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Urubuzinho

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Indivíduo avistado em Mato Grosso, no Brasil
Indivíduo avistado em Mato Grosso, no Brasil
Indivíduo avistado em Puerto Carreño, em Vichada, na Colômbia
Indivíduo avistado em Puerto Carreño, em Vichada, na Colômbia
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Piciformes
Família: Bucconidae
Género: Chelidoptera
Espécie: C. tenebrosa
Nome binomial
Chelidoptera tenebrosa
(Pallas, 1782)
Distribuição geográfica
Distribuição do urubuzinho na América do Sul
Distribuição do urubuzinho na América do Sul
Sinónimos[2]
  • Chelidoptera brasiliensis Sclater, 1862
  • Cuculus tenebrosus Pallas, 1782

O urubuzinho[3] (nome científico: Chelidoptera tenebrosa), também conhecido como taterá, andorinha-cavaleira, andorinha-do-mato e miolinho,[4] é uma espécie de ave piciforme da família dos buconídeos (Bucconidae), a única do gênero Chelidoptera.

O nome do gênero Chelidoptera é formado pelo grego khelídon (χελίδον), "andorinha", e -ptera (πτερα), "asas", e o epíteto específico tenebrosa (ou tenebrosus) vem do latim e significa "escuro, sombrio, tenebroso".[5] O nome vernáculo urubuzinho é o diminutivo de urubu. Urubu vem do tupi uru'wu em sentido definido.[6] O étimo foi registrado em 1648 como orubù e 1817 como urubús.[7]taterá ou tetera pode ser uma alteração de taperá, que derivou do tupi ta'pera no sentido de "aldeia indígena abandonada, habitação em ruínas" (tawa no sentido de "taba" e pwera no sentido de "que foi").[8] Antenor Nascentes sugeriu que taterá derivou diretamente do tupi ta'tera, que divergiu de tape'ra no sentido de "espécie de pássaro" (lit. "saído da tapera"). Teodoro Sampaio em O Tupi na Geografia Nacional (TupGN) propôs que seja uma designação de pássaros que se aninham nas taperas.[9]

Taxonomia e sistemática

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O urubuzinho foi descrito pela primeira vez por John Gould em 1837[2] e é a única espécie dentro de seu gênero.[10] Três subespécies são reconhecidas atualmente:[11][12]

O urubuzinho possui entre 14–15 centímetros e pesa cerca de 30–41,5 gramas. Apresenta plumagem que varia do negro ao cinzento-escuro, geralmente com leve iridescência azulada na parte superior. O uropígio, a parte inferior das costas até as coberteiras superiores da cauda, as coberteiras inferiores da cauda, as coberteiras inferiores das asas e as axilas são brancas.[15] O abdome exibe coloração amarelo-avermelhada ou faixa laranja-castanha nas partes inferiores,[16] com uma faixa esbranquiçada bem marcada separando-o do peito, cuja coloração varia do preto ao cinza. A subespécie brasiliensis é de maior porte e possui partes inferiores mais ocráceas, tonalidade rufescente variável na garupa e nas regiões inferiores das asas.[15] O bico é curto, ligeiramente curvado para baixo e preto; a íris é marrom-escura; os pés são cinza-escuros ou pretos. As asas são longas, largas, pontudas, com terciárias grandes, e em voo mantêm as pontas abertas como fazem os urubus.[17] A cauda é curta, larga, quadrada e preta, podendo exibir pequenas pontas claras quando as penas estão frescas. O queixo é embranquecido e a garganta, cinzenta, com longas penas semelhantes a pelos.[15] Possui ainda uma pálpebra inferior branca como gesso, que contrasta com a face escura.[17] Os indivíduos imaturos se assemelham aos adultos.[15]

Distribuição e habitat

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O urubuzinho é endêmico da América do Sul e ocorre na Bolívia, Colômbia, Equador, Guianas (Guiana, Suriname, Guiana Francesa), Peru, Venezuela e Brasil.[1] No Brasil, ocorre nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, São Paulo e Tocantins, nos biomas da Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. Em termos hidrográficos, está presente nas sub-bacias do Araguaia, do Contas, do Doce, da foz do Amazonas, do Grande, do Gurupi, do Itapecuru, do rio Itapecuru, do Paraguaçu, do Jequitinhonha, do litoral da Amapá, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro, do Madeira, do Mearim, do Negro, do Paraguai 01, 02 e 03, do Paranaíba, do Paraná RH1, do Alto, Médio e Baixo Parnaíba, do Paru, do Purus, do Solimões, do Médio São Francisco, do Tapajós, do Tietê, do Alto e Baixo Tocantins, do Trombetas e do Xingu.[2]

