Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque de Faria Pinho

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque Pinho
Maria Benedita M. A. Pinho.jpg
Retrato de D. Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque Pinho (década de 1910).
Nome completo Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque de Faria Pinho
Nascimento 5 de abril de 1865
Figueiró dos Vinhos, Leiria, Reino de Portugal Portugal
Morte 12 de janeiro de 1939 (73 anos)
Santa Isabel, Lisboa, Portugal Portugal
Nacionalidade Portugal Portuguesa

Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque de Faria Pinho (Figueró dos Vinhos, Leiria, 5 de Abril de 1865 — Santa Isabel, Lisboa, 12 de Janeiro de 1939), foi uma escritora, tradutora, professora, propagandista, militante republicana e activista feminista.

Foi pioneira na luta de causas cívicas e na reivindicação dos direitos das mulheres no início do século XX, apelando incansavelmente ao direito ao voto feminino e à lei do divórcio durante a Primeira República, tendo integrado várias associações políticas e feministas, como a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e a Comissão Feminina "Pela Pátria", sendo uma das suas fundadoras.

Biografia

Nascida em Figueró dos Vinhos, a 5 de Abril de 1865, Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque de Faria Pinho era filha do político e empresário jornalista Diogo de Faria Pinho e Vasconcelos Soares de Albergaria, natural de Figueró dos Vinhos, de cujo concelho era administrador, e de Maria do Amparo Raposo Mouzinho de Albuquerque, neta do antigo governador da Madeira, administrador colonial e ministro do Reino Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque, natural de Lisboa.[1] Eram seus avós paternos o Barão do Salgueiro e Bacharel Manuel José de Pinho Soares de Albergaria e Maria Benedita de Faria Pereira de Vasconcellos, e maternos Fernando Luís Mouzinho de Albuquerque, militar, empresário, jornalista, escritor, poeta e político, e Matilde da Conceição Raposo. Ao ser baptizada no dia 8 de Maio de 1865, na Igreja Paroquial de São João Baptista de Figueiró dos Vinhos, teve como padrinhos o avô paterno e a avó materna. Era também a terceira de sete filhos deste casamento.

Descendente de uma longa linhagem aristocrática, contudo democrática, teve uma educação esmerada, focando-se essencialmente no estudo das línguas clássicas e modernas, filosofia, política e literatura. Ainda devido ao seu meio familiar, foi lhe proporcionada, desde bastante jovem idade, uma fácil e ávida correspondência com algumas das mais célebres figuras nacionais do cenário político português da época, entre os quais o então futuro Presidente da República Bernardino Machado [2], que a influenciaram e inspiraram na busca dos seus ideais democráticos e humanistas.

Aos 17 anos, no dia 1 de Julho de 1882, casou com o general e engenheiro militar Joaquim Lúcio Lobo, catorze anos mais velho e natural de Leiria, com o qual teve uma filha de nome Maria Henriqueta Lobo[3], contudo, devido às várias missões de destacamento do seu marido e a várias incompatibilidades de personalidade, rapidamente a sua relação tornou-se bastante instável e de trato difícil. Esse facto levou Maria Benedita a reivindicar o direito ao divórcio ainda antes da Primeira República.

"As Andorinhas", edição de pequenos contos de Maria Benedita Mouzinho de Albuquerque Pinho, revertendo a receita para a Comissão Feminina "Pela Pátria" (1915)

Em 1909, ainda casada mas separada, mudou-se para Lisboa, onde começou a exercer como professora. Alistou-se na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas [4], uma associação de carácter político e feminista, com o objectivo de "orientar, educar e instruir, nos princípios democráticos, a mulher portuguesa" e "promover a revisão das leis na parte que interessa especialmente à mulher e à criança", criada pela escritora e jornalista Ana de Castro Osório. Nesse mesmo ano, fez parte da sua primeira direcção, secretariou a assembleia geral que marcou a fundação oficial da agremiação, a 27 de Fevereiro, e ainda integrou a comissão dirigente da revista oficial "A Mulher e a Criança" [5], demitindo-se do cargo, um ano depois, por não concordar que a publicação perdesse a sua autonomia ao ficar dependente dos corpos gerentes da Liga.[6]

Apesar das suas origens bastante distintas, rapidamente se tornou amiga da professora, activista republicana e propagandista Cristina Torres dos Santos [7], sendo noticiado pelo periódico "O Mundo" que as duas estavam presentes numa manifestação nocturna de apoio à República, após a sua implantação, a 6 de Outubro de 1910, na Figueira da Foz.

