Aparições de Cimbres

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Confrontada pelo Padre Kehrle sobre sua identidade, a aparição teria dito às videntes: "Eu sou a Graça", surpreendendo o padre pela profundidade teológica da resposta. Em virtude desta apresentação inicial, a Virgem Maria passou a ser venerada nos locais das aparições como Nossa Senhora das Graças (imagem acima).
Local das aparições: Sítio da Guarda, distrito de Cimbres, município de Pesqueira, estado dePernambuco, Brasil.

Aparições de Cimbres são o conjunto de aparições marianas ocorridas em 1936 e 1937 no distrito de Cimbres,[1][2] pertencente ao município pernambucano de Pesqueira, Brasil.

Contexto e cronologia geral das aparições[editar | editar código-fonte]

Cimbres, distante alguns quilômetros da sede do município de Pesqueira, era, à época, uma comunidade pobre, habitada em sua quase totalidade pelo indígenas Xucurus, que cultivavam a terra e praticavam o extrativismo vegetal para subsistência. Toda a região era palco de intensos conflitos entre a população local e grupos de cangaceiros, alguns dos quais se destacavam pela extrema violência por que agiam, não sendo raros os relatos de assassinatos e estupros praticados pelos integrantes dessas organizações.

Neste contexto, inúmeras famílias (em especial aquelas com filhas adolescentes, temerosas de que as meninas fossem alvo de violação sexual) refugiavam-se nas caatingas próximas, não sendo incomuns que permanecessem escondidas por dias a fio, até que seu retorno à casa pudesse ser feito com segurança. Uma das famílias a usar deste artifício foi a de Maria da Luz Teixeira, a qual, durante o mês de maio de 1936, permaneceu refugiada em uma mata próxima ao lugar das aparições por alguns dias. A matriarca da família, Dona Auta Monteiro Teixeira, não pudera ir esconder-se, por estar em avançado estado de gravidez, em dias de dar a luz. De fato, pouco após a saída da família para refúgio na caatinga, Auta começou a sentir as contrações do parto, e, sozinha, concebeu a um menino, que chamou Lígio.

Percebendo que a criança era fraca, e que provavelmente não viveria muito, ela teria dito ao filho que, caso morresse, pedisse à Virgem Maria que volvesse os olhos para a gente daquelas terras, para que assim não sofressem tanto quanto padeceram naquele tempo. Os temores da matriarca acabaram por se concretizar, e o filho Lígio veio a falecer pouco tempo depois, evento que é frequentemente apontado como marco teológico dos eventos marianos que se desvelariam poucos meses mais tarde; as aparições. O fato de as aparições estarem relacionadas ao pedido de uma mãe em desespero pela perda de um filho são frequentemente apontadas como fio de ligação entre os fatos sobrenaturais que ocorreram ali e aqueles de La Salette, como se desenvolverá posteriormente.

Resumo[editar | editar código-fonte]

Segundo crê-se, a Virgem Maria teria aparecido a duas videntes, Maria da Luz (que, posteriormente, adotou o nome Adélia por ocasião de sua entrada na vida religiosa) e Maria da Conceição, que, à época dos fatos, eram adolescentes pobres e de pouca instrução. Estes eventos tornaram-se célebres pelo rigor com os quais foram apurados pelo Padre Joseph Kehrle (a comunicação era escrita em latim e alemão e transmitida por crianças analfabetas), bem como pelo conteúdo da mensagem que a Virgem Maria teria transmitido às videntes, alertando-as acerca da iminência do flagelo do comunismo, com o qual o Brasil seria mortalmente castigado.[3]

Dizei: quem sois e que quereis?

«Sou a Mãe da Graça e venho avisar ao povo que se aproximam três grandes castigos.» 

Que é necessário fazer para desviar os castigos?

Penitência e oração. 

Qual a invocação desta aparição?

Das Graças. 

Que significa o sangue que corre das vossas mãos?

O sangue que inundará o Brasil. 

Virá o comunismo a penetrar no Brasil?

Sim. 

Em todo o País?

Sim. 

Os padres e os bispos sofrerão muito?

Sim. 

Será como na Espanha?*

Quase. 

Quais as devoções que se devem praticar para afastar esses males? 

Ao coração de Jesus e a mim. 

Esta aparição é a repetição de La Salette?

Sim.

*Nota: a Guerra Civil Espanhola começou no mês anterior, em 17 de julho de 1936.

