Onde Bate o Sol

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Onde Bate o Sol
Título internacional Where the Sun Beats
Portugal Portugal[1]
1989 •  cor •  88 min 
Género drama
Direção Joaquim Pinto[2]
Produção João Bénard da Costa
Marina Meireles
Roteiro Joaquim Pinto
Eduarda Chiote
Elenco António Pedro Figueiredo
Laura Morante
Maria de Medeiros
Música Mário Franco
Miso Ensemble
Kenneth Frazer
Croix Sainte
Michael Galssbuner
Sei Miguel
Cinematografia Joaquim Pinto
Sonoplastia Francisco Veloso
Edição Cláudio Martinez
Companhia(s) produtora(s) GER
Lançamento
  • 12 de julho de 1994 (1994-07-12) (Portugal)
Idioma português

Onde Bate o Sol é uma longa-metragem melodramática portuguesa de 1989[3], realizada e escrita por Joaquim Pinto.[4] O filme é protagonizado por António Pedro Figueiredo e Laura Morante, interpretando respetivamente os irmãos Nuno e Laura, que durante um verão quente no interior rural do país, se envolvem em relações amorosas impossíveis e proibidas, das quais não ousam falar.[5]

A longa-metragem fez parte do programa do Festival Internacional de Berlim, onde estreou em fevereiro de 1989. Nos cinemas em Portugal, Onde Bate o Sol foi lançado comercialmente apenas cinco anos depois, a 12 de julho de 1994.[6]

Sinopse[editar | editar código-fonte]

Numa quinta do interior rural de Vouzela, Laura vive infeliz com o seu marido, um homem bastante mais velho do que ela. Durante um verão quente, Laura recebe a visita do irmão mais novo, Nuno. Ele cedo se apercebe de como a relação da irmã com o cunhado funciona apenas para manter as aparências.[7]

Alberto, um funcionário da quinta, leva Nuno a passear por caminhos agrestes, oliveiras, rochedos e rios, para que conheça o espaço. A amizade dos dois faz com que o jovem explore uma orientação amorosa da qual nunca suspeitara e que tenta abafar. O modo como os relacionamentos dos irmãos evoluem colocam-nos um contra o outro.[8]

Elenco[editar | editar código-fonte]

Equipa técnica[editar | editar código-fonte]

Produção[editar | editar código-fonte]

Desenvolvimento[editar | editar código-fonte]

No final da década de 1980, João César Monteiro desafia Joaquim Pinto a produzir Recordações da Casa Amarela (1989), algo que o entusiasmou: "O César veio ter comigo e pareceu-me um desafio que valia a pena. Estávamos todos entusiasmados, convictos de que iria marcar um corte em relação ao que se estava a fazer e aos filmes anteriores do César." Assumindo que a sua prioridade deveria ser ao serviço de reinventar um papel de produtor, Pinto entra em rodagem com Onde Bate o Sol pretendendo redirecionar os fundos recebidos pelo Instituto Português de Cinema, RTP e Fundação Calouste Gulbenkian a favor de Recordações da Casa Amarela, que não fora subsidiado: "Com Onde Bate o Sol percebi que não podia continuar a fazer as duas coisas [ser realizador e produtor]. E que era mais importante proporcionar o trabalho de outros. A prioridade não era fazer os meus filmes, mas tornar as coisas possíveis".[12]

O argumento e personagens do filme são inspirados em vivências, familiares ou conhecidos de Joaquim Pinto. O protagonista foi chamado de Nuno, referência a Nuno Leonel, parceiro do realizador. Joaquim Vicente, pai de Pinto, interpreta o papel de Artur, ainda que dobrado pela voz do Luís Miguel Cintra.[13]

Rodagem[editar | editar código-fonte]

As gravações de Onde Bate o Sol decorreram em 1988, em Lusinde, na Serra da Estrela, e em Vouzela, numa quinta onde Manuel Lobão, um dos membros do elenco do filme, trabalhava.[14]

Continuidade artística[editar | editar código-fonte]

São várias as linhas de continuidade entre o primeiro filme de Joaquim Pinto, Uma Pedra no Bolso (1988), e Onde Bate o Sol, para além de membros do elenco. Desde logo, une as obras o seu formato de longa-metragem de ficção com temáticas pessoais, perspetiva nostálgica e um estilo melodramático que contrasta com os filmes formalmente radicais do alto modernismo que ele fazia na época, com Manoel de Oliveira por exemplo.[15] Vários cinéfilos, como Max Nelson, consideram Nuno, o protagonista de Onde Bate o Sol, uma versão cinco anos mais velha de Miguel, o protagonista de Uma Pedra no Bolso. Ambos personagens estão mesma descoberta e mutação identitária, ainda que em períodos diferentes da adolescência. Nuno assume-se mais velho, melancólico e frio, transpondo uma presença e desejo sexual que se distingue da inocência de Miguel.[16] Ambos os filmes apresentam também um personagem jovem mais periférico, trabalhadores rurais com uma influência erótica desestabilizadora sobre todos com quem se relacionam: João em Uma Pedra no Bolso e Alberto em Onde Bate o Sol, reminescentes do forasteiro de Teorema (1968).[17] Ambos personagens servem de guia dos protagonistas no espaço envolvente e nas emoções que surgem, despoletando uma nova compreensão do próprio corpo, da orientação sexual e do amor.[18]

Distribuição[editar | editar código-fonte]

A apresentação de Onde Bate o Sol decorreu a fevereiro de 1989, na secção Panorama do Festival Internacional de Cinema de Berlim. A longa-metragem chegou aos cinemas de Portugal apenas cinco anos depois, a 12 de julho de 1994.[6]

