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Macaco-prego-amarelo: diferenças entre revisões

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==Uso de Ferramentas e Cultura==
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Cientistas constataram nesta espécie, em natureza, o uso de ferramentas do sistema "martelo e bigorna" (uma rocha maior como base, e uma menor, com a qual ele bate contra algum tipo de alimento sobre a "bigorna" que precise ser quebrado).
Cientistas constataram nesta espécie, em várias populações selvagens, o uso de ferramentas percussiva de pedra ("martelo e bigorna", uma superfície plana e dura como base, e uma pedra solta, com a qual o macaco bate contra algum tipo de alimento que necessite ser quebrado sobre a "bigorna").
Após essa constatação percebeu-se que a espécie se encaixa no modelo teórico tripartite de desenvolvimento de cultura do bioantropólogo holandês [[Carel van Schaik]], da [[Universidade Duke]] (Estados Unidos). Isso faz com que o ''Sapajus libidinosus'' entre para a lista dos poucos animais com capacidade de desenvolver cultura. <ref>http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/genio_da_selva.html</ref>
Após essa constatação percebeu-se que a espécie se encaixa no modelo teórico tripartite de desenvolvimento de cultura do bioantropólogo holandês [[Carel van Schaik]], da [[Universidade Duke]] (Estados Unidos). Isso faz com que o ''Sapajus libidinosus'' entre para a lista dos poucos animais com capacidade de desenvolver cultura. <ref>http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/genio_da_selva.html</ref>


Algumas populações dessa espécie podem apresentar um comportamento de uso de ferramentas bem mais complexo. Os grupos que vivem no [[Parque Nacional Serra da Capivara]] é a única população conhecida de macacos-prego que habitualmente usa ferramentas de pedra e de madeira para obter alimento, além de usar esses objetos também para comunicação e ameaças<ref>{{Citar periódico|ultimo=Mannu|primeiro=Massimo|ultimo2=Ottoni|primeiro2=Eduardo B.|data=2009-03-01|titulo=The enhanced tool-kit of two groups of wild bearded capuchin monkeys in the Caatinga: tool making, associative use, and secondary tools|jornal=American Journal of Primatology|volume=71|numero=3|paginas=242–251|issn=1098-2345|doi=10.1002/ajp.20642|url=http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ajp.20642/abstract|idioma=en}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Falótico|primeiro=Tiago|ultimo2=Ottoni|primeiro2=Eduardo B.|data=2013-11-21|titulo=Stone Throwing as a Sexual Display in Wild Female Bearded Capuchin Monkeys, Sapajus libidinosus|jornal=PLOS ONE|volume=8|numero=11|paginas=e79535|issn=1932-6203|pmid=24278147|doi=10.1371/journal.pone.0079535|url=http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0079535}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Falótico|primeiro=Tiago|ultimo2=Ottoni|primeiro2=Eduardo B.|data=2014-10-01|titulo=Sexual bias in probe tool manufacture and use by wild bearded capuchin monkeys|jornal=Behavioural Processes|volume=108|paginas=117–122|doi=10.1016/j.beproc.2014.09.036|url=http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0376635714002411}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Falótico|primeiro=Tiago|ultimo2=Ottoni|primeiro2=Eduardo B.|data=2016-04-21|titulo=The manifold use of pounding stone tools by wild capuchin monkeys of Serra da Capivara National Park, Brazil|jornal=Behaviour|volume=153|numero=4|paginas=421–442|issn=1568-539X|doi=10.1163/1568539X-00003357|url=http://booksandjournals.brillonline.com/content/journals/10.1163/1568539x-00003357}}</ref>. Apesar de macacos de outras populações usarem habitualmente ferramentas de pedra<ref>{{Citar periódico|ultimo=Ottoni|primeiro=Eduardo B.|ultimo2=Izar|primeiro2=Patrícia|data=2008-07-01|titulo=Capuchin monkey tool use: Overview and implications|jornal=Evolutionary Anthropology: Issues, News, and Reviews|volume=17|numero=4|paginas=171–178|issn=1520-6505|doi=10.1002/evan.20185|url=http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/evan.20185/abstract|idioma=en}}</ref>, geralmente eles só as usam para uma finalidade (p.ex. quebrar cocos<ref>{{Citar periódico|ultimo=Visalberghi|primeiro=E.|ultimo2=Fragaszy|primeiro2=D.|ultimo3=Ottoni|primeiro3=E.|ultimo4=Izar|primeiro4=P.|ultimo5=de Oliveira|primeiro5=M.g.|ultimo6=Andrade|primeiro6=F.r.d.|data=2007-03-01|titulo=Characteristics of hammer stones and anvils used by wild bearded capuchin monkeys (Cebus libidinosus) to crack open palm nuts|jornal=American Journal of Physical Anthropology|volume=132|numero=3|paginas=426–444|issn=1096-8644|doi=10.1002/ajpa.20546|url=http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ajpa.20546/abstract|idioma=en}}</ref>), não tendo nenhuma outra população a variedade e complexidade dos macacos-rprego da Serra da Capivara no comportamento de usar ferramentas. Estudos arqueológicos sobre o uso de pedras pelos macacos-prego do parque revelaram que esse comportamento ocorre a, pelo menos, 700 anos<ref>{{Citar periódico|ultimo=Haslam|primeiro=Michael|ultimo2=Luncz|primeiro2=Lydia V.|ultimo3=Staff|primeiro3=Richard A.|ultimo4=Bradshaw|primeiro4=Fiona|ultimo5=Ottoni|primeiro5=Eduardo B.|ultimo6=Falótico|primeiro6=Tiago|titulo=Pre-Columbian monkey tools|jornal=Current Biology|volume=26|numero=13|paginas=R521–R522|doi=10.1016/j.cub.2016.05.046|url=http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0960982216305413}}</ref>.
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Revisão das 20h49min de 30 de janeiro de 2017

