Eleição para Presidente da Assembleia da República Portuguesa de 2024

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
← 2022 •              
Eleição para Presidente da Assembleia da República Portuguesa de 2024
26 e 27 de março de 2024
Demografia eleitoral
Hab. inscritos:  230
Votantes : 230
José Pedro Aguiar-BrancoPPD/PSD
Votos: 160  
  
70.18%
Rui Paulo SousaCH
Votos: 50  
  
21.93%

Presidente da Assembleia da República

A eleição para Presidente da Assembleia da República Portuguesa de 2024, para a XVI Legislatura, decorreu nos dias 26 e 27 de março de 2024. Para que se seja eleito, precisa-se do voto de 116 dos 230 deputados.

A estas eleições concorreram José Pedro Aguiar-Branco (do Partido Social Democrata), Francisco Assis (do Partido Socialista), Manuela Tender e Rui Paulo Sousa (do Chega).

Após um primeiro escrutínio que resultou na não eleição do candidato único, José Pedro Aguiar-Branco, candidataram-se para um segundo escrutínio, para além de Aguiar-Branco, Francisco Assis e Manuela Tender, não tendo nenhum candidato atingido a necessária maioria à primeira nem à segunda volta.[1] Os trabalhos foram suspensos por esta altura, voltando o plenário a reunir no dia seguinte, dia 27 de março, para uma terceiro escrutínio, de onde saiu vencedor José Pedro Aguiar-Branco, com 160 votos, contra Rui Paulo Sousa, após um entendimento entre as bancadas parlamentares do Partido Social Democrata e do Partido Socialista.[2]

Processo de eleição[editar | editar código-fonte]

No início de cada legislatura, existe um breve período logo no começo da 1.ª sessão legislativa, em que não existe Presidente da Assembleia da República. Uma vez que, e de acordo com a Constituição o seu mandato termina no início da nova legislatura e não com a tomada de posse do novo Presidente. Resulta que a praxe parlamentar, que tem força de norma, tem sido a de o líder do partido com o maior número de deputados eleitos convidar a presidir em exercício de funções o antigo Presidente da Assembleia da República, caso este seja deputado eleito. De contrário segue precedências, um dos anteriores vice-presidentes, o deputado mais antigo, o deputado mais velho.[3] A relevância desta situação é pouco significativa, sendo mais uma curiosidade, uma vez que a primeira e única função do Presidente em exercício é promover a eleição e conferir posse ao novo Presidente.

Para se ser eleito Presidente da Assembleia da República Portuguesa, uma candidatura deve ser subscritas por um mínimo de um décimo e um máximo de um quinto do número de Deputados e obter maioria absoluta dos votos dos deputados em efetividade de funções. Se tal não acontecer, uma segunda volta é realizada com as duas candidaturas mais votadas. Se nenhuma candidatura obtiver a maioria absoluta dos votos, o processo é reaberto[4].

Contexto[editar | editar código-fonte]

Após a vitória da Aliança Democrática nas eleições legislativas de 10 de março de 2024 e, sobretudo, após a não reeleição do Presidente da Assembleia da República Augusto Santos Silva pelo círculo eleitoral de Fora da Europa, que se começou a especular sobre a eleição de um Presidente da Assembleia da República social-democrata, o primeiro desde Assunção Esteves. O nome de José Pedro Aguiar-Branco, ex-deputado e antigo Ministro da Justiça e da Defesa, começou a ser apontado logo em janeiro,[5] tendo sido confirmado a 25 de março.[6]

A primeira sessão, de acordo com o Regimento, foi presidida pelo deputado António Filipe, do Partido Comunista Português, por ser o deputado mais antigo.[7][8]

A eleição de Aguiar-Branco, apesar de contar com o apoio inicial do Chega - em troca da eleição de um Vice-Presidente indicado por este partido -,[9][10] acabou por não se concretizar logo à primeira votação, devido ao recuo dado pelo Presidente do CHEGA, André Ventura, em resposta à negação por parte de dirigente da Aliança Democrática, como Nuno Melo e Paulo Rangel, de um entendimento entre os dois partidos.[11]