Este filme viria a integrar uma retrospetiva integral dos filmes de Joaquim Pinto e Nuno Leonel na reabertura da temporada de programação Cinemateca Portuguesa em 2014. Onde Bate o Sol foi exibido a 5 de setembro desse ano.[19]

Festivais[editar | editar código-fonte]

Após a sua estreia no Festival de Berlim, Onde Bate o Sol foi selecionado para integrar outros festivais internacionais de cinema, dos quais se destacam:

Receção crítica[editar | editar código-fonte]

O crítico do Público, Luís Miguel Oliveira, defendeu Onde Bate o Sol, enquanto "filme frágil, essa fragilidade não demora muito a começar a trabalhar em favor do filme. Poder-se-ia defender, sem grande esforço de retórica, que se trata mesmo de um filme que faz da ideia de fragilidade uma das suas linhas principais".[24] Num texto bastante elogioso da longa-metragem, José Oliveira (Out) destaca o trabalho de Joaquim Pinto: "este grande cineasta artesão volta a pôr tudo em causa, não se filiando em nenhum partido ou corrente. Nem arte povera, nem amadorismo no que tanto superficialmente se apreendeu da palavra e do seu modo de fazer, nada de teorias, desculpas ou cauções. [...] Não cede jamais lugar à mediocridade ou ao facilitismo."[25] Numa análise da obra na publicação Humanitas, Francisco Javier Tovar Paz apresenta uma perspetiva mais moderada ainda que igualmente lisonjeadora da abordagem de Pinto: "Certamente não é um filme totalmente satisfatório, especialmente devido a uma dispersão forçada de pontos de vista [...] mas isso já é um indício de que, ainda que de forma evasiva, o realizador propõe algo mais do que o enquadramento paisagístico e climático onde situar uma série de paixões de natureza sexual."[26]

Onde Bate o Sol recebeu o Prémio Découvertes, atribuído pela Cinemateca Real da Bélgica, em 1989.[27]

Referências

  1. SAPO, Onde Bate o Sol - SAPO Mag, consultado em 13 de abril de 2023 
  2. «Untitled Document». www.costacastelo.pt. Consultado em 13 de abril de 2023 
  3. «Joaquim Pinto | IFFR». iffr.com. Consultado em 13 de abril de 2023 
  4. «Informação - Filmebase - Joaquim Pinto». www.filmebase.pt. Consultado em 13 de abril de 2023 
  5. Onde Bate o Sol, consultado em 17 de abril de 2023 
  6. a b «Obra de Joaquim Pinto em destaque na Cinemateca». www.dn.pt. Consultado em 13 de abril de 2023 
  7. «Onde Bate o Sol – Lembrando Joaquim Pinto e Nuno Leonel». Consultado em 13 de abril de 2023 
  8. de Matos-Cruz, José (1999). O Cais do Olhar. [S.l.]: Cinemateca Portuguesa. p. p. 244. ISBN 9789726191803 
  9. «Onde Bate o Sol (1989) by Joaquim Pinto». webcache.googleusercontent.com. Consultado em 13 de abril de 2023 
  10. «Onde Bate o Sol (1989) - Elenco e Equipe no MUBI». mubi.com. Consultado em 15 de abril de 2023 
  11. «Joaquim Pinto → Caminhos do Cinema Português». https://www.caminhos.info/. 10 de outubro de 2016. Consultado em 15 de abril de 2023 
  12. Câmara, Vasco. «Onde bate o sol». PÚBLICO. Consultado em 13 de abril de 2023 
  13. «BOMB Magazine | Joaquim Pinto». BOMB Magazine. Consultado em 13 de abril de 2023 
  14. «Uma Pedra no Bolso» (PDF). webcache.googleusercontent.com. Consultado em 15 de abril de 2023 
  15. Câmara, Vasco. «Aqui bate o sol: Joaquim Pinto». PÚBLICO. Consultado em 13 de abril de 2023 
  16. «A Life Less Ordinary: The Films of Joaquim Pinto». Film Comment (em inglês). 8 de agosto de 2014. Consultado em 13 de abril de 2023 
  17. «Geografias afectivas a partir de três obras de Joaquim Pinto por Carlos Natálio Depois de ter visto o seu segredo desvelado, e» (PDF). webcache.googleusercontent.com. Consultado em 15 de abril de 2023 
  18. «Joaquim Pinto, lembrar e recordar». À pala de Walsh. 31 de agosto de 2014. Consultado em 13 de abril de 2023 
  19. «Cinemateca - Joaquim Pinto e Nuno Leonel - retrospetiva em setembro». webcache.googleusercontent.com. Consultado em 13 de abril de 2023 
  20. «Onde Bate o Sol (1989) Premiações e Festivais». mubi.com. Consultado em 15 de abril de 2023 
  21. «ONDE BATE O SOL | IFFR». iffr.com. Consultado em 13 de abril de 2023 
  22. «ONDE BATE O SOL». webcache.googleusercontent.com. Consultado em 16 de abril de 2023 
  23. «Onde Bate o Sol». ICA. Consultado em 13 de abril de 2023 
  24. «Onde Bate o Sol». PÚBLICO (em inglês). Consultado em 13 de abril de 2023 
  25. Oliveira, José. «OUT». Consultado em 17 de abril de 2023 
  26. Paz, Francisco Javier Tovar (2005). «"Onde bate o Sol" (1989), de Joaquim Pinto: claves cinematográficas y culturales». ISSN 2183-1718. Consultado em 17 de abril de 2023 
  27. Junior (25 de fevereiro de 2016). «ONDE BATE O SOL (1989)». Portugalfantastico.com. Consultado em 13 de abril de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]