Minimanual do Guerrilheiro Urbano

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Minimanual do Guerrilheiro Urbano
Minimanual do Guerrilheiro Urbano
Capa da primeira edição portuguesa (1975)
Autor(es) Carlos Marighella
Idioma português
País Brasil
Lançamento 1969
Edição portuguesa
Editora Assírio & Alvim
Lançamento 1975
ISBN 978-9723700909

O Minimanual do Guerrilheiro Urbano, publicado em junho de 1969, foi uma das mais divulgadas obras de Carlos Marighella, para servir de orientação aos movimentos revolucionários comunistas que queriam utilizar de táticas de guerrilha.[1] Circulou em versões mimeografadas e fotocopiadas, algumas diferentes entre si, sem que se possa apontar qual é a original. Nesta obra, detalhou táticas de guerrilha urbana a serem empregadas nas lutas contra governos.[2]

Nos anos 1980, a Central Intelligence Agency (CIA), dos Estados Unidos, com intenção de entender e combater com eficácia os movimentos terroristas e militância armada antigovernista, fez traduções em inglês e espanhol para distribuir entre os serviços de inteligência do mundo inteiro e para servir como material didático na Escola das Américas, por ela mantida, no Panamá.[3]

Contexto histórico[editar | editar código-fonte]

Marighella escreveu o Minimanual do Guerrilheiro Urbano com a intenção de popularizar táticas de guerrilha, de modo que seu objetivo era "não somente ler este manual aqui e agora, mas difundir seu conteúdo".[4] De acordo com Marighella, um guerrilheiro urbano é "um homem que luta contra uma ditadura militar com armas, utilizando métodos não convencionais", havendo um desejo explícito para ensejar a luta armada revolucionária contra a ditadura militar brasileira,[5] o que caracteriza o livro como um manual de ação prática. Para Marighella, a característica fundamental de um guerrilheiro urbano é sua participação na luta armada e a expropriação de terras pertencentes aos grandes capitalistas e latifundiários.[6]

Técnicas da guerrilha[editar | editar código-fonte]

Para Marighella, as características das técnicas da guerrilha são seu teor de agressividade, ações de ataque e retirada e, finalmente, o objetivo de desenvolvimento da própria guerrilha, de modo a desmoralizar e desgastar as forças policiais e militares, circunscritas ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) na ditadura militar brasileira. Uma ação defensiva resultaria na destruição da guerrilha, pois Marighella argumenta que estes são "inferiores ao inimigo em poder de fogo" de modo que a "ação defensiva significa a morte para nós".[7]

Por outro lado, Marighella diz os guerrilheiros possuem vantagens em termos de conhecimento do terreno,[8] estratégia em formular ataques surpresa[7] e maior mobilidade e velocidade.[9] Desse modo, Marighella diz que o "paradoxo é que o guerrilheiro urbano, apesar de ser mais fraco, é sem dúvida o atacante".[10]

Assaltos e batidas

As batidas[nota 1] e os assaltos[nota 2] a carros blindados, aviões, barcos e, especialmente, a bancos são abordados por Marighella como atividades preliminares "para o guerrilheiro urbano em processo de aprendizagem".[13]

Influência[editar | editar código-fonte]

De acordo com o biógrafo Mário Magalhães, o livro é o passaporte de Marighella para a eternidade, no sentido de influenciar a formação e organização de grupos guerrilheiros a nível internacional.[14]

Em 2021, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) reescreveu o Manual do Guerrilheiro Urbano como manual de contrainteligência contra grupos guerrilheiros, justificando que o livro de Marighella é "considerado pelo 'Terror Mundial' como a melhor obra para ações de guerrilha em ambiente urbano".[15]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. "As batidas são ataques rápidos em estabelecimentos localizados na vizinhança ou até no centro da cidade, tal como unidades militares pequenas, delegacias, hospitais, para causar problemas, tomar armas, castigar e aterrorizar o inimigo, tomar represálias, ou resgatar prisioneiros feridos, ou aqueles hospitalizados baixo vigilância da policia."[11]
  2. "O assalto é o ataque armado com o qual fazemos expropriações, libertamos prisioneiros, capturamos explosivos, metralhadoras, e outras armas típicas e munições."[12]

Referências

  1. Souza, Juberto Antonio Massud de; Jacó-Vilela, Ana Maria; Souza, Juberto Antonio Massud de; Jacó-Vilela, Ana Maria (2017). «Luta Armada na Psicologia: Prática de Classe contra o Terrorismo de Estado». Psicologia: Ciência e Profissão (SPE): 44–56. ISSN 1414-9893. doi:10.1590/1982-3703030002017. Consultado em 21 de fevereiro de 2021 
  2. Ilhéu, Thaís (20 de fevereiro de 2019). «Afinal, quem foi Carlos Marighella?». Guia do Estudante. Guia do Estudante. Consultado em 21 de fevereiro de 2021. Cópia arquivada em 13 de dezembro de 2020 
  3. Lopes, Henrique Sena Guimarães (2016). «Escola das Américas::». Revista Hydra: Revista Discente de História da UNIFESP (2): 186–200. ISSN 2447-942X. doi:10.34024/hydra.2016.v1.9131. Consultado em 21 de fevereiro de 2021 
  4. Marighella 1969, p. 3.
  5. Marighella 1969, p. 4.
  6. Marighella 1969, p. 7.
  7. a b Marighella 1969, p. 17.
  8. Marighella 1969, p. 21.
  9. Marighella 1969, p. 22-23.
  10. Marighella 1969, p. 19-20.
  11. Marighella 1969, p. 33.
  12. Marighella 1969, p. 30.
  13. Marighella 1969, p. 29-32.
  14. Magalhães 2012.
  15. «DefesaNet - Riots - FGV Atualiza o Manual do Guerrilheiro Urbano de Carlos Marighella». DefesaNet. Consultado em 27 de fevereiro de 2022 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]