Galera (série de televisão)

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Galera
Galera (série de televisão)
Informação geral
Formato série
Gênero Comédia dramática
Duração 45 minutos
Criador(es) Beto Moraes
Carlos Nascimbeni
Elenco
País de origem  Brasil
Idioma original (em português brasileiro)
Temporadas 2
Episódios 15
Produção
Diretor(es) Jeremias Moreira
Narrador(es) Pisco Maurer
Roberta Calza
Jonas Almeida
Priscila Nicolielo
Tema de abertura Instrumental
Exibição
Emissora original Brasil TV Cultura
Formato de exibição 480i (SDTV)
Transmissão original 15 de dezembro de 2003 – 8 de agosto de 2004
Cronologia
Programas relacionados Confissões de Adolescente

Galera (estilizado como GALΣⓇA) é um seriado brasileiro produzido e exibido pela TV Cultura. Estreou em 15 de dezembro de 2003, contendo cinco episódios na primeira temporada, os quais foram ao ar nas segundas-feiras às 18h15. A segunda temporada foi exibida entre 6 de junho e 8 de agosto de 2004 com dez episódios às 14h30 dos domingos. Teve o roteiro escrito por Beto Moraes e Carlos Nascimbeni e direção de Jeremias Moreira.[1] A série, inspirada nas temáticas de outra produção da emissora, Confissões de Adolescente, abordava o universo dos adolescentes com um olhar verossímil, incluindo questões como uso de drogas, homossexualidade, sexo, amores e primeiro emprego.[2] A série foi indicadao ao Prémio Emmy Internacional na categoria Melhor programa infantojuvenil em 2004.[3][4][5]

Produção[editar | editar código-fonte]

"Os jovens desta idade têm as mesmas dúvidas, problemas e experiências. Nossa intenção não é maquiar a realidade, mas fazer o público refletir sobre os temas retratados"

— O diretor Jeremias Moreira sobre o cuidado em ser o mais realista possível sobre as temáticas do universo adolescente.[6]

A produção do seriado começou em 2002, quando a direção começou a formar a equipe e selecionar o elenco.[7] As gravações do seriado foram realizadas em janeiro de 2003, embora só tenha ido ao ar em dezembro, uma vez que a TV Cultura dedicou-se a buscar patrocinadores para lançá-lo ao ar.[6] A inspiração para as temáticas – como sexo, gravidez na adolescência, homossexualidade e drogas – veio do seriado Confissões de Adolescente, de 1994 também da Cultura, o qual eram abordados contextos considerados "pesados" pelos grandes veículos, porém verossímeis em paralelo a realidade dos jovens.[8][9]

A intenção dos roteiristas foi ocupar a lacuna existente na retratação da realidade do jovem de classe média brasileiro, a qual não tinha representatividade em Malhação, da Rede Globo, que retratava jovens de classe alta em um colégio particular, ou Turma do Gueto, da RecordTV, que se passava na periferia.[9] O diretor Jeremias Moreira revelou que a a proposta da série era fazer o jovem refletir e se identificar sobre sua própria vida, além do público mais conservador contestar seus ideais: "Não passamos nada de forma careta porque temos que manter um público que é contestador e muito superativo".[10] A direção optou por um formato diferente do teledramaturgia comum, buscando utilizar a mesma iluminação, enquadramento de câmera e planos de imagem que se usava no cinema, além da gravações ocorrerem totalmente dentro do Escola Estadual Professor Ascêndino Reis, em São Paulo, não tendo cenários montados em estúdio, buscando o mesmo realismo de imagem que aconteceu em Mundo da Lua, gravado em uma casa real.[11] Em cada episódio foram aplicados citações e referências de personalidades da música, filosofia, literatura e artes, como Shakespeare, Edgar Allan Poe, Johann Wolfgang von Goethe, Oscar Niemeyer, Machado de Assis e John Lennon, passando informação educacional de forma subliminar e sem didatismo.[12]

