Filipa de Almada

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Filipa de Almada
D. Felipa d'Almada
Nascimento século XV
Coimbra, Reino de Portugal
Morte 1493
Lisboa, Reino de Portugal
Cidadania Portuguesa
Progenitores
Cônjuge Rui Gil Moniz
Ocupação poetisa e escritora
Título dama da Casa da Infanta D. Leonor

Filipa de Almada (fl. século XV), ou ainda Felipa d'Almada na ortografia antiga, foi uma poetisa e nobre portuguesa.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, 1516

Nascimento e Família[editar | editar código-fonte]

Filha de D. Violante de Castro e de D. João Vaz de Almada, rico-homem, fidalgo do Conselho, vedor da Fazenda, senhor de Pereira e preceptor de D. Jorge de Lancastre, Filipa de Almada nasceu em Coimbra, durante o reinado de D. Afonso V.[3] Oriunda de uma das famílias mais ricas e proeminentes da nobreza portuguesa, pelo lado paterno era neta de D. João Vasques de Almada, famoso apoiante do mestre de Avis, que o armou cavaleiro após a batalha de Aljubarrota, descendente de D. João Anes de Almada, ilustre guarda-mor da Torre do Tombo, e pelo lado materno de D. Fernando de Castro, senhor do Paul do Boquilobo, Ançã e São Lourenço do Bairro, descendente de D. Álvaro Pérez de Castro, conhecido pelo cognome "el Viejo", irmão de D. Inês de Castro e senhor de Arraiolos, Caminha e de Viana da Foz do Lima.[4] Era ainda sobrinha de D. Álvaro Vaz de Almada, conde de Abranches,[5] e irmã de D. Gonçalo Vaz de Almada, senhor de Pereira, D. Mécia Vaz de Almada, senhora da Guarda e de Figueiredo de Fataunços, D. Álvaro de Almada, poeta e fidalgo da corte real, D. Vasco de Almada, alcaide-mor de Almada, D. Catarina de Almada, alcaidessa-mor de Beja, D. Brazaida de Almada, marquesa de Aguilar de Campoo e condessa de Castañeda, e meia-irmã de D. Álvaro de Almada, vedor de D. Afonso V de Portugal.[6] Apesar de vários documentos comprovarem hoje em dia a sua correcta ascendência, durante muitos anos o seu trabalho e nome foram erradamente confundidos com os da Infanta D. Filipa de Portugal (1432-c.1444 ou 1450), 1.ª senhora de Almada, filha de D. João I de Portugal e de D. Filipa de Lencastre.[1]

Primeiros Anos de Vida[editar | editar código-fonte]

Durante a sua infância e juventude, D. Filipa de Almada teve uma educação privilegiada, integrando a corte real e sendo instruída por vários tutores e amas que a versaram na literatura portuguesa e estrangeira, para além de outras disciplinas. Anos mais tarde, tornou-se donzela da Casa da Infanta D. Leonor, irmã de D. Afonso V.[7]

Casamento[editar | editar código-fonte]

«E se es de mim amada
assy es de mi servida,
que muyto seras culpada
em me ser desconhecida.
Lembra-te que te servi,
e amei tam de verdade,
depois que te conheci,
que nunca mudei vontade.»

Cantiga de amor de Rui Gil Moniz
para Filipa de Almada

A 25 de fevereiro de 1451, casou-se com D. Rui Gil Moniz, ou ainda Ruy Gil Moniz na ortografia antiga, tesoureiro da Casa da Moeda de Lisboa, filho de D. Leonor Rodrigues e D. Gil Aires Moniz, nomeado cavaleiro durante o reinado de D. João I e escrivão da puridade de D. Nuno Álvares Pereira, sendo-lhe concedido um dote avaliado em duas mil coroas de ouro.[8] Era ainda irmão de D, Vasco Gil Moniz, cavaleiro da casa do Infante D. Pedro, D. Diogo Gil Moniz, cavaleiro da casa do Infante D. Henrique e reposteiro-mor do Infante D. Fernando, e de D. Isabel Moniz, casada em segundas núpcias com D. Bartolomeu Perestrelo, 1º capitão do donatário de Porto Santo, e consequentemente tio de D. Filipa Moniz Perestrelo, que anos mais tarde se casou com o navegador Cristóvão Colombo.[9]

«O que recobrar não posso
mundo de ordem desigual
faz que não deseje vosso
bem, nem queira vosso mal;
Mais me apraz, que assi viva
no limbo d'estes favores
que vossos tristes amores
me darem vida cativa.
Pesa-me, que o mal vosso
já cuydei de não ser mal;
praz-me porque sei e posso
crêr agora de vós al.»

