Dino Matrosse

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Dino Matrosse
Vice-Presidente da Internacional Socialista
Período julho de 2008[1] a novembro de 2022[2]
Deputado da Assembleia Nacional de Angola
Período junho de 1977 a 15 de setembro de 2022
Secretário-Geral do MPLA
Período 12 de dezembro de 2003 a 27 de agosto de 2016
Antecessor(a) João Lourenço
Sucessor(a) Paulo Kassoma
Ministro da Segurança do Estado
Período 1981 a 1986
Comissário da Província de Benguela
Período 1979 a 1981
Vice-Ministro da Defesa
Período 1978 a 1979
Dados pessoais
Nascimento 30 de dezembro de 1942
Dande
Progenitores Mãe: Isabel Francisco Neto
Pai: Mateus Paulo
Partido MPLA
Profissão Militar, engenheiro, advogado e político

Julião Mateus Paulo "Dino Matrosse" (Dande, 30 de dezembro de 1942) é um militar, engenheiro, advogado e político angolano, deputado da Assembleia Nacional entre 1977 e 2022.

Foi secretário-geral do Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA),[3] e sucedeu a João Lourenço num congresso do partido em dezembro de 2003.[4]

Dino Matrosse é considerado um membro da linha ideológica ortodoxa do MPLA,[5] originalmente adeptos do marxismo-leninismo, mas que a partir de 1990 mudou a fraseologia para o socialismo democrático.[6] Até 2016 controlava um extenso sistema de organizações partidárias do MPLA,[7] juntamente com Bento Bento e Kundi Paihama.[8] Desde a saída de José Eduardo dos Santos da presidência de Angola e a eleição de João Lourenço em setembro de 2017, têm se mostrado crítico à ala conservadora e liberal do MPLA, passando a defender a limitação dos poderes presidenciais a dois mandatos, ou seja, 10 anos, conforme previsto na Constituição de Angola.[9]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Julião Mateus Paulo nasceu numa família de activistas anticoloniais, sendo que um deles foi detido pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) ainda em 1961 e é desaparecido político.[10][11] Nascido em 30 de dezembro de 1942 na vila da Barra do Dande,[12] município do Dande, na província do Bengo, é filho de Mateus Paulo e de Isabel Francisco Neto.[13]

Seus estudos primários foram iniciados na Escola da Missão Metodista do Dande.[12] Concluiu o ensino primário no Complexo Escolar São Domingos[12] e preparatório anual para admissão aos liceus no Colégio São Paulo de Loanda.[12][13] Entre 1958 e 1962, conclui o ensino secundário no Instituto Medio Industrial de Luanda.[12][13]

Em 1962 Dino Matrosse começou a estudar engenharia na recém-fundada Universidade Agostinho Neto, curso que abandonou no mesmo ano por se opor à repressão colonial portuguesa contra os movimentos nacionalistas.[14] Fez parte, assim, do primeiro grupo de alunos da mais antiga universidade angolana.[13]

Deixou Angola e ingressou no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) em 4 de janeiro de 1963 em Quinxassa.[14] Em 1965 é designado para trabalhar no escritório do partido na Zâmbia,[14] participando, de 1965 a 1968, de cursos intermitentes de formação oficial militar na União Soviética.[14] Em 1966 passou a liderar unidades das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) na província do Moxico.[14] Foi nessa altura que adoptou o codinome "Dino Matrosse".[13] De 1971 a 1975 torna-se comissário político e comandante da V Região Político-Militar (Frente Centro), responsável por estabelecer as estruturas de guerrilha das FAPLA/MPLA no Huambo e em Benguela.[14]

Após a independência de Angola em 11 de novembro de 1975, ele completou seus estudos em engenharia electrónica na República Popular da Hungria,[13][15][16] e também obteve licenciatura em direito (1984) pela Universidade Agostinho Neto,[17] sendo colega de turma de Santana Petroff.[18]

Após sua formação superior ocupou vários cargos no governo e nas forças armadas, incluindo Diretor Nacional de Recursos Humanos na Secretaria de Estado da Indústria e Energia e Chefe do Departamento Nacional de Políticas das FAPLA.[13] Foi então vice-ministro da Defesa para Assuntos Políticos e também foi membro do Conselho da Revolução entre 1977 e 1980.[13] Sucedeu depois a Garcia Vaz Contreiras como Comissário da Província de Benguela em 1979 e ocupou esse cargo até ser substituído por Kundi Paihama em 1981. Foi também coordenador da Comissão do MPLA naquela província.[15]

Em 1980 foi eleito para a Assembleia do Povo e reeleito deputado em 1986. Licenciou-se deputado para assumir, em 1981, como Ministro da Segurança do Estado, em substituição a Kundi Paihama. Ocupou este cargo ministerial até 1986, altura em que Kundi Paihama o sucedeu novamente. Foi também Secretário do Comité Central do MPLA para os Órgãos de Estado e Judiciário.[15]

