Ermida de Nossa Senhora da Assunção (Messejana)

Ermida de Nossa Senhora da Assunção | |
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Vista da ermida, em 2009. | |
Nomes alternativos | Igreja de Nossa Senhora da Assunção |
Estilo dominante | Barroco |
Inauguração | Século XV |
Património Nacional | |
Classificação | ![]() (Portaria n.º 479/2010) |
DGPC | 5166655 |
SIPA | 296 |
Geografia | |
País | ![]() |
Região | Alentejo |
Local | Messejana |
Coordenadas | |
Localização em mapa dinâmico |
A Ermida de Nossa Senhora da Assunção, igualmente conhecida como Igreja de Nossa Senhora da Assunção, é um monumento religioso na freguesia de Messejana, no concelho de Aljustrel, na região do Alentejo, em Portugal.

Descrição[editar | editar código-fonte]
O imóvel situa-se no topo de uma pequena colina, numa área rural, a cerca de três qulómetros de distância da vila de Messejana.[1] A ermida em si apresenta uma planta longitudinal de forma rectangular, de tipologia telescópica, e é formada por uma só nave, capela-mor, ábside, duas torres sineiras, e os dois volumes da sacristia.[2] As coberturas da ermida são de duas águas sobre a capela-mor e a nave, enquanto que os anexos têm telhados de configuração piramidal.[2] A fachada principal, virada para oriente, está dividida em vários planos, sendo rasgada por um portal encimado por um janelão, e rematada por um frontão de forma recortada e ondulada.[2] É ladeada por duas torres sineiras de grande verticalidade, dispostas na diagonal em relação à fachada, que terminam em cúpulas de configuração bulbosa.[2] Em ambas as fachadas laterais abrem-se portas no centro, encimadas por janelões.[2] As paredes exteriores são rebocadas e caiadas em tons brancos, com vários elementos pintados em azul, como os embasamentos, cunhais e pilastras.[2] Na frontaria realça-se o escudo real de D. José.[3] No seu exterior, a ermida integra-se principalmente na corrente arquitectónica do barroco, tendo algumas semelhanças com os edifícios barrocos brasileiros, devido à articulação dos volumes, à configuração em diagonal das torres sineiras, e pela organização espacial das sacristias.[2] Com efeito, esta disposição das torres é rara em território nacional, tendo paralelos com a Igreja do Senhor Jesus da Piedade, em Elvas, mas é muito mais comum no Brasil, destacando-se a célebre Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em São Salvador da Baía.[1] O edifício é rodeado por um adro murado.[2]
No interior, a nave é coberta por uma abóbada de canhão, cuja demarcação em relação às paredes é feita através de uma cornija que percorre toda a largura do espaço, sendo interrompida pelo janelão sobre a porta principal, sendo estes dois elementos parcialmente ladeados por pilastras, que terminam em duas pias.[2] Em cada lado do portal abrem-se duas pequenas portas, para acesso às torres, e nas paredes laterais rasgam-se duas portas encimadas por janelões.[2] Destacam-se igualmente dois púlpitos, organizados de forma simétrica, com uma caixa em pedra lavrada sobre mísulas em ferro.[2] O acesso à capela-mor é feito através de um arco triunfal de volta perfeita, com os embasamentos e as mísulas em ressalto.[2] A capela-mor tem uma planta de forma rectangular, e uma cobertura em abóbada de aresta, com as paredes laterais parcialmente cobertas por azulejos, e rasgadas por portas para a sacristia.[2] O retabulo-mor é de camarim, e está ornamentado com talha dourada e polícroma, em tons azuis.[2] A capela-mor está decorada com azulejos setecentistas, retratando as cenas do nascimento da Virgem, o seu primeiro banho, a Anunciação, a Visitação, e o Nascimento de Jesus.[3] Na sacristia, destaca-se um nicho em pedra lavrada, com um arco de forma canopial e com fogaréus sobre as pilastras.[2] São igualmente de interesse as escadarias para o camarim e os púlpitos, que são decoradas por azulejos de padrão do século XVII.[2] Em contraste com o exterior, a planimetria do edifício apresenta ainda alguns traços arquitectura do século XVII, com o interior muito sóbrio, com influências do Estilo Chão.[2] Outro elemento de realce na ermida é um ex-voto em forma de quadro, da autoria do artista António Pardal, onde se agradece a Nossa Senhora da Assunção por ter salvo um lavrador abastado.[4]
Devido às suas características, a Ermida de Nossa Senhora da Assunção é considerada como um dos principais monumentos do Barroco na região do Alentejo.[1] Também é um centro religioso importante, não só na freguesia de Messejana mas também a nível regional.[3] É palco de uma procissão anual, durante a qual a imagem de Nossa Senhora da Assunção é levada para a ermida.[5]

