Capitão-geral da Igreja

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Retrato de Giuliano de' Medici (Juliano II) por Rafael Sanzio

O Capitão-geral da Igreja (em italiano: Capitano generale) era o comandante-em-chefe de facto das forças militares do Papado durante a Idade Média. O posto era habitualmente atribuído a um nobre italiano com reputação profissional militar ou (mais tarde) a um familiar do Papa. O ofício paralelo de Gonfaloneiro (em italiano Gonfaloniere, literalmente "porta-estandarte") da Igreja, era mais uma honra formal, cerimonial e honorária do que uma responsabilidade de liderança militar.[1]

Era tradicional o capitão-geral da Igreja usar um bastão de comando, abençoado pelo papa.[2] O primeiro capitão-geral da Igreja foi muito provavelmente Carlos Magno.

Capitães-gerais da Igreja[editar | editar código-fonte]

Capitão-geral Retrato Nomeado por Notas
Carlos Magno* Papa Leão III
(798-816)
"É quase certo concluir que o Papa desejava que o patrono real se considerasse capitão-general do exército da Igreja, e como tal tinha direito ao serviço de armas por seus súbditos, quando foi chamado pela Igreja para defender os direitos temporais".[3].
Guillaume Durand Papa Martinho IV (1281-1285) [4]
Jaime II de Aragão Papa Bonifácio VIII
(1294-1303)
Gonfaloniere, Almirante da Frota Pontifícia e Capitão-geral da Igreja; conduziu a guerra contra o seu irmão na Sicília tomando parte vitoriosa nas Vésperas Sicilianas[5][6]
Filipe VI de França Papa Bento XII (1334-1342) Por volta de agosto de 1336[7]
Juan Fernández de Heredia Papa Inocêncio VI (1352-1362) [8]
Daniele del Carretto Papa Gregório XI (1370-1378) [9]
Carlo I Malatesta Papa Bonifácio IX
(1389-1404)
"Vigário temporal e capitão-geral da Igreja"[10]
Braccio da Montone Papa Gregório XII (1406-1415) Nomeado em 1414; "Usou os exércitos pontifícios para tomar posse de Perugia, destinando porém a conquista à sua própria pessoa"[11]
Ranuccio Farnese, o Velho Papa Eugénio IV
(1431-1447)
Nomeado em 1435; avô do Papa Paulo III[12]
Niccolò Piccinino Nomeado em 6 de junho de 1442; Condottiero e comandante das forças do Ducado de Milão; portanto a sua nomeação foi "uma das primeiras indicações concretas" da aliança entre o Papa e Milão[13].
Jacques Cœur Papa Nicolau V (1447-1455) Morre no cargo[14]
Lodovico Trevisan Papa Calisto III (1455-1458) Trevisan teve um importante papel na organização da campanha naval contra os otomanos em dezembro de 1455, e foi também responsável pela instituição da primeira verdadeira frota pontifícia, sendo nomeado "legado apostólico, governador, capitão e condottiero geral"[15]
Pedro Luis de Borja Também Prefeito de Roma[16] Não confundir com Pedro Luis de Borja Llançol de Romaní
Antonio Piccolomini Papa Pio II
(1458-1464)
Filho da irmã de Pio II; sabe-se que tinha um estipêndio anual de 2000 ducados e era castelão do Castelo de Santo Ângelo; obtém o título de Príncipe e Duque de Amalfi[17]
Girolamo Riario Papa Sisto IV
(1471-1484)
Conspirador na conjura dos Pazzi, era irmão do cardeal-sobrinho Pietro Riario;[18] o título é depois revogado[19]
Franceschetto Cybo Papa Inocêncio VIII (1484-1492) Filho ilegítimo do Papa Inocêncio VIII[20]
Roberto Eustachio Antes condottiero de Milão; conduz a campanha contra Afonso II de Nápoles e sucessivamente passou ao serviço da República de Veneza[21]
Niccolò di Pitigliano (Orsini) Nomeado em 27 de junho de 1489, durante a guerra contra Fernando I de Nápoles[22]
Giovanni Bórgia Papa Alexandre VI
(1492-1503)
Filho do Papa; também Duque de Candia; assassinado, talvez por ordem do seu irmão Cesare[23]
César Bórgia Filho do Papa; antes cardeal-sobrinho; suspeito do assassinato do seu irmão Giovanni,[24] ou materialmente ou como mandante.[25] Júlio II, o "Papa Guerreiro", recusou confirmar Cesare depois da sua eleição.[26]
Francisco Maria I Della Rovere Papa Júlio II
(1503-1513)
Filho do irmão de Júlio II, João Della Rovere, e herdeiro adotado de Guidobaldo I, Duque de Urbino;[27] manteve o cargo até um ano depois da morte de Júlio II, foi-lhe pago 13 844 ducados anuais mais 30 000 pela sua companhia militar pessoal de 200 homens de infantaria e 100 cavaleiros[28]
Giovanni Rucellai Papa Leão X
(1513-1521)
Primo de Leone X[29]
Juliano II de Médici O filho de Giuliano, Giulio (futuro Papa Clemente VII), foi legado papal no exército[30]
Lourenço II de Médici, Duque de Urbino Nomeado com a morte de Giuliano em 1516; foi comandante das forças papais na primeira fase da Guerra de Urbino (1517)
