Chantal Mouffe

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Chantal Mouffe
Chantal Mouffe
Nascimento 17 de junho de 1943 (80 anos)
Charleroi
Cidadania Bélgica
Cônjuge Ernesto Laclau
Alma mater
Ocupação cientista política, filósofa, professora universitária, ativista pelos direitos das mulheres
Empregador(a) Universidade de Westminster, Fondation de France
Ideologia política pós-marxismo

Chantal Mouffe (Charleroi, 17 de junho de 1943) é uma cientista política pós-marxista belga. Desenvolve trabalhos na área da teoria política.

Estudou em Lovaina, Paris e Essex e tem trabalhado em várias universidades na Europa, América do Norte e América Latina. Foi professora convidada em Harvard, Cornell, Princeton e no Centre National de la Recherche Scientifique. De 1989 a 1995, foi diretora de departamento no Collège International de Philosophie, em Paris. Atualmente, é Professora de Teoria Política na Universidade de Westminster, no Reino Unido.[1]

Trabalho teórico[editar | editar código-fonte]

É mais conhecida pela sua contribuição, juntamente com seu companheiro, Ernesto Laclau, para o desenvolvimento da análise de discurso, também referida como Essex School of Discourse Analysis.[2] Também com Laclau, é co-autora do livro Hegemony and Socialist Strategy - Towards a Radical Democratic Politics, obra escrita em 1985, editada somente em 2015 no Brasil com o título de Hegemonia e estratégia socialista pela editora Intermeios. A obra se tornou seminal em áreas de estudo como a teoria crítica, teoria da democracia, subjectivação política ou movimentos sociais, apresentando uma articulação entre uma abordagem pós-marxista, que parte da releitura de Antonio Gramsci, e pós-estruturalista, com atenção à análise e desconstrução de identidades, narrativas e jogos de linguagem nas questões do poder político, sendo centrais neste trabalho os conceitos de "hegemonia" e "antagonismo".[3][4]

A título individual, tem trabalhado sobre os conceitos "política" e de "agonismo". Em relação a este último, Mouffe define-o do seguinte modo:
«Tendo como finalidade ser aceite como legítimo, o conflito necessita adotar uma forma que não destrua a associação política. Isto significa que algum tipo de ligação deve existir entre as partes em conflito, de forma a que não tratem os seus oponentes como inimigos a erradicar, ao considerar as suas exigências ilegítimas, que é exatamente o que acontece na relação antagonista de amigo/inimigo. (…) Se queremos reconhecer, por um lado, a permanência da dimensão conflitual antagonista ao mesmo tempo que, por outro, permitimos a possibilidade de "domesticação", precisamos de perspectivar um terceiro tipo de relação. A este tipo de relação proponho chamar agonismo. Enquanto que o antagonismo é uma relação nós/eles na qual as duas partes são inimigas que não partilham qualquer referencial comum, o agonismo é uma relação nós/eles entre partes em conflito que, apesar de admitirem que não existe qualquer solução racional para o seu conflito, reconhecem a legitimidade do seu oponente. São "adversários", não "inimigos".»[5]

A democracia plural - do antagonismo ao modelo agonístico[editar | editar código-fonte]

Aos modelos deliberativos e liberais, Mouffe opõe a ideia e o projeto de uma « democracia radical e plural », entendida como uma « radicalização da tradição democrática moderna » mediante « a extensão e o aprofundamento da revolução democrática ». [6] No centro dessa teoria, afirma-se a ideia de que a política - e a democracia - é indissociável da dimensão conflitual, não podendo esta ser eliminada por nenhum « processo racionaL de negociação » , [7] que seja a deliberação habermasiana, quer seja o veu de ignorância [8] como defende Rawls.

Para descrever essa persistência irremediável de « conflitos para os quais nenhuma solução racional existe »,[9] Mouffe faz uso do conceito de antagonismo, pelo qual ela define o político em si mesmo. Novamente, esse conceito de antagonismo se inspira na teoria de Carl Schmitt, sendo que este compara o político a uma relação amigo/inimigo, « que não pode ser resolvida dialeticamente ».[9] Embora reconhecendo, com Schmitt, que o antagonismo amigo/inimigo conduz à « destruição da associação política » e não pode, portanto, ser considerado como « legitimo, dentro de uma sociedade democrática »,[9] Mouffe defende que o antagonismo propriamente dito, se não pode ser eliminado, pode e deve ser sublimado em um agonismo. Este se distingue do antagonismo por não mais levar a uma confrontação entre inimigos, mas a um confronto que opõe « adversários que reconhecem a legitimidade de suas respectivas reivindicações ».[9] Assim, ela afirma que « o objetivo de uma política democrática é o de transformar o antagonismo potencial em uma agonística »,[10] dentro da qual os adversários estejam de acordo sobre os princípios democráticos de liberdade e igualdade, embora se confrontem sobre o significado que se deva dar a esses princípios.[10] A democracia plural ou pluralista que Mouffe defende corresponde a esse modelo agonístico e apresenta, segundo ela, a vantagem de reconhecer o papel das paixões na formação das identidades coletivas.