A primeira temporada estreou em 15 de dezembro de 2003, porém antes mesmo da exibição já havia sido renovada para a segunda.[9] Para a segunda temporada, a direção da emissora decidiu transferir Galera para os domingos às 14h30, fazendo parte de uma grade vespertina preparada especialmente para o público adolescente, vindo na sequência do seriado Confissões de Adolescente e antes da produção Guerrilha, programa de debates com adolescentes sobre cultura, preconceito e ideologias jovens.[13] A temporada estreou em 25 de junho de 2004, encerrando-se em 8 de agosto com dez episódios.[14] Cada episódio foi orçado em 30 mil reais.[8]

Escolha do elenco[editar | editar código-fonte]

Elenco da primeira temporada – Acima: Roberta Youssef, Fábio Montanari, Fábio Nepomuceno, Ícaro Silva, Carlos Cezar Medeiros, Rita Batata e Kleber Osako. Abaixo: Tamy Rente, Bárbara Mascarenhas, Lívia Prestes, Paulo Uemura, Felipe Lopes, Bruna Rezende e Rafael Barioni.

Para o elenco principal, formado pelos 14 jovens estudantes, a direção optou por atores que, majoritariamente, não tivessem ainda grande experiência na televisão para alçar novos nomes para os trabalhos, além de utilizar jovens que realmente estudassem em colégios públicos.[11] Apenas Rafael Barioni, que interpretou o protagonista Neto, foi previamente reservado pela emissora, uma vez que havia feito parte do programa X-Tudo, também da TV Cultura, por quase dez anos – antes assinando ainda como Rafael Meira.[6] No final de 2002 a direção selecionou 297 atores entre 14 e 18 anos para a primeira fase de testes, no qual eles passavam por uma entrevista com preparadores de elenco e um exame de improvisação, dos quais 70 foram selecionados para a segunda etapa, que ocorreu em duplas para avaliar o poder de criatividade e trabalho em grupo em que eles tinham.[11]

Nesta fase eles encenaram uma cena dramática juntos, extraindo 38 candidatos para a terceira e última fase, os quais foram divididos em três grupos de 12 e 13 atores e aplicado um teste já com os personagens que haviam sido criados para o seriado, finalmente chegando aos 14 que fariam parte do elenco jovem.[11] Em fevereiro de 2003 Ícaro Silva passou nos testes para a décima temporada de Malhação, da Rede Globo, o que impediu-o de retornar para a segunda temporada, quando foi substituído por José Trassi no mesmo personagem.[15]

Preparação[editar | editar código-fonte]

Os 14 escolhidos passaram por treinamentos com preparadores de elenco em duas fases, sendo a primeira ministrada por Magno Silveira e a segunda por Sérgio Penna, sendo que os jovens ficaram encarregados de desenvolver as características de seus personagens, as quais foram criadas pelo roteirista Beto Morais, e criar uma biografia para eles, contendo toda trajetória, vida familiar, gostos musicais e particulares, onde nasceu, onde morou, com quem namorou, quais os problemas particulares e quais são os amigos dentro do grupo, lendo este perfil para os demais e discutidas em grupo para serem aplicadas ao papel, dando assim uma veracidade para o ator poder interpretar alguém de quem ele sabe as origens.[11] Foram aplicadas as tradicionais táticas de preparação segundo o Sistema Stanislavski de Constantin Stanislavski e o Ponto de Concentração de Viola Spolin, o quais ajudariam-nos a construir o personagem na forma de agir.[11] Houve a gravação de um piloto prévio em que os atores tiveram que interpretar diretamente para a câmera e, posteriormente, assistirem este trabalho – o qual, segundo o diretor, gerou um desapontamento por parte de alguns com a própria atuação, sendo esta a intenção da equipe para que cada um deles pudesse alterar o que viam errado e melhorar suas expressões para a gravação do real piloto que iria ao ar.[11]

Enredo[editar | editar código-fonte]

A série segue a vida de um grupo de jovens de 16 anos em um colégio público com os dramas e dilemas que cercam a adolescência, incluindo drogas, homossexualidade, sexo e amores. Neto (Rafael Barioni) é ótimo nos esportes e grande skatista, que chama a atenção de todas as garotas e, geralmente, é designado a tomar as decisões por todos, embora se sinta pressionado a ser sempre o melhor pelos pais. Gisele (Lívia Prestes), que sonha em ser modelo e é encanada com tudo que come por isso e começa a desenvolver bulimia. Ana K (Roberta Youssef) é a mais complexa da turma – liberal, ela é bissexual, gosta de tatuagens, tocar guitarra e trabalha em uma loja de discos para conseguir dinheiro extra para ir nos shows das bandas de rock que gosta, embora as vezes pense em suicídio. Ela gosta de Pedro (José Trassi), um rapaz idealista que luta contra o preconceito, o que faz com que fique amigo de Dêmi (Fábio Nepomuceno), o artista da turma, que sofre racismo de alguns alunos de alta renda por ser da periferia e ter que trabalhar para sustentar a os pais desempregados.