Interpretação[editar | editar código-fonte]

O general brasileiro Sérgio Avellar Coutinho lembra que, um ano antes da aparição, a Insurreição Comunista Brasileira de 1935 já havia ocorrido.[4] Um artigo de revista lembra que o líder da teologia da libertação, o cearense apelidado de arcebispo vermelho, Hélder Câmara, atuou em Recife, e o pedagogo comunista Paulo Freire nessa capital nasceu, e que o presidente comunista Lula é de Garanhuns, de modo que uma aparição sobre o perigo do comunismo no Brasil tem uma forte razão para acontecer em Pernambuco.[5]

Reconhecimento eclesiástico[editar | editar código-fonte]

Embora tenham, a princípio, sido encaradas com descrédito por autoridades eclesiais[6], as aparições tornaram-se paulatinamente aceitas como dignas de fé pela igreja, que reconheceu, em 2021, o caráter sobrenatural dos eventos ocorridos em Cimbres[7]. Paralelamente, foi instaurado o processo de beatificação de uma das videntes[8], Irmã Adélia, o que corrobora a anuência da igreja com a devoção à Virgem Maria sobre a designação de Nossa Senhora da Graça de Cimbres.

Difusão dos relatos[editar | editar código-fonte]

Originalmente restrita à região circunvizinha à cidade de Pesqueira, de onde afluíam a maioria dos peregrinos do santuário que lá se ergueu[1], a mensagem das aparições tem, em tempos modernos, sido difundida por todo o Brasil, em especial por iniciativa de padres como Padre Paulo Ricardo,[9] do escritor Olavo de Carvalho,[10] da atriz Cássia Kis,[11] da historiadora Ana Lígia Lira, bem como da sobrinha-neta de irmã Adélia, a engenheira Auta Maria Monteiro de Carvalho, através de seu livro O Encontro – Nossa Senhora e Irmã Adélia. [12][13]

Histórico de manifestações marianas anteriores às aparições[editar | editar código-fonte]

A região de Cimbres, palco das aparições de que trata esse artigo, possui uma prolífica história de devoções marianas e acontecimentos tidos como sobrenaturais associados à Virgem Maria. Estando no interior do território dos índios Xucuru, o povoamento da vila está intimamente relacionado ao aldeamento das comunidades indígenas do local por iniciativa dos padres oratorianos, ainda em inícios do século XVII. Segundo a tradição, moradores da região teriam encontrado uma imagem de Nossa Senhora sobre um tronco de árvore, num lugar remoto e de difícil acesso, tendo-a retirado do local e levado à presença dos padres da vila, que a tomaram para si.

Conforme relatos da época, ao acordarem, os padres não puderam encontrar a imagem que lhes havia sido trazida, e passaram a procurá-la, suspeitando que alguém a pudesse ter roubado. Após buscas, encontraram-na no exato tronco onde havia sido achada no dia anterior, e, mais uma vez, a levaram consigo. No dia seguinte, a estátua havia novamente sumido, e, desta vez, os padres rumaram diretamente ao tronco do dia anterior, onde, uma vez mais, a encontraram.

Convencidos de que tais eventos haviam sido divinos em sua origem, os padre oratorianos ergueram no local de encontro da imagem uma capela, cujo altar encontrava-se à mesma local e altura do tronco sobre o qual a estátua apareceu. A Virgem entronizada na capela passou a ser conhecida como Nossa Senhora das Montanhas, dada a topografia acidentada do sítio de seu encontro, sendo alvo de especial devoção dos indígenas Xucuru até os dias de hoje, os quais a designam "Mãe Tamaim".~

Turismo[editar | editar código-fonte]

O lugar das aparições é agora um popular destino turístico.

Obras referenciais[editar | editar código-fonte]

  • O Diário do Silêncio - O Alerta da Virgem Maria Contra o Comunismo no Brasil: o Alerta da Virgem Maria Contra o Comunismo no Brasil. Ecclesiae. ISBN 8584911049[14]
  • Eu sou a Graça - As Aparições de Nossa Senhora das Graças em Pernambuco. Ecclesiae. ISBN 8584910344
  • Aparições e milagres de Nossa Senhora em Cimbres: Entre a fé e as ciências. Novas Edições Acadêmicas. ISBN 6139603056[15]
  • O inquisidor de Cimbres: A história do padre que recebia flores de Nossa Senhora. Apascentar. ISBN 6599552528