Assumiu então o cargo de chefe da Direcção de Operações do Estado-Maior, sendo promovido a General das Forças Armadas das Forças Armadas Angolanas. Foi eleito deputado da Assembleia Nacional pelo MPLA em 1992 e foi durante algum tempo Presidente da Comissão Parlamentar de Defesa, Segurança e Ordem Interna e Primeiro Vice-Presidente da Comissão Parlamentar de Defesa, Segurança e Ordem Interna. [13]

No V Congresso do MPLA, a 12 de dezembro de 2003, foi eleito sucessor de João Lourenço como secretário-geral do MPLA[15] e ocupou este cargo de liderança dentro do partido até 27 de agosto de 2016, altura em que foi substituído por António Paulo Kassoma.[13] Foi também reeleito membro do Comité Central e do Politburo no V Congresso do MPLA.[13] Foi eleito também um dos vice-presidentes da Internacional Socialista[13] em julho de 2008,[1] ocupando funções até novembro de 2022.[2]

Nas eleições para a Assembleia Nacional de Angola em setembro de 2008 e nas eleições gerais de agosto de 2012 foi eleito no Círculo Nacional do MPLA para a Assembleia Nacional. Nas eleições para a Assembleia Nacional de 23 a 26 de agosto de 2017, foi reeleito pela lista nacional do MPLA (era o 9º nome inscrito),[19] sendo membro da Comissão de Relações Exteriores, Cooperação Internacional e Comunidades Angolanas no Estrangeiro.[20]

Foi inscrito na posição 105 na lista do MPLA para o círculo nacional nas eleições gerais de Angola de 2022.[21] Somente 67 candidatos do partido se elegeram pelo círculo nacional. Assim, após muitos anos no parlamento, Dino Matrosse ficou na suplência e sem titularidade de uma cadeira legislativa.[22]

Referências

  1. a b PCP visita Angola a convite do MPLA (membro aa Internacional Socialista), partido do Governo de Eduardo dos Santos. Internacionalismo Comunista!. Ruptura Vizela. 13 de junho de 2016.
  2. a b Delegados ao Congresso da Internacional Socialista distinguem MPLA. Jornal ÉME. 6 de fevereiro de 2023.
  3. «TRIcontinental -». web.archive.org. 9 de setembro de 2006. Consultado em 23 de dezembro de 2020 
  4. "Dos Santos at the helm", IRIN, 17 December 2003.
  5. «Духовные скрепы по-чёрному» (em russo). Nazdem. Consultado em 17 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 11 de maio de 2021 
  6. Angola: MPLA Secretary General in Cabinda. allafrica.com. 2011.
  7. Angola: Ruling MPLA Official Praises Functioning of Party Structures in Bié. allafrica.com. 2011.
  8. «Чёрная Россия» (em russo). Solidarizm. Consultado em 17 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 8 de dezembro de 2013 
  9. «Dino Matrosse defende limitação de mandatos de futuros presidentes do MPLA». Jornal de Angola. Consultado em 17 de junho de 2019. Cópia arquivada em 17 de junho de 2019 
  10. Dino Matrosse lança terceira obra literária: "A PIDE na rota de José Mendes de Carvalho "HojiYaHenda". MPLA. 18 de novembro de 2017.
  11. A PIDE na Rota de José Mendes de Carvalho «Hoji Ya Henda» – A Igreja Metodista Unida e o seu relevante papel na luta de Libertação Nacional de Angola. Alfragide, Caminho, 2013.
  12. a b c d e Biography of 'Dino Matross', New MPLA Secretary General. All Africa. 12 de dezembro de 2003.
  13. a b c d e f g h i j k l Dino Matrosse. Memórias, 2016
  14. a b c d e f Fernando Paiva (20 de agosto de 2020). «A Luta de Libertação Nacional (IV)». Conversa à Sombra da Mulemba 
  15. a b c d Memórias e reflexões, Luanda, Editorial Nzila, 2008
  16. Memórias (1961–1971), Luanda, Editorial Nzila, 2005
  17. “Dino Matrosse” lança memórias da luta de libertação nacional. Portal de Angola. 14 de novembro de 2013.
  18. Associação dos Estudantes da FDUAN. FDUAN.
  19. Oficial: Lista de candidatos MPLA – Eleições 2017. Portal de Angola. 24 de maio de 2017.
  20. Comissões da Assembleia Nacional para a Legislatura 2017-2022. Assembleia Nacional. 2017.
  21. «Lista de Candidatos - MPLA» (PDF). Tribunal Constitucional de Angola. 2022 
  22. «Resultados 2022: Eleições Gerais». Comissão Nacional Eleitoral. 2022