Morena de Angola

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"Morena de Angola"
Single de Clara Nunes
do álbum Brasil Mestiço
Lado B "Sem Companhia"
Lançamento 1980
Gravação 20 de junho de 1980[1]
Gênero(s) Ijexá e MPB
Duração 3:27
Gravadora(s) EMI-Odeon
Composição Chico Buarque
Letrista(s) Chico Buarque

Morena de Angola é uma canção escrita pelo cantor e compositor brasileiro Chico Buarque de Hollanda e originalmente interpretada por Clara Nunes no álbum Brasil Mestiço, lançado em 1980. Composta a pedido da cantora, a canção se tornaria uma das mais famosas da carreira dela.[2]

Informação[editar | editar código-fonte]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Clara Nunes no videoclipe da canção.

Clara Nunes preparava o vinil Brasil Mestiço desde o final de 1979.[3] Seguindo a sugestão de seu maquiador, Guilherme Pereira, fez permanente no cabelo, com a finalidade de obter uma aparência mais afro-brasileira.[3] O álbum, que começou a ser gravado em julho de 1980, já estava com o repertório praticamente definido e o conceito do mesmo seria ratificado por uma viagem que Clara fez em maio de 1980 a Luanda, Angola, a convite de Chico Buarque,[3] para uma série de apresentações com outros 64 artistas brasileiros no Projecto Kalunga,[4] cuja renda seria destinada à construção de um hospital.[5] A amizade entre os dois artistas iniciou-se graças ao marido de Clara, o compositor Paulo César Pinheiro, que conhecia Chico desde os bastidores dos festivais da TV Record.[3] Ambos disputaram a I Bienal do Samba, tendo Pinheiro vencido a disputa com a composição "Lapinha".[4] A viagem a Angola, no entanto, estreitaria os laços entre Clara e Chico.[4]

Em junho de 1980, já no Brasil, a cantora entrou em estúdio para gravar Brasil Mestiço.[6] Apesar do repertório estar fechado, ela ligou para Chico pedindo que este compusesse uma música para ela, assim como ele havia lhe prometido durante a viagem.[7] O compositor enviou a Clara "Morena de Angola", faixa que abriria o álbum e se tornaria um dos maiores sucessos da cantora.[2] A canção encantou os produtores do Fantástico, que converteram-na em um videoclipe,[2] que estreou no dia 17 de agosto de 1980, um dia antes do lançamento do álbum.[8] Um dos Compactos Simples do Long-Play.[2]

Composição[editar | editar código-fonte]

A ideia para a canção surgiu enquanto os artistas estavam num ônibus à caminho da praia de Caotinha, em Benguela.[2] Clara, conversando com Chico sobre o conceito de seu álbum, sugeriu a ele que compusesse uma canção para ela; o cantor concordou.[2] No mesmo dia, à noite, seguiram para o morro da Catumbela, onde assistiram a uma apresentação de cantos e danças típicas.[9] Referências a todos estes locais estão presentes na letra da canção que, segundo Chico, conta "a história toda" da viagem.[9] O próprio termo "Morena", no título da canção, pode ser uma referência a uma famosa praia de Benguela.

A canção conta a história de uma morena que "leva o chocalho amarrado na canela". Na dança conhecida como moçambique, um pequeno chocalho feito de palha trançada, cujo interior é cheio de pedras ou garrafas, costuma ser amarrado nas canelas dos dançarinos, à maneira de algumas tribos africanas.[10] Há também uma referência à receita de galinha à cabidela, prato tradicional de ex-colônias portuguesas no qual se cozinha o arroz junto com o sangue e a carne do animal.[11] O verso "Passando pelo regimento, ela faz requebrar a sentinela" faz referência à Guerra Civil Angolana, indicando que os sentinelas não resistiriam ao requebrado da morena. Outro verso que faz referência à Guerra Civil é "Será que ela não fica afoita pra dançar na chama da batalha?".[12]

Após a viagem a Angola, cujo contexto pós-independência impressionou a cantora, Clara começou a se inteirar sobre o contexto político brasileiro.[6] Ela passou a participar ativamente de movimentos que tinham como finalidade discutir a abertura política do país.[6] Começou também a falar sobre política e discutir o tema de forma veemente, inclusive em entrevistas.[6] Por este motivo, Chico colocou o verso "Morena, bichinha danada, minha camarada do MPLA" na canção. Para Marco Polli, em artigo na edição brasileira do Le Monde diplomatique, se trata do sétimo pior verso da história da música brasileira. Para ele, a fatalidade da Guerra Civil Angolana não justifica o tom alegre da canção.[12]

