Cine-Teatro Jandaia

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Cine-Teatro Jandaia
Cine-Teatro Jandaia
Fachada do Cine-Teatro Jandaia em Salvador no ano de 2018.
Estilo dominante art déco, art nouveau
Inauguração 1911
Proprietário inicial João Oliveira
Função inicial cinema, teatro
Proprietário atual Governo do Estado da Bahia
Função atual patrimônio histórico
Área 1 200 m² m²
Património nacional
Classificação Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia
Geografia
País  Brasil
Cidade Salvador, BA
Baixa do Sapateiro, Centro
Coordenadas 12° 58' 07" S 38° 30' 20" O

Cine-Teatro Jandaia foi um espaço cultural brasileiro que funcionou como sala de cinema e teatro, foi fundado no ano de 1911, e está localizado na Baixa dos Sapateiros na área central de Salvador, capital do estado da Bahia.[1][2]

Em 2010, o prédio recebeu o tombamento provisório junto ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), órgão estadual da Bahia que visa conservar o patrimônio histórico do estado da Bahia.[3][4] Posteriormente em 2013, o IPAC retirou os vitrais do cinema para garantir a preservação.[5] No ano de 2015, o órgão aprovou o tombamento em definitivo.[5][6]

História[editar | editar código-fonte]

O prédio do Cine-Teatro Jandaia foi inaugurado no ano de 1911.[1] Incialmente foi fundado pelo comerciante sergipano João Oliveira, que também era o dono da Panificadora Jandaia, num galpão na Baixa do Sapateiro com capacidade para quatrocentas pessoas, exibindo fitas de cinema mudo.[1][7] No ano de 1927, após uma série de interdições o Cine-Teatro foi fechado.[1][8]

Em 3 de julho de 1931, Oliveira inaugurou um prédio moderno e luxuoso, após reformas e ampliações, inspirado depois de Oliveira ter feito uma viagem à Europa. O novo cinema ocupou uma área de 1 200 metros quadrados, após a incorporação de oito casas vizinhas. À esta época era um cinema de elite, assim como o Guarany, Glória e Excelsior. A edificação possui elementos inspirados pela Art déco e a Art nouveau, vanguardas artísticas europeias que influenciaram a produção artística e arquitetônica do mundo todo.[1][3][9][10][11][12][13]

Após o falecimento de João Oliveira em 1933, a administração foi transferida para seu filho e o cinema começou a oferecer ingressos populares, com lugares localizados em uma parte da plateia conhecida como 'geral' que ficava acima dos camarotes e frisas. A entrada ao cinema para quem adquira estes ingressos a preços populares também era distinto, eles não entravam pela fachada principal, o acesso era realizado pela rua do Alvo.[13]

O cinema e teatro foi considerado uma das mais importantes casas de espetáculos do estado de Bahia.[9] Sendo um cinema de rua, principalmente na década de 1960, era reconhecido como o principal cinema de Salvador, recebendo também a denominação de "Palácio das Maravilhas". Foi o primeiro cinema do nordeste com equipamentos para exibir filmes sonoros.[9][14][15] Personalidades e artistas como Carmen Miranda, Bidu Sayão, Grande Otelo e Dalva de Oliveira já apresentaram-se no Cine-Teatro Jandaia.[16][17][18][19]

Século XXI[editar | editar código-fonte]

Seu declínio iniciou nos anos de 1960, com o ingresso das empresas multinacionais de cinema. Na década seguinte, a mudança do centro comercial para outras áreas, além da expansão dos shoppings centers, foi crucial para terminar seus anos de glamour. Com a decadência dos cinemas de rua, o Cine-Teatro Jandaia passou por um processo de falência, chegou a ser utilizado para exibir filmes pornôs e e de artes marciais para tentar sobreviver nos anos de 1990, mas depois entrou em total abandono.[1][20][21] O prédio encontra-se abandonado e extremamente degradado.[12][17][21]

No ano de 2014, o cinema foi doado ao Estado, transferindo a responsabilidade ao governo da Bahia.[21] No ato de doação, o então governador da Bahia, Rui Costa (PT), disse "a Bahia precisa de equipamentos culturais que aproximem a população da arte, por isso não podemos deixar um ícone para a nossa cultura, como foi o Cine Jandaia, ser destruído. Nosso objetivo é que o novo centro seja voltado para a promoção de artistas locais".[16][22]

No ano de 2018, cidadãos promoveram um 'abraçaço' promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) buscando a chamar a atenção da opinião pública para a importância do prédio para a sociedade baiana.[9]

Arquitetura[editar | editar código-fonte]

A edificação feita de concreto armado em sua estrutura, apresenta linhas simétricas e uma integração da arquitetura com sua decoração interior, como luminárias, móveis e desenho artístico de sua serralheria. Sua fachada em estilo art déco é repleta de janelas venezianas, com uma série de frisos verticais espaçados com um imenso vitral decorativo na parte central.[13][22][23]

O vitral de cinco metros de altura por três e meio de largura foi idealizado pelo fundador do Cine-Teatro Jandaia, João Oliveira, tendo uma figura feminina com uma ave jandaia.[13][22][23]

