Almutâmide

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 Nota: Este artigo é sobre o rei-poeta de Sevilha. Para o califa abássida, veja Almutâmide (califa).
Abu l-Qasim Muhammad Al-Mutamid
Rei abádida de Sevilha
Almutâmide
Túmulo de Almutâmide em Agmate
Reinado 1069-1091
Antecessor(a) Almutadide
Sucessor(a) Iúçufe ibne Taxufine (almorávida)
Nascimento 1039
  Beja
Morte 1095
  Agmate
Sepultado em Agmate
Cônjuge Rumaykiyya
Descendência Abbad Siray al-Dawla (filho)

Ubayd Allah al-Rasid (filho)
Abd Allah al-Mutadd (filho)
al-Fath Abu Nasr al-Mamun (filho)
Yazid Abu Jalid al-Radi (filho)
Abu Sulayman Tay al-Dawla (filho)
Abu l-Hasim al-Maalla Zin al-Dawla (filho)
Butayna (filha)
Yahya (filho)
Hakam (filho)
Abd al-Yabbar (filho)

Casa Abádida
Pai Almutadide
Religião Islamismo

Al-Mutamid ibn Abbad (10391095), também conhecido como Almutâmide, foi o terceiro e último dos reis Abádidas que governaram a Taifa de Sevilha no século XI e um dos poetas mais importantes de Al-Andalus, tendo ficado conhecido como o "rei-poeta".[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Príncipe de Sevilha[editar | editar código-fonte]

Nascido em Beja,[3] em dezembro de 1039 (Rabi al-Awwal de 431, segundo o calendário islâmico)[4], o segundo filho de Almutadide foi originalmente batizado com o nome de seu avô, Abu l-Qasim Muhammad, e com o título honorífico al-Muayyid biLlah, tendo adotado outros títulos ao longa da vida.[1]

Com cerca de 12 anos, foi nomeado governador de Silves por seu pai. Aí, conheceu o poeta Abenamar, com quem criou uma forte relação de amizade e, possivelmente, romântica, ambos dedicando vários poemas um ao outro. No entanto, a foco de Abu l-Qasim mudaria ao conhecer a escrava Rumaykiyya, que, segundo a lenda, o encantou ao completar um verso que Abenamar não tinha sido capaz de completar. Imediatamente, comprou a bela escrava ao seu senhor e, pouco tempo depois, casou com ela, tornado-a a única esposa legítima do seu harém, algo que causou bastante tensão na sua relação com Abenamar.[1]

A influência de Abenamar e Rumaykiyya na vida do filho preocupava batante Almutádide, que acabou por forçar Abenamar a fugir do reino. Já Rumaykiyya terá sido aceite depois de ser chamada a Sevilha e de aparecer perante o rei com o seu neto Abbad (primogénito de Abu l-Qasim) ao colo.[1]

Rei de Sevilha[editar | editar código-fonte]

Em 1069, com a morte do seu pai, Abu l-Qasim sobe ao trono, adotando o nome "Almutâmide", e uma das primeiras coisas que faz é nomear o seu antigo amigo Abenamar governador de Silves. Pouco tempo depois, no entanto, com a morte de Ibn Zaydun, ministro de seu pai, Almutâmide nomeia Abenamar vizir do reino.[1][5]

Dirrã de bilhão de Almutâmide

Na década seguinte, Almutâmide viu morrer o seu filho mais velho, Abbad, que tinha sido nomeado governador de Córdova quando a cidade foi incorporada na coroa de Sevilha em 1070. Foi nesta cidade que Abbad acabaria por morrer em batalha contra os exércitos de Almamune de Toledo cinco anos depois (Almutâmide não descansou até reconquistar a cidade em 1078 para vingar o seu filho).[1] No início da década de 1080, com o aumento do território cristão, al-Andalus entrou em declínio, em grande parte devido à intensificação das pressões existentes sobre as Taifas e a exigência de tributos cada vez mais elevados a Afonso VI de Leão. Em 1082, Almutâmide terá tentado pagar a Afonso VI em moeda falsa, tendo crucificado o seu enviado, o judeu Ibn Salib, quando este protestou. Por vingança, Afonso VI invadiu as terras de Sevilha até chegar a Tarifa, no extremo sul da península.[6] Para piorar a situação, Almutâmide foi traído pelo seu amigo Abenamar, que, ao conquistar Múrcia, cortou relações com o rei de Sevilha e tentou tornar-se autónomo. No entanto, caiu do poder rapidamente, acabando por ser aprisionado em Sevilha, onde foi o próprio Almutâmide a matar o poeta.[1][5]

Túmulo de Almutâmide e Rumaykiyya, em Agmate

Com a conquista de Toledo por Afonso VI em 1085 e a existência das taífas em risco, os reis muçulmanos pediram apoio aos Almorávidas do norte de África contra a ameaça cristã. O emir dos Almorávidas, Iúçufe ibne Taxufine, viajou então com as suas tropas para Al-Andallus, ajudando Almutâmide e os outros reis muçulmanos a derrotar os cristãos em 1086 na batalha de Zalaca. Taxufine voltou ao seu reino posteriormente, contudo os reinos muçulmanos viram em Taxufine uma oportunidade de finalmente se libertarem da opressão cristã e voltaram a pedir a sua ajuda para a tomada de Aledo, dois anos depois. Desta vez, no entanto, não foram bem sucedidos, e o exército de Afonso VI conseguiu repelir os seus esforços. Finalmente, em 1090, Taxufine voltou a Al-Andalus, desta vez não se aliando com os reis das taífas, mas tentando conquistá-las. Almutâmide demorou até se aperceber do perigo, tendo inclusive felicitado Taxufine após a sua conquista da Taifa de Granada, mas, em 1091, o emir Almorávida chegou a Sevilha. Almutâmide ainda terá pedido apoio a Afonso VI, mas em vão, tendo sido derrotado e feito prisioneiro, desterrado para Agmate, perto de Marraquexe. Passaria os últimos quatro anos da sua vida aprisionado, dedicando-se à atividade poética.[1][6]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Precedido por
Almutadide
Governante abádida de Sevilha
1069–1091
Sucedido por
Conquista almorávida
Iúçufe ibne Taxufine

Referências

  1. a b c d e f g h Mata, María (1987). Al Mutamid Ibn Abbad: Poesias (em espanhol). [S.l.: s.n.] ISBN 84-7472-075-3 
  2. «Colóquio em Évora sobre rei-poeta Almutâmide». Diário de Notícias. 2009 
  3. Rei, António (2012). O Gharb al-Andalus al-Aqsâ na Geografia Árabe (PDF). Lisboa: IEM - Instituto de Estudos Medievais. ISBN 978-989-97066-6-8 
  4. Scheindlin, Raymond P. (1974). Forme and Structure in the Poetry of Al-Muʿtamid Ibn ʿAbbād (em inglês). [S.l.]: Brill Archive. ISBN 9789004038905 
  5. a b António Borges Coelho (2018). Portugal na Espanha Árabe. [S.l.]: Editorial Caminho. ISBN 9789722129022 
  6. a b Hugh Kennedy (1996). Muslim Spain and Portugal. [S.l.]: Taylor and Francis. ISBN 978-0-582-49515-9 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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