[editar | editar código]- Wagner Lamounier — vocal, guitarra (1985-2000)
- Gerald Minelli — baixo, vocal (1986-2000)
- Eduardo Patrocínio — bateria (1986-1987),(1996-2000)
- Eugênio "Dead Zone" — teclado, bateria programada (1991-2000)
Ex-membros
[editar | editar código]- Armando Sampaio — bateria (1985-1986)
- Juninho — baixo (1985-1986)
- Zéder Patrocínio — guitarra (1985-1987)
- Manuel Henriques — bateria (1989-1991)
- Fábio Jhasko — guitarra (1991-1993)
- Lucio Olliver — bateria (1991-1993)
Linha do tempo
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Discografia
[editar | editar código]Álbuns de estúdio
[editar | editar código]- (1987) I.N.R.I.
- (1991) The Laws of Scourge
- (1994) Hate
- (1997) The Worst
EPs
[editar | editar código]Coletâneas
[editar | editar código]- (1996) Decade of Decay
- (2015) Die... Hard!
Álbuns split
[editar | editar código]- (1986) Warfare Noise
Demos
[editar | editar código]- (1986) Satanic Lust
- (1986) The Black Vomit
- (1987) Sepultado
- (1987) Christ's Death
Aparições em coletâneas
[editar | editar código]- (1990) The Lost Tapes of Cogumelo
- (2000) Cogumelo Records Compilation
- (1992) Masters of Brutality II
- (1992) Speed Kills 6: Violence of the Slams
- (1999) Roadkill, Vol. 2
- (2001) Warzone XXVI
- (2004) Fenriz Presents... The Best of Old-School Black Metal
Referências
- ↑ Moynihan, Michael & Søderlind, Didrik: Lords of Chaos: The Bloody Rise of the Satanic Metal Underground. Feral House 1998, p. 36.
- ↑ a b «Former SARCÓFAGO Frontman Shoots Down Reunion Rumors». Blabbermouth.net. 6 de março de 2009. Consultado em 27 de agosto de 2025. Arquivado do original em 9 de março de 2009
- ↑ Kelly, Kim (23 de agosto de 2012). «Wagner Antichrist Interview: "Sarcófago Refuses to Die"». ironfistzine.com. Consultado em 27 de agosto de 2025
- ↑ a b Rivadavia, Eduardo. «Sarcófago Biography». AllMusic. Consultado em 27 de agosto de 2025
- ↑ a b Fonseca, Marco; Cagni, André (1990). «SARCÓFAGO - Ame ou odeie». metalpesado.com.br. Rock Brigade. Consultado em 27 de agosto de 2025. Arquivado do original em 8 de dezembro de 2012
- ↑ a b c d e Nemitz, 1994, p. 58.
- ↑ Barcinski & Gomes, 1999, p. 28.
- ↑ a b c d Tomasi, Eliton (7 de julho de 2008). «Sarcófago: pioneirismo, polêmica e death metal». Whiplash.net. Consultado em 27 de agosto de 2025. Arquivado do original em 22 de dezembro de 2008
- ↑ Barcinski & Gomes, 1999, p. 31.
- ↑ a b c Filho, 1992, p. 42.
- ↑ «Sarcófago». Warfare Noise (Livreto do CD). Sarcófago. Belo Horizonte, MG: Cogumelo Records. p. 7
- ↑ I.N.R.I. (Livreto do CD). Sarcófago. Belo Horizonte, MG: Cogumelo Records. p. 11
- ↑ a b c Ricardo, 2008, p. 55.
- ↑ Schwarz & Strachan, 2005, p. 37.
- ↑ "The First Wave", 2005, p. 42.
- ↑ Nemitz, 1994, p. 59.
- ↑ a b c d e Tomasi, Eliton (7 de julho de 2008). «Tributo ao Sarcófago: a lenda vive». Whiplash.net. Consultado em 27 de agosto de 2025 [ligação inativa]
- ↑ a b Filho, 1992, p. 43.
- ↑ Rivadavia, Eduardo. «Rotting: Overview». AllMusic. Consultado em 27 de agosto de 2025
- ↑ a b Rivadavia, Eduardo. «Laws of Scourge: Overview». AllMusic. Consultado em 27 de agosto de 2025
- ↑ a b c d Gimenez, 1995, p. 54.
- ↑ Filho 1992, p. 44.
- ↑ a b Franzin, 1997, p. 16.
- ↑ Synnott, 1987, p. 381.
- ↑ Weinstein, 2000, p. 207.
- ↑ Nemitz, 1994, p. 58
- ↑ Franzin, 1997, p. 18.
- ↑ a b c Ricardo, 2008, p. 54.
- ↑ Forrest, David (4 de março de 2009). «Sarcófago — To Reunite for Small Tour». metalstorm.ee. Consultado em 30 de agosto de 2025 [ligação inativa]
Bibliografia
[editar | editar código]- Barcinski, André; Gomes, Sílvio (1999). Sepultura: Toda a História. São Paulo: Editora 34. ISBN 978-85-7326-156-1
- «Black Metal Foundations Top 20: The First Wave». Terrorizer. 128: 42–43. 2005
- Colmatti, Andréa (1997). «Sepultura: Igor Cavalera». Modern Drummer Brasil. 6: 18–26, 28–30
- Filho, Fernando Souza (1992). «Sarcófago: Cada Dia Mais Sujo e Agressivo». Rock Brigade. 67: 42–44
- Franzin, Ricardo (1997). «Sarcófago: A 'Pior' Banda do Mundo Fala Tudo». Rock Brigade. 130: 16–18
- Gabriel, Ricardo (2008). «Sarcófago: Tributo à Banda Mais Polêmica do Brasil». Roadie Crew. 114: 54–56
- Gimenez, Karen (1995). «Sarcófago: Quarteto que Virou Dupla». Rock Brigade. 102: 54–55
- Moynihan, Michael; Søderlind, Didrik (2003). Lords of Chaos: The Bloody Rise of the Satanic Metal Underground. Los Angeles: Feral House. ISBN 0-922915-94-6
- Nemitz, Cézar (1994). «Sarcófago: O Tormento Continua...». Dynamite. 13: 58–59
- Schwarz, Paul; Guy Strachan (2005). «The Boys from the Black Stuff: A Brief History of Black Metal». Terrorizer. 128: 35–37
- Synnott, Anthony (1987). «Shame and Glory: A Sociology of Hair». British Journal of Sociology. 38 (3): 381–413. ISSN 0007-1315. JSTOR 590695. doi:10.2307/590695
- Weinstein, Geena (2000). Heavy Metal: The Music And Its Culture. Cambridge: Da Capo. ISBN 978-0-306-80970-5