Regravações[editar | editar código-fonte]

A primeira regravação da canção foi feita pelo próprio Chico Buarque, no álbum Vida, lançado também em 1980.[13] Também faria parte do álbum e DVD Carioca - Ao Vivo, lançado por Chico em 2007.[13] Elba Ramalho regravaria a canção em 1991 em Felicidade Urgente[14] e em 1999 em Solar.[15] Em 1989, "Morena de Angola" foi gravada por Ney Matogrosso em Ney Matogrosso Ao Vivo.[16] Em 2003, em comemoração aos 60 anos de nascimento de Clara, a gravadora DeckDisc lançou o álbum duplo Um Ser de Luz - Saudação a Clara Nunes. Nele, Rita Ribeiro interpretou "Morena de Angola".[17]

Além de ter sido regravada por Chico Buarque, Elba Ramalho, Ney Matogrosso e Rita Ribeiro, a canção foi remixada duas vezes. A primeira delas, em 1995,[18] no álbum Clara Nunes Com Vida, um tributo à cantora, traz os vocais de Chico sobrepostos aos de Clara na gravação original.[19] A segunda remixagem foi feita pelo DJ Zé Pedro em seu álbum Música para Dançar, que faz releituras de grandes sucessos da música brasileira e foi lançado em 2002.[20]

Referências

  1. Fernandes, Vagner. Clara Nunes: Guerreira da Utopia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. p. 310. ISBN 978-85-774-8031-9. Trecho do livro no Google Books.
  2. a b c d e f Fernandes, Vagner. Clara Nunes: Guerreira da Utopia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. p. 229. ISBN 978-85-774-8031-9.
  3. a b c d Fernandes, Vagner. Clara Nunes: Guerreira da Utopia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. p. 224. ISBN 978-85-774-8031-9.
  4. a b c Fernandes, Vagner. Clara Nunes: Guerreira da Utopia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. p. 225. ISBN 978-85-774-8031-9.
  5. Fernandes, Vagner. Clara Nunes: Guerreira da Utopia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. p. 226. ISBN 978-85-774-8031-9.
  6. a b c d Fernandes, Vagner. Clara Nunes: Guerreira da Utopia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. p. 227. ISBN 978-85-774-8031-9.
  7. Fernandes, Vagner. Clara Nunes: Guerreira da Utopia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. p. 227-229. ISBN 978-85-774-8031-9.
  8. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome Não_nomeado-y7q0-1
  9. a b Caymmi, Stella. Dorival Caymmi: O Mar e o Tempo. Editora 34, 2001. p. 469. Trecho do livro no Google Books.
  10. Dourado, Henrique Autran. Dicionário de termos e expressões da música. Editora 34, 2004. p. 241. Trecho do livro no Google Books.
  11. Cavalcanti, Letícia. "Galinha de Cabidela" Arquivado em 6 de março de 2011, no Wayback Machine.. Terra Magazine. 9 de fevereiro de 2008.
  12. a b Polli, Marco. "Piores versos da música brasileira". Le Monde Diplomatique Brasil. 26 de fevereiro de 2009.
  13. a b Letra da canção no sítio oficial de Chico Buarque
  14. Informações sobre o disco Felicidade Urgente no sítio Cliquemusic.
  15. Informações sobre o disco Solar no sítio Cliquemusic.
  16. Informações sobre o disco Ney Matogrosso Ao Vivo no sítio Cliquemusic.
  17. Clara Nunes - Dados Arísticos no Dicionário Cravo Albin de Música Popular Brasileira.
  18. Informações sobre o disco Clara Nunes Com...Vida[ligação inativa] no UOL Megastore.
  19. Verna, Paul (editor). "Reviews & Previews". Billboard. 8 de junho de 1996. p. 17. Vol. 108, Nº 23. ISSN 0006-2510. Trecho da revista no Google Books.
  20. Informações sobre o disco Música para Dançar no sítio Cliquemusic.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]