Companhia Matte Larangeira

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Inicialmente denominada Empresa Matte Larangeira, a Companhia Matte Larangeira foi uma empresa que surgiu de uma concessão imperial ao comerciante Thomaz Larangeira, por serviços prestados na Guerra do Paraguai. Atuou na exploração de erva-mate no sul do Mato Grosso.

Sua primeira sede foi em Concepción, no Paraguai[1], onde, em 1877[2], inicia a exploração de erva-mate.

Posteriormente sua sede foi transferida para Porto Murtinho, tendo se estabelecido anos mais tarde em Guaíra (Paraná).

A Companhia foi a responsável pela fundação das cidades de Porto Murtinho-MS e Guaíra-PR.


História

Empresa Matte Larangeira

O Decreto Imperial nº 8799, de 9 de Dezembro de 1882, autorizava a Larangeira a exploração da erva-mate nativa, por um período inicial de 10 anos[2], entretanto esse decreto não impede a exploração por parte dos moradores locais[3]. Larangeira funda a Empresa Matte Larangeira[4] a partir desta concessão imperial.

Thomaz Larangeira trouxe do sul do país fazendeiros que conheciam o manejo da erva-mate, também foram utilizadas a mão-de-obra de índios da região e de paraguaios, iniciando o ciclo de produção da erva-mate[5].

Com a proclamação da república a área de concessão é, sucessivamente, ampliada, sempre com o apoio de políticos influentes, como Joaquim Murtinho, Manuel José Murtinho e General Antônio Maria Coelho. Através do Decreto nº 520, de 23 de Junho de 1890, são ampliados os limites de suas posses e consegue o monopólio na exploração da erva-mate em toda a região abrangida pelo arrendamento. Em 1895 a área arrendada é ampliada, sendo superior a 5.000.000 ha[3].

Cia Matte Larangeira

Em 1892 é assinado novo contrato de concessão com o estado, com exclusividade para exploração dos ervais[2]. Após assinado esse contrato, o Banco Rio Branco e Matto Grosso, da Família Murtinho, compra 14.540 ações (100$000 por ação), cabendo a Larangeira 460 ações. A empresa passa a se denominar Companhia Matte Larangeira[4], sendo obrigada a transferir a sua sede para o território do Mato Grosso.

Em julho de 1892 a Companhia Matte Larangeira comprou a Fazenda Três Barras, de Boaventura da Mota, à margem esquerda do rio Paraguai, e construiu um porto para exportação de erva-mate cancheada, esse porto foi nomeado de Porto Murtinho, pelo Superintendente do Banco Rio e Mato Grosso Dr. Antônio Corrêa da Costa, em homenagem a Joaquim Murtinho[4].

A atividade gerava muito lucro estimulando o aumento da exportação. Em 1900, a região teve grande desenvolvimento graças a Companhia Matte Larangeira, de onde passou a embarcar chá para a Argentina. O transporte do mate — colhido num vasto império extrativo no atual estado de Mato Grosso do Sul — exigia 800 carretas e 20 mil bois[1][4].

A Companhia encarregava-se da exploração e exportação da erva semi-elaborada (cancheada) para Buenos Aires. Nesta cidade, outra empresa, a Francisco Mendes Gonçalves & Cia., encarregava-se da industrialização e distribuição do produto no mercado argentino e outros. A erva-mate atingiu grandes centros urbanos como Assunção (Paraguai), Buenos Aires (Argentina) e até Inglaterra, França e Itália[1].


Larangeira Mendes & Cia

Após denuncias do Superintendente, Dr. Antonio Corrêa da Costa[3] e de prejuízos com o transporte da produção da Matte Larangeira[5], o Banco Rio Branco decreta falência em 1902 e Thomaz Larangeira adquire seu espólio, já a Cia Matte Larangeira é vendida a companhia argentina Francisco Mendes & Cia[4][5], passando a se chamar Larangeira Mendes e Companhia. È assinado com o governo do estado novo contrato de arrendamento, nos mesmos moldes do anterior, que vigoraria até 1916[2].

Foi finalizada em 1906, para facilitar o transporte de erva-mate, uma ferrovia (Estrada de Ferro Porto Murtinho a São Roque), ligando o Porto Geral a Fazenda São Roque, com extensão máxima de 22[1][6][4] a 25[6] km. O projeto inicial de 1898 do Dr. Antonio Corrêa da Costa[4] previa uma extensão de 42 léguas (231 a 277 km[7]).

Já em 1910 ocorre a transferência do foco principal de exploração de erva mate para o Rio Paraná, reduzindo a sua importância estratégica para a empresa[4].

Seu monopólio foi quebrado em 1916[2].