Em consequência, ela se declara favorável à dimensão partidária da política e critica firmemente as teorias que alegam ser obsoleta a clivagem entre direita e esquerda.As tentativas de elaborar uma "terceira via", com a finalidade de superar essa clivagem, são, aliás, para Chantal Mouffe, uma das razões da ascensão dos populismos de direita e dos partidos de extrema direita.[11]

Uma tal concepção do político, que afirma, contra o racionalismo, a indissociabilidade entre democracia e conflituosidade (em razão da ausência de procedimentos políticos racionais que permitam superar as oposições e chegar a um modelo definitivo da ideia de justiça) pode ser comparada às posições de Claude Lefort ou de Jacques Rancière, que concordam também em ligar a ideia de democracia à ideia de necessidade do conflito. Essa concepção também se aproxima, em certa medida, de Cornelius Castoriadis, no tocante à refutação da existência de um fundamento estritamente racional na definição de justiça .

Obras[editar | editar código-fonte]

  • (ed.) Gramsci and Marxist Theory. Londres – Boston: Routledge / Kegan Paul, 1979.
  • (com Ernesto Laclau) Hegemony and Socialist Strategy: Towards a Radical Democratic Politics. Londres – Nova Iorque: Verso, 1985.
  • (ed.) Dimensions of Radical Democracy: Pluralism, Citizenship, Community. Londres – Nova Iorque: Verso, 1992.
  • The Return of the Political. Londres – Nova Iorque: Verso, 1993.
  • Le politique et ses enjeux. Pour une démocratie plurielle. Paris: La Découverte/MAUSS, 1994.
  • (ed.) Deconstruction and Pragmatism. Londres – Nova Iorque: Routledge, 1996.
  • (ed.) The Challenge of Carl Schmitt. Londres – Nova Iorque: Verso, 1999.
  • The Democratic Paradox. Londres – Nova Iorque: Verso, 2000.
  • (ed.) Feministische Perspektiven. Viena: Turia + Kant, 2001.
  • (ed.) The legacy of Wittgenstein: Pragmatism or Deconstruction. FranKfurt am Main – Nova Iorque: Peter Lang, 2001.
  • On the Political. Londres – Nova Iorque: Routledge, 2005.
  • Hegemony, Radical Democracy, and the Political, edited by James Martin, Londres: Routledge, 2013.
  • Agonistics: Thinking The World Politically. Londres – Nova Iorque: Verso, 2013.
  • Mouffe C, 1995 ‘Post-marxism: democracy and identity’, Environment and Planning D vol.13 pp. 259–266 ML: P305 E30.

Artigos[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Página de docente de Chantal Mouffe na Universidade de Westminster (em inglês).
  2. Chair 2013-2014: Chantal Mouffe Arquivado em 10 de abril de 2015, no Wayback Machine.. Vrije Universiteit Brussel.
  3. Por um modelo agonístico de democracia. Por Chantal Mouffe. Revista de Sociologia e Política n° 25 Curitiba, nov. 2005 ISSN 0104-4478.
  4. Pluralismo político e cidadania democrática sob a perspectiva de Chantal Mouffe. Por Silvana Mattoso Gonçalves de Oliveira e Renata Santa Cruz Coelho ]
  5. MOUFFE, Chantal (2005). On the Political. Londres – Nova Iorque: Routledge. pp. 144; p. 20 
  6. Chantal Mouffe, Dimensions of radical democracy, Verso, 1992, p. 1
  7. Chantal Mouffe, Le politique et ses enjeux Paris, La découverte/MAUSS, 1994, p. 150.
  8. The Stanford Encyclopedia of Philosophy. The Veil of Ignorance
  9. a b c d "Antagonisme et hégémonie. La démocratie radicale contre le consensus néolibéral", Entretien avec Elke Wagner, in La revue internationale des livres et des idées, 6 de maio de 2010 Lire en ligne[ligação inativa]
  10. a b Chantal Mouffe, "Le politique et la dynamique des passions". In Rue Descartes, 3/2004, n° 45-46, pp. 179-192.
  11. « La "fin du politique" et le défi du populisme de droite ». Por Chantal Mouffe., Revue du MAUSS, 2/2002, n° 20, pp. 178-194

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações Externas[editar | editar código-fonte]