Bernardo Dovizi Nomeado depois do ferimento de Lorenzo; comandou a armada pontifícia na Guerra de Urbino (1517)
Frederico II de Mântua Filho de Isabella d'Este; não interveio no Saque de Roma de 1527[31]
Papa Adriano VI (1522-1523)
Francisco Maria I Della Rovere Papa Clemente VII
(1523-1535)
Renomeado por Clemente VII depois do seu ducado ser retirado por Leão X e reinstaurado por Adriano VI[32]
Pedro Luís Farnésio Papa Paulo III
(1534-1549)
Nomeado em 2 de fevereiro de 1537; filho de Paulo III e anterior "gonfaloniere" (nomeado em janeiro de 1535), usou ambos os títulos em simultâneo[33]
Giambattista del Monte Papa Júlio III
(1550-1555)
Sobrinho de Júlio III[34]
Guidobaldo II Della Rovere [35]
Giovanni Carafa Papa Paulo IV (1555-1559) Nomeado depois da demissão de Guidobaldo; sobrinho de Paulo IV; definido pelos contemporâneos como "um afável incompetente"[35]
Marco Antônio II Colonna Papa Gregório XIII (1572-1585) Guiou a frota pontifícia na Batalha de Lepanto em 1571[36]
Taddeo Barberini Papa Urbano VIII
(1623-1644)
Irmão do cardeal-sobrinho Antonio Barberini[37]
Antonio Ottoboni Papa Alexandre VIII (1689-1691) [38]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. Chambers, 2006, p. 28.
  2. Chambers, 2006, p. 142.
  3. The Historians' History of the World, 1909, p. 662.
  4. Ronny O. Bodine and Thomas W. Spalding. 1995. The Ancestry of Dorothea Poyntz, Wife of Reverend John Owsley: Generations 1-12. R.O. Bodine & T.W. Spalding, Jr. p. 140.
  5. Ver "Pope Boniface VIII" nella Catholic Encyclopedia del 1913.
  6. Michele Amari, Francis Egerton Ellesmere. 1850. History of the War of the Sicilian Vespers, R. Bentley, p. 64.
  7. Jonathan Simon Christopher Riley-Smith, Jonathan Riley-Smith. 2005. The Crusades: A History. Continuum International Publishing Group. ISBN 0826472702, p. 267.
  8. H. J. A. Sire. 1994. The Knights of Malta, Yale University Press, ISBN 0300068859, p. 42.
  9. Paul R. Thibault. 1987. Pope Gregory XI: The Failure of Tradition. University Press of America. ISBN 0819154628. p. 64.
  10. Encyclopaedia Britannica. 1911. "Rome". p. 681.
  11. June Osborne, Joe Cornish. 2002. Urbino: The Story of a Renaissance City. Frances Lincoln Ltd. ISBN 0711220867, p. 45.
  12. Chambers, 2006, p. 162.
  13. Joachim W. Stieber. 1978. Pope Eugenius IV, the Council of Basel and the Secular and Ecclesiastical Authorities in the Empire. BRILL. ISBN 9004052402, p. 195.
  14. MacMillan's Magazine. "A King's Treasurer". p. 320.
  15. Chambers, 2006, p. 49.
  16. Maria Bellonci. 1939. The Life and Times of Lucrezia Borgia. Harcourt, Brace. p. 15.
  17. Chambers, 2006, p. 59.
  18. New Schaff-Herzog Encyclopedia. 1911. Funk and Wagnalls Company. p. 446.
  19. Levillain, Philippe. 2002. The Papacy: An Encyclopedia. p. 799.
  20. John William Bradley. 1888. A Dictionary of Miniaturists, Illuminators, Calligraphers, and Copyists. B. Quaritch. p. 291.
  21. Julia Mary Cartwright Ady. 1920. Beatrice D'Este, Duchess of Milan, 1475-1497: A Study of the Renaissance. E. P. Dutton & co. p. 43.
  22. Pastor, Ludwig. 1902. The History of the Popes. K. Paul, Trench, Trübner & Co., Ltd. p. 276.
  23. Spinosa, La saga dei Borgia.
  24. Eliakim Littell, Making of America Project, Robert S. Littell. 1888. The Living Age. Living Age Co. p. 70.
  25. Chambers's Encyclopaedia: A Dictionary of Universal Knowledge. "Borgia". 1901. J.B. Lippincott Company. p. 329.
  26. The New Encyclopaedia Britannica. 1983. p. 42.
  27. Chambers, 2006, pp. 14-15.
  28. James Dennistoun. 1851. Memoirs of the Dukes of Urbino. Longman, Brown, Green, and Longmans. p. 340.
  29. Alexander Chalmers. 1816. The General Biographical Dictionary. Nichols. p. 443.
  30. Chambers, 2006, p. 137.
  31. Christopher Hare, Marian Andrews, Baldassarre Castiglione. 1908. Courts & camps of the Italian renaissance. C. Scribner's Sons. p. 131.
  32. Chambers, 2006, p. 148.
  33. Chambers, 2006, p. 153.
  34. Chambers, 2006, p. 163.
  35. a b Setton, Kenneth M. 1984. The Papacy and the Levant: 1204 - 1571. DIANE Publishing. ISBN 0871691620. p. 643.
  36. Hugh Bicheno. 2004. Crescent and Cross: The Battle of Lepanto 1571. Sterling Publishing Company, Inc. ISBN 1842127535. p. 159.
  37. Chambers, 2006, p. 176.
  38. Edward J. Olszewski. 2004. Cardinal Pietro Ottoboni (1667-1740) and the Vatican Tomb of Pope Alexander VIII. DIANE Publishing. ISBN 087169252X. p. 111.

Referências[editar | editar código-fonte]

  • Chambers, D.S. 2006. Popes, Cardinals & War: The Military Church in Renaissance and Early Modern Europe. I.B. Taurus. ISBN 1-84511-178-8.