Em sua lateral esquerda encontra-se uma pequena torre, que dá uma verticalidade à sua fachada. Era desta torre que uma sirene era tocada para avisar os espectadores que as sessões estavam para começar. Em sua sala de projeção, o público com poder aquisitivo melhor concentrava-se na plateia enquanto os mais carentes acomodavam-se em uma área denominada "gerais". No piso térreo e no andar dos camarotes, encontram-se pilares metálicos.[13][22][23]

É possível identificar a influência de modelos clássicos da antiga Grécia em alguns elementos decorativos internos, como figuras mitológicas em seus painéis de gesso. É composto de uma decoração simples, com mármores de diferentes cores. O foyer possui revestimento de mármore rosa com molduras em mármore preto em suas paredes. Os camarotes foram elaborados com contornos circulares em metais. Seu forro em estuque possuía quatro rosáceas nos cantos com uma grande rosácea na parte central.[13][22][23]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f Amorim, Milena (23 de dezembro de 2016). «Proposta de Restauração do Cine Teatro Jandaia» (PDF). Universidade Federal da Bahia. Consultado em 20 de julho de 2021 
  2. «Salvador». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 20 de julho de 2021 
  3. a b Moniz, Geraldo (16 de novembro de 2015). «Vitral 'Art nouveau' do Cine Teatro Jandaia será restaurado pelo IPAC». Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. Consultado em 20 de julho de 2021 
  4. «Institucional». Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. Consultado em 20 de julho de 2021 
  5. a b «Cine – Teatro Jandaia». Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia. Consultado em 20 de julho de 2021 
  6. «Desabamento de muro do cine jandaia preocupa comerciantes». R7.com. 21 de maio de 2014. Consultado em 20 de julho de 2021 
  7. Bierrenbach, Ana (2015). «Luxo, luxúria e lixo - a presença e o esquecimento dos cinemas de Salvador». Vitruvius. Consultado em 20 de julho de 2021 
  8. Góis, Ana (24 de maio de 2011). «Mais de Salvador: Cine Teatro Jandaia - "Art Déco" em Salvador. O "Palácio das Maravilhas", primeiro "arranha-céus" da cidade.». Mais de Salvador. Consultado em 13 de agosto de 2021 
  9. a b c d Natividade, Priscila (18 de agosto de 2018). «Cine Jandaia ganha 'abraçaço' pela revitalização cultural do espaço». Jornal Correio. Consultado em 20 de julho de 2021 
  10. Arwas, Victor (1996). The Art of Glass: Art Nouveau to Art Deco (em inglês). [S.l.]: Papadakis Publisher 
  11. Queluz, Marilda (2007). «O humor gráfico da década de 20: entre o art nouveau e o art deco» (PDF). Revista Curitibanas - (Universidade Federal do Paraná). Consultado em 20 de julho de 2021 
  12. a b Thelma, Arquitetando Com (5 de setembro de 2010). «Arquitetando Na Net: CINE TEATRO JANDAIA - SALVADOR - BAHIA / BRASIL». Arquitetando Na Net. Consultado em 13 de agosto de 2021 
  13. a b c d e f Amorim, Milena Fraga (23 de dezembro de 2016). «Proposta de Restauração do Cine Teatro Jandaia». Consultado em 13 de agosto de 2021 
  14. «Abrace o Cine Jandaia | A Bahia abraça seu patrimônio cultural». Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento da Bahia. Consultado em 20 de julho de 2021 
  15. Line, A. TARDE On. «Desapropriação vai resgatar papel cultural do cine Jandaia». Portal A TARDE. Consultado em 10 de agosto de 2021 
  16. a b Sotero, Anderson (6 de novembro de 2015). «Desapropriação vai resgatar papel cultural do cine Jandaia». A Tarde. Consultado em 20 de julho de 2021 
  17. a b Junior, Jairo Costa (29 de outubro de 2015). «Satélite: Degradação do Cine-Teatro Jandaia está prestes a virar caso de Justiça». Jornal Correio. Consultado em 20 de julho de 2021 
  18. Castro, Ruy (2005). Carmen: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras 
  19. Natividade, Priscila (18 de agosto de 2018). «Cine Jandaia ganha 'abraçaço' pela revitalização cultural do espaço». Jornal Correio. Consultado em 10 de agosto de 2021 
  20. Villaça, Pablo. «A quase extinção dos cinemas de rua no país e seus impactos culturais». Cinema em Cena (em inglês). Consultado em 20 de julho de 2021 
  21. a b c «Em ruína, Cine Jandaia é doado ao Estado». Blog de Albenisio. 11 de novembro de 2016. Consultado em 20 de julho de 2021 
  22. a b c d e Web, Gori la Comunicação. «Vitral 'Art nouveau' do Cine Teatro Jandaia será restaurado pelo IPAC». Consultado em 10 de agosto de 2021 
  23. a b c d «arquitextos 187.03 patrimônio: Luxo, luxúria e lixo | vitruvius». vitruvius.com.br. Consultado em 12 de agosto de 2021