A sede da Companhia foi transferida em 1918 de Porto Murtinho, para a Fazenda Campanário, próximo ao município de Caarapó. Sendo que a erva passou a ser exportada pelo Rio Paraná, ficando somente a produção dos ranchos próximos exportada por Porto Murtinho[5]. Desde 1902 a Companhia estabelece-se em Guaíra, inicialmente denominada de Porto Monjoli[8], iniciando a construção de uma ferrovia Estrada de Ferro Guaíra a Porto Mendes em 1911[1], que transporia as corredeiras da Sete Quedas.

Entre 1926 a 1929 Cia., por várias vezes emprestou dinheiro para o Governo de Mato Grosso e assume o compromisso de construir vários prédios públicos, conseguindo a renovação das concessões[3].

Durante a Segunda Guerra Mundial Argentina criou restrições a erva-mate brasileira e a empresa entrou em dificuldades[1].


Fim

O domínio da Companhia segue até 1943, quando Getulio Vargas assume o poder, criando os Territórios de Ponta Porá e Iguaçu, e anulando a concessão[2].

Em 17 de Abril de 1944 é assinado o Decreto n.º 6.428[8], por Getúlio Vargas, incorporando ao Serviço de Navegação da Bacia do Prata (SNBP), o Distrito de Guairá, a Estrada de Ferro Guaíra a Porto Mendes, assim como as material e instalações fixas, instalações portuárias e todas as instalações e material flutuantes.

A empresa recebeu um prazo para a liquidação de seus negócios e seus edifícios foram todos leiloados, bem como todas as estalagens, oficinas, rebanhos e tropas.

A empresa continuou operando a EF Porto Murtinho, transportando madeira (quebracho) da empresa até a usina da Floresta Brasileira S. A. para extração de tanino, até pelo menos 1958, existindo indicações (vagas) de que, em 1971, os trens ainda estariam em operação[6].

Mão-de-obra Indígena

Em 1895 quando a Cia. Matte Larangeira recebeu 5.000.000 ha em arrendamento de terras devolutas. Essa área compunha o território dos Kaiowá e Guarani[3]. Companhia utilizou ao longo da sua historia mão-de-obra indígena, principalmente das etnias Kaiowá e Guarani.

Mesmo com o inicio da demarcação das reservas indígenas ocorrendo em 1915 na região de Amambai, o espaço geográfico ocupados pelos índios e pela Cia Matte Larangeira era o mesmo, sendo intensa a utilização da mão-de-obra indígena na exploração de erva-mate, inclusive sendo agenciados pelo Serviço de Proteção aos Índios[2].

Entre 1915 a 1928 reservas indígenas foram demarcadas pelo Governo Federal no estado do Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul) em devido aos deslocamentos que essas comunidades sofreram em função dos interesses da Companhia[3].


Predefinição:Veja Também


Referências

  1. a b c d e f Flávio R. Cavalcanti (1 de Fevereiro de 2004). A primeira ferrovia do Oeste do Paraná. [S.l.]: Centro-Oeste nº 87  Parâmetro desconhecido |Autor= ignorado (|autor=) sugerido (ajuda); Verifique data em: |ano= (ajuda); Ligação externa em |Título= (ajuda)
  2. a b c d e f g Eva Maria Luiz Ferreira (2007). A participação dos índios Kaiowá e Guarani como trabalhadores nos ervais da Companhia Matte Larangeira (1902-1952) – Dissertação de Mestrado. [S.l.]: Universidade Federal da Grande Dourados]]  Parâmetro desconhecido |Autor= ignorado (|autor=) sugerido (ajuda)
  3. a b c d e f Adelaido Luiz Spinosa Vila. «Participação da mão-de-obra indígena na Companhia Matte Larangeira». Consultado em 8 de Março de 2009 
  4. a b c d e f g h Alcimar Lopes Lomba (2002). O transporte ferroviário na Companhia Mate Laranjeira (1906-1944). [S.l.]: Universidade Federal do Mato Grosso do Sul / Dourados  Parâmetro desconhecido |Autor= ignorado (|autor=) sugerido (ajuda)
  5. a b c d PM Porto Murtinho. «Histórico». Consultado em 5 de Junho de 2009 
  6. a b c Ralph Mennucci Giesbrecht. «E. F. Mate Laranjeira (Município de Porto Murtinho, MS)». Consultado em 25 de Maio de 2009 
  7. Cesar Rogério Cabral / Markus Hasenack / Rovane Marcos de França. MÓDULO I UNIDADE CURRICULAR TOPOGRAFIA I. [S.l.]: CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE SANTA CATARINA  Parâmetro desconhecido |Autor= ignorado (|autor=) sugerido (ajuda); Ligação externa em |Título= (ajuda)
  8. a b Prof. Dr. Omar Fedato Aleksiejuk. «Cronologia Histórica de Guairá». Consultado em 6 de Março de 2009