Como ler uma infocaixa de taxonomiaSapajus libidinosus
Fêmea adulta e juvenil no Parque Nacional da Serra da Capivara
Fêmea adulta e juvenil no Parque Nacional da Serra da Capivara
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Primates
Família: Cebidae
Género: Sapajus
Espécie: S. libidinosus
Nome binomial
Sapajus libidinosus
(Spix, 1823)
Distribuição geográfica
Mapa de distribuição
Mapa de distribuição

Sapajus libidinosus é uma espécie de macaco-prego, um macaco do Novo Mundo da família Cebidae e gênero Sapajus. Faz parte do complexo específico Cebus apella, e já foi considerado uma subespécie de Cebus apella. Considerado como espécie propriamente dita por Groves (2001) com as seguintes subespécies:[2]

Pela classificação de Silva Jr (2001), a subespécie C. l. paraguayanus corresponde a Sapajus cay, e Sapajus libidinosus é monotípico.[3] A espécie foi incluída no gênero Sapajus baseado no trabalho de Lynch Alfaro et al (2012).[4] Tem sua distribuição geográfica limitada a leste com Sapajus flavius, a oeste por Sapajus apella, a sul do rio São Francisco por Sapajus xanthosternos e a sul do rio Grande por Sapajus nigritus e ocorre hibridização com essa espécie no Triângulo Mineiro.[5]

Ocorrem no Brasil central e nordeste, a oeste e norte do rio São Francisco, e leste do rio Araguaia, ocorrendo nos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, leste e centro do Rio Grande do Norte (oeste de Jucurutu), noroeste da Paraíba e oeste de Pernambuco e Alagoas. Ocorre em Minas Gerais, ao norte do rio Grande[5] e partes do leste da Bolívia. É típico das formações xeromorfas, como a Caatinga e o Cerrado até 600 m acima do nível do mar. Ocorre nas florestas de galeria e nos brejos de altitude.[5]

Possui entre 34 e 44 cm de comprimento, com a cauda tendo entre 38 e 49 cm; pesam entre 1,3 e 4,8 kg.[5] S. libidinosus possui pouco dimorfismo sexual. A coloração tende a uma amarelo ou bege, com os membros de cor escura tendendo ao preto, assim como o topete, que possui forma espessa.[5]

Macho adulto.

