Atanarico

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Atanarico
Rei dos tervíngios

Retrato de Atanarico segundo o livro de 1782 Retratos dos Reis de Espanha desde Atanarico até nosso monarca católico Dom Carlos III
Reinado 365 - 376/381
Consorte ?
Antecessor(a) Aorico
Sucessor(a) Alavivo
Nascimento ?
Morte 25 de janeiro de 381
  Constantinopla
Dinastia dos Baltos
Pai Aorico
Mãe ?
Soldo de Teodósio I (r. 378–390)

Atanarico (em gótico Aþanareiks; em latim: Athanaricus) ou Haitanarico (Haitanaricus; m. 25 de janeiro de 381) foi um chefe tervíngio (juiz) do século IV, filho de Aorico, que por 11 anos (365–376/381) desempenhou a função de chefe deste ramo dos godos.[1] Aparece pela primeira vez na década de 360, quando aliou-se com o usurpador romano Procópio (r. 365–366) e lutou contra o imperador Valente (r. 364–378). Na década seguinte, promoveu a segunda perseguição gótica aos cristãos e entrou em confronto com Fritigerno, um aristocrata tervíngio rival. Após vencer seu rival, preparou a defesa contra uma grande invasão huna, porém foi mal-sucedida, causando a deserção de seu povo para Fritigerno e Alavivo. Ele refugiou-se na Caucalândia pelos próximos anos e em 381 visitou Constantinopla, onde viria a falecer em 25 de janeiro.

Biografia

Atanarico era filho do chefe Aorico.[2] Ele aparece pela primeira vez na década de 360, quando apoio o usurpador Procópio (r. 365–366) contra o imperador romano Valente (r. 364–378). A despeito das derrotas sofridas e a devastação do território godo, Atanarico manteve-se contrário ao imperador, que à época enfrentava a ameaça sassânida de Sapor II (r. 309–379). Em 369, Valente conseguiu derrotá-lo, porém, apesar disso, a paz subsequente foi favorável aos tervíngios que deixaram de pagar tributo aos romanos.[3]

O governo de Atanarico como chefe dos tervíngios esteve limitado no tempo e teve que ser renovado periodicamente desde 365.[4] Aparentemente, sua liderança apaziguou as aristocracias tervíngia e romana, embora não impediu que Fritigerno ascendesse como seu rival. Para conseguir o apoio de Valente, Fritigerno converteu-se ao cristianismo ariano.[2] Durante os séculos III-IV, muitos tervíngios converteram-se ao arianismo, mas Atanarico manteve-se fiel a antiga religião pagã dos germanos, pois considerava que o cristianismo sufocaria as tradições góticas.[4] Entre 369-372, Atanarico iniciou a perseguição dos godos cristãos. Segundo Sozomeno, ele nomeou Vingurico para erradicar o cristianismo e no processo 308 cristãos foram mortos.[5]

No começo dos anos 370, em alguma momento entre 372 e 375/376, Atanarico lutou contra Fritigerno em uma guerra civil na qual saiu vitorioso. Depois disso, preparou suas defesas contra os invasores hunos.[6] No verão de 376, Atanarico liderou um forte exército da Moldávia através da Bessarábia para a margem ocidental do Dniestre. Ele pretendia contê-los, porém suas medidas defensivas mostraram-se ineficientes, causando a derrota frente aos invasores.[7] Isso levou a devastação do território gótico e o fim da instituição de chefe. A maioria dos tervíngios desertaram Atanarico e dirigiram-se para Fritigerno e Alavivo, que receberam naquela ano permissão para adentrarem os territórios imperiais.[8][9]

Os tervíngios que permaneceram fieis a Atanarico se refugiaram junto a ele na Caucalândia, nos Cárpatos. Ele provavelmente permaneceu na região até o final dos anos 370, quando marchou rumo ao Império Romano.[10] Em 11 de janeiro de 381, foi esplendorosamente recebido na capital imperial Constantinopla pelo imperador Teodósio I (r. 378–395). O imperador encontrou-se em pessoa com Atanarico nos portões da cidade, estando ele acompanhado do oficial Temístio, que em 369 havia firmado a paz com os tervíngios. Atanarico morreu em Constantinopla em 25 de janeiro.[1] Após sua morte, Teodósio I honrou-o com um sepultamento segundo os ritos romanos, numa demonstração de poder e esplendor. Em outubro de 382, o imperador firmou um importante tratado com os godos de Fritigerno, que falecera em 380, e Atanarico, permitindo que habitassem o império como federados.[11]

Ver também

Precedido por
Aorico
Rei dos tervíngios
365-376/381
Sucedido por
Alavivo

Referências

  1. a b Martindale 1971, p. 120.
  2. a b Wolfram 1990, p. 64.
  3. Frassetto 2003, p. 45.
  4. a b Wolfram 1990, p. 69.
  5. Sozomeno século V, 6.37.
  6. Wolfram 1990, p. 70.
  7. Wolfram 1990, p. 71-72.
  8. Frassetto 2003, p. 46.
  9. Wolfram 1990, p. 72.
  10. Wolfram 1990, p. 73.
  11. Wolfram 1990, p. 74.

Bibliografia

  • Frassetto, Michael (2003). Encyclopedia of barbarian Europe: society in transformation. [S.l.]: ABC-CLIO. ISBN 9781576072639 
  • Martindale, J. R.; A. H. M. Jones (1971). The Prosopography of the Later Roman Empire, Vol. I AD 260-395. [S.l.]: Cambridge University Press