Resposta de Filipa de Almada
a Rui Gil Moniz

Nos anos que se seguiram ao matrimónio, o casal teve quatro filhos: D. Leonor Moniz, que se casou com D. Jorge de Sousa, comendador de Melres, D. Francisco de Almada, comendador de Esgueira e de Arguim, D. Nicolau Moniz, que se tornou frei da antiga Ordem do Carmo, e D. Garcia Moniz, que, tal como o seu pai, se tornou tesoureiro da Casa da Moeda.[10][11]

Obra Literária[editar | editar código-fonte]

Dotada para a poesia, durante o reinado de D. Afonso V e de D. João II, tanto D. Filipa de Almada como o seu marido escreveram e declamaram diversos poemas nos salões da corte real,[12] tornando-se D. Rui Gil Moniz conhecido pelas suas cantigas de amor e de escárnio e mal dizer, consideradas por muitos como das mais obscenas ou provocatórias desse período, e a donzela por se tornar numa das primeiras mulheres portuguesas a ser reconhecida com mérito pelo seu trabalho literário, nomeadamente nos sonetos, cantigas de amigo e de amor.[13][14][15]

Da sua obra, as cantigas mais conhecidas foram escritas para o seu marido, ainda durante o período em que estes não estavam casados, sendo comprovado pelos documentos de então, que apesar de no início da sua corte, o seu amor não ser recíproco, pouco depois os jovens poetas e aristocratas já faziam juras de amor e de eterna lealdade,[16] assim como as que geraram o escândalo, emitidas e criadas em resposta ao então seu pretendente, o poeta D. Álvaro Barreto, conhecido como "o Gracioso", cujo amor por D. Filipa de Almada nunca foi correspondido.[17][18][19]

Fim de Vida e Legado[editar | editar código-fonte]

D. Filipa de Almada faleceu em Lisboa, no ano de 1497.[20]

Anos mais tarde, a sua poesia foi incluída na primeira colectânea de poesia impressa em Portugal, a icónica obra Cancioneiro Geral de 1516, antologizada e compilada por Garcia de Resende, imortalizando a sua obra e o seu nome na história da literatura portuguesa.[21]

Referências

  1. Commire, Anne (1999). Women in World History: A Biographical Encyclopedia. [S.l.]: Gale. Cópia arquivada em 2016 
  2. Antología das mulheres poetas portuguesas. [S.l.]: Delfos. 1962 
  3. «Dona Filipa de Almada». Escritoras em Português. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 
  4. Provas da historia genealogica da casa real portugueza, tiradas dos instrumentos dos archivos da torre do Tombo ... por d. Antonio Caetano de Sousa ... Tomo 1. -6.!. [S.l.: s.n.] 1748 
  5. O Universo illustrado. [S.l.: s.n.] 1878 
  6. Costa, António Carvalho da (1868). Corografia Portugueza e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal: com as noticias das fundações das cidades, villas, & lugares, que contem, varões illustres, genealogias das familias nobres, fundações de conventos, catalogos dos bispos, antiguidades, maravilhas de natureza, edificios & outras curiosas observaçoens. [S.l.]: D. Gonçalves Gouvea 
  7. A Batalha de Alfarrobeira. Antecedentes e Significado Histórico. Vol. II. [S.l.]: UC Biblioteca Geral 1 
  8. Fontes.), Luís Gonzaga de Lancastre e Távora (Marquês de Abrantes e de (1989). Dicionário das famílias portuguesas. [S.l.]: Quetzal Editores 
  9. Ornellas, Agostinho de (1892). Memoria sobre a residencia de Christovam Colombo na Ilha da Madeira. [S.l.]: Typographia da Academia Real das Sciencias 
  10. Torres, João Carlos Feo Cardoso de Castelo Branco e; de), Augusto Romano Sanches de Baena e Farinha de Almeida Sanches de Baena (Visconde (1883). Memorias historico-genealogicas dos duques portuguezes do seculo XIX. [S.l.]: Academia Real das Sciencias 
  11. Santana, José Pereira de (1745). Chronica dos carmelitas da antiga, e regular observancia nestes reynos de Portugal, Algarves, e seus dominions, offerecida ao eminentissimo, e reverendissimo Senhor D. Joaõ da Mota e Sylva ... [S.l.]: Herdeiros de A. Pedrozo Galram 
  12. Collares Moreira Cunha, Zenobia (2010). «A poesia barroca feminina fora do claustro». Via Láctea Literatura 
  13. Salvado, António. Antologia da poesia feminina portuguesa. [S.l.]: Edições J.F. 
  14. Lisboa, Eugénio; Rocha, Ilídio; Livro, Instituto Português do (1985). Dicionário cronológico de autores portugueses. [S.l.]: Publicações Europa-América 
  15. Braga, Theophilo (1872). Historia da poesia portugueza. (Eschola hispano-italica.) Seculo XVI. Bernardim Ribeiro e os bucolistas. [S.l.]: Imprensa portugueza 
  16. Costa, Antonio da (1893). A mulher em Portugal: obra posthuma publicada em beneficio de uma creança. [S.l.]: Typ. da Companha Nacional 
  17. Canto, Ernesto do (1883). Os Corte-Reaes: memoria historica, acompanhada de muitos documentos ineditos. [S.l.]: Archivo dos Açores 
  18. Santa Barbara Portuguese Studies (em inglês). [S.l.]: Center for Portuguese Studies. 1999 
  19. Braga, Theophilo (1871). Historia da poesia portugueza. Eschola hespanhola. Seculo XV. Poetas palacianos. [S.l.]: Imprensa portugueza 
  20. Oliveira, Américo Lopes (1983). Escritoras brasileiras, galegas e portuguesas. [S.l.]: Tip. Silva Pereira 
  21. Rocha, Andrée Crabbé (1979). Garcia de Resende e o Cancioneiro geral. [S.l.]: Instituto de Cultura Portuguesa, Presidência do Conselho de Ministros, Secretaria de Estado da Cultura