Donna Haraway

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Donna Haraway
Donna Haraway
Donna Haraway, 2006; fotografia per Rusten Hogness
Nascimento 6 de setembro de 1944 (79 anos)
Denver
Cidadania Estados Unidos
Alma mater
Ocupação filósofa, socióloga, professora universitária, historiadora, bióloga, escritora de não ficção
Prêmios
  • Prêmios American Book (1992)
  • Programa Fulbright
  • John Desmond Bernal Prize (2000)
  • Medalha Wilbur Cross (2017)
  • Boettcher Scholarship
  • Ludwik Fleck Prize (Modest_Witness@Second_Millennium.FemaleMan©Meets_OncoMouse™: feminism and technoscience, 1999)
Empregador(a) Universidade da Califórnia em Santa Cruz, European Graduate School, Universidade Johns Hopkins, Universidade do Havaii
Obras destacadas When Species Meet, A Cyborg Manifesto, Staying with the Trouble

Donna Haraway (Denver, Colorado, 6 de setembro de 1944) é uma filósofa e zóologa estadunidense, professora emérita no Departamento de História da Consciência e no Departamento de Estudos Feministas na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, Estados Unidos da América[1]. Ela é uma acadêmica reconhecida nas áreas de estudos da ciência e tecnologia, como tecnociência, primatologia, feminismo e estudos pós-coloniais. Foi descrita no início da década de 1990 como "feminista pós-moderna"[2].

Haraway é autora de diversos livros e ensaios fundamentais que relacionam temas da ciência e do feminismo. Dois exemplos proeminentes são 1) "Manifesto Ciborgue: Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX" (1985)[3], traduzido ao português no Brasil em 2009[4], em que ela redefine a figura do ciborgue para abordar um cenário de relação humano-máquina que questiona o discurso naturalista e suas relações com o capitalismo; e através dessa figura híbrida desfazer a oposição binária entre natural/vida e tecnológico/morte [5][6][7]; e 2) "Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial" (1988)[8] traduzido ao português no Brasil em 2009[9], no qual a questão de lugar de fala e identidade é aplicada aos saberes científicos, questionando a premissa de neutralidade, objetividade e universalidade incondicional do discurso científico. Ambos textos ressaltados são capítulos do livro "Simians, Cyborgs and Women: The reinvention of nature" (1991), sem tradução integral ao português no Brasil.

Além disso, sobre suas contribuições na intersecção de informação sobre tecnologia e teoria feminista, Haraway é frequentemente citada em trabalhos relacionados a Interação Humano-Computador (Human-Computer Interaction - HCI). Os seus textos supracitados, "Saberes localizados" e "Manifesto Ciborgue", especialmente dispararam discussões com a comunidade IHC (HCI) considerando o posicionamento no qual as pesquisas são feitas e os sistemas são desenhados. Ela também é uma pesquisadora coordenadora na área de ecofeminismo contemporâneo, associado com movimentos pós-humanistas[10] e neomaterialistas (New Materialism)[11].

Sua produção acadêmica critica o antropocentrismo ao destacar a potência de autoorganização em processos não humanos e explora relações dissonantes entre estes processos e práticas culturais, repensando questões éticas[12]. Haraway critica o Antropoceno porque normaliza a ideia do ser humano como uma espécie. No entanto, ela também reconhece a importância desta ideia, percebendo humanos como agentes estratégicos[13]. Haraway prefere o termo Capitaloceno (Capitalocene) que define o imperativo inflexível do capitalismo para se expandir e crescer, mas ela não apoia a noção de destruição irreversível nem para o Antropoceno, nem para o Capitaloceno.

A recepção de seus textos é marcada pelo questionamento de um humanismo dominante na cultura ocidental e o estudo das relações entre humanos e não-humanos, de ciborgues a animais companheiros.[14]

Em 2002 ela recebeu o Prêmio J.D. Bernal (John Desmond Bernal Prize), a maior honraria dada pela Sociedade de Estudos Sociais da Ciência, por contribuições vitalícias para o campo.[15]

Percurso[editar | editar código-fonte]

Haraway se formou em Zoologia e Filosofia no The Colorado College, onde recebeu uma bolsa de estudos da Fundação Boettcher. Ela também estudou em Paris sob uma bolsa Fulbright, e concluiu seu Ph.D. em Biologia na Universidade Yale em 1972 com uma dissertação intitulada "A Busca das Relações Organizadas: Um Paradigma Organismo na Biologia do Desenvolvimento do século XX", onde ela interligou os campos — e departamentos — Biologia, Filosofia e História da Ciência e Medicina. Ela começou sua carreira de professora de 1971 a 1974, no departamento de História Ciências e Estudos Femininos na Universidade do Havaí e na Universidade Johns Hopkins de 1974 a 1980, quando ela se juntou ao programa História da Consciência na Universidade de Santa Cruz da Califórnia. Desafiando a categorização departamental tradicionalmente definida, Donna Haraway possui associações associadas em Antropologia, Estudos Ambientais, Estudos Feministas e Cinema e Mídia Digital. Em seu trabalho ela explora os laços entre o universo técnico e popular e o tráfego espesso entre naturezas e culturas.[15][16]