Binho (Fábio Montanari) é o nerd da turma, engajado politicamente e na organização de shows e eventos, embora esconda de todos que se sente feio e que goste de garotos. Gunji (Paulo Uemura) é melhor amigo de Neto, embora nada popular como ele, sendo namorado de Janete (Bruna Rezende), uma moça tímida e evangélica, que contrasta em seguir os ensinamentos da família ou fazer o que tem vontade, incluindo transar. Tutu (Carlos Cezar Medeiros) se sente culpado pela separação dos pais e, por reprimir isso, desenvolveu uma série de TOCs de ordem e limpeza. Max (Bárbara Mascarenhas) é engajada nas causas ecológicas e voluntária em uma ONG de preservação da Mata Atlântica. Filho de pais que vivem juntos sem amor, Léo (Kleber Osako) é um descendente de orientais alvo da indiferença do pai e da ausência da mãe – que tem depressão pela situação em que vive – o que fez com que ele seja tímido, melancólico e quase sem amigos. O rapaz namora Marcela (Rita Batata), filha de italianos e que tenta fugir totalmente das origens da família, tendo um estilo de vida hipster e totalmente conectada na tecnologia. Quem completa o grupo é Sylvia (Tamy Rente), uma patricinha que adora falar de si mesma e ostenta uma vida de riqueza que não tem, uma vez que seus pais estão desempregados e perderam tudo, o que faz com que ela se envergonhe deles e procure nunca apresentá-los.

Quem tenta ajudar a turma é o diretor Paulo (Leonardo Medeiros), um educador bondoso que tenta sempre estar por dentro dos dilemas dos adolescentes e compreende-los da melhor forma. O mesmo não acontece com o inspetor Jaime (Carlos Careqa), um homem severo, retrógrado e cheio de regras, que despeja intolerância e preconceitos. Ainda no colégio estão o revolucionário professor de matemática Mecheli (Luciano Quirino), a compreensiva professora de português Rosa (Lena Roque), a feminista professora de educação física Ciça (May Malveira) e a sensual professora de história Plurabelle (Tânia Kalil), que desperta o imaginário dos garotos. Com menor destaque, ainda estão na mesma sala da turma a solitária Pérola (Paula Martins), que namora Dêmi, e o explosivo Wal (Felipe Lopes), o encrenqueiro do colégio que sempre tenta puxar briga com todos, além da chegada de Déia (Isabel Martins), uma nerd novata.

Elenco[editar | editar código-fonte]

Personagem Ator / Atriz
Rafael Barioni Ernesto Villapaim Neto (Neto)
Roberta Youssef Ana Karina Moraes (Ana K)
Lívia Prestes Gisele Dias de Souza
Ícaro Silva (1ª temp.) Pedro Pereira
José Trassi (2ª temp.)
Paulo Uemura Gunji Yoshima
Bruna Rezende Janete Alves
Fábio Montanari Rubens Medeiros (Binho)
Fábio Nepomuceno Ademir Ferreira Junior (Dêmi)
Rita Batata Marcela Bellini
Kleber Osako Leonardo Nakamura (Léo)
Carlos Cezar Medeiros Arthur Vaz (Tutu)
Bárbara Mascarenhas Maximiana dos Santos (Max)
Tamy Rente Sylvia Barreto
Leonardo Medeiros Diretor Paulo
Tânia Kalil Profª. Plurabelle
Carlos Careqa Inspetor Jaime
May Malveira Profª. Ciça
Luciano Quirino Prof.Mecheli
Lena Roque Profª. Rosa
Felipe Lopes Waldir (Wal)
Paula Martins Pérola
Isabel Martins Andréia (Déia)
Jonas Bloch Paulo Villapaim (Pai de Neto)