Referências

  1. a b G1. Viana, G. Santuário de Cimbres é um dos pontos turísticos mais visitados de Pesqueira; veja fotos. Disponível em: <https://g1.globo.com/pe/caruaru-regiao/noticia/2021/11/12/santuario-de-cimbres-e-um-dos-pontos-turisticos-mais-visitados-de-pesqueira-veja-fotos.ghtml>. Acesso em 20 out. 2022
  2. Santos, Magno Francisco de Jesus (20 de dezembro de 2019). «No silêncio da clausura: videntes de aparições marianas no Brasil (1928-1937)». Revista Diálogo Educacional (63): 1397–1417. ISSN 1981-416X. doi:10.7213/1981-416X.19.063.DS04. Consultado em 2 de março de 2023 
  3. Central, Redação; Cimbres, 11 Out 22 / 03:56 pm-Uma reportagem publicada em 6 de outubro pelo site UOL se refere às aparições de Nossa Senhora em; Pesqueira, distrito de; Lira, como “lenda” O. fato foi classificado como “uma falta de respeito” pela pesquisadora Ana Lígia; Lira, autora de um livro sobre as aparições marianas já reconhecidas pelo bispo local Segundo; Cimbres, em; novela ‘Travessia’, Nossa Senhora deixou “uma mensagem muito clara Ela diz que se o comunismo entrar no Brasil correrá um mar de sangue” A. reportagem “‘Brasil vai derramar sangue’? Conheça a profecia citada por Cássia Kis” abordou uma declaração dada pela atriz no dia 4 de outubro Durante coletiva de imprensa de lançamento da; C, Ela Defendeu O. Presidente E.; Kis, idato à reeleição Jair Bolsonaro Cássia. «Reportagem fala de aparição de Nossa Senhora em Cimbres como 'lenda': falta de respeito, diz pesquisadora». www.acidigital.com. Consultado em 21 de dezembro de 2022 
  4. Coutinho, Sergio Augusto de Avellar (2002). A revolução Gramscista no ocidente : a concepção revolucionária de Antônio Gramsci em os cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Ombro A ombro. OCLC 55917763 
  5. null. «O tamanho do engodo: Lula, que defende o aborto, é bom católico | Bruna Frascolla». Gazeta do Povo. Consultado em 25 de dezembro de 2022 
  6. QUERETTE, L. L. Onde o céu encontra a terra: Um Estudo Antropológico do Santuário de Nossa Senhora da Graça na Aldeia Guarda, em Cimbres (Pesqueira – PE.). Disponível em <https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/937/1/arquivo4691_1.pdf>. Acesso em 20 out. 2022.
  7. G1. Sampaio, M; Aguiar, P. Igreja admite que Irmã Adélia pode ter visto Nossa Senhora da Graça; saiba quem foi a religiosa pernambucana. Disponível em <https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2021/10/13/igreja-admite-que-irma-adelia-pode-ter-visto-nossa-senhora-das-gracas-saiba-quem-foi-a-religiosa-pernambucana.ghtml>. Acesso em 20 out. 2022.
  8. G1 PE. Irmã Adélia ganha memorial no Recife e pode se tornar a primeira santa nascida em Pernambuco. Disponível em: <https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2019/10/13/irma-adelia-ganha-memorial-no-recife-e-pode-se-tornar-a-primeira-santa-nascida-em-pernambuco.ghtml>. Acesso em 20 out. 2022.
  9. Padre Paulo Ricardo. O alerta de Maria para o Brasil. Disponível em <https://padrepauloricardo.org/episodios/o-alerta-de-maria-para-o-brasil>. Acesso em 20 out. 2022.
  10. Twitter, 2020: https://twitter.com/opropriolavo/status/1291688111605452800
  11. Minas, Estado de; Minas, Estado de (9 de outubro de 2022). «Cássia Kis pede oração contra 'ameaça comunista' em vídeo». Estado de Minas. Consultado em 29 de dezembro de 2022 
  12. «Auta Maria Monteiro de Carvalho». ATL. Consultado em 17 de dezembro de 2022 
  13. «As Videntes». N. Sra Da Graça Brasil. Consultado em 17 de dezembro de 2022 
  14. Lira, Ana Lígia (2018). O diário do silêncio : o alerto da Virgem Maria contra comunismo no Brasil. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, Gabriel Vila Verde 4a edição ed. Campinas, SP: [s.n.] OCLC 1125325630 
  15. Aguiar, Múcio (2018). Aparições e milagres de Nossa Senhora em Cimbres Entre a fé e as ciências 1. Auflage ed. Saarbrücken: [s.n.] OCLC 1187489225