Se alimentam principalmente de insetos e frutos, como os de palmeiras. Esses animais utilizam pedras para se alimentar de cocos,[6] e as populações da Caatinga utilizam ferramentas frequentemente para obter alimento e água.[7] De fato, são os únicos macacos do Novo Mundo que utilizam ferramentas espontaneamente em ambiente natural para quebrar cocos.[6] São animais diurnos e passam a maior parte do tempo forrageando e se deslocando pelo território, que tem cerca de 300 hectares.[5] Os grupos têm engeralmente nove indivíduos, mas já foi relatado um grupo com até 53 animais, no oeste do Rio Grande do Norte. Os grupos são bastante coesos e as fêmeas possuem um forte sistema hierárquico.[5] São geralmente arborícolas, mas as populações de regiões mais abertas frequentemente adotam hábitos terrestre.[5] A reprodução é muito similar as outras espécies de macacos-pregos, mas são necessário mais estudos. As fêmeas possuem um comportamento sexual proceptivo, e os machos não costumam utilizar de métodos coercitivos para conseguir cópulas.[5]

A espécie é lista como "pouco preocupante" pela IUCN, principalmente, devido à sua ampla distribuição geográfica, embora seu hábitat esteja em acelerado processo de desmatamento, e é necessário um monitoramento mais refinado de suas populações.[1] É, também, caçado ao longo de toda sua área de ocorrência.[5] Ocorre em muitas unidades de conservação no Brasil, como o Parque Nacional da Serra da Capivara.[1]

Uso de Ferramentas e Cultura

Cientistas constataram nesta espécie, em várias populações selvagens, o uso de ferramentas percussiva de pedra ("martelo e bigorna", uma superfície plana e dura como base, e uma pedra solta, com a qual o macaco bate contra algum tipo de alimento que necessite ser quebrado sobre a "bigorna"). Após essa constatação percebeu-se que a espécie se encaixa no modelo teórico tripartite de desenvolvimento de cultura do bioantropólogo holandês Carel van Schaik, da Universidade Duke (Estados Unidos). Isso faz com que o Sapajus libidinosus entre para a lista dos poucos animais com capacidade de desenvolver cultura. [8]

Algumas populações dessa espécie podem apresentar um comportamento de uso de ferramentas bem mais complexo. Os grupos que vivem no Parque Nacional Serra da Capivara é a única população conhecida de macacos-prego que habitualmente usa ferramentas de pedra e de madeira para obter alimento, além de usar esses objetos também para comunicação e ameaças[9][10][11][12]. Apesar de macacos de outras populações usarem habitualmente ferramentas de pedra[13], geralmente eles só as usam para uma finalidade (p.ex. quebrar cocos[14]), não tendo nenhuma outra população a variedade e complexidade dos macacos-rprego da Serra da Capivara no comportamento de usar ferramentas. Estudos arqueológicos sobre o uso de pedras pelos macacos-prego do parque revelaram que esse comportamento ocorre a, pelo menos, 700 anos[15].