Recepção da crítica[editar | editar código-fonte]

Galera recebeu críticas positivas dos profissionais especializados. O jornal O Estado de S. Paulo declarou que a série conseguia atingir os jovens genuínos, passando longe do surrealismo de Malhação, da Rede Globo, que apostava em "patricinhas de classe alta" em cenas leves e distantes da realidade dos adolescentes, dizendo que a produção era "modesta, mas bem intencionada" e comparando a narração literária ao programa Cena Aberta para expor os diferentes pontos de vista.[9]

Episódios[editar | editar código-fonte]

1ª temporada (2003–04)[editar | editar código-fonte]

# # Título Tema Exibição original
1 1 "Que Zorra de Galera É Essa?" Estudos 15 de dezembro de 2003
2 2 "Mó Sei Lá" Ansiedade 22 de dezembro de 2003
3 3 "Já Era!" Suicídio 29 de dezembro de 2003
4 4 "E Aí, Ficou?" Namoros 5 de janeiro de 2004
5 5 "Que País É Este?" Injustiça social 12 de janeiro de 2004

2ª temporada (2004)[editar | editar código-fonte]

# # Título Tema Exibição original
1 6 "Era Uma Vez a Primeira Vez" Primeira vez / Sexo 6 de junho de 2004
2 7 "Mó Treta, Aí" Brigas 13 de junho de 2004
3 8 "O Que Cê Vai Ser?" Futuro profissional / Emprego 20 de junho de 2004
4 9 "A Vida É um Jogo?" Rivalidades 27 de junho de 2004
5 10 "O Espelho de Alice" Dúvidas existenciais 4 de julho de 2004
6 11 "Na Cola do Epiceno" Homossexualidade 11 de julho de 2004
7 12 "Idiotice Ltda." Preconceito 18 de julho de 2004
8 13 "Enfim Longe" Liberdade 25 de julho de 2004
9 14 "Barato e Caro" Drogas 1 de agosto de 2004
10 15 "Barriga, Já?" Gravidez na adolescência 8 de agosto de 2004

Prêmios e indicações[editar | editar código-fonte]

Ano Prêmio Categoria Resultado Ref.
2004 Prémio Emmy Internacional Melhor programa infantojuvenil Indicado [3][4]

Referências

  1. «Ficha Técnica». TV Cultura. Consultado em 29 de julho de 2017 
  2. «Teledramaturgia - Galera». Teledramaturgia. Consultado em 29 de julho de 2017 
  3. a b «O pirata do espaço». Google Books. Consultado em 29 de julho de 2017 
  4. a b «História do Cinema Brasileiro - Jeremias Moreira». História do Cinema Brasileiro. Consultado em 29 de julho de 2017 [ligação inativa]
  5. «Quem É Quem em Galera». TV Cultura. Consultado em 29 de julho de 2017 
  6. a b c «Novidades na TV Cultura para crianças e adolescentes». Tribuna Paraná. Consultado em 29 de julho de 2017 
  7. «Jeremias Moreira retorna à publicidade». Prop Mark. Consultado em 29 de julho de 2017 
  8. a b «TV Cultura inventa a sua "Malhação"». Folha de SP. Consultado em 29 de julho de 2017 
  9. a b c d «"Galera" é o novo programa para jovens na TV». Estadão. Consultado em 29 de julho de 2017 
  10. «Confissões de Adolescente estréia na TV Cultura». Gazeta Digital. Consultado em 29 de julho de 2017 
  11. a b c d e f g «Bate-bola com o Diretor». TV Cultura. Consultado em 29 de julho de 2017 
  12. «TV Cultura terá novo programa para público jovem». Terra. Consultado em 29 de julho de 2017 
  13. «Cultura volta a exibir "Confissões de Adolescente"». Terra. Consultado em 29 de julho de 2017 
  14. «Cultura estréia nova fase da série Galera neste domingo». IG. Consultado em 29 de julho de 2017 
  15. «Malhação 2003». Teledramaturgia. Consultado em 29 de julho de 2017 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]