Um ano depois, em 1911, com a aprovação da lei do divórcio, fruto da colaboração de Ana de Castro Osório com Afonso Costa, então Ministro da Justiça, Maria Benedita divorciou-se do seu marido.[8] Anos mais tarde, em 1953, Joaquim Lúcio Lobo tornou-se no oficial mais antigo do Exército Português ao falecer com 101 anos de idade.

Em 1914, juntamente com Ana Augusta de Castilho, Ana de Castro Osório e Antónia Bermudes, fundou a Comissão Feminina “Pela Pátria”, uma das primeiras instituições organizadas em Portugal com o objectivo de mobilizar as mulheres para o esforço de guerra, ao prestarem assistência aos soldados mobilizados para a frente de combate e suas famílias, durante a Primeira Guerra Mundial. Dois anos depois, com o envolvimento de Portugal na frente europeia, durante a presidência de Bernardino Machado, e a assimilação da comissão que havia criado no novo movimento de beneficência Cruzada das Mulheres Portuguesas [9], liderado pela Primeira Dama Elzira Dantas Machado, Maria Benedita continuou a apoiar a sua causa até à sua extinção em 1938, pelo Estado Novo.[10]

Apesar de possuir uma considerável fortuna familiar, sempre procurou manter a sua autonomia financeira, trabalhando sobretudo em Lisboa e Leiria, ora traduzindo textos de autores franceses e russos, como Paul Margueritte, Victor Margueritte e Liev Tolstói, ora escrevendo artigos de carácter reivindicativo, feminista e republicano em diversas revistas e jornais da época, como "A Semeadora" ou "O Mundo". Também publicou vários romances, como "Marina" e "O Vagabundo", e ainda várias colectâneas de pequenos contos infantis, como "As Rosas do Menino Jesus"[1] ou "As Andorinhas", que revertia a totalidade das suas receitas para a comissão que havia fundado.

Maria Benedita faleceu em Lisboa aos 73 anos, no dia 12 de Janeiro de 1939, na rua Ferreira Borges, número 27, segundo andar, daquilo a que hoje se chamaria uma doença neurodegenerativa mas que na altura foi classificado como "demência senil". Encontra-se sepultada no Cemitério da Ajuda, em Lisboa.

Referências

  1. «Silêncios e Memórias». silenciosememorias.blogspot.com. Consultado em 10 de janeiro de 2019 
  2. «| Cc | Arquivos». casacomum.org. Consultado em 10 de janeiro de 2019 
  3. «FAMÍLIAS DE LEIRIA - Página de nomes de indivíduos nº». www.familiasdeleiria.com. Consultado em 19 de junho de 2019 
  4. «Exclusivo APH - SILÊNCIOS E FEMINISMOS | APH». www.aph.pt. Consultado em 10 de janeiro de 2019 
  5. «Exclusivo APH - SILÊNCIOS E FEMINISMOS | APH». www.aph.pt. Consultado em 10 de janeiro de 2019 
  6. Republicano, Almanaque (25 de maio de 2013). «Almanaque Republicano: A MULHER E A CRIANÇA. ORGÃO DA LIGA REPUBLICANA DAS MULHERES». Almanaque Republicano. Consultado em 11 de março de 2019 
  7. «Silêncios e Memórias». silenciosememorias.blogspot.com. Consultado em 10 de janeiro de 2019 
  8. «Silêncios e Memórias». silenciosememorias.blogspot.com. Consultado em 10 de janeiro de 2019 
  9. «A Solidariedade». www.momentosdehistoria.com. Consultado em 11 de março de 2019 
  10. Republicano, Almanaque (29 de janeiro de 2016). «Almanaque Republicano: NO CENTENÁRIO DA CRUZADA DAS MULHERES PORTUGUESAS: MOSTRA DOCUMENTAL NA BIBLIOTECA NACIONAL». Almanaque Republicano. Consultado em 11 de março de 2019