A surpreendente não-eleição à primeira votação fez com que fosse necessária a realização de mais votações. Apesar da inicial retirada da candidatura, Aguiar-Branco voltou a apresentar-se,[12] com o Partido Socialista e o Chega a também apresentarem candidatos: Francisco Assis pelo Partido Socialista e Manuela Tender pelo Chega.[13] Como nenhuma das candidaturas foi eleita, passaram a uma segunda volta as duas mais votadas (Aguiar-Branco e Assis), que também não conseguiram reunir o número necessário de votos (116) para vencerem a eleição.[14]

O impasse acabou por ser resolvido no final da manhã do dia 27 de março, após uma reunião entre o Partido Social Democrata e o Partido Socialista, que decidiu dividir a Presidência da Assembleia da República entre os dois partidos, com Aguiar-Branco a ocupar o cargo durante dois anos e um nome indicado pelo Partido Socialista a ocupar os restantes dois,[15][16] em prática semelhante à do Parlamento Europeu.[17] Em simultâneo, a bancada parlamentar do Chega apresentou uma nova candidatura, a de Rui Paulo Sousa.[18]

Na tarde de dia 27, José Pedro Aguiar-Branco acabou eleito com 160 votos, contra 50 de Rui Paulo Sousa,[19][20] tendo o agora eleito Presidente da Assembleia da República Portuguesa feito o seu primeiro discurso a prometer uma presidência com "exigência de imparcialidade, equidistância, rigor", e lançado o desafio às bancadas parlamentares de para repensar o Regimento sobre a eleição da mesa.[21] O discurso foi seguido pelas intervenções dos grupos parlamentares e pela eleição dos Vice-Presidentes da Assembleia da República.

Candidaturas[editar | editar código-fonte]

Candidato (nome e idade) Histórico político Ref.
José Pedro Aguiar-Branco (66) José Pedro Aguiar-Branco Ministro da Defesa Nacional
(2011–2015)
Deputado à Assembleia da República
(2005–2019)
Líder do grupo parlamentar do Partido Social Democrata
(2009–2010)
Presidente da Assembleia Municipal do Porto
(2005–2009)
Ministro da Justiça
(2004–2005)
[22]
Rui Paulo Sousa (56) Vice-Presidente da Bancada Parlamentar do CHEGA
(2022–presente)
Deputado à Assembleia da República
(2022–presente)
Secretário-Geral do CHEGA
(2020–presente)

Candidaturas falhadas[editar | editar código-fonte]

Candidato (nome e idade) Histórico político Ref.
Manuela Tender (59) Manuela Tender Vereadora da Câmara Municipal de Chaves
(2017–2021)
Deputada à Assembleia da República
(2011–2019)
Deputada à Assembleia Municipal de Chaves
(2009–2017)
[1]
Francisco Assis (59) Francisco Assis Deputado ao Parlamento Europeu
(2004–2009; 2014–2019)
Deputado à Assembleia da República
(1995–2002; 2009–2013)
Líder do grupo parlamentar do Partido Socialista
(1997–2002; 2009–2011)
Presidente da Câmara Municipal de Amarante
(1990–1995)
[1]

Resultados[editar | editar código-fonte]

Candidato Grupo(s) parlamentar(es) 1ª Votação[23] 2ª Votação (1ª volta)[24] 2ª Votação (2ª volta)[24] 3ª Votação[24]
Votos % Votos % Votos % Votos %
José Pedro Aguiar-Branco PSD, CDS, IL (1ª e 2ª votação) 89
38,70 / 100,00
88
38,43 / 100,00
88
38,26 / 100,00
160
70,18 / 100,00
Francisco Assis PS, BE, L 90
39,30 / 100,00
90
39,13 / 100,00
Manuela Tender CH 49
21,40 / 100,00
Rui Paulo Sousa 50
21,93 / 100,00
Votos Inválidos 141
61,30 / 100,00
2
0,87 / 100,00
52
22,61 / 100,00
18
7,89 / 100,00
Total 230
100,00 / 100,00
229
100,00 / 100,00
230
100,00 / 100,00
228
100,00 / 100,00
Eleitorado/Participação 230
100,00 / 100,00
230
99,57 / 100,00
230
100,00 / 100,00
230
99,13 / 100,00
Votos necessários 116 116 116 116