O habitat ideal para reprodução parece ser áreas abertas com solos arenosos e arbustos dispersos, cercados por floresta, mas a espécie também é registrada em savanas abertas com árvores e arbustos, cerrado arbustivo, clareiras, bordas de floresta de transição, floresta estacional decidual, matas de crescimento secundário, florestas úmidas tropicais de terras baixas, pântanos, florestas degradadas, arbustos, árvores nas margens de estradas e rios, várzeas, mata ciliar e mata de galeria, inclusive nos llanos.[1][2] Normalmente pousa em árvores emergentes de rios e margens de lagos. Em terras baixas ocorre principalmente abaixo de mil metros de altitude, sendo raramente observado acima de 1 750 metros.[15]

O urubuzinho é uma ave silenciosa que fica por longos períodos no topo de uma árvore sem se mover. Apresenta canto estridente geralmente emitido durante o voo e seus chamados incluem tsi-tsi-tsi e o alto e claro dí-didi dí-didi dí-didi…. Se reproduz de janeiro a junho e novembro na Venezuela; no Suriname, de julho a dezembro e de março a abril; e na Guiana Francesa, de agosto a novembro. Constrói seus ninhos em solo arenoso, formando uma toca de 60 a 90 centímetros de comprimento, frequentemente próximo ao rio. A ninhada consiste geralmente de um a dois ovos, com um período de incubação de 15 dias. Captura insetos no ar, normalmente retornando ao mesmo poleiro. Sua dieta consiste majoritariamente em insetos voadores, incluindo formigas-aladas. Em geral, alimenta-se de insetos voadores de pequeno a médio porte, como himenópteros (apídeos [Apidae], meliponíneos [Meliponinae], formicídeos [Formicidae]), coleópteros, homópteros (fulgorídeos [Fulgoridae]), heterópteros, ortópteros, isópteros, dípteros.[15][18]

Conservação

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Ilustração do urubuzinho de 1841 feita por William John Swainson

O urubuzinho tem um alcance extremamente grande e sua apresenta tendência populacional crescente. A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) classifica-o como sendo de menor preocupação (LC), pois ocorre numa distribuição extremamente grande e não se aproxima dos limiares para Vulnerável sob o critério de tamanho de distribuição (segundo a IUCN, extensão de ocorrência < 20 mil quilômetros quadrados combinada com um tamanho de distribuição decrescente ou flutuante, extensão/qualidade do habitat ou tamanho populacional e um pequeno número de locais ou fragmentação severa). Sabe-se que suas populações estão em tendência decrescente, mas o declínio não é suficientemente rápido para se aproximar dos limiares para vulnerável (> 30% de declínio ao longo de dez anos ou três gerações) e sua população é muito grande, o que igualmente descaracteriza a classificação como vulnerável (< 10 mil indivíduos maduros com um declínio contínuo estimado em > 10% em dez anos ou três gerações, ou com uma estrutura populacional especificada).[1]

No Brasil, o urubuzinho é comum no Amazonas, Pará e Mato Grosso, mas incomum em Rondônia. Sua subespécie no leste do país precisa ser monitorada para determinar seu estado de conservação.[2] Em 2005, o urubuzinho foi classificado como vulnerável na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo;[19] em 2014, como em criticamente em perigo no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo;[20] e em 2018, como pouco preocupante na Lista Vermelha do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)[21][22] e em perigo na Lista das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no Estado do Rio de Janeiro.[23] Em 2021, foi mencionado na Lista de Aves do Ceará.[24]

Áreas de conservação

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No Brasil, o urubuzinho está presente em várias áreas de conservação:[2]

Área de Proteção Ambiental (APA)
Estação Ecológica (ESEC)
Floresta Nacional (Flona)
Parque Nacional (PARNA)
Reserva Biológica (Rebio)
Reserva Extrativista (Resex)
Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS)
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN)
Parque Estadual (PE)
Floresta Estadual (FES)
Estação Particular
Terras Indígenas