História[editar | editar código-fonte]
Fundação e reconstrução[editar | editar código-fonte]
A ermida foi provavelmente edificada no século XV, quando surge a referência mais antiga à sua presença, sendo então conhecida como Ermida de Nossa Senhora de Entre Vinhas.[2] Este nome é um testemunho de um período quando o território em redor do santuário estava principalmente plantado de vinhas.[6] Desde então tornou-se num importante centro de peregrinação, motivo pelo qual foi alvo de várias campanhas de obras.[1] Esteve ligada às visitações dos frades da Ordem de Santiago, que foram responsáveis pela sua administração entre 1534 e 1755.[7]
Localiza-se perto da Falha de Messejana, pelo que apresenta uma grande sensibilidade aos fenómenos sísmicos, como o Terramoto de 1755, que a deixou totalmente arruinada.[1] Foi reconstruída ainda no século XVIII, existindo registos de um contrato assinado entre a confraria e um grupo de canteiros em 28 de Setembro de 1758, e em 1773 com o pintor Miguel José, de Lisboa, para a obra de douramento e pintura do retábulo-mor.[2] Destaca-se igualmente a participação de Diogo Tavares de Brito, de Tavira, que era considerado como um dos principais mestres pedreiros do Algarve.[1] As obras de reconstrução foram custeadas pelos habitantes locais e pelos emigrantes no Brasil.[3]
Séculos XX e XXI[editar | editar código-fonte]
O edifício foi muito atingido pelo Sismo de 1969, tendo os serviços distritais do Ministério das Obras Públicas avançado com a hipótese de o demolir totalmente.[1] Foi salvo pela intervenção do professor brasileiro Augusto da Silva Telles, da Faculdade de Arquitetura do Rio de Janeiro, que estava nesse momento numa visita pelo Alentejo, e que apontou a importância do monumento para o estudo da arte luso-brasileira.[1] Devido à sua situação geográfica isolada, o monumento foi por diversas vezes alvo de assaltos, que provocaram danos na estrutura e levaram à perda do seu espólio.[1] Por exemplo, em 1984 foi alvo de um furto, tendo sido levadas várias alfaias e danificado o retábulo-mor.[2]
Em 18 de Fevereiro de 2003, a Direcção Regional de Cultura de Évora lançou uma proposta para a classificação da ermida, e dois dias depois foi publicado o despacho para a abertura do processo.[2] Em 15 de Março de 2003 a Direcção Regional de Cultura do Alentejo propôs a classificação como Imóvel de Interesse Público e a implementação da Zona de Especial Protecção, que teve o parecer positivo por parte do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico em 15 de Julho desse ano.[2] O imóvel foi classificado por um despacho de 29 de Março de 2010, do Secretário de Estado da Cultura.[2] Em 20 de Novembro de 2015, a ermida foi novamente assaltada, tendo sido levado um sino de bronze de meia tonelada do século XVIII, avaliado em 25 mil Euros.[8] Segundo José António Falcão, director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, «foi a sexta vez que o edifício, classificado como Monumento de Interesse Público, sofreu a investida dos ladrões».[8] Alertou igualmente para o desaparecimento das igrejas em meio rural, causado pela desertificação, e apelou para a criação de um Plano de Salvaguarda do Património Religioso.[9] O roubo foi condenado pela diocese, que considerou a ermida como um «monumento mártir» devido à quantidade de vezes que foi alvo de furtos, e pela presidente da Junta de Freguesia de Messejana, Ercília Diogo, que afirmou que a «A população está preocupada. Infelizmente vemos o nosso património a desaparecer e degradar-se. Têm que ser encontradas soluções».[8] O caso foi investigado pelas autoridades, embora a diocese tenha manifestado a sua reduzida esperança em recuperar o sino, uma vez que terá sido provavelmente fundido em Espanha.[1]
Ver também[editar | editar código-fonte]
- Lista de património edificado em Aljustrel
- Capela de São Bartolomeu
- Casa dos Morgados Moreiras
- Casa na Rua da Igreja n.º 4, Messejana
- Castelo de Messejana
- Convento de Nossa Senhora da Piedade de Messejana
- Horta do Anjinho
- Igreja Matriz de Messejana
- Igreja da Misericórdia de Messejana
- Museu Etnográfico de Messejana
- Pelourinho de Messejana
- Torre do Relógio de Messejana
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j «Ermida de Nossa Senhora da Assunção foi alvo de arrombamento e furto». Sul Informação. 21 de Dezembro de 2015. Consultado em 26 de Junho de 2022
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w FALCÃO, José; PEREIRA, Ricardo (2016). «Ermida de Nossa Senhora da Assunção / Igreja de Nossa Senhora da Assunção». Sistema de Informação para o Património Arquitectónico. Direcção-Geral do Património Cultural. Consultado em 26 de Junho de 2022
- ↑ a b c d LOBATO, 1983:230
- ↑ LOBATO, 1983:232-233
- ↑ «Messejana celebra Santa Maria com momentos religiosos». Correio Alentejo. 14 de Agosto de 2020. Consultado em 26 de Junho de 2022
- ↑ LOBATO, 1983:197
- ↑ «Messejana recorda as suas origens árabes». Bom Dia Europa. 13 de agosto de 2014. Consultado em 26 de Junho de 2022
- ↑ a b c LÚCIO, António (22 de Dezembro de 2015). «Levam sino de meia tonelada em Beja». Correio da Manhã. Consultado em 26 de Junho de 2022
- ↑ «Ermida de Nossa Senhora da Assunção foi alvo de arrombamento e furto». Rádio Voz da Planície. 22 de Dezembro de 2015. Consultado em 26 de Junho de 2022
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- LOBATO, João Rodrigues (2005) [1983]. Aljustrel: Monografia. Aljustrel: Câmara Municipal de Aljustrel. 432 páginas
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- Ermida de Nossa Senhora da Assunção de Messejana na base de dados Ulysses da Direção-Geral do Património Cultural
- Ermida de Nossa Senhora da Assunção / Igreja de Nossa Senhora da Assunção na base de dados SIPA da Direção-Geral do Património Cultural
- «Página sobre a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, no sítio electrónico Wikimapia»
- «Artigo A Ermida de Nossa Senhora da Assunção de Messejana, de Ana Borges e Luís Marino, no sítio electrónico da Universidade do Porto» (PDF)