Referências

  1. a b c Rylands, A.B. & Kierulff, M.C.M. (2008). Cebus libidinosus (em inglês). IUCN 2013. Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. 2013. Página visitada em 12 de julho de 2013..
  2. Groves, C.P. (2005). Wilson, D. E.; Reeder, D. M, eds. Mammal Species of the World 3.ª ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press. pp. 136–138. ISBN 978-0-8018-8221-0. OCLC 62265494 
  3. Fragaszy, D.M.; Visalberghi, E. (2004). «Taxonomy, distribution and conservation: where and what are they and how did they get there?». The Complete Capuchin: The Biology of the Genus Cebus. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 13–36. ISBN 9780521667685 
  4. Lynch Alfaro, J.; Silva Jr, J. S.; Rylands, A. B. (2012). «How Different Are Robust and Gracile Capuchin Monkeys? An Argument for the Use of Sapajus and Cebus». American Journal of Primatology. 74 (4): 273-286. doi:10.1002/ajp.22007 
  5. a b c d e f g h i j Anthony B. Rylands, Russell A. Mittermeier, Bruna M. Bezerra, Fernanda P. Paim & Helder L. Queiroz (2013). «Family Cebidae (Squirrel Monkeys and Capuchins)». In: Mittermeier, R.; Rylands, A.B.; Wilson, D. E. Handbook of the Mammals of the World - Volume 3. Barcelona: Lynx. 952 páginas. ISBN 978-84-96553-89-7  Texto "capítulo" ignorado (ajuda)
  6. a b Fragaszy, D.; Izar, P.; Visalberghi, E.; Ottoni, E.B.; de Oliveira, M. G. (2004). «Wild capuchin monkeys (Cebus libidinosus) use anvils and stone pounding tools». American Journal of Primatology. 64 (4): 359-366 
  7. Ottoni, E. B.; Izar, P. (2008). «Capuchin monkey tool use: Overview and implications». Evolutionary Anthropology. 17 (4): 171-178 
  8. http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/genio_da_selva.html
  9. Mannu, Massimo; Ottoni, Eduardo B. (1 de março de 2009). «The enhanced tool-kit of two groups of wild bearded capuchin monkeys in the Caatinga: tool making, associative use, and secondary tools». American Journal of Primatology (em inglês). 71 (3): 242–251. ISSN 1098-2345. doi:10.1002/ajp.20642 
  10. Falótico, Tiago; Ottoni, Eduardo B. (21 de novembro de 2013). «Stone Throwing as a Sexual Display in Wild Female Bearded Capuchin Monkeys, Sapajus libidinosus». PLOS ONE. 8 (11): e79535. ISSN 1932-6203. PMID 24278147. doi:10.1371/journal.pone.0079535 
  11. Falótico, Tiago; Ottoni, Eduardo B. (1 de outubro de 2014). «Sexual bias in probe tool manufacture and use by wild bearded capuchin monkeys». Behavioural Processes. 108: 117–122. doi:10.1016/j.beproc.2014.09.036 
  12. Falótico, Tiago; Ottoni, Eduardo B. (21 de abril de 2016). «The manifold use of pounding stone tools by wild capuchin monkeys of Serra da Capivara National Park, Brazil». Behaviour. 153 (4): 421–442. ISSN 1568-539X. doi:10.1163/1568539X-00003357 
  13. Ottoni, Eduardo B.; Izar, Patrícia (1 de julho de 2008). «Capuchin monkey tool use: Overview and implications». Evolutionary Anthropology: Issues, News, and Reviews (em inglês). 17 (4): 171–178. ISSN 1520-6505. doi:10.1002/evan.20185 
  14. Visalberghi, E.; Fragaszy, D.; Ottoni, E.; Izar, P.; de Oliveira, M.g.; Andrade, F.r.d. (1 de março de 2007). «Characteristics of hammer stones and anvils used by wild bearded capuchin monkeys (Cebus libidinosus) to crack open palm nuts». American Journal of Physical Anthropology (em inglês). 132 (3): 426–444. ISSN 1096-8644. doi:10.1002/ajpa.20546 
  15. Haslam, Michael; Luncz, Lydia V.; Staff, Richard A.; Bradshaw, Fiona; Ottoni, Eduardo B.; Falótico, Tiago. «Pre-Columbian monkey tools». Current Biology. 26 (13): R521–R522. doi:10.1016/j.cub.2016.05.046 

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