Em 1991, Haraway publicou Simians, cyborgs and women, uma compilação de dez ensaios escritos durante a década de 1980 entre os quais o Manifesto Ciborgue. No campo da relação entre humanos e outras espécies, publicou o livro Manifesto das espécies companheiras (Editora Bazar do Tempo, 2021)[17], focado na defesa da noção "espécies companheiras" – em oposição aos "animais companheiros" – como resultado da reflexão sobre a interação que se estabelece entre humanos e muitos tipos de animais. Em 2015 ela escreveu seu grande ensaio Staying with the Trouble: Making Kin in the Chthulucene, ainda sem tradução para o português.[14]

Obras publicadas no Brasil[editar | editar código-fonte]

Artigos em revistas[editar | editar código-fonte]

  • Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial (1995)[18]
  • Gênero para um dicionário marxista: a política de uma palavra (2004)[19]

Publicações em capítulos de livros[editar | editar código-fonte]

  • Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX (2009)[20]
  • Você é um ciborgue: Encontro com Donna Haraway (2009)[21]
  • Companhias multiespécies nas naturezaculturas: uma conversa entre Donna Haraway e Sandra Azerêdo (2011)[22]
  • O Manifesto das espécies companheiras: cães, pessoas e alteridade significante [fragmento] (2017)[23]

Publicações de livros[editar | editar código-fonte]

  • O Manifesto das espécies companheiras: Cachorros, pessoas e alteridade significativa (2021)[17]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. [feministstudies.ucsc.edu. «"Donna J Haraway". feministstudies.ucsc.edu. Archived from the original on 2017-03-17. Retrieved 2017-03-16.»] Verifique valor |url= (ajuda). Consultado em 27 de março de 2022 
  2. «Young, Robert M. (1992). "Science, Ideology and Donna Haraway". Science as Culture. 15 (3): 179.» 
  3. Haraway, Donna (1990). "A Cyborg Manifesto: Science, Technology, and Socialist-Feminism in the Late Twentieth Century". Simians, Cyborgs and Women: The Reinvention of Nature. Routledge. pp. 149–181. ISBN 978-0415903875. [S.l.: s.n.] 
  4. «Antropologia do ciborgue. Tradução de "Manifesto ciborgue" e outros textos dialogantes de outras autorias.» 
  5. «"Ideias que Colam": você conhece o Manifesto Ciborgue, de Donna Haraway?». Guia do Estudante. Consultado em 12 de setembro de 2021 
  6. «Donna Haraway e o manifesto ciborgue». Universidade Livre Feminista. 6 de setembro de 2014. Consultado em 12 de setembro de 2021 
  7. Jorge, Jonas. «"Estamos vivendo tempos extremamente perigosos". Entrevista com Donna Haraway». www.ihu.unisinos.br. Consultado em 12 de setembro de 2021 
  8. Haraway, Donna (Autumn 1988). "Situated Knowledges: The Science Question in Feminism and the Privilege of Partial Perspective". Feminist Studies. 14 (3): 575–599. doi:10.2307/3178066. JSTOR 3178066. [S.l.: s.n.] 
  9. «Haraway, D. (2009). Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, (5), 7–41. Recuperado de periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1773». Consultado em 27 de março de 2022 
  10. «What Is Posthumanism?. University of Minnesota Press. Retrieved 2018-03-29.» 
  11. «"New Materialism". newmaterialism.eu. Archived from the original on 2018-03-30. Retrieved 2018-03-29.» 
  12. «Connolly, William E. (2013). "The 'New Materialism' and the Fragility of Things". Millennium: Journal of International Studies. 41 (3): 399–412. doi:10.1177/0305829813486849. S2CID 143725752.» 
  13. «Franklin, Sarah (2017-07-01). "Staying with the Manifesto: An Interview with Donna Haraway". Theory, Culture & Society. 34 (4): 49–63. doi:10.1177/0263276417693290. ISSN 0263-2764. S2CID 152133541.» 
  14. a b «Donna Haraway». CCCB (em espanhol). Consultado em 12 de setembro de 2021 
  15. a b «Donna Haraway». The European Graduate School (em inglês). Consultado em 12 de setembro de 2021 
  16. Festspiele, Berliner. «Donna Haraway – Biography». www.berlinerfestspiele.de (em inglês). Consultado em 12 de setembro de 2021 
  17. a b HARAWAY, Donna (2021). O manifesto das espécies companheiras: Cachorros, pessoas e alteridade significativa. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo. 192 páginas. ISBN 978-65-86719-64-2 
  18. HARAWAY, Donna (1995). «Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial». UNICAMP. Cadernos Pagu (5): 7-41. ISSN 0104-8333. Consultado em 16 de março de 2022 
  19. HARAWAY, Donna (2004). «Gênero para um dicionário marxista: a política de uma palavra». UNICAMP. Cadernos Pagu (22): 201-246. ISSN 0104-8333. Consultado em 16 de março de 2022 
  20. HARAWAY, Donna; KUNZRU, Hari; TADEU, Tomaz (2009). Antropologia do ciborgue: As vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica. pp. 33–118. ISBN 9788575263952 
  21. HARAWAY, Donna; KUNZRU, Hari; TADEU, Tomaz (2009). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica. pp. 17–32. ISBN 9788575263952 
  22. MACIEL, Maria Esther (2011). Pensar/escrever o animal: ensaios de zoopoética e biopolítica. Florianópolis: UFSC. pp. 389–417. ISBN 978-8532805430 
  23. BRANDÃO, Izabel; CAVALCANTI, Ildney; COSTA, Claudia de Lima; LIMA, Ana Cecília (2017). Traduções da Cultura: Perspectivas Críticas Feministas 1970-2010. Florianópolis: Editora Mulheres. ISBN 9788532808141 
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