Referências

  1. a b c Público (26 de março de 2024). «À terceira não foi de vez. Sem acordo, novo Parlamento adia eleição do presidente». Consultado em 26 de março de 2024 
  2. «Visão | Aguiar-Branco eleito presidente da Assembleia da República depois de acordo entre PSD e PS». Visão. 27 de março de 2024. Consultado em 27 de março de 2024 
  3. Por se tratar de uma praxe parlamentar a mesma não se encontra descrita, sendo necessário a consulta do Diário da Assembleia da República para puder constatar a mesma
  4. parlamento.pt. «Regimento da Assembleia da República» (PDF). Consultado em 10 de janeiro de 2020 
  5. Dias, Miguel Santos Carrapatoso, Miguel Viterbo. «Aguiar-Branco apontado como candidato à presidência da Assembleia da República». Observador. Consultado em 27 de março de 2024 
  6. «Aguiar-Branco candidato a presidente da Assembleia da República e Hugo Soares a líder parlamentar do PSD». Diário de Notícias. Consultado em 27 de março de 2024 
  7. «PSD vai indicar António Filipe do PCP para presidir à primeira sessão da XVI legislatura». CNN Portugal. Consultado em 27 de março de 2024 
  8. «"A vida tem destas partidas": o momento em que António Filipe deu início aos trabalhos da AR». SIC Notícias. 26 de março de 2024. Consultado em 27 de março de 2024 
  9. Figueiredo, Inês André. «Ventura anuncia que PSD vai viabilizar vice-presidente do Chega na Assembleia da República e promete aprovar Aguiar-Branco». Observador. Consultado em 27 de março de 2024 
  10. «Ventura anuncia que PSD viabilizará nomes do Chega para Mesa da AR e garante apoio a Aguiar-Branco». Diário de Notícias. Consultado em 27 de março de 2024 
  11. «Ventura diz que PSD "tem de escolher as companhias"». Rádio e Televisão de Portugal. 26 de março de 2024. Consultado em 27 de março de 2024 
  12. «PSD retira candidatura de Aguiar-Branco à presidência da AR». Diário de Notícias. Consultado em 27 de março de 2024 
  13. «Visão | Chega apresenta Maria Manuela Tender como candidata a presidente da Assembleia da República». Visão. 26 de março de 2024. Consultado em 27 de março de 2024 
  14. «À segunda volta, Francisco Assis e Aguiar-Branco falham eleição para presidente da AR. Nova eleição amanhã». TSF Rádio Notícias. Consultado em 27 de março de 2024 
  15. ECO (27 de março de 2024). «PSD e PS vão dividir presidência da Assembleia da República». ECO. Consultado em 27 de março de 2024 
  16. SAPO. «PS e PSD dividem presidência da Assembleia da República. Acordo é inconstitucional?». Polígrafo. Consultado em 27 de março de 2024 
  17. Siza, Rita (27 de março de 2024). «Em 45 anos, cumpriu-se sempre a tradição de dividir a presidência do Parlamento Europeu». PÚBLICO. Consultado em 27 de março de 2024 
  18. Lusa, João G. Oliveira (27 de março de 2024). «Rui Paulo Sousa é o novo candidato do Chega a presidente da Assembleia da República». Jornal NOVO. Consultado em 27 de março de 2024 
  19. «À quarta tentativa, Aguiar-Branco é eleito presidente da Assembleia da República». Jornal de Notícias. Consultado em 27 de março de 2024 
  20. ECO (27 de março de 2024). «José Pedro Aguiar-Branco, um "promotor nato de consensos" apaixonado por carros». ECO. Consultado em 27 de março de 2024 
  21. «"Não devemos desistir da democracia. Eu não desisto": Aguiar-Branco fala (finalmente) como presidente da AR». CNN Portugal. Consultado em 27 de março de 2024 
  22. Rádio e Televisão de Portugal (25 de março de 2024). «Aguiar-Branco vai ser candidato a presidente da Assembleia da República». Consultado em 26 de março de 2024 
  23. ECO (26 de março de 2024). «Aguiar-Branco falha eleição para presidente da Assembleia da República. PSD retira candidatura». ECO. Consultado em 27 de março de 2024 
  24. a b c «AO MINUTO | E à quarta foi de vez: Aguiar-Branco eleito presidente da AR após acordo entre PS e PSD para presidência dividida». CNN Portugal. Consultado em 27 de março de 2024