Referências

  1. a b c d BirdLife International (2016). «Swallow-winged Puffbird Chelidoptera tenebrosa». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2016. Consultado em 12 de novembro de 2021 
  2. a b c d e f Silveira, Luís Fábio; Lopes, Edson Varga; da Costa, Thiago Vernaschi Vieira (2023). «Chelidoptera tenebrosa (Pallas, 1782)». Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (SALVE), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). doi:10.37002/salve.ficha.29757. Consultado em 3 de junho de 2025. Cópia arquivada em 3 de maio de 2025 
  3. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 171. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de abril de 2022 
  4. «Urubuzinho - Michaelis On-line». Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Cópia arquivada em 27 de janeiro de 2025 
  5. Jobling, J A. (2010). «Chelidoptera, p. 100, tenebrosa, p. 381». Helm Dictionary of Scientific Bird Names. Londres: Bloomsbury Publishing. pp. 1–432. ISBN 9781408133262 
  6. Ferreira, A. B. H. (1986). Novo Dicionário da Língua Portuguesa 2.ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. p. 1743 
  7. Grande Dicionário Houaiss, verbete urubu
  8. Grande Dicionário Houaiss, verbete tapera
  9. Grande Dicionário Houaiss, verbete tatera
  10. Remsen, J. V., Jr.; Areta, J. I.; Bonaccorso, E.; Claramunt, S.; Jaramillo, A.; Lane, D. F.; Pacheco, J. F.; Robbins, M. B.; Stiles, F. G.; Zimmer, K. J. «A classification of the bird species of South America». American Ornithological Society. Cópia arquivada em 4 de abril de 2022 
  11. Gill, Frank; Donsker, David; Rasmussen, Pamela, eds. (agosto de 2024). «Jacamars, puffbirds, barbets, toucans, honeyguides». IOC World Bird List. 15.1. Consultado em 1 de junho de 2025. Cópia arquivada em 9 de maio de 2025 
  12. Clements, J. F.; Schulenberg, T. S.; Iliff, M. J.; Roberson, D.; Fredericks, T. A.; Sullivan, B. L.; Wood, C. L. (2018). The eBird/Clements checklist of birds of the world. Ítaca, Nova Iorque: Laboratório Cornell de Ornitologia 
  13. «Chelidoptera tenebrosa (Pallas, 1782)». Avibase. Consultado em 8 de julho de 2022. Cópia arquivada em 5 de janeiro de 2022 
  14. Dickinson, E. C.; Remsen, J. V. (2013). The Howard and Moore Complete Checklist of the Birds of the World. 1 4 ed. Eastbourne, UK: Aves Press 
  15. a b c d e f Rasmussen, P. C.; Collar, N. (2020). «Swallow-winged Puffbird (Chelidoptera tenebrosa. In: J. del Hoyo; A. Elliott; J. Sargatal; D. A. Christie; E. de Juana. Birds of the World (em inglês). Ítaca, Nova Iorque: Laboratório Cornel de Ornitologia. doi:10.2173/bow.swwpuf1.01. Consultado em 8 de julho de 2022 
  16. van Perlo, Ber (2009). A Field Guide to the Birds of Brazil (em inglês). Oxônia: Imprensa da Universidade de Oxônia. ISBN 9780199745654 
  17. a b Sick, Helmut (1997). Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. pp. 485, 489. ISBN 85-209-0816-0 
  18. «Swallow-winged Puffbird (Chelidoptera tenebrosa (em inglês). Planet of Birds. 8 de junho de 2011. Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2021 
  19. «Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo». Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), Governo do Estado do Espírito Santo. Consultado em 7 de julho de 2022. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022 
  20. Bressan, Paulo Magalhães; Kierulff, Maria Cecília Martins; Sugleda, Angélica Midori (2009). Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo - Vertebrados (PDF). São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SIMA - SP), Fundação Parque Zoológico de São Paulo. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 25 de janeiro de 2022 
  21. «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018 
  22. «Chelidoptera tenebrosa». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 8 de julho de 2022. Cópia arquivada em 8 de julho de 2022 
  23. «Texto publicado no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro contendo a listagem das 257 espécies» (PDF). Rio de Janeiro: Governo do Estado do Rio de Janeiro. 2018. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 2 de maio de 2022 
  24. Girão-e-Silva, W. A.; Crozariol, M. A. (2021). Lista de Aves do Ceará. Fortaleza: Secretaria do Meio Ambiente do Ceará. Consultado em 11 de maio de 2025. Cópia arquivada em 12 de dezembro de 2023